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A religiosidade como alicerce para a Educação

5.1 O PROFESSOR DE PRIMEIRAS LETRAS NA FORMAÇÃO DE VIRTUDES E

5.1.1 A religiosidade como alicerce para a Educação

No Manual de Pedagogia de Daligault, o princípio da existência humana é atribuído a Deus, o ente superior da Igreja católica44. Portanto, os professores, como seguidores da religião instituída, deveriam ministrar e organizar suas aulas de acordo com os princípios previstos pela Igreja Católica.

No prefácio do Manual, o professor de primeiras letras é identificado como um instrumento para civilização, mas dentro dos princípios religiosos da Igreja Católica. Assim, tem seu trabalho compreendido como fundamental para tornar as crianças aptas para conviver em uma sociedade idealizada pelos dirigentes do período.

O principal objecto da missão do Professor é conduzir á virtude os meninos, que lhe são confiados. Achando-se elle obrigado a despertar e fecundar sua intelligencia, e devendo, tanto quanto estiver em seu alcance, favorecer o desenvolvimento de suas entidades physicas, não póde comtudo limitar á isto somente os seus esforços, sem confundir, por um erro funesto e culpável negligencia, os meios com o fim. Conhecer a Deos e observar os seus preceitos tal é a destinação para que o homem foi creado, tal objeto que a consciência e a religião proclamão como a unica cousa necessaria (DALIGAULT, 1870, p. 13).

entendemos que esse Manual assegura práticas e ideais pretendidos por eles para a instrução pública elementar. Em especial, o caráter de religiosidade empregado pelo autor, e reforçado pelo tradutor, denota que a presença da religião era vista como fundamental ao trabalho do professor.

Além disso, a educação intelectual definida no Manual é colocada em detrimento à educação moral e religiosa, conforme podemos perceber na página 247:

Mais importante que a educação intellectual, que esclarece o espirito, a educação moral forma o coração, isto é corrige-os defeitos do caracter, destróe ou previne os máos hábitos, dispõe a vontade, para seguir os preceitos da virtude em uma palavra, assegura a observancia da lei que todo o homem, que vive na sociedade, acha gravada no fundo de seu coração, a qual se chama lei natural. Esta lei emana evidentemente do proprio Deos, porque se não fosse assim ella não seria mais do que uma inexplicavel ilusão do espirito humano (DALIGAULT, 1870, p. 247, grifos do autor).

Prevendo a religião como parte integrante da organização social, e que as qualidades humanas são garantidas por aqueles que seguem uma lei divina, Daligault define que não há possibilidade de vida social ser organizada sem a religião. Sobre a “lei natural”, o autor continua:

Debaixo desta relação ella é pois uma verdadeira lei religiosa. Por outro lado a lei religiosa propriamente tal, reproduz exaciamente os preceitos da lei natural. Sem duvida a lei religiosa completa, eleva enobrece e aperfeiçoa os deveres, que a lei natural nos impõe, ella os esclareçe com sua divina luz, e facilita o cumprimento d‟elles pelos meios espirituais que põe a nossa disposição, mas tanto esta como aquella tem um unico e idêntico objecto, que é: o amor do bem e a pratica da virtude (DALIGAULT, 1870, p. 247). Nessa perspectiva, para Daligault, mais do que saber ler e a escrever, é preciso que os alunos tenham conhecimento das virtudes e se apropriem da educação moral e religiosa, que deve ser transmitida pelo professor.

Outro aspecto que reforça a religião como um dos alicerces para o alcance do ideal de sociedade previsto, e o professor como um instrumento desta, devendo entender sua profissão como uma vocação, é descrito por Daligault:

O que eleva porém, sobretudo o magisterio, é a magnitude dos interessos, que lhe são confiados. Encarregado de educar as gerações novas, o Preceptor completa, por assim dizer, a obra de Deos. Elle é o depositário dessa autoridade sancta, conferida ao pai de familia pela Providencia, a natureza, e as leis. Influe de maneira mais efficaz no destino temporal e eterno dos meninos, que em torno d‟elle se reúnem. Segundo o modo porque preenche

derramando por toda a parte os germens e corrupção e de morte (DALIGAULT, 1870, p. 18).

