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3 O CUIDADO E AS RESPONSABILIDADES FEMININAS

3.1 A responsabilização sobre o cuidado e a atuação estatal

3.1 A responsabilização sobre o cuidado e a atuação estatal

Os seres humanos assim como os outros seres vivos, no ato do nascimento, precisam do apoio dos pais, e demais sujeitos, criam-se laços afetivos pela conexão existente entre eles. O desenvolvimento do indivíduo passa por muitas fases, as quais englobam o desenvolvimento humano, e em todos as fases da vida teremos o cuidado como uma necessidade social própria da condição humana. Desde o momento da concepção, essa criança já interage com sua família, já vai interagir com o seu meio social.

Dependendo da disponibilidade de recursos da família ou de vagas oferecidas pelo Estado, a criança deve iniciar sua vivência numa instituição educativa, seu desenvolvimento vai se construindo com seu processo escolar, a construção da sua personalidade, e ao mesmo tempo, desenvolver sua sociabilidade infantil interagindo com outras crianças, com os professores e com seus pais. Uma vez que, os seres humanos precisam de orientações e ajuda no cuidado de si mesmo, em várias fases da vida, o cuidado e os estímulos fazem parte da rotina humana.

Uma criança ao nascer com determinada enfermidade, vai precisar de mais cuidados, mais recursos, para uma melhor qualidade de vida, utilizam medicações contínuas e terão cuidados para além da dimensão da saúde. A exemplo de crianças com necessidades especiais, ou que são diagnosticadas com transtornos, as crianças autistas por exemplo não só os cuidados físicos, cotidianos, mas seu desenvolvimento deve ser estimulado, e para isso o Estado deve dispor de vagas para a educação a essas crianças, com profissionais qualificados e preparados para atender essa demanda. Assim como, precisam ter um acompanhamento clínico em várias especialidades, na tentativa de promover o bem-estar as crianças, não só a família, mais o Estado também deve colaborar oferecendo serviços para facilitar a vida do indivíduo. Algumas prefeituras disponibilizam a locomoção para a realização do tratamento.

Na prefeitura do Natal, a mobilidade urbana conta com o Programa de Acessibilidade Especial- Porta a Porta – PRAE oferecendo transporte para as pessoas com dificuldades de mobilidade, aos participantes são oferecidas as locomoções de casa/ tratamento/casa. Mediante cadastro e inscrição regular em instituição habilitada.

Esse serviço é bastante seletivo e oferece um número reduzido de vagas. Aos demais é viabilizado um cartão com créditos para locomoção da criança em tratamento e seu acompanhante, de acordo com os dias de tratamento.

Todo o seu processo de desenvolvimento humano terá menos dependência dos cuidados, a criança passa a construir seu meio social, a partir das suas particularidades, e afinidades, são gostos parecidos que selecionam os colegas, e possíveis amigos futuramente. Mesmo a criança ganhando uma pequena autonomia, é preciso a atenção constante e o cuidado sobre a integridade física, pois, é na segunda infância que se tornam mais vulneráveis aos assédios e riscos cotidianos, a violência urbana são fatores que cada vez mais, aprisionam e restringem a liberdade para brincar ao ar livre, e esse monitoramento infantil, faz parte dos cuidados fundamentais para a segurança das crianças, que sempre precisam estar acompanhadas pelos pais ou responsáveis.

Outra fase de diferente nível de cuidado, mais de igual ou superior grau de atenção, é a adolescência, pois, é uma fase de descobertas, mudanças no corpo, o reconhecimento do seu grupo de amigos, começar a pensar na escolha de uma profissão, constante reflexão sobre a própria construção da sexualidade, é o período de desenvolvimento físico e da puberdade, com tais transformações as relações se estabelecem num processo social. Assim como, as crianças, os adolescentes são um alvo fácil para a manipulação de adultos que queiram tirar proveito da sua condição, em aspectos: sexuais, sociais e culturais. Atualmente, a sociedade vive um processo de exposição em redes sociais, isso é visto como natural, aos adolescentes postarem informações sobre o seu cotidiano, e suas preferências para a visualização de muitas pessoas. Exatamente, nesse momento é preciso o cuidado dos pais para acompanhar o que é exposto na rede social, manter limitado o acesso a internet, assim como noções cotidianas para a construção do caráter.

