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CAPÍTULO I O CEOM E O “RESGATE” HISTÓRICO NA

1.3 A REIVINDICAÇÃO REGIONAL

A concepção integracionista e as discussões a respeito da identidade catarinense podem ser mapeadas nos três espaços que conferem ao regionalismo uma tríade habitual: literário, histórico/geográfico e político. No campo literário o que buscam os intelectuais que se lançam/dedicam à discussão de temas como identidade e cultura popular, por exemplo, é, via de regra, atingir um grau de reconhecimento no espaço constituído do regionalismo nacional. Aquilo que Letícia Nedel, ao se reportar ao “ciclo regionalista da literatura sul- rio-grandense”, identifica como objetivo que permeava a criação, já no ano de 1868, da Sociedade Partenon Literário, cujos escritores “tinham uma intenção deliberada de aderir, mesmo que tardiamente, ao projeto romântico brasileiro de afirmação e busca das raízes étnicas e culturais

108 A esse respeito ver Obras como: PAIM, Elison Antonio. Aspectos da consti- tuição histórica da região Oeste de Santa Catarina. SAECULUM. Revista de

História [14]; João Pessoa, jan./jun. 2006; e SILVA, Augusto da; ROSA, Adenil- son da. Antes do Oeste Catarinense: aspectos da vida econômica e social de uma região. Fronteiras: Revista Catarinense de História [on-line], Florianópolis, n.18, p.139-160, 2010. (Edição em 2011).

da nação”109. Este modelo, ainda segundo a autora, seria reapropriado a partir da década de 1920 conferindo, ao modo de representação do “estilo” gaúcho e do regionalismo sul-rio-grandense, uma condição irredutível a qualquer outro movimento de caráter similar. Esta reapropriação, é verdade, só era possível em razão da consolidação de um modo de representação da região há tempo estabelecido110. Assim, a

busca por reconhecimento no espaço nacional que pode ser identificada na obra de Sachet, anteriormente citada, marca tanto essa condição típica dos movimentos literários de viés regionalista, como evidencia a constituição, manutenção e reapropriação de modelos de representação de indivíduos e de espaços de acordo com as condições e demandas do momento. Tudo isso, segundo os graus de maior ou menor consolidação destes modelos simbólicos de representação.

Por sua vez, no campo histórico/geográfico, como identificamos a posição de Peluso, a tentativa é de opor ao idealismo atribuído aos intelectuais, uma proposta com apelo à empiria. Assim, na obra de Peluso, verifica-se a tentativa de estabelecer uma relação entre o espaço e o modo como este é percebido por seus habitantes. Tomando-se este espaço como objeto de estudo. À política, estaria reservada tarefa da administração, ainda que, em se tratando de Santa Catarina, por exemplo, nos projetos de desenvolvimento que remontam às décadas de 1960 e 1970, fosse lugar comum a busca pela constituição de uma identidade estadual baseada no ato de governar a diferença. Reverberação clara das políticas nacionais de mesmo intento, naquilo que identificamos em nossa Dissertação de Mestrado111, como alinhamento de propostas nas três esferas; Federal,

Estadual e Municipal. Nesta perspectiva, uma das principais medidas da década de 1970 foi a criação das Microrregiões. Uma divisão do território catarinense sob a alegação de assim melhor compreender e tratar das disparidades regionais. Tínhamos, então, naquele momento, um projeto de igualdade pensado a partir de uma política de valorização da diferença. À essa problemática, outras foram anexadas e, neste trabalho, propomos a discussão de seus desdobramentos até o ponto que definimos como o de seu desfecho no campo das identidades e reivindicações locais; a criação do CEOM. A busca pela identificação é fenômeno constante nas práticas

109 NEDEL, Letícia Borges. Op. Cit. p. 61. 110 Idem, p. 133.

111 VITORIA, Fernando Antonio. De Velho Xapecó a Polo formador de po- los: a construção discursiva da capital do Oeste [1970 - 1980]. 155 p. Dissertação

(Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ci- ências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Florianópolis, 2011.

sociais, seja em manifestações ligadas à procura do reconhecimento - e como sequência à reivindicação de pertencimento -, seja mediante a mobilização da igualdade ou da diferença. Umbilicalmente ligados, estes pontos de inflexão constituíram e constituíram-se enquanto espaço privilegiado de análise da ação humana. Nessa proposta de trabalho, em caráter introdutório, tentamos identificar algumas das formas como foram elaboradas as representações da região Oeste do Estado de Santa Catarina e como se constituíram “estigmas” ligados à sua condição de espaço distante, desassistido e excluído, por exemplo.

O registro desses modos de retratar espaço e homem nos foi importante no sentido de permitir, ao mesmo tempo, definir visões que ao longo do tempo foram atribuídas a uma concepção “tradicional” - das descrições do Oeste como espaço selvagem; da colonização como sinônimo de progresso; do elemento europeu como sinônimo de civilidade e desenvolvimento - e compará-las às práticas constantes no projeto do CEOM, que se propunham a um “resgate” de personagens e a uma reescrita da história regional. A formulação da identidade do homem e do espaço está intimamente ligada ao modo como estes se veem e são vistos pelos demais. Ao longo da história dessa região, muitas foram as efígies do homem e do espaço. O advento do CEOM e sua proposta nos parecem exemplares pela razão de serem constituídos como projeto visando a readequação de todo esse arcabouço que envolve, memória, história e representação. Apontadas questões ligadas ao regionalismo em esfera estadual no capítulo anterior, partimos doravante, sem perder de vista o aporte garantido por esses aspectos, a uma investida no fenômeno da reivindicação em aspecto local.