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Sobre a micro-história e o diálogo com a histórica na educação

Sobre a Micro-história e a revista Quardeni Storici no debate historiográfico

italiano que ocorreu a partir da década de 1960, Espada Lima (2006) contribuiu com o debate histórico interrogando a produção histórica nas últimas décadas, a partir da análise detalhada de uma de suas versões mais controversas: a microstoria italiana. Microstoria – ou “micro- história”? O termo passou a ser referência comum para designar qualquer trabalho envolvendo análises históricas circunscritas, sinônimo para os estudos da chamada “nova história cultural”, de modo ambíguo: uma perspectiva historiográfica particular. Esse debate ajudou a articular na Itália e fora dela discussões em torno da teoria e da prática do ofício do historiador. Com o desafio de ir além dos rótulos, no esforço de desvendar – o que escondem esses lugares – nova história, micro-história, história nova? O que revelam de fato sobre a maneira pela qual os historiadores enfrentam as dúvidas sobre o seu trabalho hoje? O esforço aqui é tentar ir além dos rótulos, para tentar descobrir o que eles contêm, ou escondem, do debate intelectual no calor do qual são produzidos (ESPADA LIMA, 2006).

Espada, ao estudar a Micro-história, buscou aproximação entre a revista Quardeni Storici delle Marche com a Micro-história a partir do contexto intelectual, considerou que a produção (nova) desta historiografia italiana foi marcada pela experimentação e abertura interdisciplinar, em meio à crise de paradigmas. Assim, para compreender o sentido do debate: é preciso partir do seu interior, de seus próprios protagonistas, nos espaços onde os próprios contextos se constroem. Dessa forma, procurou compreender como um conjunto difuso de preocupações presentes em trabalhos diversos, de historiadores reunidos durante

algum tempo em torno da revista, permitiu um dado quadro de problemas e referências mais ou menos comuns, que foram identificados como Micro-história, considerando as fontes, problemas históricos limitados, questões teóricas, instrumentos conceituais e limite epistemológico da disciplina (ESPADA LIMA, 2006).

Espada analisou a relação da revista Quardeni Storici delle Marche com a Micro- história tomando alguns fatores, dentre eles, o espaço e o ambiente intelectual onde nasceu a revista, em Ancona na década de 1960. Nessa época, Ancona vivia ainda um momento de efervescência acadêmica, nesse espaço a Facoltà di Economia e Comércio da Università di Urbino promoveu uma política de ampliação nos quadros, favorecendo uma abertura de pesquisadores de várias disciplinas e o diálogo com outras disciplinas das ciências sociais. Nesse cenário interdisciplinar nasceu Os Quaderni Storici delle Marche. O debate historiográfico buscou superar as marcas do fascismo e deu atenção às graves mudanças estruturais que transformavam a Itália em um país fortemente industrializado, à falência de modelos e o surgimento de novos personagens, novas formas de organização social, que não se comportavam mais nos quadros de análise tradicional,19 exigiam novos instrumentos, surgiam novos problemas e perguntas sobre o passado. É a partir desse quadro que se pode compreender as transformações historiográficas que foram esboçadas na década de 1960 e que favoreceu entender o surgimento de Quaderni Storici delle Marche,20 que nasceu a partir de uma conversa, em uma trattoria de Ancona21 durante o outono de 1965. Essa denominação foi mantida até 1969 e a revista teve seu primeiro número impresso em janeiro do ano seguinte (ESPADA LIMA, 2006).

A partir de 1970 a revista passou por mudanças e iniciou uma nova fase, essas não foram apenas de caráter redacional, indicavam uma ampliação de perspectivas e uma consolidação do seu interesse interdisciplinar. Apresentava um caráter crítico, bem como a influência do paradigma ético-político; a aproximação do marxismo mediada pela leitura de Gramsci marca também; o estudo sobre a história moderna e contemporânea, pensada a partir da história social; o interesse pelo Risorgimento22 e a aproximação do debate com a produção

19Os esquemas explicativos do marxismo-leninismo e do stalinismo haviam sido co-responsáveis pela forma que

assumiu o socialismo soviético, isso provocou em muitos intelectuais repensarem as discussões e repensar aquela tradição (ESPADA LIMA, 2006).

