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Os atos praticados pelos notários e registradores e a responsabilidade civil daí decorrente

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Ijuí, RS 2019

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

NATALINO DE JESUS PINHEIRO

OS ATOS PRATICADOS PELOS NOTÁRIOS E

REGISTRADORES E A RESPONSABILIDADE CIVIL DAÍ

DECORRENTE

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Ijuí, RS 2019

OS ATOS PRATICADOS PELOS NOTÁRIOS E

REGISTRADORES E A RESPONSABILIDADE CIVIL DAÍ

DECORRENTE

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais. Orientador: MSc. Fabiana Fachinetto

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio, confiança e pela compreensão pela ausência em alguns momentos, durante a minha jornada.

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A Deus acima de tudo, por ter me dado à vida, força, coragem e confiança para superar as dificuldades e nunca desistir.

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio, confiança e compreensão, quando não estive presente em alguns momentos de família, em função dessa jornada acadêmica.

A todos os professores, que no decorrer do curso souberam usar suas habilidades, compartilhando seus conhecimentos. Em especial a minha orientadora, professora e amiga professora Fabiana Fachinetto, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação.

E a todos que de uma forma ou outra sempre me incentivaram e me ajudaram quando necessitei

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“Lembre-se dos três r´s: respeito por si mesmo, respeito pelos outros e responsabilidade para todas as suas ações”. Dalai Lama

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e a responsabilidade civil daí decorrente. 2019. Número total de folhas 49.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais, Ijuí, 2019.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso estuda a responsabilidade civil dos notários e registradores, decorrente dos atos que esses praticam diariamente no exercício de suas atribuições, seja diretamente, seja por meio de seus prepostos. Para tanto aborda a história da responsabilidade civil e da própria atividade notarial e registral, a natureza jurídica, competências, atribuições e responsabilização nas esferas civil, penal e administrativa. Especialmente em relação a responsabilidade civil, estuda o seu conceito e origem, pressupostos, ação e omissão, o dano e o nexo de causalidade, as espécies de responsabilização e a responsabilidade civil do Estado. Por fim, discute a responsabilidade em razão da função do tabelião e registrador, se a mesma é subjetiva ou objetiva, a incidência do Código de Defesa do Consumidor (CDC), as excludentes de responsabilidade e a responsabilidade civil do Estado.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Notários e registradores. Responsabilidade

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PINHEIRO, Natalino de Jesus. The acts practiced by notaries and registrars and

the resulting civil liability. 2019. Número total de folhas 49. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais, Ijuí, 2019.

ABSTRACT

The present work of course completion studies the civil liability of notaries and registrars, arising from the acts they practice daily in the exercise of their duties, either directly or through their representatives. In order to do so, it addresses the history of civil liability and of the proper notarial and registry activity, the legal nature, competencies, attributions and accountability in the civil, criminal and administrative spheres. Especially in relation to civil liability, it studies its concept and origin, assumptions, action and omission, damage and causation, types of accountability and civil liability of the State. Finally, it discusses the responsibility for the function of the notary and registrar, if it is subjective or objective, the incidence of the Consumer Protection Code (CDC), the exclusions of liability and the civil responsibility of the State.

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1 INTRODUÇÃO ... 9

2 A ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTROS ... 10

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL... 10

2.2 NATUREZA JURÍDICA E FINALIDADES DO SERVIÇO ... 13

2.3 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS ... 15

2.4 A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E CRIMINAL ... 18

3 RESPONSABILIDADE CIVIL: NOÇÕES GERAIS ... 21

3.1 CONCEITO E ORIGEM HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ... 21

3.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil ... 24

3.2.1 Ação ou omissão ... 24

3.2.2 Dano ... 25

3.2.3 Nexo de causalidade ... 26

3.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA ... 28

3.4 Responsabilidade pelos danos materiais e morais ... 28

3.5 AS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO E REGISTRADOR ... 30

4 RESPONSABILIDADE CIVIL NA FUNÇÃO DE NOTÁRIO E REGISTRADOR 34 4.1 O DEBATE SOBRE A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA OU OBJETIVA ... 34

4.2 A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ... 38

4.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL SUBSIDIÁRIA DO ESTADO DECORRENTE DOS ATOS PRATICADOS NA FUNÇÃO DE NOTÁRIO E REGISTRADOR ... 43

5 CONCLUSÃO ... 46

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da responsabilização civil dos tabeliães e registradores, assim como seus prepostos, enquanto agentes públicos, uma vez que possuem suas funções por delegação da Administração Pública.

A legislação sobre o assunto surgiu inicialmente com a Lei Federal nº 6.015/73, que trazia tão somente a área registral como foco da lei, não disciplinando sobre a atividade em relação aos seus agentes, ficando para as Corregedorias organizar as atividades, o que deixava margem para muitas e variadas interpretações.

Posteriormente, a Constituição Federal em 1988, trouxe balizas para este entendimento, no qual regulamenta sobre a atividade dos servidores, evidenciando isto, em seu artigo 236 e parágrafo 2º, da Carta Magna.

Mais adiante, surgiu ainda, a Lei nº 8.935/94, chamada Lei dos Cartórios, que disciplina sobre as atividades, de forma específica e especial. Há de notar, que o advento da Lei dos Cartórios trouxe mais segurança e estabilidade jurídica para os agentes públicos e para o restante da sociedade, vez que antes desta lei havia diversos entendimentos, o que dificultava para todos até mesmo como agir. Assim, esta lei traz em detalhes os direitos, deveres e competência de cada serventia.

A responsabilidade civil surge exatamente para reparar o dano causado a terceiro, em virtude de dolo ou culpa, e que de alguma forma causou prejuízo a alguém.

Neste sentido, no decorrer da pesquisa será abordado como se dará a responsabilidade civil dos serventuários, as hipóteses em que irá acontecer e até mesmo quando restará extinta a responsabilidade do mesmo, além de demonstrar em quais casos o Estado será responsabilizado.

Cinge-se que o objetivo desta pesquisa é demonstrar quando os servidores serão punidos pelos atos praticados.

Assim, no decorrer dos três capítulos serão evidenciadas todas estas possibilidades e questões, trabalhando em cima do assunto.

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2 A ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTROS

O presente capítulo propõe-se a estudar a atividade notarial e registral, demonstrando a evolução histórica, a natureza jurídica e a finalidade do serviço, bem como as atribuições até chegar na responsabilização do notário e registrador, que pode ser nas esferas civil, criminal e administrativa.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL

A atividade notarial e de registros surgiu a partir da necessidade do homem primitivo em obter um meio de estabelecer e redigir seus negócios jurídicos, ou seja, alguém responsável para transcrever os negócios jurídicos realizados naquela época, dar fé aos atos, bem como guardá-los por algum tempo ou eternamente.

