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4. NO CONTEXTO DA PRÁTICA: A RESSIGNIFICAÇÃO DE UMA POLÍTICA

4.2 A relação da autoavaliação com a gestão universitária

Além de seu caráter político, o papel da avaliação interna enquanto instrumento de gestão também esteve presente na fala dos coordenadores de CPA, a exemplo do trecho a seguir:

Eu penso na avaliação como um processo. Não adianta você fazer uma avaliação e parar na avaliação. A gente tem que fazer a coleta de dados, tem que fazer uma análise dos dados que foram coletados, detectar os pontos fortes e os pontos fracos e depois fazer um plano de ação em cima dos pontos fracos. (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 06 DE JUNHO DE 2017).

A elaboração de planos de ação a partir dos resultados obtidos na avaliação interna é uma estratégia interessante e que pode auxiliar no cumprimento de metas e na consolidação de melhorias, contribuindo para que a avaliação não se torne um fim em si mesma. No entanto, tal estratégia só é eficaz se for acompanhada da instauração de grupos

de trabalho que acompanhem o planejamento, execução e avaliação das ações propostas, bem como trabalhe em parceria com a CPA no sentido de compreender, por meio dos resultados em ciclos avaliativos consecutivos, qual o impacto das ações empreendidas para a melhoria da qualidade institucional.

Tais elementos foram reforçados em uma entrevista, na qual a avaliação institucional é compreendida como:

Observar o que acontece, ter um olhar atento e observador para você prestar atenção no que está acontecendo...tem que ter um olhar crítico para ver nisso tudo que está acontecendo, um sentido, um objetivo, algo que foi planejado e construído coletivamente. Então, é isso mesmo que nós queremos? É essa pergunta que tem que nortear. É isso que foi proposto? A gente está indo nessa direção? Isso remete ao PDI, eu vejo o PDI como esse acordo de planejamento institucional. O que nós queremos, como queremos, quando queremos...então a avaliação é esse olhar atento com essa pergunta: o que está acontecendo está de acordo com o que a gente quer? [...] Então me prova, então me demonstra.” (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 23 DE AGOSTO DE 2017).

Tomando o PDI como um instrumento de planejamento e gestão, bem como um documento que apresenta a visão e a missão institucionais, Griboski, Peixoto e Hora (2018) ressaltam que quando compreendida como um processo que contribui para o acompanhamento do cumprimento da missão da IES, a avaliação institucional pode ser considerada o fundamento da existência da universidade. Neste sentido a avaliação interna auxiliaria na compreensão do conceito de qualidade institucional expresso em seu PDI e nos processos de avaliação externa.

Muito associada a ideia de contribuição para a elaboração de planos de ação e para o acompanhamento do cumprimento da missão institucional, está a visão da avaliação interna como um processo que permite identificar fragilidades e potencialidades institucionais, como apontaram membros de CPA:

A autoavaliação é um processo de autoconhecimento. Você precisa avaliar para você conhecer, mesmo apesar de, como já foi dito aqui, a gente na maioria das vezes já ter ideia de qual vai ser o resultado pela vivência na instituição, mas é uma forma de você registrar, de fazer esse autoconhecimento institucional e apontar realmente o que está bom, o que precisa melhorar (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA 19 DE JUNHO DE 2017).

O que tinha que nortear as avaliações seria o compromisso da unidade, enxergar aquilo ali não só como “ah, mais um questionário para responder”, enxergar aquilo ali como uma coisa que é para melhorar mesmo, corrigir rumos, continuar o que está bom (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA 19 DE JUNHO DE 2017).

Termos chave nas falas acima, o “autoconhecimento” e o “compromisso de unidade” associam-se à função da avaliação interna em conceder retrato fiel da realidade institucional, por meio da ampla participação e do desenvolvimento do senso crítico de sua comunidade acadêmica. Partindo deste pressuposto, Cunha (2013) destaca como principais finalidades da autoavaliação institucional: produzir conhecimentos, identificar a causa das deficiências e problemas, colocar em questão a realização das finalidades essenciais, ampliar a capacidade profissional e a consciência pedagógica dos professores20, tornar mais efetiva a articulação da universidade com o entorno social e julgar acerca da relevância científica e social do ensino, da pesquisa e da extensão.

Ainda no que se refere à relação da CPA com a gestão da universidade há que se considerar que embora haja limites nesse relacionamento, é fundamental a manutenção de um clima de confiança e de diálogo constante dos membros da CPA e os da gestão acadêmica e administrativa, tendo em vista o papel da avaliação interna em subsidiar ações de aprimoramento institucional. Neste contexto, uma coordenadora sinaliza que embora seja autônoma, a CPA não pode trabalhar de forma totalmente independente, sendo necessário que ocorra diálogo com a gestão no sentido de acordar ações que sejam ou não passíveis de execução dentro da universidade.

[...] a CPA é autônoma, mas ela não é independente, então todas as nossas ações que a gente vai colocar em funcionamento, a gente consulta, acorda com a gestão, não no sentido de receber a benção: “ah, agora você pode fazer isso”, não, de receber contribuição para inclusive melhorar as ações que estão sendo desenvolvidas. (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 23 DE JUNHO DE 2017).