20A revista teve a princípio a direção de Alberto Caracciolo e a colaboração direta de Renzo e Sergio Anselmi. O

artigo inaugural, a tradução do texto de Fernando Braudel – então inédito em italiano – “História e Ciências Sociais” (ESPADA LIMA, 2006).

21Cidade portuária na Costa do Adriático.

22Risorgimento: como ficou conhecido o processo de unificação italiana na segunda metade do século XIX, foi

um elemento central de discussões políticas e historiográficas italianas durante o século XX. Nas reflexões de Antonio Gramsci, em especial, o tema do risorgimento tem uma importância central na tentativa de explicar o

ligada à revista francesa Annales. Propunha-se a defesa da chamada unidade do trabalho histórico, com ênfase na aquisição de técnicas ou de fontes, novas possibilidades (perspectivas), mas considerando sempre a peculiaridade do trabalho histórico. Nessa fase da revista entram novos colaboradores: Pasquale Villan passou a dividir a direção da revista com Alberto Caracciolo, na redação passou a colaborar “Edoardo Grendi, Angelo Ventura, Ernesto Galli Della Loggia, Raffaele romanelli, além de Giovanni Levi, Carlo Poni e Carlo Ginzburg.” (ESPADA LIMA, 2006, p. 59).

A partir de 1970 a atenção se voltou para a temática e problemas, é a partir daí que os primeiros elementos da Micro-história aparecem mais discussões em torno da história social, dos estudos de família e comunidades, da antropologia histórica. Durante a década de 1970, o debate sobre a Micro-história corria então com pleno fôlego nas páginas dos Quardeni Storici. As discussões sobre o estudo microanalítico da família e da comunidade de Ancien Régime, levadas adiante por Edoardo Grendi, Giovanni Levi e Géarad Delille haviam colocado as primeiras propostas em 1976 com ênfase em temas polêmicos, como a história oral e a aproximação com a antropologia. Mas ainda permaneciam os debates na referida revista em torno da formação da sociedade moderna, da revolução industrial, que Espada colocou nos seguintes termos:

Se é possível fazer um balanço das relações entre tradição dos Annales e a historiografia italiana nos anos de 1970, naquilo que diz respeito ao debate sobre a micro-história, este seria marcado pela incorporação e reproposição de temas importantes na produção histórica ligada à revista francesa. Assim, Carlo Ginzburg e outros historiadores interessados pela história da cultura discutiam a história das mentalidades, da cultura material ou da religião. Outros, como Giovanni Levi, ligados aos estudos de economia, demografia e de história social, voltavam-se para os estudos da família e comunidade. A antropologia aparecia como elemento unificador dessas discussões. (ESPADA LIMA, 2006, p. 85).

A questão política e metodológica entra em voga e o objetivo era desenvolver uma perspectiva histórica alternativa. A história oral aparecia como via de destaque para o acesso à história das classes e dos grupos sociais que, à margem das instituições, não haviam produzido sua própria documentação escrita. Havia uma postura política clara em dar vozes às histórias dos excluídos. Era presente a discussão a respeito da história oral e do reconhecimento de que o direito à historicidade não era apenas exclusivo do panorama político e historiográfico italiano, os sujeitos e grupos sociais tradicionalmente colocados à margem da grande história tinham também a sua historicidade. Ganhava campo o tema da fracasso posterior da burguesia italiana em construir um Estado Moderno nos moldes das outras democracias europeias e o posterior advento do fascismo.

história “a partir de baixo – isto é da experiência cotidiana das pessoas e, do modo especial das classes subalternas e dos grupos excluídos do poder – havia produzido e continuava produzindo um conjunto importantes de discussões desde e 1960.” (ESPADA LIMA, 2006, p. 101). Por exemplo, o grupo de historiadores militantes e estudantes do Ruskim College em Oxford, dedicado à educação de adultos, organizava desde 1966 equipes de trabalhos nas quais os estudantes discutiam temas da história do cotidiano operário dos séculos XIX e XX, a partir de fontes de história local e de documentos orais, esse grupo publicava na revista – History Worshop Jounal (HWJ) – a qual se abria a contribuições sobre a história das mulheres e o feminismo. Essas discussões marcavam de muitos modos um clima político e cultural dos historiadores (militantes) quanto à investigação histórica (ESPADA LIMA, 2006).