A sociedade egípcia, de acordo com alguns estudiosos, foi a primeira a realizar esse tipo de registro, através dos escribas, que eram os responsáveis pela “escrita” dos atos, sendo que os mesmos recebiam anteriormente um treinamento para realizarem os atos de registro. Os atos praticados pelos escribas, para que tivesse algum valor, tinham que ser homologados pelas autoridades superiores, já que os mesmos não eram possuidores de fé pública, diferente do que ocorre hoje. Os escribas, também existiram com o povo Hebreu, sendo que existia um escriba da lei, escriba do povo, escriba do rei e do Estado, conforme (SIQUEIRA, 2000).

Na Roma antiga, esses tipos de registros eram de responsabilidade do notário, ou notarius, como era chamado naquela época, sendo sua função a de realizar as transcrições, bem como os registros dos julgamentos e dos procedimentos judiciais da época, sendo que junto com o notarius, atuava o

tabelione, o qual tinha como função formalizar a vontade das partes, como os

negócios jurídicos e testamentos, que eram escritos sobre tábuas, contendo assinatura das partes, das testemunhas e do tabelione. Também em Roma existiu o

tabularii, cuja função era de escriturar e guardar os registros de hipotecas, fazer

registros de nascimentos, inventários públicos e particulares, este, equiparado hoje, com o registrador civil das pessoas naturais e com o registrador de imóveis, pois possuía a mesma função que hoje é exercida pelos registradores, conforme (SIQUEIRA, 2000).

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Foi o imperador bizantino Justiniano I, o qual também foi o unificador do império romano, que transformou a atividade de tabelião em uma profissão regulamentada. Justiniano, face a necessidade de uma legislação capaz de atender as demandas e litígios que ocorriam na época, publicou entre os anos 529 e 534, o

Corpus Juris Civilis ou Corpus Iuris Civilis, instituindo o protocolo notarial. O

“protocolo” tem origem no grego protos, que significa o primeiro, e kolla, que etimologicamente significa uma folha pregada a certos documentos, com o resumo ou as indicações do conteúdo do ato. Estabeleceu-se algumas formalidades, que deveriam ser observadas pelos tabeliães, como o papel, local, data da lavratura do ato, local onde o tabelião deveria permanecer para atender seus clientes, entre outros (MARTINS, 1979).

Justiniano também observou a necessidade dos tabeliães terem um amplo conhecimento jurídico, para o exercício da atividade notarial, sendo assim, o imperador estabeleceu a obrigatoriedade dos notários serem peritos em direito.

Na Grécia, existiram os mnemons, que tinham como função lavrar os atos e contratos da época, e o hieromnemos, cuja função era a de arquivar os atos lavrados pelos mnemos (RIBEIRO, 2012).

No Brasil, a atividade notarial e de registros, surgiu com a Lei nº 601, ainda em 1850, chamada Lei do Vigário, levando esse nome, em razão de ter sido a igreja católica que obrigou as pessoas a legitimarem suas aquisições pela posse, através de registro em livro próprio, havendo dessa forma, a diferenciação de terras públicas e terras privadas, sendo a transmissão de terras feitas através de contratos, que era feito por um tabelião.

O primeiro tabelião no Brasil, foi Pero Vaz de Caminha, pois coube a ele, quando da descoberta do Brasil pelos portugueses, fazer o registro do que estava sendo descoberto (o que hoje chamamos de ata notarial), pois ele era o escrivão que fazia parte da frota de Pedro Álvares Cabral, sendo essa “carta”, o primeiro documento que foi escrito em solo Brasileiro, sendo também, o único documento relacionado à descoberta do Brasil. Depois disso, a atividade notarial foi regulamentada de acordo com a legislação portuguesa.

No Brasil Império os tabeliães eram nomeados pelo rei, mas com a divisão do Brasil em capitanias, a nomeação dos tabeliães passou a ser dos donatários. Com o fracasso da divisão, voltou ao rei a prerrogativa de nomear os tabeliães, então, o cargo de tabelião passou a ser dotado por doação, tendo o donatário, o

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cargo vitalício de tabelião, mas o mesmo poderia vender o cargo ou passar para os filhos, ficando claro que a função notarial era uma propriedade, a qual poderia ser vendida, doada ou passada através de sucessão hereditária.

Atualmente, os Serviços Notariais e Registrais são normatizadas pela Lei nº 6.015/1973, a Lei nº 8.935/1994, a Constituição Federal/1988 e a Lei nº 10.169/2000, incluindo nesse rol, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990).

Como a competência para legislar sobre os registros públicos é da União, foi editada em 31 de dezembro de 1973, a Lei nº 6.015, conhecida como Lei dos Registros Públicos. Essa estabeleceu as diretrizes dos registros, sendo que entre os artigos 29 a 113 trata do Registro Civil das Pessoas Naturais; entre os artigos 114 a 126 do Registro Civil de Pessoas Jurídicas; entre os artigos 127 a 166 do Registro de Títulos e Documentos e, por fim, entre os artigos 167 a 288, do Registro de Imóveis. Depois de mais de 40 anos, essa lei continua, porém com inúmeras alterações.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 22, inciso XXV, é competência privativa da União legislar sobre registros públicos; já, em seu artigo 236, os serviços notariais e registrais, são exercidos em caráter privado, sendo um serviço delegado pelo poder público, na qual a lei regulará as atividades notariais e registrais, disciplinando a responsabilidade civil e criminal dos tabeliães e registradores, bem como a fiscalização dos atos por eles praticados:

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do poder público.

§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.

§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.

Todavia, pelo artigo 32 das Disposições Transitórias, o artigo da Constituição Federal citado anteriormente, não é aplicado aos serviços notariais e registrais que já tinha sido oficializadas pelo poder público.

A Lei nº 8.935/1994, que trata dos serviços notariais e registrais conhecida como lei dos Cartórios, estabelece sobre as atribuições, competências e demais

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requisitos ligados aos serventuários. Diga-se que esta lei trouxe mais segurança aos agentes, uma vez que não tinham uma legislação específica sobre seus serviços.

A Lei nº 8.935/1994, capítulo I, do título I, artigos 1º, 2º (vetado), 3º e 4º, regulamentou os referidos parágrafos 1º e 2º do artigo 236 da Constituição Federal. Em seu artigo 1º faz uma definição de quais os fins dos serviços notariais e registrais, estabelecendo que é de “garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”.

A Lei nº 8.935/1994, no seu artigo 5º, que trata dos titulares dos serviços; os artigos 6º ao 13 sobre as atribuições e competências; os artigos 14 ao 21, sobre a forma de ingresso nas serventias; artigos 22 ao 24 da responsabilidade civil e penal; artigos 25 ao 27 das incompatibilidades e dos impedimentos; artigos 28 ao 30, dos direitos e deveres dos funcionários; artigos 31º ao 36º, das infrações disciplinares e respectivas penalidades; artigos 37 e 38 da fiscalização exercida pelo Poder Judiciário; artigo 39 da extinção da delegação; artigo 40 da seguridade social.

