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A reorganização do ensino primário: os grupos escolares no início do século

3 A CRIAÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES NO ESTADO DO PARÁ NO

3.3 A reorganização do ensino primário: os grupos escolares no início do século

A constituição do governo republicano no estado do Pará foi estabelecida em meio a muitos embates políticos, a exemplo do início da República, que foi conturbada, marcada por impasses evidenciados no ato de sua proclamação, um golpe de estado contra o império, distanciando-se de uma República Popular. Segundo Rocque (2001), estudioso dedicado à história do Pará, a República no referido estado começou com fortes conflitos, devido a algumas situações: o marechal Deodoro nomeou Justo Chermont para governar, juntamente com os vice-governadores Paes de Carvalho, Manoel Barata e Gentil Bittencourt, com posse em 17 de dezembro – este governo ficou um pouco mais de ano. Em 22 de janeiro de 1891, Deodoro nomeou Chermont ministro das Relações Exteriores. Como Manoel Barata e Paes de Carvalho foram eleitos senadores, em 5 de fevereiro Gentil Bittencourt foi empossado. Após cinquenta dias, em 25 de março, aportava em Belém o novo Governador nomeado, o capitão-tenente Duarte Huet de Bacellar Pinto Guedes. Essa nomeação desagradou os paraenses, porque a “República continuava a velha prática da Monarquia, a de nomear alienígenas para chefia do Pará.” (ROCQUE, 2001, p. 81).

Desse modo começou o governo provisório no Pará, isso motivou o início de uma revolta liderada por Francisco Xavier da Veiga Cabral (Cabralzinho) em junho, que tinha como propósito impedir a instalação do Congresso Constituinte e depor o governador Huet de Bacellar e colocar como governador Vicente Chermont de Miranda, chefe do Partido Democrata. Foram apaziguados os revoltosos e o Congresso trabalhou rapidamente, para aprovar a Constituição do Pará e, evitar que “alienígenas” continuassem a governar o estado. Assim, por força constitucional, foi eleito o primeiro governador paraense: Lauro Sodré e o vice, Gentil Bittencourt, com posse solene em 24 de junho de 1891. Entretanto, após cinco meses de governo, em 3 de novembro, o presidente Deodoro dissolvia o Congresso Nacional e Sodré foi o único govenador a não apoiar este ato, “rebelou-se contra as medidas extremas colocadas em prática pelo chefe da nação.” (ROCQUE, 2001, p. 82). Nesse caso, teve apoio daqueles que propagavam a República no Pará,76 do Congresso do Estado, do Senado, Câmara dos Deputados e amparado pelas passeatas populares, foi felicitado o então governador por tal ação. Com a renúncia de Deodoro, o presidente Floriano Peixoto destituiu

76Paes de Carvalho, Justo Chermont, Manuel Barata, Magno de Araujo, Serzedello Corrêa, Matta Bacellar,

Ignácio Nogueira, Antonio Sérgio Dias Vieira da Fontoura, professores Manoel João Alves e Raimundo Martins, major Baena, major Antonio Pedro Borralho, Joaquim Travassos da Rosa, Antonio Felippe de Souza, etc. (PROENÇA, 1937, p. 89-90).

todos os governadores que apoiaram esse presidente e Sodré foi o único que restou no cargo (ROCQUE, 2001). No governo de Lauro Sodré – como já expliquei no capítulo anterior, quanto tratei da criação do Grupo Escolar no Pará–, a atenção foi à educação profissional e à Constituição de 1891, que garantiu seu cargo, pouco se dedicando à Instrução Pública Primária.

Naquele tempo, o legislativo era denominado de Congresso, composto por duas Câmaras: a de Deputados e a de Senadores, dentre as competências estavam a de legislar a Instrução Pública e o desenvolvimento das ciências, das letras e das artes (art. 22, inciso 17). Entretanto, a Constituição de 1891 do estado do Pará pouca referência fez à educação, não lhe dedicando um título ou um capítulo; a inferência que fez foi quanto ao Conselho Municipal: “Art. 59. Ao Conselho Municipal, além de outras atribuições que constarão da lei ordinária, compete: 9. Fomentar a instrução dentro do município, creando as escolas que seus recursos permitirem, sujeitas às leis e programma da instrução publica do Estado”. (PARÁ, 1891). No entanto, a referida Constituição tratou das garantias dos direitos dos cidadãos à educação, nos seguintes termos: “Art. 63: A Constituição assegura a brasileiros e estrangeiros residentes no Estado a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e a propriedade, nos seguintes termos: § 6. Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”. Debate antigo entre os católicos e liberais no Pará.

