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A reprodução das desigualdades sociais e a carreira docente

CAPÍTULO I PROJETOS DE POLÍTICAS DE REMUNERAÇÃO EM DISPUTAS NO

1.1 A reprodução das desigualdades sociais e a carreira docente

As desigualdades sociais que se mostram presentes na sociedade brasileira atingem inevitavelmente a educação pública e a carreira docente, em seus diversos aspectos, principalmente no que tange a remuneração, uma vez que o professor é um dos profissionais de nível superior com pior remuneração, ainda que essa diferença tenha sido reduzida.

Sobre a comparação entre a remuneração do professor e de outros profissionais de nível superior, Louzano et al (2010, p. 563) apresentam a seguinte informação:

Embora as disparidades salariais entre os professores do setor público e as demais carreiras tenham diminuído ao longo dos anos, os professores com nível superior recebem, em média, salários mais baixos do que outros profissionais, tanto do setor público como do privado. Além disso, essa diferença aumenta significativamente com os anos de experiência. De qualquer forma, o salário inicial de um professor do setor público ainda é mais baixo que o de outras carreiras.

Corroboram também, no sentido de demonstrar que há diversos estudos sobre a remuneração docente que assinalam ser o professor um profissional mal remunerado , Barbosa (2014, p. 528)

Tendo em vista a discussão aqui apresentada, é possível afirmar que os salários dos professores no Brasil podem ser considerados baixos, sobretudo se os comparamos com a remuneração de outros profissionais dos quais também se exige formação em nível superior.

Os professores, na qualidade de profissionais de nível superior, possuem remuneração inferior ao de outros profissionais e isto expressa o quanto a disputa por uma política de remuneração que valorize a carreira docente é importante, ainda mais nas redes de ensino dos municípios do Pará, visto que estes são o ente federado com menor poder de arrecadação tributária.

Sobre a divisão dos tributos entre os entes federados, Pivatto (2015, n.p) nos informa que “em 2014, dos R$ 1,8 trilhão arrecadados, 58% ficaram em Brasília, 24% foram divididos entre os Estados e o Distrito Federal e 18% para as prefeituras”, ou seja, os tributos arrecadados são prioritariamente destinados à União, seguido dos estados e por fim dos municípios. É importante ter isso em mente quando iniciarmos as discussões sobre as políticas de remuneração para a docência desenvolvida nas redes municipais de ensino do Pará.

Nesse cenário, em que os municípios são o ente federado com menor poder de arrecadação e consequentemente de investimentos, a construção de uma política de remuneração que valorize a docência parece ser algo um pouco distante da realidade dos municípios, e isso não contribui para a diminuição das desigualdades sociais e de remuneração entre professores e outros profissionais de nível superior.

De forma abrangente, sobre a questão da desigualdade Mercadante (2003, p. 37) afirma que :

O Brasil é um país profundamente desigual e estruturalmente injusto. Somos um dos países mais desiguais do planeta e esta desigualdade tem sido uma característica permanente da nossa estrutura econômica e social.

Diversas são as causas dessa estrutura socioeconômica desigual preponderante no Brasil. Em concordância com Guimarães (2013, p. 251) entendemos que “as estruturas da desigualdade são complexas e multicausais” e

acabam trazendo implicações negativas para a carreira docente, particularmente na construção das políticas de remuneração nos municípios do Pará.

As desigualdades sociais no Brasil são representadas de forma clara quando comparamos à distribuição de renda entre os cidadãos brasileiros.

Quanto a isso, Henriques (2003, p. 64) indica que:

Nossa desigualdade de renda nos transtorna ainda mais que a pobreza. Se reduzíssemos, por exemplo, o grau de desigualdade do Brasil para o padrão do Uruguai (o menor entre os países latino- americanos) e mantendo-se a atual renda per capita, seria possível reduzir em cerca de 20 pontos percentuais a pobreza no Brasil, isto é, passaríamos a ter 14% da população pobre ao invés de 34%. Considerando um conjunto de 92 países, o Brasil só perde em termos de desigualdade para Malawi e África do Sul. Aqui, a renda média dos 10% mais ricos representa 28 vezes a renda média dos 40% mais pobres.

A desigualdade de renda, que infelizmente apresenta-se como característica marcante do Brasil, não se faz diferente quando estudamos a carreira docente. Os avanços remuneratórios na carreira têm sido conquistados em processos políticos de disputa, de poder e realizadas à custa de batalhas pela implementação da legislação, principalmente ao considerarmos que essas “tensões” envolvem o Fundo Público1, conforme nos indica Lázaro ( 2013, p. 72):

Não faltam exemplos de iniciativas educacionais que foram barradas em função dessas tensões: um exemplo recente foi a disputa em torno da aplicação dos royalties do petróleo na educação. A maioria de prefeitos e governadores foi contra a vinculação desses recursos à educação, proposta pelo governo federal.

Parece contraditório o discurso oficial da maioria de nossos governantes ao afirmarem que não medem esforços e recursos para uma educação pública de qualidade, pois assim que surge a oportunidade de mais investimentos financeiros que poderiam ser atrelados à educação, conforme apontou Lázaro (2013) ,a maioria dos governantes posicionou-se contrário a vinculação dos royalties do petróleo à educação.

1Salvador (2010, p. 607) “O fundo público envolve toda a capacidade de mobilização de recursos que o Estado

tem para intervir na economia, além do próprio orçamento, as empresas estatais, a política monetária comandada pelo Banco Central para socorrer as instituições financeiras etc. A expressão mais visível do fundo público é o orçamento estatal. No Brasil, os recursos do orçamento do Estado são expressos na Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovada pelo Congresso Nacional”

Seguindo essa linha de raciocínio, podemos dizer que a educação, na condição de ferramenta de transformação social, vem sendo constantemente deixada em segundo plano entre as prioridades sociais do Estado brasileiro, e ainda que pareça difícil enxergar, a curto ou até mesmo longo prazo, uma mudança nesse paradigma, cabe a continuidade pela disputa do Fundo Público para que a educação tenha recursos necessários para a implementação de uma política de remuneração que valorize a docência, particularmente, nos municípios do Pará, objeto desse estudo.

Por conseguinte, é necessário que tenhamos nas redes municipais de ensino do Pará, políticas de remuneração docente que visem a superação das desigualdades entre os profissionais de nível superior para que minimizem as discrepâncias sociais que afetam a coletividade como um todo.

A sociedade brasileira precisa tecer as redes de um novo acordo social. Uma repactuação que reconheça a pobreza como o maior problema econômico do país e a desnaturalização da desigualdade como seu maior problema estrutural. (HENRIQUES, 2003, p.68)

Dessa maneira, é importante que o profissional da docência esteja alinhado às lutas por avanços na carreira, consequentemente na educação , sem esquecer de que ele está inserido em um contexto social maior, logo, é necessário fazer-se ferramenta social de transformação da estrutura sociocultural, a fim de que desigualdades sociais, tão aviltantes, passem a ser vistas não como algo natural, mas como resultado de um processo histórico excludente devido a não participação na vida política do país.