Por fim, é importante observar que nos serviços registrais e notarias existe uma relação de consumo, ocorrendo a remuneração direta pelos serviços prestados, sendo assim, não há dúvidas que estão sujeitos a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.

2.2 NATUREZA JURÍDICA E FINALIDADES DO SERVIÇO

Os notários e registradores são pessoas que desempenham uma função pública em frente aos serviços notariais e registrais pelo qual o Estado delega a um particular a função de exercer em caráter privado a atividade notarial e registral, sendo essa delegação de natureza administrativa, não integrando a estrutura estatal.

Quando a Constituição Federal de 1988 estabeleceu que “os serviços notariais e registrais são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”, entende-se que a intenção foi alterar o status dos notários e registradores do direito público para o direito privado, deixando de fazer parte da estrutura estatal, e passariam a ser colaboradores do Poder Público. Assim, em função da relevância social da atividade notarial e registral, essa não poderia incluir-se na categoria dos serviços públicos e, portanto, o notário e o registrador não poderiam considerar-se agentes públicos.

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Neste sentido manifestou-se o Ministro Carlos Ayres Brito (apud LIMA, 2011):

Numa frase, então, serviços notariais e de registro, são típicas atividades estatais, mas não são serviços públicos, propriamente. Inscrevem-se, isto sim, entre as atividades tidas como função pública lato sensu, a exemplo das funções de legislação, diplomacia, defesa nacional, segurança pública, trânsito, controle externo e tantos outros cometimentos que, nem por ser do exclusivo domínio estatal, passam a se confundir com serviço público.” (ADI 3.643, voto do Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 8-11-2006, Plenário, DJ de 16-02-2007.)

A delegação para a atividade notarial e registral, depende de alguns requisitos, como habilitação em concurso público; ser brasileiro, ter capacidade civil, estar quites com as obrigações eleitorais e militares, ter diploma de bacharel em direito ou provar que possui mais de 10 (dez) anos na função, e ter conduta digna para o exercício da profissão.

Os notários e registradores possuem fé pública, conforme estabelece o artigo 3º da Lei nº 8.935/94, ou seja, os atos praticados pelos mesmos gozam de presunção relativa de veracidade, pois, enquanto os atos não forem contestados, presumem-se como verdadeiros.

A finalidade dos serviços notariais e registrais, estão previstos tanto na Lei nº 6.015/73, em seu artigo 1º, quanto na Lei nº 8.935/94, também no artigo 1º, dizendo que os “serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”.

A publicidade tem por finalidade dar permissão legal para que qualquer interessado tenha acesso às informações que constem nos livros da serventia, não havendo necessidade de justificativa para o que se está pedindo, exceto em alguns casos, como na adoção, visto que nesses casos há a necessidade de sigilo. Assim, a principal finalidade da publicidade é “a função de dar notoriedade e transparência aos assentamentos públicos passíveis de registro” (MATOS, 2013).

A autenticidade é a confirmação pelo ato de autoridade, podendo ser um documento ou simplesmente uma declaração de vontade, no qual o ato cria a presunção relativa de verdade, sendo considerado um documento público que goza de autenticidade. Desta forma, “não é só aquilo que se contrapõe falso, (...), mas, além disso, que o ato ou o documento ostenta a seu favor presunção de

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regularidade que o qualifica com um ato de especial eficácia”, conforme (VIDAL, 2008).

A segurança constitui-se na proteção, estabilidade e garantia dos atos praticados pelo tabelião e pelo registrador, pois quando um ato é realizado numa serventia, tabelionato ou registro, o cidadão tem certeza que é um documento seguro, mesmo que ele tenha pouco ou nenhum conhecimento sobre o ato. Veja-se que é obrigação do tabelião e do registrador esclarecer sobre os efeitos jurídicos do ato que está sendo praticado, para que o interesse da parte seja protegido, tendo esse dever um caráter eminentemente preventivo, resguardando não só o interesse da parte, mas também de terceiros. Frisa-se que a segurança dá confiança aos atos jurídicos e seus efeitos na esfera registral (MATOS, 2013).

Importante frisar, que a responsabilidade civil do notário e do registrador muitas vezes está relacionada à insegurança do ato ou falta de autenticidade, pois o sistema de normas que regula a classe demonstra problemas na inserção destas figuras no ordenamento jurídico vigente.

Assim, uma das problemáticas diz respeito à responsabilidade civil destes servidores, “uma vez que são representantes do Estado, porém caracterizados como entes privados. A abordagem constitucional a respeito do tema delegou à lei ordinária a missão de regular a responsabilidade destes serventuários” (MATOS, 2013).

Já a eficácia é a capacidade que um ato tem de produzir seus efeitos jurídicos, tendo como base a segurança dos assentos e a autenticidade dos negócios, pois alguns atos só produzem efeito depois de realizados via ato notarial ou registral. Por exemplo, uma escritura de compra e venda de imóvel, terá efeito de compra e venda perante o transmitente e o adquirente, porém não terá efeitos contra terceiro, cujo ato só terá eficácia depois da escritura pública devidamente registrada no registro de imóveis competente.

2.3 ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS

Inicialmente, cabe dizer quem são os titulares de serviços notariais e registrais, os quais estão previstos no artigo 5º da Lei nº 8.935/94, para então adentrarmos nas atribuições e competências de cada um, segue abaixo o rol que o artigo menciona.

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Art. 5º Os titulares de serviços notariais e de registro são os: I - tabeliães de notas;

II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos; III - tabeliães de protesto de títulos;

IV - oficiais de registro de imóveis;

V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas; VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas; VII - oficiais de registro de distribuição. (BRASIL, Lei 8.935/94).

A partir de agora, feita essa especificação, será detalhado o rol das competências e atribuições, conforme os artigos 6º e seguintes do mesmo diploma legal:

Art. 6º Aos notários compete:

I - formalizar juridicamente a vontade das partes;

II - intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo;

III - autenticar fatos. (BRASIL, Lei 8.935/94).

A competência deve ser analisada individualmente em cada inciso, observando o verbo nuclear (negrito), senão vejamos:

Quanto ao primeiro inciso (artigo 6º), a expressão formalizar

juridicamente, quer alertar que a formalização só é válida quando

estampada por ato notarial realizado pelo profissional competente, em meios próprios, ou seja, livros de registros, impressos ou anotados, em conformidade com as diretrizes aludidas no Direito.

A respeito da vontade das partes, os notários devem observar se elas estão demonstradas através de instrumentos propícios para a lavratura dos atos. Se confusas as pretensões requeridas, deve o profissional empenhar-se para que empenhar-sejam sanadas as dúvidas e a real vontade da parte esteja expressa no documento público a ser lavrado.

Quanto ao inciso II, intervir salienta “interferir”, para que os atos sejam executados da melhor forma possível, com fim específico de equilibrar a vontade das partes e a exigência legal para a lavratura dos instrumentos. Esta interferência também pode ser realizada pelos seus subordinados ou prepostos, sob sua responsabilidade.

Nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade. A interpretação desta expressão estabelece

a distinção entre “ato jurídico” e “negócio jurídico”. O primeiro é o instrumento legal lícito, unilateral, com total repercussão na esfera jurídica, não sendo, porém, a demonstração de vontade dos

interessados; já o segundo é sintetizado como a manifestação da intenção das partes envolvidas, em busca da satisfação de um resultado pretendido, amparado pelo direito.

Ao examinar a expressão autorizando a redação ou redigindo, pode-se observar que o notário detém poder para redigir os atos públicos ou pode designar substitutos para a redação dos mesmos. Esta “autorização”, para

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ter validade, deve ser previamente legalizada, através de envio de lista de prepostos ao juízo competente.

Os instrumentos adequados são os determinados por lei, para a satisfação das intenções pleiteadas pelas partes, ou terceiro comprovadamente interessado.

Ao alertar para a ponderação conservando os originais, o legislador pretende demonstrar a suma importância das políticas de resguardo dos livros e documentos arquivados nas serventias, repudiando as práticas negligentes, que podem ser observadas em várias localidades do nosso país.

E expedindo cópias fidedignas evidencia a expedição de documentos,

assegurados de total e imprescindível semelhança com os originais arquivados. As certidões são um exemplo clássico de cópia fidedigna. Por fim, o inciso III do artigo destacado assinala que autenticar fatos significa a comprovação, por parte do notário autorizado, com a autoridade que lhe é incumbida, de que algum fato jurídico está revestido de total veracidade e pode perfeitamente repercutir os seus

Efeitos” (MATOS, 2013, p. 19/20).

A Lei nº 8935/94, ainda destaca as atribuições dos Tabeliães de notas:

Art. 7º Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: I - lavrar escrituras e procurações, públicas;

II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; III - lavrar atas notariais;

IV - reconhecer firmas;

V - autenticar cópias. (BRASIL, Lei 8.935/94).

As atribuições do Tabelião de notas, conforme art. 7º, é um rol taxativo, com algumas ressalvas:

A respeito dos atos notariais enumerados, faltou mencionar a competência para expedir traslados e certidões, a que a lei citada aludiu apenas no art. 10, IV (expedição de traslados e certidões), e no art. 11, VII (expedição de certidões), ao regular as atribuições dos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos, bem assim, em seguida, as dos tabeliães de protesto de títulos.

A nomenclatura adotada nos incisos I e II do mencionado artigo 7º está a merecer reparo, pois aparenta distinguir escrituras, procurações e testamentos públicos, com desatenção aos ensinamentos do Direito Notarial, em que a escritura pública, pelo seu sentido genérico, inclui, entre as suas espécies, o testamento público e a procuração pública. (MATOS, 2013, p. 20).

O artigo 10, menciona sobre os contratos marítimos dos Tabeliães de notas, vejamos:

Art. 10. Aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos compete: I - lavrar os atos, contratos e instrumentos relativos a transações de embarcações a que as partes devam ou queiram dar forma legal de escritura pública;

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III - reconhecer firmas em documentos destinados a fins de direito marítimo; IV - expedir traslados e certidões. (BRASIL, Lei 8.935/94).

Já as atribuições dos tabeliães de protesto de títulos estão elencadas no artigo 11, conforme rol taxativo:

Art. 11. Aos tabeliães de protesto de título compete privativamente:

I - protocolar de imediato os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obrigação;

II - intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de protesto;

III - receber o pagamento dos títulos protocolizados, dando quitação;

IV - lavrar o protesto, registrando o ato em livro próprio, em microfilme ou sob outra forma de documentação;

V - acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante; VI - averbar:

a) o cancelamento do protesto;

b) as alterações necessárias para atualização dos registros efetuados; VII - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis. (BRASIL, Lei 8.935/94).

Insta salientar que das atribuições do tabelião de protesto em alguns aspectos são diferenciais, por exemplo, a intimação dos devedores para pagamento, sob a pena de protesto e o acatamento de desistência, esta formulada pelo apresentante do título protocolado.

No desempenho da atividade notarial e registral, os titulares prestadores desses serviços são designados, de forma diferente, a depender do tipo de serviço que efetuam. O titular do tabelionato de notas e de protestos de títulos, é chamado de notário ou tabelião, já o titular do registro civil das pessoas naturais, de pessoas jurídicas, de imóveis e de títulos e documentos, é chamado de oficial ou registrador.

O artigo 12 da Lei nº 8.935/94, estabelece as atribuições dos notários e registradores. É de competência dos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pessoas, a prática dos atos relacionados na legislação pertinente aos registros públicos, para os quais são incumbidos, não dependendo de prévia distribuição, porém, estão sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas que definirem as circunscrições geográficas.

2.4 A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E CRIMINAL

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praticados por ele ou seus prepostos, dentro de sua serventia, podem vir a cometer algumas infrações civis, penais ou até mesmo administrativas, das quais o notário ou registrador será responsável.

De acordo com o artigo 31 da Lei nº 8.935/94, são consideradas infrações administrativas, a inobservância das prescrições legais e normativas; conduta atentatória às instituições notariais e registrais; cobrança indevida ou em excesso dos emolumentos; violar o sigilo profissional; descumprir quaisquer deveres decorrentes da função; sendo que essas infrações estão sujeitas a penalizações, que podem ser com repreensão, multa, suspensão e até a perda da delegação, dependendo do grau da infração, pois a penalidade será aplicada de acordo com a gravidade da infração, podendo ser leve, média ou grave.

No caso de uma infração leve, a penalidade poderá ser apenas uma repreensão, se houver uma reincidência poderá ser aplicada multa, e em caso de descumprimento de algum dever, ou havendo uma falta grave, poderá haver a suspensão, que será de 90 dias, podendo ser prorrogável por mais 30 dias.

A Lei nº 8.935/94, não define o que são as faltas leves, médias e graves, sendo de competência do juízo analisar o caso e decidir qual pena deverá ser aplicada. Para ocorrer a perda da delegação, é necessário sentença judicial transitada em julgado, ou processo administrativo instaurado pelo juízo competente, a qual será aplicada por quem delegou o serviço; sendo assegurado ao notário e ao registrador amplo direito de defesa.

Os notários e registradores, bem como seus prepostos, se no exercício de suas funções, violarem alguma norma na prática de algum ato, responderão tanto na seara administrativa quanto nas searas civil ou criminal, importando, assim, na responsabilidade do tabelião ou do registrador. Especificamente em relação a responsabilidade civil, o artigo 22 da Lei nº 8.935/94 estabelece o seguinte:

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.

A Lei nº 13.286/2016, alterou a redação original do artigo 22 da Lei nº 8.935/94, para acrescentar o prazo prescricional para exercício da pretensão que envolve a responsabilidade civil, passando a vigorar com a seguinte redação:

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Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.