Nesse debate também teve destaque a abordagem metodológica, quanto a esse aspecto, Pesavento (2008) ao se referir a Micro-história falou da abordagem do método, do como fazer, referiu-se à pergunta, à construção do tema a partir de aportes teóricos, ao trabalho com os indícios, pois estes permitem chegar ao passado, transformando os vestígios do passado em fonte ou documento, situando as bases em Ginzburg:

Carlo Ginzburg, em ensaio já clássico, nos fala de um paradigma indiciário, método este extremamente difundido na comunidade acadêmica. Nele, o historiador é equiparado a um detetive, pois é responsável pela decifração de um enigma, pela elucidação de um enredo e pela revelação de um segredo. Qual Sherlock Holmes, ele enfrenta o desafio do passado com atitude dedutiva e movida por sem busca de traços, de pegadas como um caçador, de vestígios, como um policial. Presta atenção nas evidências, por certo, mas não entende o real como transparente. (PESAVENTO, 2008, p. 63-64).

Pensando assim, a prática historiográfica deve ser no sentido de tomar o mundo, de interpretá-lo, observar as representações, as representâncias em sua literalidade, entendendo que não é o real, mas é uma versão dele. De maneira que se deve ir além da visualidade e emprestar a ação do detetive, exercitar o olhar para os detalhes, para os traços secundários, para aqueles elementos que para um olhar menos atento passariam despercebidos. Nesse caminho, o historiador combina, compõe, revela detalhe, destaca o secundário, tem como âncora os textos e imagens que assume como fonte, porque são portadores de significado, para dar devolutivas a sua questão. Em relação aos procedimentos o historiador Levi diz o seguinte:

A micro-história é essencialmente uma prática historiográfica em suas referências teóricas são variadas e, em certo sentido, ecléticas. O método está de fato relacionado [...] com os procedimentos reais detalhados que constituem o trabalho do historiador, e assim, a micro-história não pode ser definida em relação às microdimensões de seu objeto de estudo. Na verdade, muitos historiadores que aderem à micro-história têm-se envolvido em conjunto de intercâmbios com as

ciências sociais e estabelecido teorias historiográficas sem, contudo, sentir qualquer necessidade de se referirem a qualquer sistema coerente de conceitos ou princípios próprios. A micro-história, assim como todo trabalho experimental, não tem um corpo de ortodoxia estabelecida para dele se servir. (LEVI, 2011, p. 136).

Desse modo, a Micro-história provocou uma gama de possíveis respostas, que enfatizam cuidados, redefinição de conceitos, uma análise aprofundada dos instrumentos e métodos existentes, envolvendo a definição das margens, atenção à redução da escala. A Micro-história associada à vertente italiana, particularmente a Carlo Ginzburg e Geovani Levi, fez uso da redução da escala de análise, com atenção aos detalhes e traços secundários, buscando atingir, “no micro, a dinâmica da vida, construindo versões sobre o passado por meio da pesquisa empírica exaustiva, que tanto combina uma espécie de descrição densa, aquela do viés antropológico, quanto a do método indiciário anunciado por Ginzburg.” (PESAVENTO, 2008, p. 72).

Para Levi (2011), a Micro-história é uma prática historiográfica com bases no uso da redução da escala de observação, com uma análise microscópica e um estudo intensivo do material documental; esse um procedimento analítico pode ser aplicado em qualquer lugar, independente das dimensões do objeto analisado e em articulação entre o micro e o macro; pode ocorrer o estudo em comunidades locais, com atenção para o estudo de objetos de sistemas de pequena escala e isso não impede a articulação com as maiores, para revelar as conexões entre as comunidades, seja entre regiões ou país. “O princípio unificador de toda uma pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microcóspica revelará fatores previamente não observados.” (LEVI, 2011, p. 141).

