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CAPÍTULO I O CEOM E O “RESGATE” HISTÓRICO NA

1.10 FUNDESTE E CEOM; A MOBILIZAÇÃO INTERNA

No tocante ao âmbito interno, o avanço do projeto se materializava em ações visando à difusão das propostas e à possível colaboração de funcionários. No final do primeiro semestre do corrente ano, mais precisamente em 30 de junho de 1988, Ilda Brisot fazia circular o ofício de número 002. Neste, dava-se conhecimento a todos os setores da FUNDESTE da realização, por parte do CEOM, de “um encontro para divulgação das orientações básicas e roteiro para registros e coleta de documentação220”. Assim, seguia o texto, o encontro tinha por objetivo “discutir os projetos, esclarecer metodologias de trabalho e definir as pessoas que assumirão o desdobramento de ações221”. Fazia-se questão, ainda, de destacar que a participação não se restringia aos profissionais de história e, sim, estaria aberta a todos que quisessem colaborar com o “resgate” da História do Oeste. Esse modo de pensar a organização do projeto era necessário dadas as demandas apresentadas e à natureza quase que filantrópica das ações dos integrantes do CEOM em seus primeiros anos. Ainda que se fizesse uso da estrutura da FUNDESTE, o sucesso do projeto parecia depender em muito do engajamento e da disposição individual daqueles que com as propostas/ideais apregoados se identificassem.

A rede de contatos estabelecia-se e fortificava-se à medida que a divulgação do projeto e das ações se convertia em eventos de capacitação e se materializava na publicação dos Cadernos do CEOM. Ato comum nessa política, consistia em estender os convites para eventos recebidos pelo CEOM, que já se constituía em espaço reconhecido por outros centros de educação, aos representantes dos demais municípios integrantes da área de atuação do Órgão. Isso era visto, por exemplo, no ofício remetido a Doílio Domingos Moscheta, Prefeito de Xanxerê, em 29 de junho de 1988, comunicando-o da realização de um “Encontro com os Museus da Região222” sediado no Museu Antropológico Diretor Pestana em Ijuí e promovido pela Universidade desta cidade. Junto do comunicado, fazia-se o convite à participação no evento de algum representante do Centro de Memória do Município de Xanxerê. Uma vez que a matéria, segundo anunciava-se, era de interesse do projeto que se

220 Ofício Circular de número 002. Assinado por Ilda Ana Brisot, Coordenadora

do CEOM com data de 30 de junho de 1988.

221 Idem.

222 Ofício remetido por Ilda Ana Brisot a Doílio Domingos Moscheta, Prefeito de

estava desenvolvendo, a indicação de um representante para acompanhar os membros do CEOM no referido encontro, era vista como de muito proveito.

Já no que diz respeito ao papel dos Cadernos e a continuada prática de envio de exemplares como meio de promoção do CEOM, temos ainda a edição de nº 04 que no início de julho já estava finalizada tendo registros de seu envio para várias instituições entre as quais: UNIPLAC, FURB, Secretaria de Estado de Educação, Museu Nacional de Belas Artes223, Deputado Federal Constituinte Antônio Carlos Konder Reis224 e, provavelmente, todos os demais destinos já apontados em envios anteriores. Ainda neste sentido, João David Folador225 remetia, em 08 de

julho de 1988, carta de São Lourenço D’Oeste à Ilda Brisot agradecendo o Caderno do CEOM recebido, o qual resumia como sendo o “Caderno sobre as balsas226”. Na mesma correspondência anunciava o envio, em retribuição, do “livreto sobre a História de São Lourenço d’Oeste227” em relação ao qual avalizava qualquer espécie de distribuição que por ventura o CEOM quisesse proceder. Uma questão importante envolve essa passagem e merece ser pontuada. Segundo consta, João Folador, advogado e sócio de jornal local, havia sido contratado pela própria prefeitura para elaborar o referido material – livreto - sobre a história do Município de São Lourenço D’Oeste. O envio a ele do Caderno do CEOM demonstra o reconhecimento de sua figura no tocante aos estudos do município em questão, ainda que o método de estudo e o modo de leitura histórica228 presentes na obra não fossem tão condizentes com o projeto

de “resgate” que se tinha para o CEOM. Este tipo de prática em que a escrita histórica ficava à cargo de pessoas com outras formações

223 Carta-formula nº 31/88-BIBL./MNBA enviada à Ilda Ana Brisot por Murilo

Ivan da Silva, Chefe da Biblioteca do MNBA em 18 de julho de 1988.

224 Cartão resposta enviado a Santo Rosseto pelo Deputado Federal Constituinte

Antônio Carlos Konder Reis em 29 de junho de 1988.