Percebemos, neste momento, que existem duas formas para definir a qualidade do trabalho do professor, pois, ou ele se torna um instrumento eficaz para a civilização nos moldes almejados pelos dirigentes do período ou, ao contrário, é visto por estes como alguém que destrói esta sociedade tão perfeita. Este entendimento compreende uma formação religiosa através da qual os alunos entendem a religião e a divisão social como ordens divinas, que não devem ser questionadas e, não sendo desse jeito, uma formação livre do posicionamento geraria alunos que não respeitam as normas e convívio social e, portanto, se tornariam um problema social.

A partir do entendimento que todo grupo social possui uma ideologia, mas que o grupo dominante utiliza diferentes veículos para impor aos demais a sua, a fim de que a ideologia seja uma forma que assegura o poder, o Manual de Daligault pode ser entendido como uma forma de instrumentalizar o professor para contribuir na formação da sociedade idealizada pelos dirigentes em Santa Catarina.

Nesse sentido, o conceito de ideologia de Chauí (1980) é bastante elucidativo. Para a autora,

[...] Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias [sic] e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador [...] (CHAUÍ, 1980, p. 43, grifos da autora).

Considerando esse conceito, o Curso Prático de Pedagogia pode ser entendido como um veículo para a imposição da ideologia dominante no século XIX em Santa Catarina, através do professor, que tem acesso junto a diferentes setores e classes sociais.

Mészáros (2004), sobre ideologias dominantes, afirma:

Compreensivelmente, a ideologia dominante tem uma grande vantagem na determinação do que pode ser considerado um critério legítimo de avaliação do conflito, já que controla efetivamente as instituições culturais e políticas da sociedade. Pode usar e abusar abertamente da linguagem, pois o risco de ser publicamente desmascarada é pequeno, tanto por causa da relação de forças existente quanto ao sistema de dois pesos e duas medidas aplicado às

Esta definição de Mészáros contribui para o entendimento da chegada do Manual europeu em Santa Catarina, pois, embora no continente europeu, durante o século XIX, o ensino estivesse se estabelecendo como laico, a Província catarinense adotou uma referência que estabelece a religião como necessidade. Naquele momento, percebemos que a França é adotada como modelo de sociedade, mas o modelo trazido para Santa Catarina é o que consente os dirigentes da Província, ou seja, aquele que soma para imposição de certa ideologia.

Schmidt, Schafaschek e Schardong (2012), em leitura das publicações dos jornais publicados em Desterro45 no século XIX, contribuem ao informar o entendimento desses jornais sobre a laicidade do ensino na França, ao afirmar que,

A discussão do modelo educacional francês era questão presente com regularidade nos periódicos impressos em Desterro, na segunda metade da década de 1850. A preocupação maior era mostrar os estragos que os princípios revolucionários haviam criado na educação francesa (SCHMIDT; SCHAFASCHEK; SCHARDONG, 2012, p. 220).

Segundo as autoras, as discussões dos Jornais apuravam que

Um dos grandes defeitos da instrução refinada, e da civilização quase excessiva da França, é de ter feito desaparecer o sentimento religioso, à proporção que a inteligência se desenvolvesse a instrução primária particularmente, sérvio de propaganda ao espírito de revolta [...] (SCHMIDT; SCHAFASCHEK; SCHARDONG, 2012, p. 219).

O professor, neste contexto, precisa fazer com que seus alunos atendam os pressupostos sociais e religiosos da época: ter inteligência para ler, escrever e fazer cálculos, possuir habilidades físicas, ter uma prática social embasada em virtudes e, sobretudo, ser cristão.

Na terceira parte do Manual intitulada Educação Moral e Religiosa46, Daligault apresenta definições sobre o que são virtudes.

