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CAPÍTULO I PROJETOS DE POLÍTICAS DE REMUNERAÇÃO EM DISPUTAS NO

1.2. Carreira docente: Definição e conceitos

Os conceitos de carreira e remuneração geralmente são discutidos com mais propriedade na área da administração e do direito. Por conseguinte, é importante compreender a forma como os teóricos dessas áreas de conhecimento discutem os termos a fim de que possamos compreender a utilização dos mesmos na área de educação.

London e Stumpf (apud DUTRA, 1996. p. 17) apresentam a seguinte definição para o termo carreira:

Carreira são as sequências de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas e imposições da organização e da sociedade. Da perspectiva do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profissional, enquanto, da perspectiva da organização, engloba políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimento de pessoas. Essas perspectivas são conciliadas pela carreira dentro de um contexto de constante ajuste, desenvolvimento e mudança.

Essa conceituação de carreira tem sido o entendimento mais comumente utilizado por pesquisadores que discutem essa questão. Ou seja, entende-se a carreira como uma movimentação, em geral, com benefícios crescentes, e que se desenvolve ao longo de um período.

Na área da educação, tem-se entendimento semelhante, pois a carreira, expressa na legislação, é ou deveria ser o elemento motivador para a permanência do educador na profissão docente.

Em relação à carreira, e em concordância com entendimento até aqui apresentado, Ribeiro et al (2009, p. 195) diz que a “carreira pode ser definida como trajetória do trabalhador desde sua chegada a empresa ou cargo até seu desligamento, regida por regras específicas assim como seu desenvolvimento profissional, remuneração e avaliação de desempenho”.

No serviço público, especificamente na educação, o que define a “chegada à empresa” é o concurso público, ou seja, a progressão entre outros direitos são devidos exclusivamente ao servidor aprovado em concurso público.

Seguindo na busca de entendimento mais sólido sobre o que é a “carreira”, partimos para análise de outros teóricos do campo da administração e chegamos às seguintes definições, carreira é: “uma sucessão ou sequência de cargos ocupados por uma pessoa ao longo de sua vida profissional” (CHIAVENATO, 2004, p. 374), ou ainda que “Carreira passa a ideia de um caminho estruturado e organizado no tempo e no espaço que pode ser seguido por alguém” (MAANEN, 1977 apud DUTRA, 1996, p. 16), ou mesmo que “Carreira é uma sequência de atitudes e de comportamentos, associada com experiências e atividades relacionadas ao trabalho, durante o período de vida de uma pessoa” (HALL, 1976 , apud ARAÚJO (2006, p. 124).

Dos significados do termo carreira, podemos inferir que a mesma se relaciona ao trabalho realizado por um período determinado que se inicia durante a vida adulta de um indivíduo.

Nesta linha de pensamento, acrescentamos o entendimento de Schein, (1996, p. 19)

A palavra carreira é usada de diferentes maneiras e possuem muitas conotações. Às vezes, o seguir uma carreira se aplica unicamente a alguém com uma profissão ou cuja vida profissional é bem- estruturada e implica progresso constante. No contexto de inclinações profissionais, o termo carreira quer dizer também a maneira como a vida profissional de uma pessoa desenvolve-se ao longo do tempo e como é vista por ela

Esse autor apresenta a ideia de que a carreira se relaciona à forma como está estruturado o trabalho do indivíduo e de como isso irá se desenvolver durante sua vida profissional. Essa ideia ajusta-se à proposição que deve estar explicita no plano de carreira docente que é a de indicar a forma de condução da carreira.

Essas aproximações e aparentes distanciamentos quanto à conceituação do termo carreira apresentam-se devido ao caráter histórico dela. Encontramos essa variedade conceitual e estrutural ao analisarmos diferentes planos de carreira docente, levando-nos a compreender que a carreira docente se constitui na sua variedade política, geográfica e histórica.