Aos chegar na fase adulta, começa as exigências sobre o ingresso no mercado de trabalho, as responsabilidades são maiores, as relações amorosas se solidificam, iniciam a construção de uma família, e sua carreira profissional. Em diferentes circunstâncias, a atenção e o cuidado se tornam fundamentais, por exemplo: uma mulher ao engravidar, vai precisar de um acompanhamento especializado, direcionado para o desenvolvimento do seu bebê, com saúde e as devidas orientações, uma possível batida no carro, uma cirurgia de urgência, um filho com febre, são fatos que

estão fora do planejamento dos indivíduos, mais a partir disso, a família se organiza para oferecer a logística necessária para suprir tal necessidade, é no cotidiano repleto de imprevistos e adversidades, que vemos a interdependência que temos como indivíduos frágeis.

Na terceira idade é o período onde o idoso pode se constituir de uma forma mais sociável ou mais individualista dependendo de como foi o seu processo de criação. Também é nessa fase da vida que ficamos mais vulneráveis as doenças, e com baixa imunidade, muitos idosos fazem uso de medicamento para a estabilidade da pressão, uns tem diabetes, e outras enfermidades.

Alguns idosos desenvolvem doenças degenerativas, que as tornam totalmente dependente de cuidados, para se alimentar, fazer sua higienização diária, necessidades fisiológicas, ao se deparar com essas fragilidades, algumas famílias se organizam para contratar o serviço de cuidados, outras famílias de forma rotativa e democrática, vão intercalando os cuidados entre seus membros.

Entretanto, nessa mesma condição outras famílias acabam por não prestar os cuidados necessários, como muitos idosos já moram sozinhos, além da solidão constante, o avanço de doenças degenerativas os tornam vulneráveis e fragilizados. Quando existe uma situação de negligência e abandono, a denúncia deve ser feita para o ministério público e o idoso deverá ser encaminhado para o acolhimento em instituição especializada no cuidado do idoso. E aos familiares serão tomadas as medidas cabíveis pelo abandono ao idoso.

Analisando nossa condição humana, nessa breve descrição fica evidente a vulnerabilidades que enfrentamos em todas as fases da vida, a partir do que vivemos. É preciso colocar o cuidado no centro de uma discussão e trazer para a reflexão algo básico que é interdependência o fato de os vínculos e as relações de interdependência caracterizarem a vida humana. Mas a fragilidade, vulnerabilidade ligada a esses vínculos não são vivenciadas da mesma forma por todas as pessoas. E aí entra uma questão política fundamental, a pergunta que a gente pode fazer a partir das vivências: quem tem tempo para cuidar de outras pessoas? quem tem condições adequadas de cuidado para si quando necessita de cuidado?

Pensando em diferentes circunstâncias, na infância, quais crianças conseguem ter mãe e pai, adultos responsáveis perto delas de algum modo, em condições adequadas de cuidado? Como se dá essa organização do cuidado na infância?

Levantando essas questões, surgem alguns problemas fundamentais tanto das relações de gênero no cotidiano, quanto da atribuição das responsabilidades envolvendo o entendimento que temos de quais responsabilidades são privadas, quais são coletivas, quais devem ser assumidas pelo Estado.

Diante de uma situação de necessidade, a família se mobiliza para oferecer os cuidados necessários. Porém, em muitos casos, são as figuras femininas que se responsabilizam, prioritariamente, no cuidado: a mãe, a irmã, a tia, a prima, a avó, a esposa, a sobrinha, são elas que largam suas atividades cotidianas, para suprir a necessidade do parente. Poucos são os casos nos quais os homens se responsabilizam pelo o cuidado, na maioria das vezes, são os membros familiares femininos que cuidam. É preciso conscientizar os indivíduos das responsabilidades coletivas, no espaço coletivo e familiar, sobretudo no que se refere aos cuidados fraternos. A importância de uma organização entre os membros para que as responsabilidades sejam divididas igualmente, buscar soluções coletivas, sem sobrecarregar as mulheres.