Depois de Lauro Sodré, assumiu o governo do Pará, o doutor Paes de Carvalho que, durante quatro anos, enfrentou crises políticas, mudanças nesse quadro político com a ascensão de Antonio Lemos e a queda de Sodré e os Chermont, as oscilações do preço da borracha no mercado mundial, a política linha-dura do presidente Campos Sales, para levantar a economia nacional. Mesmo assim, deu continuidade ao desenvolvimento do ideário republicano articulado aos liberais, seu governo deu atenção ao ensino primário, em seu Relatório (1901) narrou que, ao criar os grupos escolares, procurou acompanhar as inovações educativas que ocorriam nacionalmente:

O nosso ensino primário que vinha de há muito apresentando evidentes symptomas de decadência e abatimento recebeu, no regulamento de 2 de Janeiro de 1899, impulso que felizmente o vae por toda parte animando e reerguendo. Não havendo necessidade de aqui consignar as bases todas sobre que assentou-se essa reforma, devo deixar notado que duas foram as idéas que predominaram na sua elaboração. Quero referir-me especialmente á que permitiu ás mulheres o ensino do sexo masculino e a que instituiu entre nós os grupos escolares. (CARVALHO, 1901, p. 51).

Segundo Paes de Carvalho (1901), a primeira medida que adotou em relação à Instrução Primária em seu governo foi no Regulamento de 1897, a segunda foi no

Regulamento de 1899, com destaque à inclusão do gênero feminino à instrução pública e à criação dos grupos escolares. Essa informação narrada na citação anterior e as outras contidas nessa fonte, permitem dar devolutiva à crítica de Tavares Bastos, quando questionou Augusto Olympio, devido à criação desses dois Regulamentos no espaço de dois anos. Paes de Carvalho expressou o significado de suas ações, primeiro em relação ao Regulamento de 1897, como medida urgente a ser tomada em relação aos professores, explicando nos seguintes termos:

A primeira vinha de há muito impondo-se como inadiavel, por ser a única medida capaz de imprimir vida nova ao nosso ensino primário que á falta de professores titulados, estava entregue nas mãos inábeis de professores interinos, algumas vezes sem a precisa instrução e sempre sem a educação profissional, a dedicação e o zelo necessário ao nobre sacerdócio do mestre-escola. (CARVALHO, 1901, p. 51).

Paes de Carvalho (1901, p. 52) expressou a importância da criação dos grupos escolares no Pará, como uma ação de suma importância, para mudar a condição de precariedade da instrução pública, a partir da concepção de escola proposta pelo governo republicano. “Só os grupos escolares como os creou a reforma podem melhorar o triste estado em que vivem as escolas primarias isoladas”. Nesse sentido, narrou que em seu governo, além do Grupo Escolar em Alenquer foram criados e estavam em funcionamento o de Bragança, Curuçá, Santarém, Soure e Cametá, sendo que no dia anterior ao seu relato, deveria ter sido instalado o de Óbidos. Acrescentou ainda que era urgente se fazer essa organização escolar e na dificuldade de construir prédios apropriados ao funcionamento dos grupos nas cidades do interior havia autorizado o Diretor Geral da Instrução Pública a arrendar os melhores prédios particulares, pelo prazo de cinco anos. Assim fez referência ao último relatório do Diretor Geral, colocando os retornos de seus investimentos na Instrução Pública, a partir dos seguintes dados:

Quadro 6 – De matrícula e frequência dos Grupos Escolares do interior do Pará

M. F. Alemquer 179 147 Soure 217 140 Santarém 254 191 Bragança 287 161 Cametá 335 207 Curuçá 396 265 Fonte: Carvalho (1901, p. 52).

De acordo com o governador Paes de Carvalho (1901), o percentual de matrícula e frequência dos grupos escolares apresentados eram promissores e resultado dos investimentos do seu governo no ensino no interior do estado. Nesse tempo, os investimentos e as mudanças na Instrução Pública significavam uma forma de integração da sociedade à nova ordem e nesse pensar era proclamada a necessidade de reinvenção da escola, como imperativo do progresso e da modernização no projeto republicano. Assim narrou:

Innegavel é que o nosso ensino publico desfructa presentemente em todos os graus um estádio de visível animação e progresso e estou certo que, corrigidos os defeitos e preenchidas as lacunas que naturalmente ainda se encontram nos estatutos básicos, caminhará ele desassombradamente na conquista da posição que lhe é reservada no meio do progresso e do adiantamento que o nosso Estado justamente se vangloria de haver alcançado durante a primeira década republicana. (CARVALHO, 1901, p. 54).