Essas inferências nos conduziram ao encontro do pensamento de Chanlat, (1995, p. 68-69) o qual afirma:

A noção de carreira é uma ideia historicamente recente, aparecendo no decorrer do século XIX, assim como suas derivadas: carreirismo e carreirista, surgidas no século XX. A própria palavra "carreira", como nos indica o dicionário, em sua acepção moderna, quer dizer: "um ofício, uma profissão que apresenta etapas, uma progressão". Dito de outro modo, a ideia de carreira, nasce com a sociedade industrial capitalista liberal.

Esse teórico nos traz a reflexão de que a “carreira” é própria do modo de produção capitalista e mais especificamente, uma característica dos últimos dois séculos, tendo seu conceito evoluído no decorrer desse período.

De igual modo, a carreira docente nos municípios do Pará, apresentada via política de remuneração, constitui-se como em processo de formação de uma

identidade construída a partir das disputas em diversos âmbitos, travadas durante a construção de um plano de carreira docente.

Mendes; Vieira; Oliva (2015, p. 97) esclarecem que:

O cenário atual revela que a carreira tem enfrentado diversas mudanças em torno de suas concepções, em decorrência dos acontecimentos econômicos, políticos e sociais. Tais mudanças estão pautadas em avanço tecnológico, globalização, agilidade no processo de comunicação, horizontalização, terceirização, sobreposição de funções, aumento da expectativa de vida, desemprego dentre outros.

As mudanças conceituais sobre a carreira estão ligadas diretamente às mudanças estruturais ocorridas na sociedade moderna em decorrência dos diversos avanços científicos possibilitados no último século pela humanidade, sendo a carreira uma demanda originada pela necessidade produtiva e científica da sociedade, conforme argumenta Chanlat (1995, p. 69): “toda sociedade, independente de seu tipo, fornece os quadros no interior dos quais as carreiras nascem, desenvolvem-se e morrem”, ou seja, a carreira atende primeiramente as demandas da sociedade local.

As sociedades criam, recriam e/ou modificam a forma como se dará a carreira. Nesse quadro, Chanlat (1995, p. 70) acrescenta que “a cultura e a estrutura social de cada sociedade acabam por modificar as configurações que os tipos e os modelos de carreira podem ter de um país a outro”.

A carreira pode ser apreendida de forma variada, dependendo do contexto em que ela é aplicada. No caso da educação, a carreira docente é apreendida e realizada de forma distinta, ainda que em contextos locais semelhantes. Diversos são os fatores que contribuem para essa distinção, sendo que as relações de poder estabelecidas no interior de uma sociedade possuem grande importância para a práxis conceitual da carreira.

Chanlat (1995, p. 71) identifica que “as relações sociais, as relações de autoridade e a carreira são vividas diferentemente de um país a outro”. No caso específico da carreira docente, observa-se que as relações citadas por Chanlat (1995) diferem em nível geográfico e social mais próximo, variando entre municípios de uma mesma região.

Este mesmo autor reforça seu pensamento sobre as relações de poder estabelecidas no interior de uma sociedade para justificar as diversas formas pelas quais a carreira é vivenciada, argumentando que:

É difícil falar a respeito de carreira sem evocar as estruturas socioeconômicas, as características do mercado de trabalho, os valores dominantes, a cultura na qual a empresa está mergulhada e o contexto histórico dentro do qual os encaminhamentos profissionais se inscrevem. (CHANLAT 1995, p. 68).

Esse aspecto citado por Chanlat (1995) reflete o tratamento dispensado pela sociedade à carreira docente, entendendo-se sociedade, aqui, como autoridades governantes, uma vez que se observa dificuldades de implementação de conquistas garantidas nas diversas legislações que regem a educação como a CF/88 e LDBEN nº 9.394/96.

Discutir carreira sem compreender as peculiaridades sociais e as relações de poder estabelecidas no micro espaço social (entendido aqui como o município), pode levar o pesquisador a um olhar reducionista e destoante daquilo que é vivenciado, principalmente em termos de políticas de remuneração aplicadas à carreira docente.

Nessa circunstância, a discussão a respeito da carreira, e especificamente sobre a carreira docente, constitui-se de grande importância para a análise das políticas de remuneração presente nos planos de carreira docente dos municípios do Pará.