As desigualdades na distribuição das responsabilidades com o cuidado entre o Estado, família e nela pelas mulheres, podem causar grandes lacunas devido à falta de equipamentos públicos, sobretudo de políticas públicas para tratar de forma mais objetiva a questão do cuidado. Por consequência gera na população vulnerabilidades, fora isso os custos do cuidado no âmbito privado não facilitam o acesso para as famílias. Tais dificuldades modificam a vida das pessoas, limitando sua liberdade e oprimindo as mulheres na maioria das vezes.

Isso está relacionado diretamente como as relações de gênero e de classe se organizam nos marcos da sociabilidade capitalista na qual tem por característica intrínseca a desigualdade. Assim, os serviços que visam prestar os cuidados necessários a determinadas situações de vida não são acessados de modo igual a todos, pois uma vez em que esses serviços são ofertados pelo mercado eles inviabilizam a universalidade desse acesso, sendo repassado para a responsabilização individual e privada.

Segundo a autora Flávia Biroli (2018), o essencial ao tratar da questão do cuidado2, deve problematizar as possibilidades reais no provimento igualitário do

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“Isso porque me parece adequado entender o cuidado como trabalho – sem que afirmação signifique que se trata de um tipo de trabalho qualquer. Desse modo, pode-se ressaltar que: 1)cuidar exige tempo e energia , retirados do exercícios de outros tipos de trabalho, assim como do descanso e do lazer; 2)a grade de valorização (simbólica e material) das ocupações é determinante na precarização do trabalho

cuidado com vistas a enfatizar a dignidade da pessoa humana em detrimento da lógica do mercado. Assim, esperasse a paridade das responsabilidades: entre a solidariedade social, as garantias individuais e a responsabilidade do Estado e responsabilidades coletivas.

A falta de equipamentos públicos para oferecer o cuidado as crianças e adolescentes, precariza e torna o ingresso ao mercado de trabalho difícil para uma camada da população, o que acentua a desigualdade social, aumenta a pobreza, cresce os índices de vulnerabilidade social, e aumenta os níveis de violência urbana.

Atualmente, o Estado oferece vagas para berçários por sorteio, quando deveria garantir as oportunidades de forma igualitária a toda população, e as crianças e jovens que não tem uma escola em tempo integral disponíveis, não tem opções para projetos socioeducativos, ou projetos com capacitação profissional, para que o tempo disponível fosse produtivo e de enriquecimento intelectual aos jovens para deixá-los longe da rua e ocupados.

O Estado deve garantir a ampliação e distribuição das vagas de equipamentos públicos para o acesso da população, com horários proporcionais as jornadas de trabalhos dos pais, possibilitando o cuidado e a segurança as crianças e jovens.

Ao mesmo tempo, precisamos pontuar que o cuidado está ligado a hierarquia de gênero, aos interesses do capitalismo, e ao cotidiano de dominação e opressão produzido pelo patriarcado, traduzido no discurso que naturaliza e responsabiliza o ser feminino pelo cuidado em vários aspectos.

Destacamos ainda que a formação do Estado é, em sua grande maioria, formada por homens, que legislam e defendem aspectos que possam lhes favorecer diretamente ou indiretamente, se são os homens que mobilizam o setor político, assuntos relacionados a vivência feminina, estão longe da agenda política em discussão. A falta de políticas públicas para as questões do cuidado são meios opressores e estratégias de dominação masculina. (BIROLI, 2018).

Para Biroli (2018), aos refletirmos sobre cuidado devemos analisar a democracia e justiça. Inicialmente, entender a responsabilização individual como uma questão política, caracterizado pelo pensamento liberal. E ainda, a divisão sexual do trabalho, pelo cuidado ser dado em desiguais níveis de responsabilidades, com de quem cuida e na vulnerabilidade de quem precisa de cuidado; 3) os padrões de organização e (des)regulação das relações de trabalho incidem diretamente sobre as relações de cuidado, podendo favorecer ou dificultar a tarefa de cuidarmos uns/umas dos/as outros/as. (Biroli. 2018. P. 57)”.

diferentes conjunturas, e o comprometimento das mulheres, principalmente as mais pobres.