Parágrafo único. Prescreve em três anos a pretensão de reparação civil, contado o prazo da data de lavratura do ato registral ou notarial.” (NR) Também, no artigo 236 da Constituição Federal:

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público

§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

Desta forma, caso os serventuários no exercício de suas funções, praticarem infrações e/ou atos em desacordo com a legislação, poderá responder nas três esferas.

Por fim, o notário e o registrador podem ser responsabilizados criminalmente, quando “o agente infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o da sociedade”, conforme Matos (apud Gonçalves, 2002, p. 19).

Na responsabilidade civil, como já foi explicado, tem que ter dolo ou culpa, numa conduta omissiva ou comissiva. Ocorre, que na responsabilidade penal, ainda existe a figura do dano, que é praticado contra a “paz social”, ou seja, contra a coletividade/sociedade. A conduta danosa vai para além da responsabilidade do indivíduo e a repressão ocorre na figura de toda essa esfera social.

Dessa forma, nada impede que o agente responda civil e criminalmente, pois pode lesar o indivíduo e a sociedade, ao mesmo tempo.

Por outro lado, a responsabilidade penal também pode comprovar a responsabilidade civil, como estabelece a Lei 10.406 de 2002: “Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.” (BRASIL, CC, 2013). Assim, as sentenças penais condenatórias, quando definitivas, também fazem coisa julgada na esfera civil.

Frisa-se que na seara criminal, somente as pessoas físicas são passíveis de punição, enquanto na seara cível, as pessoas jurídicas também podem se tornarem rés e serem responsabilizadas.

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3 RESPONSABILIDADE CIVIL: NOÇÕES GERAIS

Este capítulo tem por objetivo demonstrar as nuances da responsabilidade civil, tendo por base a legislação brasileira vigente, o conceito de responsabilização, seus pressupostos, o liame que dá causa a responsabilidade civil e suas excludentes.

3.1 CONCEITO E ORIGEM HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano que uma pessoa causa a outra. Assim, a teoria da responsabilidade civil procura determinar em que condições uma pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra pessoa e em que medida está obrigada a repará-lo. A reparação do dano é feita por meio da indenização, que é quase sempre pecuniária. O dano pode ser à integridade física, à honra ou aos bens de uma pessoa.

A palavra “responsabilidade” significa responder a alguma coisa, ou seja, responder pelos seus atos, responsabilizar-se pelos seus atos ilícitos, ou responsabilizar alguém quando esse pratica um ato que cause danos a alguém. Conforme cita Rui Stoco (2007, p. 114):

A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana.

Responsabilidade Civil, de acordo com De Plácido e Silva (2010,p. 642) é:

Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são impostas. Onde quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação ou o cumprimento da obrigação ou da sanção.

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Assim, a responsabilidade civil traz consequências a todos aqueles que pratiquem ato danoso a alguém, “por infringir dever contratual ou extracontratual, de forma direta ou indireta, assumindo, por conseguinte, as suas consequências”, conforme aduz Ribeiro (2012, p. 42). Frisa-se, que a noção inicial de responsabilidade civil era norteada tão somente pela culpa.

O homem sempre teve a necessidade de viver em sociedade, pois vivendo em sociedade, a sobrevivência do mesmo é mais garantida, pois os homens dependem uns dos outros para sobreviver. Porém, para viver em sociedade, o homem precisa comprometer-se a não criar conflitos, a não querer tudo para si, ou seja, querendo o que é seu e também o que é dos outros.

A própria sociedade impõe que, para conviver no meio social, tem que respeitar as leis; se não o fizer, sofre as consequências, por isso que há a responsabilidade pelos atos perante a sociedade.

A responsabilidade sempre existiu, como uma forma de reparar um dano sofrido injustamente por alguém; na sociedade primitiva, já existia a responsabilidade, porém, em forma de violência, em que um determinado grupo, voltava-se contra o agressor.

Já a responsabilidade civil, é oriunda do direito romano, onde tinha-se uma ideia de que a mesma era uma espécie de vingança, onde quem sofria o delito, reagia contra o agressor, e perante as pessoas, essa era uma reação normal, ou seja, as pessoas compreendiam que essa “vingança” era natural e necessária, pois o agressor tinha a obrigação de reparar o dano que causou.

Após o direito romano ter implantado a lei das XII Tábuas, mesmo assim, ainda notava-se a presença da Lei de Talião, em que tudo o que você fizesse de mal contra uma pessoa, o ofendido poderia fazer o mesmo com você, surgindo ai, a vingança individual, por exemplo, a pessoa perdeu o olho esquerdo em razão de uma agressão, o agressor também perdia o olho esquerdo, surgindo assim, as famosas frases: “olho por olho, dente por dente” ou “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Passado algum tempo, percebeu-se que essa forma de responsabilidade, ou seja, a lei de Talião, não era mais adequada para a sociedade, então o poder público, passou a intervir, sendo tarefa do poder público, permitir ou não tal vingança, e fazendo valer-se a Lei das XII Tábuas, pois ela passou a determinar qual era a quantia, ou o valor da indenização.

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Porém, no mesmo direito romano, foi realizado um plebiscito, o qual foi aprovado no final do século III e início do século II a.C., criando-se a Lex Aquilia, surgindo assim, a culpa aquiliana, através da Lex Aquilia, dando origem a responsabilidade civil delitual ou extracontratual, ou seja, é a punição dada a alguém que provoca danos injustificados a outro, independentemente de ter uma relação de obrigação contratual. Conforme Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

Um marco na evolução histórica da responsabilidade civil se dá, porém, com a edição da Lex Aquilia, cuja importância foi tão grande que deu nome à nova designação da responsabilidade civil delitual ou extracontratual (2003, p. 11).

A Lex Aquilia, também substituiu a multa fixa, por uma pena de acordo com o dano causado, possibilitando também a quem sofreu o dano, o direito de receber do agressor o pagamento em dinheiro.

A responsabilidade civil aquiliana, influenciou a inclusão da culpa na legislação de diversos países, como na legislação francesa, através do Código Civil de Napoleão, e até mesmo no Brasil, mais precisamente no código civil brasileiro de 1916.

Essa lei, também regulamentou o dammun injuria datum, o qual define o dano causado injustificadamente, por dolo ou culpa, física ou material. De acordo com Jose de Aguiar Dias (2006, p. 26):

A indenização permanecia substituindo o caráter da pena, sendo que os textos relativos a ações de responsabilidade se espraiaram de tal forma que, em último grau do direito romano, já não mais faziam menção apenas aos danos materiais, mas também aos danos morais.

Ainda hoje existe o dever de indenizar quando se comete um dano a alguém, existe também, o dever de indenizar por culpa in eligendo, ou seja, dano cometido por alguém que está sobre nossa responsabilidade, como pais e filhos, e entre comitentes e prepostos.

Responsabilidade civil é entendida como a reparação do dano causado por alguém, quando a uma redução ou “quebra” do patrimônio da vítima, mudando-se a noção de culpa, para a noção de dano, sendo a função da responsabilidade, a de restabelecer o direito e o dano da vítima.