45 Conforme mencionado anteriormente, Desterro é atualmente Florianópolis.

46 Essa parte do Manual define os defeitos dos meninos que devem ser banidos, as virtudes morais e as virtudes

religiosas que devem ser transmitidas pelo professor e os meios que devem ser usados para assegurar e fortalecer a educação moral e religiosa.

sua lei; 2º a caridade, ou o amor do próximo por amor de Deos; 3º a humildade, ou o sentimento profundo que o verdadeiro christão tem á respeito de sua própria fraqueza (DALIGAULT, 1870, p. 277, grifos do autor).

A transmissão das virtudes religiosas, nesse contexto, compreendia disseminar a crença em um Deus que é superior aos homens, a benevolência entre si e para o Deus, e reconhecer-se em de subserviência ao Deus.

Para desempenhar o papel de transmissor das virtudes religiosas e morais, o professor deve “Estudar o caracter dos meninos”, banir os defeitos que forem apresentados pelos alunos, assegurar que os alunos adquiram e conservem as virtudes que são essenciais e aplicar, no cotidiano das escolas de primeiras letras, diversas formas para fortalecer o “instincto moral e o sentimento religioso” (DALIGAULT, 1870, p. 248, passim).

A forma prática de os professores transmitirem essas virtudes e fazer com que seus alunos as pratiquem é descrita por Daligault através de oito passos:

Oito meios há que nos parecem principalmente proprios para desenvolver nos meninos o instincto moral e o sentimento religioso. São os seguintes: 1.° exemplo do Mestre; 2.° historias edificantes; 3.° contos moraes e cânticos; 4.º exercícios religiosos; 5.ºconsideração das maravilhas da natureza; 6.°lembrança viva e continua da presença de Deos; 7.° (temor de contrariar a ordem de Deos, ou desagradal-o) e temor dos castigos, que ameação a transgressão da lei Divina; 8.º finalmente, esperança firme das recompensas prometidas, ou assegura-las á virtude (DALIGAULT, 1870, pp. 277-278). Assim, o professor deve ser exemplo e possibilitar formas através das quais as virtudes sejam exercidas na escola, e manter a figura de Deus como ente superior que rege aqueles que forem virtuosos e castiga aqueles que assim não forem.

Conforme Daligault, as virtudes morais são: Pureza de costumes, Piedade filial, Amor fraterno, Probidade, Benevolência e polidez, Respeito aos superiores e aos mais velhos, e Respeito à lei e aos magistrados.

A Pureza de costumes, descrita na página 261 como a qualidade através da qual os alunos se mantém livres de cometer atos maldosos, como desrespeitar os adultos e ter conversas impróprias para sua idade (neste caso entendemos que estas conversas são as relacionadas a sexo, bebidas alcoólicas e drogas), para assegurar essa virtude nas escolas mistas é necessária a separação entre meninos e meninas (DALIGAULT, 1870).

página 263. O Amor fraterno, apresentado na página 265, consagra a Piedade filial, pois se resume em amor e respeito aos irmãos, aqueles que são filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Para explicar como acontece o cumprimento da virtude Probidade, escrita na página 267 do Manual, Daligault dá exemplo sobre o „direito de propriedade‟ que o professor deve transmitir aos alunos, afirmando que toda propriedade é “fructo do trabalho, ou da pessoa que possue, ou dos que lhe transmittiram seus títulos”. Ao explicar sobre essa virtude, Daligault assegura o roubo como um comportamento impróprio para aqueles que o compreendem, e salienta que os bens públicos ou do Estado deve ser zelados por todos (DALIGAULT, 1870, p. 267).

Benevolência e Polidez, na página 271, assegura a boa convivência entre os alunos, a partir do entendimento que todos possuem necessidades em comum e, por isso, não são necessários conflitos (DALIGAULT, 1870).

Respeito aos superiores e aos mais velhos, virtude escrita na página 273, conforme o autor, garante a ordem social e a prosperidade pública, pois assegura que os alunos saibam respeitar os mais velhos e as figuras superiores da Província (Membros do clero, Chefes e donos de fábricas) (DALIGAULT, 1870, p.273).