Segundo a autora:

[...] argumento que o enquadramento liberal do problema da responsabilidade não permite avançar em direção a reflexões capazes de incorporar as injustiças e as vulnerabilidades associadas ao trabalho doméstico e ao cuidado porque ele opera com a dualidade entre público e privado e, de modo correspondente, entre independência e dependência (BIROLI, 2018, p.57).

Sobre a política neoliberal, ela retoma os ideais do liberalismo que surgiu desde o século 18/ 19, ganhando força a partir dos anos 80. Após a Segunda Guerra Mundial, o liberalismo antigo perdeu espaço político para o keynesianismo o que defende a tese dos gastos públicos deveriam impulsionar a economia, especialmente em tempo de recessão, lembrando do caso dos Estados Unidos lá na crise de 29. O keynesianismo era responsável pela política de bem-estar social. Contudo, essa política econômica começa a entrar em declínio em face do novo cenário de crise do capitalismo na década de 70.

Assim as ideias neoliberais ganharam força. O primeiro chefe de Estado a adotar as ideias liberais foi o ditador chileno Augusto Pinochet, assim que ele deu o golpe militar tomando o poder do então presidente Salvador Allende, com o apoio norte americano. O ditador vendeu grande parte das instituições estatais do Chile, seguindo instruções neoliberais dos Estados Unidos, Pinochet executou uma redução muito drástica dos gastos públicos do governo chileno. (DRAIBE, 1993).

No cenário mundial dois grandes líderes são eleitos e vão declarar seu total apoio a nova política neoliberalista, no Reino Unido a Margareth Thatcher, e Ronald Reagan nos Estados Unidos nos anos 80. Margareth Thatcher diz o seguinte: Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar as suas dívidas que vendam as suas riquezas. Outro fato importante para fortalecer a política foi o Consenso de Washington. Esse consenso vai orientar e elaborar políticas a serem recomendadas por grandes agências internacionais como o Banco Mundial e o FMI ao longo dos anos 1980/1990. (FAORO, 1993).

As principais ações propostas pela política neoliberal que visam orientar o governo a seguir essas regras: a redução dos gastos públicos, reforma tributária, manter o mercado de câmbio controlado, abertura do mercado para as indústrias

estrangeiras, privatizações de instituições estatais, e fazer reduções das leis trabalhistas. (SMITH, 1993).

Então é por isso o neoliberalismo que diferencia principalmente do keynesianismo é que esse estado vai ter uma participação mínima na sociedade. Em relação ao campo econômico, há a defesa do livre comercio e da livre concorrência, tentativa de diminuição de impostos, combate ao protecionismo alfandegário. As empresas, as indústrias vão continuar lucrando, irão ter a sua livre concorrência, irão crescer economicamente, irão colocar preço do produto, mas o estado vai cuidar principalmente do controle social, dos programas sociais.

No Brasil, as privatizações aconteceram em total desregulamentação, o governo inicia uma flexibilização das leis econômicas e trabalhistas, é dado o direito à propriedade intelectual, essas são as características principais do neoliberalismo

Esse cenário se instaura com o governo de Collor. Esse governo abre para as importações de automóveis, além de iniciar o processo de privatizações que terão continuidade com os dois mandados consecutivos de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 90 até início do ano 2000. Foi FHC quem projetou o plano real, foi durante o governo de Itamar franco quando ele era ministro da fazenda.

O governo de FHC foi responsável pela privatização de mais de 100 empresas estatais, entre elas a mais famosa, em 1997, a companhia vale do rio doce hoje chamada de vale, que não é mais uma empresa brasileira. Ela está em solo brasileiro, emprega trabalhadores brasileiros, retira os recursos naturais brasileiros, conta com muita isenção de impostos em relação ao governo por estar instalada aqui no Brasil e empregar brasileiros. Também foram privatizadas companhias de luz, o sistema de telefonia brasileiro, com isso devemos citar as contradições do neoliberalismo. (DRAIBE, 1993).

O que mais se fala é que o neoliberalismo pode trazer uma tecnologia para uma nação, para um país, por conta justamente dessa livre concorrência. Por exemplo a telefonia no Brasil, antes de ser privatizada, era totalmente precária em vários aspectos, não havia linha telefônica disponível, para comprar uma linha telefônica existia uma fila nos anos 80 e o valor era altíssimo. A partir da privatização houve a expansão da internet que começou a se popularizar no Brasil (primeiramente a internet discada e depois a banda larga), mas, ao mesmo tempo, essa telefonia não gera a riqueza mais para o Brasil.