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Atualmente, o Código Civil de 2002, estabelece nos artigos 927 a 954, a responsabilidade civil. Nesse sentido, a regra é a responsabilidade civil subjetiva, sendo a responsabilidade civil objetiva, uma exceção.

Importante, ressaltar que os artigos 186, 187 e 927, tratam da responsabilidade subjetiva, enquanto o artigo 188, traz causas excludentes e, ainda, os artigos 932, 933 e 934, todos do CC, evidenciam causas de responsabilidade objetiva.

Nessa diapasão, passaremos para os pressupostos da responsabilidade civil e seu liame subjetivo.

3.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Para que haja uma responsabilização, importante saber que deve ser evidenciado os pressupostos, pois sem eles não há responsabilidade civil.

3.2.1 Ação ou omissão

A ação ou omissão trata-se da conduta humana, a qual dá origem ao primeiro elemento caracterizador para a responsabilidade civil. Entende-se por ação, a conduta de fazer algo, enquanto a omissão é deixar de fazer.

Dessa forma, Oliveira (apud Rodrigues, 2002, p. 16) diz:

A responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a responsabilidade do agente, e ainda de danos causados por coisas que estejam sob a guarda deste. A responsabilidade por ato próprio se justifica no próprio princípio informador da teoria da reparação, pois se alguém, por sua ação, infringindo dever legal ou social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse prejuízo.

Frisa-se, que a conduta, não precisa ser necessariamente humana, uma vez que as pessoas jurídicas também podem cometer atos lesivos omissivos ou comissivos.

Além disso, Oliveira (apud Diniz, 2003, p. 37) aduz sobre conduta humana:

"o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, (...) que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado”. Afirma ainda que a ação ou omissão que gera a responsabilidade civil pode ser

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ilícita ou lícita e que a “responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco, (...) principalmente ante a insuficiência da culpa para solucionar todos os danos”. E continua sua lição afirmando que o comportamento pode ser comissivo ou omissivo, sendo que a “comissão vem a ser a prática de um ato que não se deveria efetivar, e a omissão, a não-observância de um dever de agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se.”

Assim, a responsabilidade civil se dá pela conduta humana, que dá origem a um resultado, que tenha nexo de causalidade entre o fato danoso e o resultado, com previsão legal.

3.2.2 Dano

O dano é necessariamente obrigatório no caso de responsabilidade civil, pois se não há dano, não há o dever de indenizar e se não há essas condições, não há responsabilização. Assim, Oliveira (apud Venosa, 2007, p.31) menciona sobre dano: “prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico e não econômico [...] Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona o dano.”

Então, sendo de ordem subjetiva ou objetiva, deve haver prejuízo ou dano a alguém. Nesse sentido Oliveira (apud Dias, 1997, p.42) diz:

Do ponto de vista da ordem social, consideramos infundada qualquer distinção a propósito da repercussão social ou individual do dano. O prejuízo imposto ao particular afeta o equilíbrio social. É, a nosso ver, precisamente nesta preocupação, neste imperativo, que se deve situar o fundamento da responsabilidade civil. Não encontramos razão suficiente para concordar em que à sociedade o ato só atinge em seu aspecto de violação da norma penal, enquanto a repercussão no patrimônio do indivíduo só a diz respeito. Não pode ser exata a distinção, se atentarmos em que o indivíduo é parte da sociedade; que é cada vez mais considerado em função da coletividade; que todas as leis estabelecem a igualdade perante a lei, fórmula de mostrar que o equilíbrio é interesse capital da sociedade.

Dessa forma, o dano pode ser individual ou coletivo, assim como pode ser material ou moral, restando da mesma maneira a responsabilidade civil, sendo que deve ser resgatado o estado anterior da coisa, seja ela material ou imaterial, na forma da indenização.

O causação do dano pode abranger a indenização pelos lucros cessantes, danos emergentes, na esfera material; na esfera moral, pode abranger não somente

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a dor e o sofrimento, mas também a perda de uma chance.

3.2.3 Nexo de causalidade

Nexo de causalidade é a ligação existente entre a conduta do agente e o resultado que ele produziu, é descobrir o que deu causa ao resultado, ou seja, para podermos afirmar que alguém causou um dano a outro, é necessário fazer uma ligação entre a sua conduta e o resultado; saber se a sua ação ou omissão gerou um dano, para isso, não basta apenas o agente ter praticado uma conduta ilícita, e também a vítima ter sofrido um dano, é necessário que o dano venha do resultado da conduta ilícita do agente e que exista entre o agente e vitima uma relação de causa e efeito, assim, na responsabilidade civil, é preciso existir o nexo de causalidade, seja na responsabilidade subjetiva seja também na responsabilidade objetiva, exceto nos casos de risco integral, como um acidente de trabalho, e quando o poder público possibilita o prejuízo, que ocorre com algo perigoso em que ele tem o controle.

Por questão de equidade e justiça, na responsabilidade civil, quem responde pelo dano é aquele que deu causa, sendo um ato praticado por uma só pessoa, um fato simples, é bem mais fácil de verificar o nexo causal, porém a dificuldade é bem maior, quando há a chamada causalidade múltipla, ou seja, uma multiplicidade ou uma concorrência de causas, em que existe várias condições diretas ou indiretas contribuindo para o resultado do dano.

Existem diversas teorias que tentam explicar o nexo de causalidade, sendo que dentro dessas teorias, existem três teorias que são as principais: a teoria da causalidade adequada, a teoria dos danos diretos e imediatos e a teoria da equivalência dos antecedentes.

Assim, em relação à teoria da equivalência, aduz Ramos (2014):

Criada pelo jurista alemão Von Buri, na metade do século XIX, a teoria da equivalência das condições apresenta que todos os fatores que contribuíram para que o prejuízo acontecesse, são consideradas causas, bastando estar presente qualquer fato que direta ou indiretamente tenha servido para que o resultado fosse o dano, estaria este fato concorrendo com outras concausas, visão bastante ampla que sofre sérias críticas, pois poderia dizer então que uma pessoa que dispara com uma arma de fogo contra outra causando a morte desta, responderia neste caso não apenas o autor do disparo, mas também quem fabricou a arma, quem vendeu ou até mesmo quem inventou a pólvora.

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Em relação a tudo isso boa parte dos jurista na área penal entendem que responde apenas quem está diretamente ligado ao evento que causou o dano, não respondendo aqueles que de forma indireta teriam participação e seriam apenas concausas, logo no exemplo mencionado responderia apenas o autor do disparo e as concausas diretamente ligadas ao evento danoso.