A última virtude, Respeito à lei e aos magistrados, conforme Daligault, deve ser transmitida pelo professor aos alunos ao conceituar o que é lei e quais são suas vantagens para a sociedade. Descrita como uma forma de assegurar a ordem social, Daligault define que “Revoltar-se contra a lei, é pois, attacar a propria sociedade; é querer arruínal-a, e destruil-a; pois que sem uma lei, seja ela qual for, não é possível haver sociedade; conseguintemente, é fazer um acto, que tende a anniquilar todos os fructos da civilisação” (DALIGAULT, 1870, p. 275).

Sobre as virtudes escritas por Daligault, entendemos que estas são formas de garantir a ordem social. Além disso, entendemos as virtudes descritas acima como um meio de assegurar a presença das ideologias dominantes. Assim, garantindo a manutenção do poder para aqueles que estão em situação econômica favorecida. Em outras palavras, toda a educação a serviço da manutenção da ordem social estabelecida.

Xavier (1992), ao abordar a realidade brasileira do século XIX como resultado da manutenção da dependência colonial, afirma que, nas relações deste período, não deixaram de acontecer formas de controle, do mesmo modo que aconteciam no período colonial. Agora, estas não aconteciam apenas por poderio político, mas “pela aliança econômica com a classe dominante nacional” (XAVIER, 1992, p. 110).

dependência cultural como estratégia para controlar e manter o quadro hierárquico de organização social, e

Daí a escola, como centro distribuidor de cultura por excelência, ter sido a instituição basicamente afetada pelo transplante: a sua organização, os seus conteúdos, os seus métodos, a própria legislação escolar enfim, passou, mais do que nunca, a consagrar os modelos alheios. Também a cultura constituía- se num bem a ser consumido, e a legislação e as instituições escolares, em conseqüência [sic], assumiram um caráter “autônomo” e alienado em relação à realidade nacional (XAVIER, 1992, p. 110, grifos do autor).

Sobre o “objecto da missão do professor”, na página 18 do Manual, Daligault comenta três aspectos a considerar na formação dos alunos: força física, razão e o entendimento do professor sobre o que é felicidade para os alunos (DALIGAULT, 1870, p.18).

A força física é descrita como uma vantagem para a vida daqueles que fazem parte da classe operária, pois estes estão “condemnadas a procurarem nos mais rudes trabalhos o seu pão quotidiano” (DALIGAULT, 1870, p. 18). Além disso, o autor comenta a necessidade de a força física ser trabalhada pelo professor com seus alunos, pois,

[...] Com quanto o vigor do corpo seja principalmente um dom da natureza, e tambem um dos resultados da educação, o Professor póde até certo ponto fazer conseguir, ou garantir a seus jovens discipulos esta riqueza do pobre, que preservando-os, por uma continua vigilancia, de toda a influencia prejudicial à saude (DALIGAULT, 1870, p. 18).

Ao considerar a Educação Física conforme descrita no manual, fica evidente a intencionalidade em manter a estrutura social existente, pois possibilita a disciplina para os estudos e, além disso, o condicionamento físico adequado para aqueles que forem utilizá-lo em seu trabalho, para que saibam debruçar-se na labuta árdua, pois isso assegura a existência da classe trabalhadora.

O professor, nesse processo, também é instrumento de manutenção e afirmação dos modos de ser e estar das classes que ocupam a ordem social dominante no século XIX. Deve ensinar seus alunos a pensar, refletir e raciocinar a partir de determinados princípios, enfatizando as diferenças entre as classes sociais que os alunos pertencem como naturais ou resultado da vontade divina, transmitindo os conhecimentos necessários para cada um cumprir o seu destino.

uma cultura escolar através de um discurso ideal, que favoreça a manutenção das relações de dominação.