Desse modo, os mais antigos grupos escolares do estado do Pará foram instalados em diversos municípios do interior, mediante a autorização de arrendamento de prédios e casas pelo então governador Paes de Carvalho. A narrativa de Paes de Carvalho, na mensagem lida no ato de cerimônia de passagem do cargo ao governador Augusto Montenegro era de entusiasmo. Para ele, os grupos escolares eram um anúncio de progresso, embora admitisse que muito ainda deveria ser feito. Defendia a organização em forma de grupo escolar, como uma alternativa de superar a precariedade pela qual passava o ensino paraense, uma forma de contribuir no projeto social de formação de um novo homem e de uma nova sociedade a partir da República. Sobre a criação dos grupos escolares, em um estudo em Belo Horizonte (Minas Geais), Faria Filho argumentou o seguinte:

A criação dos grupos escolares era defendida não apenas para “organizar” o ensino, mas principalmente, como forma de “reinventar” a escola, objetivando tornar mais efetiva a sua contribuição aos projetos de homogeneização cultural e política da sociedade (e dos sujeitos sociais), pretendidos pelas elites mineiras. Reinventar a escola significa, dentre outras coisas, organizar o ensino, suas metodologias e conteúdos; formar, controlar e fiscalizar a professora; adequar espaços e tempos ao ensino; repensar a relação com as crianças, família e com a própria cidade. (FARIA FILHO, 2000, p. 31).

Na administração de Paes de Carvalho, o diretor Geral da Instrução Pública Virgílio Cardoso de Oliveira (1899-1901), assim como seus antecessores, acompanhou as instalações dos grupos escolares, viajou pelo interior do estado, observando de perto o que ocorria nessas escolas, fez os relatórios apontando as necessidades e as demandas; em decorrência disso, buscou trazer melhorias para o ensino. Assim realizou estudo, na perspectiva de criar um congresso pedagógico, como um espaço de estudo e decisões sobre as inferências para o desenvolvimento da Instrução Pública. Em seu Relatório de (1899/1900),

Virgílio comunicou ao governador Paes de Carvalho, que pretendia instalar esse congresso no dia 16 de novembro de 1900, em homenagem à data de adesão do Pará ao regime republicano. Em 11 de julho, o governo do estado atendeu ao que foi proposto pelo Diretor Geral de Instrução Pública, em um ofício do dia 8 do corrente, – onde constava uma exposição sobre as vantagens da instituição do Congresso pedagógico, o qual seria destinado ao desenvolvimento do ensino público. Desse modo, através do Decreto n. 874 de 11 de julho de 1900, instituiu o Congresso pedagógico e aprovou seu regimento. Este assumiu a especialidade de discutir: teses sobre o ensino e todas as suas ramificações; medidas importantes tendentes ao progresso e levantamento da Instrução Pública; pontos duvidosos ou omissos nas leis que regiam o ensino público; os direitos do professorado e medidas proveitosas para o seu bem-estar e proficuidade de sua missão, somou a essa medida, a instituição de uma biblioteca pedagógica para subsidiar os estudos. De acordo com o Decreto n. 874/1900, em seu Capítulo II, a organização do Congresso Pedagógico ficou assim estabelecida (PARÁ, 1900, p. 105):

Art. 6.º – O Congresso compor-se-á de 65 membros, divididos em duas categorias: natos e electivos.

Art. 7.º – São membros natos:

a) O delegado do Governador perante o Conselho Superior de Instrução Publica; b) O Inspetor de ensino;

c) O lente de Pedagogia e legislação do ensino na escola Normal; d) O Diretor Geral do Serviço Sanitário do estado;

e) O Diretor Geral das Obras e Trabalhos públicos; f) O Diretor do Museu;

g) O Diretor da Biblioteca Publica; Art. 8.º – São membros lectivos:

a) 31 representantes do magisterio publico primario; b) 3 representantes do magisterio publico particular; c) 1 representante do Lyceu paraense;

d) 1 representante da Escola Normal; e) 1 representante do Instituto Lauro Sodré; f) 1 representante do Lyceu Benjamin Constant; g) 1 representante do Instituto Gentil Bittencourt; h)1 representante do Instituto Carlos Gomes; i) 1 representante da Escola de Belas Artes;

j) 1 representante do Instituto Cívico-Juridico Paes de Carvalho; k) 1 representante da Escola Pratica de Commercio.

