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CAPÍTULO II OS DESAFIOS CIENTÍFICOS COM A IMAGEM

2.1 Composição Discursivo/Plástica

2.1.3 A Relação do Homem com o Espaço: a escala

Agora quem entra em relação na imagem são os elementos morfológicos com os dinâmicos. Os elementos escalares da imagem são de natureza quantitativa e ajudam a harmonizar o que já foi materializado na representação plástica, diferentemente dos dinâmicos, onde a natureza de sua atuação era qualitativa e ainda configuravam forças visuais na imagem. Um exemplo disso é possível se for considerada uma imagem onde um objeto que está em primeiro plano tem relação harmônica com um objeto no terceiro plano, e quando ambos forem ligados à uma perspectiva que obedeça o tamanho de cada um, em cada plano, ou seja, suas proporções são medidas pelo olhar e comparadas na imagem. Desse modo, são

estabelecidos como objetos escalares da imagem a dimensão, o formato, a escala e a proporção.

Da comparação do homem com as coisas, desenvolve-se a noção de dimensão. O homem sempre tenta conceber o ambiente onde vive segundo o seu tamanho. O que poderia ser uma concepção puramente de domínio de ambiente também se reflete na representação, e é buscado nas imagens.

Esta noção espacial-visual foi usada, ainda que de forma precária, no século XV, quando ensaiava-se o desenho da perspectiva. A perspectiva praticamente serve de matriz à projeção de planos em uma imagem tridimensional. Hulburt (1986, p. 74) conta que o ponto de fuga e a linha do horizonte começaram a ser usados como balizas dos elementos visuais, em desenhos com mais de dois planos. Um exemplo deste conceito básico de espacialidade é apresentado na Figura 20.

Figura 20 - Perspectiva projetada sobre figura geométrica Fonte: Dondis (1997, p. 76).

A dimensão hierarquiza os elementos visuais dentro do plano, sendo que o tamanho do objeto observado não muda, e sim sua distância em relação aos outros planos plásticos. Quando a dimensão é usada em desproporção à imagem real, ela

atribui grandeza e relevância às figuras representadas. Exemplo que pode ser encontrado nos contra-planos da TV e do cinema.

Elementos de cenário televisivo podem usar a alternância de dimensão para causar impacto visual, é possível constatar isso no tamanho dos sets de gravação e na imponência de seus cenários. Villafañe (2000, p. 157) afirma que tal impacto acentua-se quando o homem depara-se com uma imagem de mais de 27 metros quadrados.

Já quanto ao formato, é preciso recordar o que foi visto sobre o plano original da imagem. Relativo ao suporte material que recebe a imagem. Agora, o formato escolhido para o plano plástico torna-se elemento escalar. O formato irá ordenar a fruição do tempo na imagem e resultará sempre como primeiro elemento icônico da composição (VILLAFAÑE, 2000, p. 158).

Nas artes visuais o formato não segue rígidos padrões, suas forças dimensionais de largura e altura são usadas justamente para significar na obra. Já nas imagens televisuais, o padrão é formado pelo valor de ratio22 das linhas horizontais e verticais. Não que essa prática seja abolida das artes, pelo contrário, foi lá concebida, porém é mais notória nos dias de hoje sua presença nos dispositivos midiáticos.

O ratio largo, quando a imagem é mais horizontal que vertical, tem caráter de leitura, ocupa mais o campo visual de quem olha. O ratio curto é encarado, nesse aspecto, como transgressivo, e deixa as imagens mais descritivas. Esta característica denota a capacidade do elemento escalar formato de imprimir sequência temporal. Um exemplo deste esquema espacial é apresentado na Figura 21.

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Entende-se pela proporção dos dois lados de uma imagem. É conseguido pela medida da vertical, estendida pela sua horizontal. O menor dos dois valores se reduz à unidade, e o outro é o quociente entre o maior e menor (VILLAFAÑE, 2000, p. 158).

Figura 21 - Ratio na descrição de Villafañe Fonte: Villafañe (2000, p. 159).

A relação de tamanho dos objetos da imagem permite ao observador elaborar uma justa relação da imagem que se olha, com a realidade. Quem trabalha neste aspecto é o elemento escala. Este é considerado por Villafañe (2000, p. 160) como o elemento escalar mais sensível, pois resguarda as características estruturais de um objeto apesar de sua variação de tamanho entre os planos de uma imagem.

Nas imagens reais observadas no dia-a-dia, os objetos não podem variar de tamanho, mas sim, a percepção os relaciona com o ambiente dependendo de sua proximidade com o observador. Diferente da realidade, na imagem produzida o objeto pode variar de tamanho, entrando numa relação de escala, para que a representação de terceira dimensão possa acontecer. A escala trata assim, de organizar estes objetos dentro dos planos plásticos estabelecidos para que haja harmonia entre o objeto e o meio onde está representado, e vice-versa.

As relações entre objetos na imagem são definidas por Dondis (1997, p. 72) como a justa adequação do tamanho dos objetos às medidas do homem, onde o grande não pode existir sem o pequeno. Se a imagem propõe-se a imitar o real, o tamanho do homem deve servir como base, e tudo concebido a partir dele. A exemplo do que acontece no design, principalmente na área do conforto e

ergonomia23, tudo o que é fabricado leva em consideração um tamanho médio que corresponde às proporções humanas.

Depois de tratar da relação dos objetos com os elementos da imagem nos planos plásticos em que estão distribuídos, é vez de tratar da relação de tamanho das partes do mesmo objeto. É importante entender que estas relações escalares devem ser excelentes na televisão para que a noção de realidade possa ser alcançada. Qualquer desordem neste aspecto poderia comprometer a construção da credibilidade do que é apresentado no telejornal. Isto justifica a atenção agora aos elementos ordenadores da composição.

Nesta busca de relação harmônica de tamanho entre as partes de um objeto, o elemento escalar proporção desempenha papel fundamental. A harmonia de proporções atravessa os séculos desde 5 mil anos antes de Cristo, quando, segundo Villafañe (2000, p. 160), civilizações orientais usavam a cabeça como módulo dimensional a partir da qual, todo o corpo humano seria reproduzido. Algumas vertentes da arte da escultura representam bem isso.

Nesse tempo todo, o modelo que mais se aproximou nas relações de proporção foi o da "seção áurea" ou "proporção áurea", técnica que estabiliza a imagem eliminando dela praticamente toda a tensão. Ferramenta considerável para desenvolver a composição de um cenário televisivo que enfoque a apresentação de notícias.

A seção áurea é conseguida quando secciona-se um quadrado, que seria o plano original, em duas partes iguais, e projeta-se a diagonal de uma das partes sobre a base do quadrado, até que se obtenha um retângulo. A Figura 22 mostra melhor este modelo.

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Trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema. Definição feita pelo Conselho Científico Internacional de Ergonomia em 2000.

Figura 22 - Modelo de seção áurea Fonte: Dondis (1997, p. 74).

Villafañe (2000, p. 163) afirma que estas proporções são melhores assimiladas pelo campo de visão humano, tendo sua possível concepção baseada na tradição ocidental de criar imagens, desde o Renascimento. Claro, a influência da escrita e leitura ocidental da esquerda para direita está estritamente ligada a este tipo de proporção.

Com os elementos escalares da imagem encerro a conceituação dos aspectos icônicos da imagem, esperando ter feito um panorama abrangente sobre suas capacidades de significação. Também espero que este apanhado, embora pareça um pouco cansativo, possa ajudar o leitor a compreender o raciocínio de suas aplicações nas análises. Agora procuro abordar os aspectos de significação na imagem sequencial.