De acordo com Mattos (2012, pp. 118-119, grifos do autor),

[...] A cultura (o singular é importante) é aí entendida como oposta à barbárie – e, nos quadros do Iluminismo, às explicações de base religiosa do mundo – e associada a um caminho de evolução progressiva do conhecimento humano universal, banhado pelas verdades oriundas de um conhecimento científico/positivo que tenderia superar as traduções obscurantistas das visões de mundo primitivas dos povos incivilizados. Contraditoriamente, tal concepção pôde tanto justificar a superação das bases ideológicas do domínio senhorial do Antigo Regime, quanto ser invocada para apresentar como missão civilizatória a sanha de exploração neocolonial e imperialista.

Ao descrever como o professor deve entender o que é a felicidade para seus alunos, Daligault a cita como uma virtude que deve ser transmitida aos meninos, compreendendo seu trabalho como uma missão e reconhecendo os alunos como um “solo virgem” em que se deve lançar “uma preciosa semente, que produzirá os mais felizes fructos” (DALIGAULT, 1870, p. 19).

Neste momento, mesmo que Daligault não apresente uma definição sobre a infância, deixa claro certo entendimento da diferença entre crianças e adultos, colocando as primeiras na posição de seres ingênuos, desprovidos de conhecimento e que devem se tornar adultos para cumprir o seu destino.

Sobre a felicidade, Daligault completa:

[...] o Preceptor concorre com o Sacerdote na sublime missão, que lhe está confiada, de conduzir suas ovelhas ao supremo fim de todos os homens nesto mundo. Como o Sacerdote ele narra á seus discipulos, ou jovens alumnos, as infinitas grandezas de Deos, e a magnificência de suas recompensas; como Sacerdote faz-lhes apreciar o immenso beneficio da Redempção, e amar a doutrina Sancta do Divino Redemptor; como Sacerdote os inicia, mais ainda pelo exemplo do que com as lições, na pratica de todas as virtudes christãs; e como o Sacerdote emfim lhes mostra o Céo, e abre o caminho que á elle conduz (DALIGAULT, 1870, p. 20).

O Professor é uma figura que representa a Igreja Católica na Escola de Primeiras letras, e deve fazer essa representação através do exemplo, tornando-se, para os alunos, uma referência de vida cristã. E a felicidade neste caso, é uma virtude ancorada na crença religiosa; pois, ao crer em Deus e considerá-lo a entidade superior que decide sobre a natureza das

necessidade de ser questionada.

Contrária à oportunidade de emancipação, esta concepção de mundo assegura que se mantenha estático o lugar ocupado pela classe baixa na divisão social por classes econômicas. Os integrantes desta classe inferiorizada economicamente passavam a viver a ordem social estabelecida por Deus e conseguiriam, ao fim de suas vidas, ir para um lugar em uma dimensão não material, que não é mais dividida por classes, o céu. Assim, seriam gratificados com uma redenção, como gratificação por ter suportado a opressão e subalternidade.

Neste contexto, evidenciamos que a religião era importante do contexto educacional, pois configurava-se como uma forma de valia para assegurar a ideologia dominante no século XIX em Santa Catarina.

Alertando sobre a possibilidade de esse discurso estar atrelado a interesses materiais, Mészáros (2004) contribui ao ensinar:

[...] Os interesses sociais que se desenvolvem ao longo da história e se entrelaçam conflituosamente manifestam-se, no plano da consciência social, na grande diversidade de discursos ideológicos relativamente autônomos (mas, é claro, de modo algum independentes), que exercem forte influência sobre os processos materiais mais tangíveis do metabolismo social (MÉSZÁROS, 2004, p. 65, grifos do autor).

Portanto, não podemos entender o trabalho do professor descrito no Curso Prático de Pedagogia como autônomo às relações sociais de seu tempo, pois percebemos que seu conteúdo favorece relações materiais de produção, e tem um discurso que privilegia aqueles que estão em melhor condição na hierarquia social econômica.

O papel do Professor das escolas públicas de Primeiras Letras, enquanto formador de virtudes, nesse contexto é fundamentado pelos princípios da Religião Católica, sendo ela um alicerce para seu trabalho, e o professor, figura importante para a sociedade, desempenha o papel de influenciá-la, na intenção de afirmar a ordem social estabelecida pelos dirigentes do governo catarinense oitocentista.

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