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A RESPONSABILIDADE CIVIL SUBSIDIÁRIA DO ESTADO DECORRENTE

Inicialmente, cabe ressaltar que a responsabilidade não decorre apenas entre particulares, mas entre esses e entes estatais. Para Ribeiro (apud Cahali, 2007, p.13) a responsabilidade do Estado é:

Sem embargo da discrepância de conceitos existentes, a responsabilidade civil do Estado pode ser entendida como a obrigação legal imposta ao Poder Público de ressarcir os danos e prejuízos causados aos administrados em decorrência das suas atividades, sejam as condutas de natureza comissiva ou omissiva.

Insta salientar, que a doutrina e a jurisprudência é pacífica no sentido de responsabilizar o Estado pelos danos causados a terceiros.

Ainda, Ribeiro (2012, p.59) diz:

(...) nem sempre o Estado foi responsável pelos danos causados aos administrados. No contexto histórico, verifica-se que inicialmente o ente estatal não respondia por seus desideratos, inexistindo, assim, a sua obrigação reparatória. A irresponsabilidade do Estado possuía como fundamento o denominado “fato do príncipe”, cujo prelúdio rezava que o ente soberano não errava, pois, o seu poder, era advindo da própria divindade, cuja personificação se encontrava na figura do rei, em clara ressonância ao arquétipo do “bom gigante”.

Ressalta-se que o Estado deve ser um meio seguro quando a sociedade precisar de seus serviços, contudo, caso haja falha na prestação de serviço por parte do Estado, através de seus agentes, nada mais justo que a reparação por meio de indenização.

Cinge-se que Ribeiro (apud Mello, 2009, p.152-153) aduz sobre os agentes da Administração Pública:

Vale-se dizer que as pessoas responsáveis são aquelas previstas constitucionalmente, quais sejam, as pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. O primeiro grupo não enseja maiores dúvidas, uma vez que são aquelas que representam a administração direta. Todavia, o segundo grupo revela algumas nuances, uma vez que engloba todas as pessoas jurídicas de direito privado que proporcionam serviços originalmente de fornecimento direto pelo Estado, cuja prestação do serviço público lhes foi transferida por concessão ou delegação da Administração Pública(...)

De qualquer forma, resta claro e evidente que os agentes por meio de delegação, concursados ou não, registradores, notários ou prepostos representam o Estado no que tange a conduta que cause danos a alguém.

É pacífico para a doutrina e a jurisprudência que o agente, mesmo que por delegação, que cause danos a terceiros, em razão de sua função, comprovado dolo ou culpa, deva o Estado indenizar a vítima, tanto que o art. 37, §6º, da CF/88, deixa isto claro.

O que entra em divergência na doutrina e jurisprudência é a natureza da obrigação indenizatória dessa responsabilidade, se solidária ou subsidiária. Quem defende a tese da responsabilidade de natureza subsidiária, sustenta que a ação indenizatória deve ser interposta pelo lesado em face do agente de notas ou registros.

Assim, para Ribeiro (apud Sartori, 2012, p. 74):

Assim, o Estado somente poderia ser acionado por àquele indiretamente, desde que o profissional não possuísse bens suficientes a garantir indenização devida, pois, considerando que os notários e registradores auferem para si todos os bônus da atividade, não seria nada mais que justo arcarem, ainda que de maneira preliminar, com os reveses.

Importante frisar, que no caso do lesado ingressar com ação em face da Administração Pública, poderá esta posteriormente ingressar com ação de regresso contra os agentes de notas e registros, caso haja dolo ou culpa.

Para os defensores da teoria solidária da responsabilidade, entendem que o lesado poderá ingressar com a ação apenas contra o Estado ou contra o agente público, pois a indenização será única, sob pena de locupletamento ilícito do demandante, conforme Ribeiro (apud Stoco, 2012).

Ainda, Ribeiro (2012, p. 75) continua esclarecendo sobre esta teoria:

Igualmente, cinge-se dos fundamentos que embasam esta teoria, que seria irrelevante para o lesado saber quem foi o real causador dos danos que o acometeu, se o agente delegado ou seu preposto, sendo o objetivo principal da demanda reaver a quantia indenizatória que lhe é devida. Ademais, argumenta-se que a solidariedade existente entre o Estado e o agente de notas e registros encontra guarida na denominada responsabilidade civil por fato de outrem, hipótese em que existe mais de um sujeito passivo responsável pelos danos causados a vítima.