O referido Congresso foi instalado no dia 16 de novembro do corrente ano, em homenagem à data da adesão do Pará ao regime republicano, fruto do estudo do Diretor Geral da Instrução Pública, senhor Virgílio Cardoso de Oliveira. Este foi mais um instrumento

adotado no sentido de trazer desenvolvimento à Instrução Pública, sua instalação facilitou resolver muitos problemas, que imperavam um desenvolvimento satisfatório do ensino. Além do Congresso pedagógico, outro instrumento importantíssimo foi o Conselho Superior, que resolvia alguns problemas em relação às nomeações, em decorrência das licenças de professores (as).

Dando prosseguimento ao projeto republicano, no que se refere à Instrução Pública, o então governador Augusto Montenegro (1901-1907), criou mais grupos escolares pelo interior. Para fiscalizar o que ocorria nesses espaços e em atendimento a solicitação do Secretário de Estado, Genuíno Amazonas de Figueiredo, o Inspetor Escolar professor João Pereira da Castro seguiu viagem pelo interior do estado, mais especificamente no baixo Amazonas.

De acordo com Castro (1906), de todos os grupos do interior que visitou, o Grupo Escolar de Alenquer era o melhor instalado, o espaço era uma casa com excelente localização, um prédio magnífico, com amplos salões, fartamente aquinhoado de luz e ventilação. O diretor era o normalista Raymundo Aguiar de Campos Guimarães, muito ativo, dedicado nos cumprimentos dos deveres. Digno de louvores pelo asseio, disciplina, ordem e assiduidade observada no estabelecimento sob sua administração. Além disso, contava com proveitoso corpo docente, que auxiliava na fiscalização dos trabalhos da casa.

No entanto, a informação relevante sobre o Grupo Escolar de Alenquer no Relatório de Castro (1906) é que se revelara contrária a tudo que foi dito a favor da instalação desse grupo, em relação à frequência da escola, tida como bem frequentada no relatório de Veríssimo (1890), no discurso de Fulgencio Simões (1897) e no Relatório de Paes de Carvalho (1901); em poucos anos de sua criação, o seu quadro de frequência praticamente continuava o mesmo, mas foi avaliado em outra condição, segundo a narrativa de Castro:

Apenas tenho a lamentar sr. dr. Secretario, que o grupo escolar de Alemquer, seja tão diminuta a matricula. Somente 144 são os alunos, que frequentam actualmente esse grupo. Procurando investigar a causa, que dá logar a tão baixa matricula, fui informado de que há na cidade diversas escolas particulares, regidas por pessôas muito competentes e que gosam de muita estima e confiança da população. São, por isso, preferidas essas escolas ás do grupo, por grande números de Paes. (CASTRO, 1906, p. 27).

Não encontrei nas fontes, outras informações sobre a pouca frequência no Grupo Escolar em Alenquer, a não ser aquelas, que cito neste estudo. Dessa maneira, não apresento uma análise sociológica, no sentido de justificar a retirada de crianças das escolas por causa do trabalho infantil, porque a pouca frequência foi mais evidente em Alenquer. A frequência

nos grupos escolares de outros municípios, como os de Soure, Santarém, Bragança e Cametá em 1901 eram superiores a do grupo de Alenquer, portanto esse município apresentou uma particularidade, justificada no relatório de Castro (1906). Os antigos contavam que no tempo deles (início do século XX), para alguns pais era suficiente a criança saber assinar o nome, ou ler e escrever, fazer as contas básicas de somar e subtrair. Após a aquisição desses saberes, os pais os tiravam da escola, para que eles ajudassem na roça, no corte da seringueira, nas atividades laborais que ajudassem no sustento da família. Porém, o propósito deste estudo não é a memória herdada, mas contar numa abordagem histórica, como foram instituídos os grupos escolares a partir das fontes. Desse modo, as informações de Castro (1906) sobre a pouca frequência no grupo de Alenquer parecem plausíveis.

Quadro 7 – De matrícula e frequência das escolas do Grupo Escolar de Alenquer (1905)

Escola Complementar Mista Matrícula Meninas 2

Matrícula Meninos 1

Total 3

Frequência média 3

1ª Escola Elementar do sexo feminino Matrícula 22

Frequência 18

2ª Escola Elementar do sexo feminino Matrícula 52

Frequência 40

1ª Escola Elementar do sexo masculino Matrícula 22

Frequência 16

2ª Escola Elementar do sexo masculino Matrícula 31

Frequência 19

Fonte: Castro (1905, p. 27-28).