Outro aspecto da Micro-história observado por Pesavento (2008) e Levi (2011) foi a proximidade desta com a história antropológica, particularmente a “descrição densa” em Clifford Geertz (2008), que defendeu a cultura, como uma trama de significado orientada por uma ciência interpretativa em busca de significado, onde ganha relevo a descrição densa, da seguinte forma:

A descrição densa serve portanto para registrar por escrito uma serie de acontecimentos ou fatos significativos que de outra forma seriam imperceptíveis, mas que podem ser interpretados por sua inserção no contexto, ou seja, no fluxo do discurso social. Essa abordagem é bem sucedida na utilização da análise microscópica dos acontecimentos mais insignificantes, como um meio de se chegar a conclusões de mais amplo alcance. (LEVI, 2011, p. 144).

No entanto, assim como tem as proximidades entre a antropologia interpretativa e a Micro-história, também existem os distanciamentos e uma das principais diferenças é que a essa última trata os significados com referência à multiplicidade das representações sociais que eles produzem, enquanto a antropologia interpretativa enxerga um significado homogêneo

nos sinais e símbolos públicos. Assim, a Micro-história é uma abordagem que busca responder ao problema, de como obter o conhecimento do passado através de indícios, sinais e sintomas. O procedimento que adota toma o particular como ponto de partida e articula seu significado ao contexto específico. Não se trata do contexto na perspectiva funcionalista, cuja ênfase é focalizar o contexto para explicar o comportamento social,23 pelo contrário, o contexto tem outro contorno: “os micro-historiadores concentram-se nas contradições dos sistemas normativos e por isso na fragmentação, nas contradições e na pluralidade dos pontos de vista que tornam todos os sistemas fluidos e abertos.” (LEVI, 2011, p. 157).

Finalizando as considerações sobre a Micro-história e a revista Quaderni Storici em Espada Lima (2006), ambas emergentes na mesma época no cenário italiano, alguns elementos devem ser destacados, dentre eles, a redução da escala de análise. Esta foi colocada sob suspeita por alguns historiadores, mesmo entre os colaboradores da revista Quaderni. As conclusões de Edoardo Grendi sobre a história social, entendida como microanálise das estruturas das relações interpessoais em escala reduzida, foram encaradas por muitos, com algum ceticismo ou com desconfiança.

Nesse contexto, a Micro-história era uma perspectiva historiográfica nova, não havia certezas e estavam presentes posturas diferentes. Por outro lado, existia a preocupação de recuperar o concreto das relações sociais, de maneira mais próxima da realidade. Porém, com a redução da escala de análise, sempre havia o risco de se perder o contexto geral em que essas relações se inseriam. “Os alcances políticos, que as propostas micro-históricas poderiam permitir produziam do mesmo modo relações ambíguas: Colocar a acentuação sobre o local não faria perder de vista as lutas que estavam no horizonte da história militante?” (ESPADA LIMA, 2006, p. 129). Diante desse quadro, destacou alguns aspectos da relação entre a revista Quaderni Storici24 e a Micro-história, que aqui são colocados, para melhor compreensão dessa conjugação:

23“O modelo durkheimiano de contextualização enfatiza a natureza descritiva de alguns de nossos conceitos

gerais, mas a contextualização é um elemento funcionalista, ainda que se limite a enfatizar o ajustamento entre uma instituição, uma forma de comportamento ou um conceito, e aquele sistema do qual faz parte.” (LEVI, 2011, p. 157).

24O debate sobre a Micro-história incorporou-se às discussões centrais dos Quaderni Storici no fim dos anos

1970 e se estendeu pela década de 1980. O em 1978 os Quaderni deixam de ser publicados pela Argalia (a pequena editora de Urbino), que viu nascerem os Quaderni Storici delle Marche; e passou a ser editada por II Mulino, uma editora de Bolonha com circulação nacional, isso reforçou o afastamento do caráter regional que caracterizava a revista. O novo caráter da revista se apresentou em forma de composição redacional, constituídos de dois comitês (comitê diretor e o comitê científico). A Micro-história aparecia fortemente representada nos dois comitês, representada por alguns dos principais protagonistas do debate naqueles anos: “Carlo Ginzburg, Edoardo Grendi, Geovani Levi e Carlo Poni na diretoria, a invasão da Micro-história nas páginas e na organização provocou alguns dissensos importantes.” (ESPADA LIMA, 2006, p. 129-137).