Assim, estar-se-ia por configurada uma responsabilidade com efeito duplo, o primeiro, existente entre o lesado e os lesantes, e o segundo, relativo ao direito de regresso entre os co-responsáveis.

Por tudo o que foi exposto, entendendo que a responsabilidade do Estado, no caso dos atos praticados pelos notários e registradores, é apenas subsidiária, ou seja, primeiro responde o agente e somente depois o Estado, temos a seguinte jurisprudência do nosso Tribunal:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PRELIMINARES AFASTADAS. LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO E NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVADOS. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ENTE PÚBLICO E DA TABELIÃ. APLICABILIDADE DA LEI Nº 8.935/94. CARÁTER SUBSIDIÁRIO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. 1. No caso, pretende o autor indenização por conta da falha no serviço prestado pelos réus, ao reconhecer a autenticidade de firma de pessoa já falecida, suposto proprietário de um imóvel, induzindo em erro o demandante na pactuação com estelionatários em contrato relativo à aquisição de um imóvel. 2. A falha na prestação do serviço notarial restou comprovada nos autos, o que enseja o dever de indenizar pelos danos materiais e extrapatrimoniais suportados pelo demandante em razão da negligência da Tabeliã. Por ser a atividade no tabelionato exercida em decorrência de delegação pelo Estado, este na condição de poder concedente, é parte legítima para responder por eventual erro na atividade notarial, uma vez que não escolheu bem o seu representante para o exercício do serviço público. 3. A responsabilidade do prestador de serviço de natureza pública é objetiva, ou seja, independe de culpa, bastando a comprovação do prejuízo e do nexo de causalidade entre a conduta do tabelião e o dano. Inteligência do art. 37, § 6°, da Constituição Federal. 4. Contudo, assiste razão ao recorrente no tocante ao regime de responsabilidade, pois o Estado responde apenas de forma subsidiária em relação a titular da serventia por delegação, uma vez que esta responde de forma pessoal pelos danos causados em decorrência de ato inerente à sua atividade. Assim, a responsabilidade primária é da delegatória, no caso concreto, do seu espólio, sendo secundária a do ente público. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70076720853, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lusmary Fatima Turelly da Silva, Julgado em 26/06/2018).

Esse o entendimento predominante atualmente, ou seja, que o Estado responde apenas subsidiariamente.

5 CONCLUSÃO

Os serviços notariais e registrais são imprescindíveis nas relações jurídicas entre particular e particular ou particular e o Estado.

Ao longo da história, muitas mudanças ocorreram, aliás, significativas, pois trouxe uma legislação que traz qual a função dos notários e registradores e ao mesmo tempo, proteção e segurança aos atos praticados, uma vez que antes das legislações que temos hoje, havia muitas controvérsias e paradigmas em relação ao papel dos serventuários e o próprio serviço cartorário não tinha tanta regulação prevista em legislação.

Foram muitos anos até que fosse regulado o serviço dos notários, registradores e seus prepostos, mas atualmente temos uma solidez no que tange aos direitos e deveres dos serventuários e ao próprio particular.

Atualmente, temos algumas discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca de alguns temas, todavia, é sempre importante discutir e analisar panoramas diferentes para melhorar o atendimento nas serventias e ao mesmo tempo, qualificar os serviços e solidificar a função dos notários e registradores, dando liberdade para atuar dentro de seus cartórios e tabelionatos.

O presente trabalho trouxe uma pesquisa sobre a responsabilidade civil do Estado, mas principalmente dos serventuários no exercício de suas funções, que dia a dia buscam mais reconhecimento e uma legislação sólida, para que possam fazer seus trabalhos da melhor forma possível.

No decorrer da pesquisa foi visto a evolução histórica da responsabilidade civil, e podemos ver o quanto já evoluímos. Aferimos a importância dos princípios na resolução de um trabalho sério e comprometido nas serventias, dando mais eficácia, celeridade e publicidade aos atos.

Também foi visto, toda a questão de como chegar na responsabilidade civil, suas excludentes e por fim, demonstrar a função dos notários e registradores, assim como seus prepostos na responsabilidade civil, caso haja danos ao patrimônio de alguém.

Foi mencionado as legislações e suas alterações, significativas ao caso em concreto. Enfim, um trabalho que proporciona aprendizado e enriquecimento enquanto acadêmico.

REFERÊNCIAS

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