225 Responsável pelo jornal: “Folha do Planalto” em circulação de 1973 a 1980

de sua propriedade em parceria com o Sr. Egídio Moretto.

226 Correspondência enviada por João David Folador à Ilda Ana Brisot em 08 de

julho de 1988. São Lourenço D’Oeste.

227 Idem.

228 A esse respeito ver: MARIA, Mauricio de Fraga Alves. O elogio da coloniza- ção: os “pioneiros”, a história de Coronel Vivida e construção de uma narrativa

memorialístico/historiográfica no sudoeste paranaense. Revista Tempo, Espaço e Linguagem (TEL), v. 2 nº 2 p. 27-44 mai./ago. 2011 ISSN 2177-6644. UNESP/Assis. http://www.revistas2.uepg.br/index.php/tel/arti- cle/view/2661/2240#.WCnnWPkrLIU.

profissionais não era incomum e talvez, nesse caso, explique o tipo de leitura feita pelo autor. Ainda que não se tratasse de uma característica atribuída apenas a não historiadores.

No dia 24 de julho de 1988, Ilda respondia a João Folador a respeito do envio de sua obra.

Cumprimentando-o venho agradecer-lhe a remessa do exemplar “História de São Lourenço do Oeste229...”. O presente trabalho vai ao encontro da

proposta do CEOM em pesquisar a história de nossa região, abrindo espaços à pesquisa e ao ensino de nossa história. Gostaríamos de formar uma comissão municipal de resgate da documentação oral, visual, instrumental e impressa de São Lourenço d’Oeste. Temos certeza que muita coisa já foi resgatada (o presente livro é a prova), mas é nossa pretensão abrir um centro de memória onde o envolvimento da comunidade seja a tônica maior, e dessa forma conscientizar nosso povo do valor de nossa “cultura”230.

A despeito de trabalhos recentes como o de Mauricio de Fraga Alves Maria231, apresentarem a obra de João Folador como um elogio ao

modelo “tradicional” de trabalho histórico, de enaltecimento do “pioneirismo” e dos grandes homens, como aliás, foram caracterizadas por parte dos integrantes do projeto do CEOM as obras que naquele período tratavam do Oeste Catarinense, a resposta enviada ao autor, não só não assume postura crítica, como, ao contrário, elogia o feito que considera “ir ao encontro da proposta do CEOM232”. Não sem, ressalvar a intenção de que se formasse na cidade uma “comissão municipal de resgate da documentação oral, visual, instrumental e impressa233”. A hipótese, nesse caso, é que o interesse na efetivação da comissão com toda a ajuda possível se sobrepunha, no momento, ao posicionamento teórico e ideológico dos seus participantes entrando no grupo das estratégias e negociações necessárias para a efetivação do projeto que os seus

229 O nome completo da obra é História de São Lourenço d’Oeste e do Oeste de

Santa Catarina.

230 Correspondência enviada por Ilda Ana Brisot a João David Folador em 24 de

julho de 1988.

231 MARIA, Mauricio de Fraga Alves. Op. Cit.

232 Correspondência enviada por Ilda Ana Brisot a João David Folador em 24 de

julho de 1988.

responsáveis tiveram de lançar mão principalmente durante os primeiros anos de atuação.

Formar as comissões, entretanto, era apenas uma das urgências que se tinha. Capacitar tanto os membros dessas comissões quanto os próprios integrantes do CEOM era, talvez, ainda de maior precisão. Cumpre lembrar que nem material bibliográfico, nem pessoal com conhecimentos específicos faziam parte da realidade do recém-criado Órgão. Não causa espanto, portanto, o esforço em se conseguir doações de publicações sobre o tema e em se viabilizar a participação em eventos de qualificação. É nessa acepção que se dá o envio de ofício, por parte do CEOM, em 17 de julho de 1988, à Comissão Organizadora do Encontro Paulista de Preservação e Memória Fotográfica que seria realizado em Bom Retiro – São Paulo, visando inscrever um fotógrafo no referido evento. A Oficina em questão era a de “Documentação e Catalogação de Materiais Fotográficos – Sistema de recuperação de informações em acervos fotográficos234”. Isto era muito condizente com as novas demandas do CEOM, uma vez que, em 1987, os trabalhos de recuperação de fotografias passaram a fazer parte do projeto se constituindo, durante a segunda fase de atuação (1992-1997), como veremos adiante, em uma das mais importantes atividades desenvolvidas naquele período.

234 Ofício enviado por Ilda Ana Brisot à Comissão Organizadora do Encontro

CAPÍTULO II - UM PROJETO, VÁRIOS ENTENDIMENTOS;