Já em relação à teoria da causalidade adequada, menciona aduz Ramos (apud Gagliano, Pablo Stolze, 2011, p.130):

(...) criada pelo filósofo alemão Von Kries, trás como causa do resultado danoso tudo que contribuiu de forma adequada ou seja segundo um juízo de probabilidades, sendo que nem todas as concausas estariam concorrendo com o evento que gerou o dano, como no exemplo mencionado pelo Desembargador . Do Tribunal de justiça do Rio de Janeiro, Antunes Varela "se alguém retém ilicitamente uma pessoa que se apresentava para tomar certo avião, e teve, afinal, de pegar um outro, que caiu e provocou a morte de todos os passageiros, enquanto o primeiro chegou sem incidentes ao aeroporto de destino, não se poderá considerar a retenção ilícita do individuo como causa do dano ocorrido, porque, em abstrato, não era adequada a produzir tal efeito, embora se possa asserverar que este (nas condições em que se verificou) não se teria dado se não fora ilícito. A ideia fundamental da doutrina é a de que só há uma relação de causalidade adequada entre o fato e o dano quando o ato ilícito praticado pelo agente seja de molde a provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência comum da vida.

Esta teoria também sofre críticas, pois como não há previsão legal do que seria uma concausa direta a teoria da causalidade adequada deixa ao julgador decidir quais concausas são ou não diretas.

Por último, a teoria dos danos diretos e emergentes, artigo 403 do CC/2002: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.”

Ainda, sabendo que o dever de indenizar é decorrente do prejuízo ocorrido, relata Oliveira (apud Stoco, 2004, p. 146):

Não basta que o agente haja procedido contra jus, isto é, não se define a responsabilidade pelo fato de cometer um “erro de conduta”. Não basta, ainda, que a vítima sofra um dano, que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo, a conduta antijurídica não gera obrigação de indenizar.

Dessa forma, sabe-se que necessariamente deve haver nexo causal entre a conduta do agente e o dano sofrido para obter indenização, pelo prejuízo causado. Todavia, existem excludentes que retiram a responsabilidade civil, pois não há nexo

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causal, como por exemplo: caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima. No próximo item, será elencada as espécies de responsabilidade, quais sejam: subjetiva e objetiva.

3.3 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA

Diante da responsabilização pelo dano causado a terceiro, evidenciando o liame subjetivo entre a conduta humana e o nexo causal, inexistindo excludentes dessa responsabilidade, passa-se a outra questão: estamos diante de que tipo de responsabilidade? Assim, a responsabilidade se divide em subjetiva e objetiva.

Para Matos (apud Gonçalves, 2002, p.21), a responsabilidade subjetiva, fundada na culpa é:

Diz-se, pois, ser ‘subjetiva’ a responsabilidade quando se esteia na idéia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável.

Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo, ou culpa.

Dessa forma, para a responsabilidade subjetiva existir, deve estar angariada na culpa, mediante a ação ou omissão do agente. Conforme Oliveira (2001, p.4), “Frise-se, por oportuno, que uma conduta ofensiva, embora não causadora de dano, não enseja a responsabilização do agente na esfera civil.”

A responsabilidade objetiva independe de culpa ou dolo, há apenas a necessidade de haver dano a alguém, responsabilizando-se o sujeito, pelo simples fato do prejuízo, conforme a teoria de risco. Para Matos (apud Gagliano e Pamplona Filho, 2011, p.180-181) “Na responsabilidade objetiva, não se perquire se houve conduta culposa do agente, mas, tão somente, se há nexo de causalidade com o dano existente”.

Nessa seara, com a responsabilidade objetiva, há a possibilidade de responsabilização na esfera civil de forma mais facilitada, haja vista a desnecessidade de provar dolo ou culpa do agente causador do dano.

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Na vida em sociedade o direito tem como finalidade defender o que é licito, e coibir o que é ilícito, sendo obrigação de todo o cidadão ter o cuidado de não prejudicar ou causar dano a outro, sob pena de surgir à obrigação e o dever de reparar esse prejuízo ou esse dano. Esse dano pode ser causado tanto pela pessoa física ou pessoa jurídica, como também a obrigação de reparar pode ser da pessoa física ou da pessoa jurídica causadora do ilícito.

Assim, quando a conduta do agente não condiz com o que é correto, com o que é licito, assumindo o risco de causar algum dano a alguém ou a algum patrimônio, surge a responsabilidade, que é um dever jurídico, uma obrigação imposta por lei, para reparação do prejuízo ou dano causado a outro.

Essa obrigação, classificada como obrigação secundária, também denominada de responsabilidade civil, está caracterizada no título IX, capitulo I, artigo 927 e seguintes do Código Civil Brasileiro:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Essa reparação de que trata o artigo 927 consiste no, dever de quem causou o dano, de indenizar quem sofreu o dano, que passa a ser credor de quem o praticou, que assume a posição de devedor, tendo aquele o direito de ser indenizado em relação a este.

O termo “indenizar” nada mais é do que a reparação do dano material ou patrimonial, pois, quando há um dano, pode haver uma diminuição do patrimônio da vítima, com aumento ou não do patrimônio de quem causou o dano; dessa forma, com a indenização, há a reparação do dano, voltando o patrimônio da vítima a sua situação anterior, configurando-se a chamada reparação direta, onde ocorre a devolução do bem no estado em que se encontrava. Também a reparação pode ser em dinheiro, assim chamada de reparação indireta, naquelas situações em que não é possível a devolução do bem no estado anterior.

Existe também a reparação moral, quando o dano é causado pela vergonha, pelo constrangimento, pelo aborrecimento, ou seja, quando é atingida personalidade da pessoa, conforme o artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal Brasileira:

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

A Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), diz que “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”, assim, pode se haver uma reparação tanto pelo dano material e patrimonial, como também pelo dano moral ou extra patrimonial.

O Código Civil permite que seja exigido de quem violou ou causou dano material ou moral, uma verba compensatória e não indenizatória. Nesse caso não há o retorno da situação anterior, como ocorre quando o dano é o patrimônio da vítima, até porque os danos causados pela dor e pelo sofrimento da vítima, não podem ser avaliados. Por esse motivo, não é uma indenização, e sim uma compensação para tentar amenizar um pouco a dor da vítima.

Salienta-se que a jurisprudência e a doutrina divergem sobre o tema, restando muitas controvérsias, especialmente no que tange ao quantum indenizatório. Neste ponto é necessário frisar que não pode haver enriquecimento ilícito (art. 847, CC/2002), deve haver razoabilidade e bom senso quando o magistrado julgar a causa, para não prejudicar nem onerar nenhuma das partes.

3.5 AS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO E REGISTRADOR

As excludentes de responsabilidade civil rompem com o dever de indenizar, ou seja, o liame subjetivo que deve existir para que haja indenização, desaparece, no momento em que o nexo causal se rompe, e o fato danoso não tem mais ligação com a ação ou omissão do agente.

Atualmente, trabalhamos com sete tipos de excludente de responsabilidade, quais sejam: estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito, culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito e força maior e a clausula de não indenizar.

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O estado de necessidade está previsto no art. 188, II, parágrafo único, do CC/2002, conforme exposto abaixo:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos: [...]