Várias instituições estatais reconhecidas internacionalmente foram vendias ao capital estrangeiros como: CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, parte da Petrobras, Telesp, Banespa, Telebrás, Embraer, Alcanorte e outras.

Exatamente com o governo repassando suas responsabilidades para as mãos do capital, a qualidade dos seus serviços oferecidos vai sofrer um déficit, assim como na educação, segurança, saúde serão áreas que precisam de atenção constante e vários investimentos estatais que não são efetivados sob o predomínio da política neoliberal. A questão do cuidado ultrapassa o âmbito da vida privada, e surge no mercado de trabalho opções para a praticidade de serviços domésticos passando a oferecer cuidados como mercadoria.

Quando todos na casa estão ocupados nas suas atividades não tem tempo para cozinhar, para lavar a roupa, para cuidar de alguma enfermidade do outro, existe a possibilidade de contratar serviços que vão se lançar no mercado para suprir essas lacunas.

São restaurantes, marmitarias, lavandeiras, diaristas, e ainda, alguns planos de saúde dispõem do serviço de Home Care onde vai de acordo com a necessidade do usuário, em algum casos monta-se uma UTI na casa do paciente, com todo o apoio técnico, material descartável, aparelhos para monitoramento, visitas periódicas de médicos, a presença constante de técnicos de enfermagem toda a atenção que teria no hospital, porém no conforto de casa, buscando assim restaurar a independência do paciente trabalhando de forma diferenciada junto a família. A presença feminina exercendo essas atividades, trabalhando com o cuidado de forma remunerada é maior que o número de homens.

O capitalismo se adapta as necessidades da sociedade, uma antiga função, porém, não reconhecido como trabalho, começou a ser requisitado no mercado de trabalho, o cuidador, agora com cursos profissionalizantes para qualificar, com técnicas para preparar melhor os indivíduos que trabalham com o cuidado.

Abre-se com isso um grande leque na mercantilização do cuidado, agora, com um aspecto mais formal e técnico. Com o aumento na expectativa de vida, o trato de idosos é uma vertente com amplas possibilidades, assim como, o trato de crianças, e portadores de deficiências que necessitam de cuidados contínuos.

Apesar disso, o acesso a tais serviços continua restritos, somente uma pequena parte das famílias que conseguem comprar serviços de cuidado, pode resolver uma

problemática cotidiana de maneira adequada e satisfatória para aquelas famílias. Porém para a ampla maioria das famílias o que ocorre é que o cuidado se realiza em condições de absoluta precariedade.

No caso específico das mulheres evidenciamos a problemática da baixa oferta de creche e escola para a primeira infância de qualidade, em que o cuidado possa ser realizado de maneira adequada. O atendimento dessa demanda é fundamental para as mulheres que trabalham, sobretudo em um contexto em que há o aumento de lares que são chefiados por mulheres3, mas, ao mesmo tempo, são aquelas que estão entre as famílias com menor renda média no Brasil.

O aumento das famílias chefiadas por mulheres, e composta em sua maioria por mulheres e seus filhos, nos impõe à reflexão sobre como é que a atribuição da responsabilidade pelo cuidado se define. O entendimento de que as mulheres são as responsáveis prioritárias pelo cuidado e a privatização do cuidado atribuída as famílias, como núcleos de responsabilidade de gestão desse cuidado produzem resultados bastantes injustos.

Essas mulheres são aquelas que têm menores condições de contratar serviços de cuidado, e que mais precisariam contar com equipamentos públicos de cuidado que mantivessem seus filhos em segurança, enquanto elas trabalham. Ao mesmo tempo, essas mulheres são julgadas quando algo acontece com seus filhos. Quando na trajetória dos seus filhos existe uma identificação, por parte da sociedade, de que algo deu errado, é porque as mães não teriam sido capazes de cuidar adequadamente.

Há o reforço de que a família retome o seu papel no cuidado, na manutenção das crianças dentro de uma perspectiva de ordem moral que envolve várias questões,

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