De acordo com o relatório de Castro (1906), a Escola Complementar Mista estava sob a responsabilidade da competente professora Veridiana Rodrigues de Oliveira Corrêa. Consta no referido relatório que a professora era muito estimada no lugar, hábil, dedicada, assídua e perseverante em sua regência. A pouca frequência era compensada pelo bom aproveitamento dos alunos. A 1ª Escola Elementar do sexo feminino era regida pela normalista dona Izabel Maria Pantoja Barral, com mais de vinte anos de serviço no magistério, segundo o relatório de Castro (1906), ela era muito paciente, carinhosa, dedicada e amorosa. Castro (1906) registrou também que essa escola era, inquestionavelmente, uma das melhores escolas do estabelecimento, pela ordem, disciplina, asseio e escrita regular, o mesmo se aplica ao aproveitamento dos alunos. A 2ª Escola Elementar do sexo feminino teve como regente a normalista Francisca Leopoldina de Carvalho que, além de habilitada

para a função, segundo Castro (1906), desempenhava com assiduidade e dedicação a docência, era a aula mais frequentada do grupo, devido à confiança e estima dedicada a essa professora pelos habitantes do lugar, também registrou a regularidade na escrita, a ordem, a disciplina, o asseio e o aproveitamento dos alunos que, segundo ele, justificava o bom conceito que gozava a referida professora. A 1ª Escola Elementar do sexo masculino, de acordo com Castro (1906) quando a visitou, estava no aguardo da nomeação do cargo de professora, enquanto isso era regida pelo diretor do Grupo Escolar de Alenquer e o inspetor escolar restringiu sua narrativa quanto à docência deste. A 2ª Escola Elementar do sexo

masculino esteve sob a regência da normalista Andrelina de Macedo Bentes, a qual

contribuiu para a escola ter boa referência, pois era hábil, dedicada, assídua e os alunos apresentavam bom aproveitamento. Castro encerrou o relatório sobre o Grupo Escolar de Alenquer, dizendo o seguinte: “Posso asseverar-vos, sr. dr. Secretário, que não má foi a impressão que me proporcionou a visita que fiz a este estabelecimento de ensino.” (CASTRO, 1906, p. 29).

O Grupo Escolar de Alenquer funcionou primeiro num prédio do município em 1899, depois foi construído um prédio pelo Estado, inaugurado em 15 de fevereiro de 1913; edificado na Rua Rosomiro Batista nº. 553, esquina com a travessa Dr. Arnaldo Moraes, espaço onde funciona atualmente a Escola Estadual Fulgencio Simões. A figura apresenta um registro fotográfico referente ao Grupo Escolar em Alenquer na época, em que as ruas do município ainda eram de areia, condição de uma cidade do interior naquele tempo.

Figura 15 – Grupo Escolar Firmino Fulgencio Simões – Alenquer

A figura 17 é do mesmo prédio, sendo a fotografia mais atual, pela inscrição na fachada, esse registro fotográfico deve ter ocorrido depois de 1971, só que num outro cenário em sua volta, com rua asfaltada, embora a imagem não mostre, mas essa rua já foi pavimentada e o interessante é que a estrutura da frente do prédio e sua fachada foram mantidas.

Figura 16 – Segundo Espaço (1913) em que funcionou o primeiro Grupo Escolar de Alenquer

Fonte: Escola Fulgêncio Simões (2011).

O imenso espaço geográfico do estado do Pará dificultava também o acesso à geografia escolar, assim se tornava difícil uma assistência mais efetiva aos grupos escolares, principalmente do baixo Amazonas, os mais distantes. Mas, apesar dessa dificuldade, os governadores Paes de Carvalho e Augusto Montenegro não mediram esforços para ampliar essa organização, como disse Artur Vianna (1903, p. 3): “Como é sabido, o grupo escolar representa hoje o melhor progresso pedagógico, e nem preciso se torna citar aqui as conhecidas vantagens, que derivam do agrupamento de escolas, sob uma única direção.”

Mesmo assim, na administração do governador Augusto Montenegro, mais 16 grupos escolares foram instalados no interior do estado, somados aos que foram criados no governo de Paes de Carvalho, já era um número considerável. Para ter uma visualidade melhor, o quadro 08 apresenta algumas informações, a partir de 1899 até 1907.

Quadro 8 – Grupos Escolares da zona rural/interior

Ano Documento/Criação Localidade Nome Administração

1899 Dec. 722, 10/07 Alenquer Fulgencio Simões Paes de Carvalho

1900 Dec. 805, 22/01 Bragança Corrêa de Freitas Paes de Carvalho

1900 Dec. 806, 22/01 Curuçá Gonçalo Ferreira Paes de Carvalho

1900 Dec. 832, 3/04 Santarém Frei Ambrósio Paes de Carvalho

1900 Dec.867, 28/06 Soure Júlio Cezar Ribeiro Paes de Carvalho