a) O debate em torno da história social e da microanálise não deu lugar a um desenvolvimento homogêneo e consensual. O debate nos Quaderni Storici produziu resultados, que se concretizaram em novos grupos de trabalho e o surgimento de novas revistas.

b) A Micro-história foi acusada de ignorar a síntese, de optar pela fragmentação, substituir os grandes temas e as linhas interpretativas tradicionais, por um experimentalismo que arisca a fechar-se e exaurir-se em si mesmo.

c) Resultados ambíguos são também elementos de Sérgio Anselmi, um dos fundadores dos Quadernici Storici delle Marche e um dos proprietários da revista. Descontente com os rumos da revista, pois segundo ele, a ideia de explorar a partir de uma área circunscrita e exemplar – hipóteses historiográficas mais amplas vinham desaparecendo da revista.

d) Em dezembro de 1983, Anselmi deixa a direção e propriedade da revista. Ocorreu a dissolução da sociedade TVE como exigência da parte de Anselmi, a mudança de nome da revista, que a partir do número 55 passou a acrescentar ao título, a advertência: “nuova serie”.

e) Na carta enviada à direção da revista, publicada nesse número, o historiador

marchigiano explicava as razões do dissenso. Afirmava-se incapaz de dividir a

“crise de identidade” que levava a revista a procurar trilhar novos caminhos e definir novos objetos. Esta ruptura de Anselmi foi acompanhada por outros historiadores ligados aos Quaderni, o que demonstrou o quanto as propostas de Micro-história não constituíam consenso (inclusive por seus colaboradores mais próximos).

f) A Micro-história não se constituiu como “escola” porque ela se construía nitidamente a partir de diferentes leituras e aproximações diversas de um debate que envolvia temas e propostas nem sempre coincidentes, que respondiam a interesses de pesquisas diversos e a referências intelectuais distintas.

g) A Micro-história passou a ser o centro de uma polêmica a respeito dos limites de interpretação colocados para toda a prática historiográfica, dentro de um contexto de crise da razão. Porém, a discussão sobre o “paradigma indiciário”, promovida por Carlo Ginzburg no contexto do debate, apareceu como divisor

de águas no quadro das polêmicas que se estabeleceram sobre as propostas da

como indicativas de uma opinião comum sobre as implicações de uma abordagem microanalítica. Pode ser considerada como uma proposta, ou uma intervenção dentro de um quadro mais amplo e heterogêneo de referências. Na mesma direção foi a diversidade de abordagens que caracterizou aquele empreendimento coletivo, que foi a coleção Microstorie publicada pela Einaudi, a partir de 1981 e dirigida por Ginzburg e Geovani Levi (ESPADA LIMA, 2006).

Em decorrência das transformações pelas quais passava a sociedade, o contexto político e cultural, que se apresentava na Itália inferiu nas perspectivas historiográficas e provocou várias respostas, as quais não foram homogêneas. Assim a Micro-história foi uma dessas respostas, essas apresentavam propostas e possibilidades de diálogo, conflitos, consensos e antagonismos, esse foi o panorama geral do campo historiográfico.

Foi nesse cenário que Ginzburg publicou, em 1976, o livro O queijo e os vermes, no qual conta a história de um moleiro25 friulano – Domenico Scandella, conhecido como Menocchio – queimado por ordem do Santo Ofício, depois de uma vida transcorrida em total anonimato. A documentação dos dois processos abertos contra ele, distantes quinze anos um do outro, nos dá um quadro rico de suas ideias, sentimentos, fantasias e aspirações. A documentação dos dois processos em mãos de Ginzburg permitiu reconstruir um fragmento do que se costuma denominar “cultura das classes subalternas” ou ainda “cultura popular.” Ginzburg rastreou o complicado relacionamento de Menocchio com a cultura escrita (os livros) que leu e a maneira como leu, isso revelou uma cultura oral, que não era exclusiva do moleiro, mas patrimônio também de um vasto segmento da sociedade no século XVI. Dessa maneira, uma investigação em torno de um sujeito simples acabou desembocando numa