Fica demonstrada a importância de manutenção de diálogo aberto entre os membros da CPA e os da gestão institucional, embora os conceitos de “autonomia” e “independência’, intimamente relacionados, pareçam não manter relação entre si. A referência de que apesar de a comissão não precisar receber a “bênção” para realização de seu trabalho (o que é compreendido como autonomia), toda ação da CPA é apresentada à gestão antes de ser posta em prática, pode ser percebido como evidência de não independência da CPA em relação à gestão.

20 A este item esta pesquisadora incluiria a ampliação da consciência pedagógica e a capacidade profissional de todos os envolvidos no processo, incluindo os técnicos administrativos e os estudantes, enquanto futuros profissionais.

Menezes (2012), ao realizar pesquisa com o intuito de analisar a apropriação dos resultados da avaliação interna pela gestão de uma IES do Centro-Oeste, conclui que a autoavaliação representa uma possibilidade de estabelecimento de um pacto entre a gestão e a comunidade acadêmica para a implementação de melhorias a partir das indicações da CPA. Segundo o autor há compreensão por parte dos gestores, da autoavaliação como instrumento que favorece a tomada de decisão. Rodrigues (2014) reforça a importância da avaliação interna enquanto instrumento de gestão, ao apresentar resultados de pesquisa realizada em um hospital universitário de Santa Maria em que a partir deste processo, fragilidades dos serviços e necessidade de capacitação dos colaboradores foram identificadas.

Tal compreensão parece ser compartilhada pelos membros de CPA entrevistados, que percebem a relação estabelecida entre a comissão e representantes da gestão como uma possibilidade de contribuição para a tomada de decisões institucionais, associadas neste caso, com a implementação de ações de melhoria.

O que seria de importante para que tenha mesmo, assim, a efetividade e tal, é a gente ainda conseguir integrar, de fato, a CPA no processo de contribuir para a tomada de decisão.[...] Então nós estamos passando essa informação, essa vivência para a pró-reitoria de ensino. Então o grande saldo ali, eu diria, é contribuir para que a universidade, para que os gestores, compreendam e participem efetivamente do processo de avaliação. (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 19 DE JUNHO DE 2017).

Para o reitor, para a vice-reitora, entregamos o relatório. Claro, existe uma relação de confiança, de cordialidade. A gente tem autonomia e depois a gente comunica. [...] Bom, já passamos para a administração central, estão lá tomando providências, organizando o espaço um pouco melhor (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 22 DE JUNHO DE 2017).

A possibilidade de estabelecimento de um canal de comunicação com representantes da gestão para a apresentação de resultados e estudo de melhorias a serem realizadas a partir deles é, portanto, reflexo do trabalho desenvolvido pela comissão, uma vez que a partir da percepção da importância das avaliações desenvolvidas, os gestores da universidade tornam-se mais receptivos e interessados em conversar sobre o assunto.

Nem sei se é tomada de decisão, a palavra certa. Pela gestão saber que a gente está ali trabalhando efetivamente, discutindo pontos importantes da universidade, eles estão com um olhar mais cuidadoso em relação ao que a gente está pensando, em relação aos relatórios que estão sendo produzidos. Eu acredito que, nas próximas tomadas de decisão, assim como na construção do novo PDI, eu acho que vai ter mais uma comunicação com a CPA, uma maior

comunicação (DEPOIMENTO EM ENTREVISTA, 10 DE AGOSTO DE 2017).

Embora os coordenadores de CPA entrevistados tenham relatado a existência de uma relação saudável e de confiança entre a gestão institucional e a comissão própria de avaliação, bem como o reconhecimento dos gestores sobre a importância da avaliação interna para o processo de tomada de decisões, não é possível afirmar que esta seja uma realidade vivenciada por todas as universidades.

Conforme apontam Maba e Marinho (2012) nem todos os gestores levam em conta os resultados da avaliação interna para a tomada de decisões ou consideram que estes resultados atendam a todos os níveis de tomada de decisão. Outros, de acordo com Menezes (2012) confundem avaliação com accountability ou percebem a possibilidade de uso das avaliações como uma utopia. Um exemplo dessa segunda variante, é a resposta dada por um dos coordenadores de CPA no questionário:

Embora faça o trabalho com algum grau de dedicação, não posso crer que de fato a CPA possa vir a interferir positivamente na administração da universidade. O trabalho é feito e atende a exigência do MEC, mas, para os membros da comunidade, pouco significativo ele é!!! (QUESTIONÁRIO, 2017).

Estes dados nos levam a inferir que pode haver outros casos, dentre as universidades investigadas, em que a relação entre o trabalho desenvolvido pela CPA e o processo de tomada de decisões e implementação de melhorias não estejam relacionados ou que se relacionem de forma incipiente, embora esta constatação não possa ser confirmada a partir dos resultados obtidos, já que não ocorreram mais manifestações dos participantes neste sentido.