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. (BRASIL, CC, 2013).

Nesse sentido, o estado de necessidade é quando o agente está em perigo iminente e atual, sendo que a situação e as circunstâncias são necessárias, sem que haja excessos.

Conforme Matos (apud Stoco, 2013, p. 38), o estado de necessidade não é soberano, “estando o agente do dano necessário sujeito à “ação regressiva” por parte da vítima lesada, desde que isenta, esta, de qualquer culpabilidade acerca do perigo verificado”.

Já na legítima defesa, apenas se repele um mal injusto, ou seja, uma agressão sofrida, sem precedentes.

Assim, para Matos (apud Gonçalves, Stoco, 2013, p. 39), a legítima defesa é:

A legítima defesa exclui a responsabilidade indenizatória pelo dano causado ao agressor primeiro, porém, a conduta do agente deve ser proporcional à agressão sofrida e desferida contra a pessoa do agressor. Do contrário, caso um terceiro, por algum motivo, seja o agredido, tem este, assim como no estado de necessidade, o direito de regresso contra o agente do dano.

Por outro lado, o exercício regular de um direito está elencado no inciso I, do art. 188, do CC/2002, o qual isenta o dever de reparação. Trata-se do agente que no exercício regular de um direito, faz algo amparado na legislação. Essa modalidade pode ser entendida pelo estrito cumprimento do dever legal, também.

Desse modo, para Matos (apud Gomes, 2013, p. 39):

Contudo, o exercício regular do direito deve ser razoável e proporcional, na medida da possibilidade do exercício, uma vez que o exagero na conduta gera ao agente o dever de indenizar. O desvio da conduta adequada e exigível ao momento também pode gerar o prejuízo indenizável. “saliente-se que fundamenta a teoria do abuso do direito, na medida em que seu titular o exerce contrariamente à sua finalidade, afastando-a, desta forma”.

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Equipara-se ao exercício regular do direito, o estrito cumprimento de um dever legal.

Quando se fala em culpa excludente da vítima, estamos diante de um conceito doutrinário, que exclui a responsabilidade civil.

O artigo 945 do novo código civil estabelece que: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. (BRASIL, CC, 2013). Veja que o legislador trouxe a culpa concorrente como atenuante para a responsabilidade do autor do fato.

Ademais, para Matos (apud Stoco, 2013, p. 40): “Desta forma o entendimento mais plausível seria de que a culpa da vítima exclui ou diminui a responsabilidade do agente, na medida em que se faz exclusiva ou concorrente”.

O fato de terceiro está disposto nos artigos 930 e 188, II, do CC/2002. Essa conduta é quando o agente ofensor nada tem a ver com o dano causado a vítima, ou seja, um terceiro que possui a culpa pelo dano.

Todavia, Matos (apud Gonçalves, 2013, p. 40) diz:

A lei é clara quando se refere à reparação do dano como aspecto principal, independente de quem for a culpa. No caso do fato de terceiro, novamente ressurge o instrumento da “ação regressiva” contra o criador da situação de perigo, porém, o causador do dano é quem responde pelas perdas e danos sofridos pela vítima, podendo em outro momento se ressarcir, desde que provado o ato ilícito cometido pelo terceiro.

Além disso, o caso fortuito e a força maior, estabelecidos no art. 393, parágrafo único, do CC/2002, porém sem distinção desses. Para Matos (apud Gonçalves, 2013, p. 40), “O caso fortuito geralmente decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra. Força maior é a deriva de acontecimentos naturais: raio, inundação, terremoto.”

Note-se que nesses casos, não há comprovação da culpa, elemento essencial para caracterizar a conduta ilícita. Nesse caso, não há se falar em reparação de danos.

Ainda, a cláusula de não indenizar está ligada na responsabilidade contratual. Assim, para Matos (apud Stoco, 2013, p. 41):

A cláusula ou convenção de irresponsabilidade consiste na estipulação prévia por declaração unilateral, ou não, pela qual a parte que viria a

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obrigar-se civilmente perante outra afasta, de acordo com esta, a aplicação da lei comum, ao seu caso. Visa anular, modificar ou restringir as consequências normais de um fato de responsabilidade do beneficiário da estipulação.

E mais, Matos (apud Gonçalves, 2013, p. 41):

Esta excludente, porém, não é bem aceita no nosso ordenamento jurídico, sendo questionada sua validade, uma vez que vai de encontro ao interesse da sociedade, e permite que se criem situações de privilégios entre os contratantes, contrárias aos preceitos sociais cotidianos. Em contrapartida, alguns defendem a cláusula de não indenizar por ser uma convenção da autonomia das partes, que são livres para contratarem de acordo com seus interesses.

Assim, essas são as modalidades de excludente da responsabilidade civil. Por fim, no próximo item será abordado a responsabilidade do Estado decorrente dos atos praticados na função de notário e registrador.

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4 RESPONSABILIDADE CIVIL NA FUNÇÃO DE NOTÁRIO E REGISTRADOR

Como já visto, a responsabilidade civil nasce da lesão causada ao bem jurídico de terceiro, a qual gera a responsabilização por parte do Estado, ainda que praticada pelos agentes delegados. Além disso, o estudo proposto neste capítulo, será todo analisado sob o viés do que a doutrina dispõe.

Assim, inicialmente, será abordado o debate sobre a responsabilidade civil subjetiva e objetiva, na função de notário e registrador. Em seguida, se cabe a incidência do Código de Defesa do Consumidor (CDC) nas relações estabelecidas entre as pessoas que contratam a prestação de serviço notarial e registral. Também serão analisadas as possíveis excludentes de responsabilização, e, por fim, será abordado a responsabilidade civil do Estado, decorrentes dos atos praticados na função dos notários e registradores.

4.1 O DEBATE SOBRE A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA OU OBJETIVA

O debate acerca da responsabilidade e sua natureza, se subjetiva ou objetiva, trouxe inúmeras discussões na doutrina, pois o artigo 22, da Lei nº 8.935/1994, na sua redação original não deixava claro o entendimento que deveria ser seguido, ou seja, se a responsabilidade seria mediante a verificação da culpa, ou seja, subjetiva, ou sem a sua necessidade, portanto, objetiva.

Importante relembrar, como já dito no capítulo anterior, que a responsabilidade objetiva independe de dolo ou culpa, enquanto na responsabilidade subjetiva é necessária a comprovação da culpa e seu liame subjetivo, principalmente quando se trata de agente público por delegação, conforme artigo 236 da Constituição Federal.

Algo importante a ser frisado, é nos perguntarmos por que a responsabilidade objetiva independe de dolo ou culpa, enquanto que para a subjetiva a culpa lato sensu é imprescindível. Assim, tem-se que a responsabilidade objetiva foi adotada com a finalidade de justiça social, uma vez que a vítima e o agente público estão em posições diferentes/desproporcionais, sendo então cabível a condenação sem a necessidade da prova da culpa, em que a vítima ainda deverá

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