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7 Perfil Distributivo das Políticas Sociais: aposentadorias, pensões e riqueza

7.6 A Renda dos Ricos e as Aposentadorias e Pensões

relacionada a esse sistema de aposentadorias e pensões enviesado? O primeiro passo para responder esta questão é analisar qual a importância dos benefícios na renda

familiar de pessoas dentro e fora do grupo dos ricos. A renda de muitas das famílias é composta não apenas por benefícios, mas também por rendimentos de outras fontes, sendo perfeitamente possível que o peso dos benefícios na renda total dos indivíduos varie entre segmentos distintos da população. Mesmo dentro de um único segmento, não há razão para crer que esse peso seja sempre o mesmo. As aposentadorias e pensões podem ser uma fonte crucial de renda para algumas famílias e, para outras, um rendimento de menor importância.

O gráfico 7.6 permite avaliar, distinguindo os grupos dos beneficiários ricos e o dos não-ricos, a contribuição proporcional dos benefícios na renda familiar total segundo diferentes frações desses grupos. Trata-se de um gráfico de dispersão no qual, no eixo horizontal, as subpopulações (beneficiários ricos e não-ricos) estão ordenadas de modo crescente em função do peso dos benefícios na renda familiar, cuja proporção é apresentada no eixo vertical. A curva em cor preta representa a dispersão dos não- ricos e a curva em cinza representa os ricos.

Gráfico 7.6 - Proporção do Benefício na Renda Total segundo Frações das Populações de Beneficiários Ricos e Não-ricos – Brasil – 1999

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Fração da População P ro p. B en ef íc io s / R en da T ot al Ricos Não-ricos

Fonte: IBGE-PNAD 1999, Microdados

O primeiro ponto a ser destacado é que a curva cinza que representa os ricos está sempre abaixo da curva dos não-ricos, em preto, indicando que, para a composição da

renda total dos beneficiários, as aposentadorias e pensões são um componente menos importante entre os ricos. Observando-se os ricos é possível notar que as aposentadorias e pensões dos primeiros 20% dos beneficiários representam aproximadamente 10% da renda familiar total. Entre os não-ricos, porém, esta proporção é quase três vezes maior.

Um segundo ponto que merece destaque é que, para a maioria da população beneficiada, as aposentadorias e pensões não são a única fonte de renda das famílias. Para mais da metade dos beneficiários ricos as aposentadorias e pensões sequer são a principal fonte de renda. Apenas 20% dos beneficiários ricos vive exclusivamente delas. Entre os não-ricos, porém, cerca de 60% da população de beneficiários tem as aposentadorias e pensões como principal fonte de rendimentos e cerca de 30% deles as têm como única fonte.

O papel das aposentadorias e pensões na constituição de um estrato rico pode ser analisado a partir de uma seqüência de simulações do efeito da supressão total ou parcial dos benefícios sobre as medidas de riqueza. Essas simulações consistem em estabelecer sucessivos patamares superiores que funcionem como valor de “teto” para as aposentadorias e pensões dos ricos, calcular quais seriam as rendas domiciliares caso os tetos fossem aplicados, mantendo tudo mais constante, e, a partir dessas rendas hipotéticas, recalcular as medidas de riqueza. Se os benefícios têm importância menor na renda da maioria dos ricos, é de se esperar que sua supressão não afete muito essas medidas.

O gráfico 7.7 apresenta o resultado da primeira dessas simulações. Nele os “tetos” utilizados são apresentados no eixo horizontal e o efeito simulado sobre a renda familiar per capita média no eixo vertical. A primeira barra corresponde à situação real (observada), sem a imposição de nenhum limite para as aposentadorias e pensões, na qual a renda per capita média é de R$ 3.487 em valores de setembro de 1999. Com a imposição de um limite de R$ 5.000, a redução da renda per capita média é muito pequena, o que era de se esperar, posto que se trata de um teto bastante alto. O que merece destaque é que, com a imposição de sucessivos limites até o teto de R$ 500,00, a renda média não sofre uma queda brusca. Mesmo na hipótese de supressão completa de todas as aposentadorias e pensões dos ricos, o que equivale, no gráfico 7.7, ao estabelecimento de um teto igual a zero, a renda familiar per capita média dos ricos seria ainda de R$ 3.145, ou seja, a queda em relação à situação real não seria muito mais

do que 10%, o que permite dizer que o impacto dos tetos sobre as rendas dos ricos é um tanto restrito.

Gráfico 7.7 - Simulação do Efeito de Limites Superiores para

Aposentadorias e Pensões na Renda Familiar per capita da População

Rica – Brasil – 1999 2.000 2.200 2.400 2.600 2.800 3.000 3.200 3.400 Nenhum 5.000 4.500 4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0

Limite Superior de Aposentadorias e Pensões

R en da F am ili ar p er c ap ita M éd ia .

Fonte: IBGE-PNAD 1999, Microdados

A sensibilidade relativamente baixa da renda per capita média dos ricos a cortes nos benefícios deve-se à importância limitada das aposentadorias e pensões para os ricos como um todo. A tabela 7.3 indica que 25% dos ricos é beneficiária. O gráfico 7.6, por sua vez, demonstrou que, desses beneficiários, 20% têm nos benefícios sua única fonte de renda. É de se esperar, portanto, que a supressão de aposentadorias e pensões afete de modo mais intenso apenas uma fração pequena dos ricos.

Gráfico 7.8 - Simulação do Efeito de Limites Superiores para Aposentadorias e Pensões na Proporção de Ricos na População – Brasil – 1999

Fonte: IBGE-PNAD 1999, Microdados

Uma segunda simulação, apresentada no Gráfico 7.8, permite avaliar como a imposição de limites sucessivos às aposentadorias e pensões afeta a proporção de ricos na população brasileira, a qual equivale à medida R0 proposta anteriormente (ver Apêndice I). Nele é possível observar que até a imposição hipotética do teto de R$ 2.500 as limitações nos benefícios não possuem grandes efeitos sobre as proporções de ricos no país. Observa-se, porém, uma queda destacada quando o teto é estabelecido em R$ 2.000. Isto ocorre, principalmente, porque nesse ponto são afetados muitos beneficiários ricos que têm nas aposentadorias e pensões sua principal fonte de rendimentos.

É importante ressaltar que, se esses limites fossem estabelecidos com o propósito de redistribuir os recursos do sistema, seu efeito seria extenso no que diz respeito a favorecer os beneficiários mais pobres e restrito nos prejuízos aos ricos. Vale notar que, conforme mostra o gráfico 7.4, cerca de 80% dos beneficiários do sistema como um todo recebem aposentadorias e pensões com valores abaixo de R$ 500,00, que é o mais rigoroso dos tetos hipotéticos positivos avaliados. Com a supressão completa

0,70% 0,75% 0,80% 0,85% 0,90% 0,95% Nenhum 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

Limite Superior de Aposentadorias e Pensões

P ro po ão d e R ic os n a P op ul ão - R 0 .

das aposentadorias e pensões para os ricos sua proporção na população (R0) se reduziria de 0,91% para 0,79%, uma queda de pouco mais de um décimo do índice observado nos dados da PNAD 1999.

7.7

Desigualdades nas Aposentadorias e Pensões: