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As responsabilidades femininas com o cuidado: uma análise a partir das relações sociais de gênero na sociedade capitalista

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO

DE SERVIÇO SOCIAL

AMANDA CRISTINA FONSÊCA DE SOUSA

AS RESPONSABILIDADES FEMININAS COM O CUIDADO: UMA ANÁLISE CRÍTICA A PARTIR DAS RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NA SOCIEDADE

CAPITALISTA NATAL /RN 2019

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AMANDA CRISTINA FONSÊCA DE SOUSA

AS RESPONSABILIDADES FEMININAS COM O CUIDADO: UMA ANÁLISE CRÍTICA A PARTIR DAS RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NA SOCIEDADE

CAPITALISTA

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Ms. Taíse C. G. C. de Negreiros NATAL /RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Sousa, Amanda Cristina Fonsêca de. As

responsabilidades femininas com o cuidado: uma análise crítica a partir das relações sociais de gênero na

sociedade capitalista / Amanda Cristina Fonsêca de Sousa. - 2019. 47f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2019.

Orientadora: Profa. Ma. Taíse C. G. C. de Negreiros.

1. Serviço Social - Monografia. 2. Relações de gênero -

Cuidador - Monografia. 3. Responsabilidade feminina Monografia. 4. Desigualdade de gênero - Monografia. I. Negreiros, Taíse C. G. C. de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/CCSA CDU 364-787.22

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404

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AMANDA CRISTINA FONSÊCA DE SOUSA

AS RESPONSABILIDADES FEMININAS COM O CUIDADO: UMA ANÁLISE CRÍTICA A PARTIR DAS RELAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NA SOCIEDADE

CAPITALISTA

Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Ms. Taíse C. G. C. de Negreiros Aprovado:______/______/______ _______________________________________ Prof. Ms. Taíse C. G. C. de Negreiros

(Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________ Prof. Dra. Márcia Maria de Sá Rocha

(Examinadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________ Nilma Pereira dos Santos

(Examinadora)

Assistente social Supervisora do Estágio Obrigatório Natal/RN

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AGRADECIMENTOS

Meu ingresso ao meio acadêmico se deu por condições adversas, que me trouxeram novamente para uma instituição tão gabaritada como é a UFRN. Foi em 2014 que comecei essa nova jornada, convivendo com pessoas fantásticas e únicas, tenho muito orgulho por fazer parte da turma 2014.02 de Serviço Social, onde fui acolhida e juntos passamos por semestres de luta e resistência. Quero deixar aqui um reconhecimento aos que foram mais próximos a mim nessa longa caminhada, companheiras de seminários, provas e apresentações como: Yanka, Jennifer, Jailza, Rúbia, Gabi Cândido, Ana Beatriz, Milena, Lucineide, todas as aventuras que compartilhamos estão em minha lembrança.

Quero agradecer a oportunidade de conviver com professora Márcia de Sá que teve tanta paciência e carinho durante o período do estágio, pois sempre se colocou à disposição para me ajudar. Outra professora que me mostrou a prática do Serviço Social foi Nilma Pereira que gentilmente me recebeu na APAE onde tive o contato com as demandas e o conhecimento técnico que a profissão requer. Difícil será descrever minha orientadora, que fez tantos papéis durante o processo de construção dessa monografia, foi amiga, psicóloga, incentivadora, conselheira, assim como eu aluna também, professora, filha, noiva tudo ao mesmo tempo a Taise Negreiros só agradecer toda a flexibilidade e compreensão com as minhas limitações.

Aos amigos que acompanharam essa trajetória, todos, de suma importância na minha vida, Rodolfo Azevedo, Francineide Sousa, Ana Claudia, João Batista, Wilma, Jônata Marcelino, Juliana Venceslau, Mona Lee, Suerda Medeiros amigos de infância, amigos de uma vida inteira. Em especial, a Elijane Oliveira por todo o companheirismo, ouvindo minhas frustrações e medos. E Marcilio Dionísio pelas palavras de incentivo e acolhimento.

Nenhuma palavra vai ser suficiente para agradecer o apoio integral que sempre recebi da minha mãe, motivo para a opção pelo serviço social, ter o desejo de trilhar uma carreira como a que ela construiu. Todas as madrugadas que cuidou de Felipe para me dá condições de produção, todo o apoio na criação dele, muito obrigada mãe. Dedico essa vitória ao meu irmão Amaro Netto, a minha cunhada Sol, a Aline Cristina, Edna Palhares e Aissa Palhares familiares presentes na minha caminhada durante o curso. Mãe... eu não seria a metade do que sou sem você! Dedico esta monografia a Claudiana mãe de Augusto.

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Esse estudo aborda a temática do cuidado e responsabilidades femininas, fazendo um resgate histórico para compreender as mudanças na sociedade, a transição das responsabilidades coletivas para ser individuais e particulares. O surgimento do Estado como órgão regulador para o provimento da sociedade, a expansão ideológica da classe dominante, a origem do patriarcado, suas imposições e implicações, sobretudo para as mulheres. O estabelecimento dos papeis femininos e masculinos com a divisão sexual do trabalho, o ingresso feminino no mercado de trabalho com desvantagens em relação ao homem, pois as responsabilidades do cuidado que antes eram divididas passam a sobrecarregar as mulheres, que tem o trabalho doméstico invisível e desvalorizado. A inserção feminina no mercado de trabalho se deu em grande parte em atividades ligadas ao cuidado, mais também em profissões liberais ligadas ao cuidado como: cuidadora, enfermeira, médica, psicóloga, fisioterapeuta, assistente social entre outras.

Palavras-chave: Cuidado. Responsabilidades femininas. Estado. Desigualdade de gênero.

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This study addresses the issue of women's care and responsibilities, making a historical rescue to understand the changes in society, the transition from collective responsibilities to individual and individual. The emergence of the state as a regulating organ for the provision of society, the ideological expansion of the ruling class, the origin of patriarchy, its impositions and implications, especially for women. The establishment of the feminine and masculine roles with the sexual division of labor, the female entry into the labor market with disadvantages in relation to the man, since the responsibilities of the care that were previously divided start to overwhelm women, who have invisible domestic work and devalued. The feminine insertion in the labor market was mainly in activities related to the care, but also in liberal professions related to the care as: caregiver, nurse, doctor, psychologist, physiotherapist, social worker among others.

Keywords: Care. Female. Responsibilities. State. Gender Inequality.

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Gráfico 1 – Gráfico que descreve em quais profissões são maiores os índices da presença feminina nos postos de trabalho.

Gráfico 2 – Gráfico mostrando as adversidades no meio rural e urbano chefes do lar.

Figura 3 – Um breve resumo dos dados analisados pelo IBGE mostrando os comparativos de gênero.

Figura 4 – Charge crítica sobre as várias responsabilidades femininas no cotidiano caracterizada pela mulher maravilha

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APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ONU – Organização das Nações Unidas

PRAE – Programa de Acessibilidade Especial – Porta a Porta FHC – Fernando Henrique Cardoso

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1 INTRODUÇÃO ... 11

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DA SOCIEDADE COMUNISTA PRIMITIVA AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: RESGATE HISTÓRICO PARA COMPREENDER A ORIGEM DO PATRIARCADO ...

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2.1 Da família comunal à família monogâmica: compreendendo

o surgimento do patriarcado ... 15 2.2 A inserção das mulheres no mercado de

trabalho no capitalismo ... 22 3 O CUIDADO E AS RESPONSABILIDADES FEMININAS . 32 3.1 A responsabilização sobre o cuidado e a atuação estatal ... 32 3.2 A mulher e o cuidado: compreendendo criticamente sobre a

naturalização do cuidado feminino ... 42 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 48

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1 INTRODUÇÃO

A questão do cuidado é um fator básico da vida. A fragilidade humana nos permite afirmar que há pelo menos um momento da vida humana em que precisamos do cuidado de alguém. Na primeira infância nós dependemos do cuidado de outras pessoas, se temos uma vida longa, há o momento do envelhecimento, em que essa dependência do cuidado por parte de outras pessoas se amplia em muitos casos, provavelmente, na maioria deles, mas, também ao longo da vida a muitos momentos em que nós dependemos de outras pessoas. Nos momentos em que ficamos doentes, pessoas que necessitam de cuidados especiais pelo fato de ter uma necessidade especial decorrente de questões físicas ou neurológicas, e etc. O cuidado é uma parte da vida cotidiana, que é invisibilizada pelo entendimento de que, a sociedade é feita por indivíduos autônomos independentes, cujas vidas não são marcadas por relações de apoio recíproco.

Durante o breve período do estágio realizado na APAE-Natal, com conversas informais com as mães e responsáveis, foi percebido a necessidade de cuidados para quem sempre cuidou. Por ser um trabalho invisível, cuidar é um trabalho precarizado, desvalorizado e de baixo prestígio social. Daí, surgiu a proposta do projeto de intervenção, para proporcionar um momento de cuidado e dedicação para manter o equilíbrio entre corpo e mente, tendo com isso a possibilidade de as mães terem um momento para si.

Então, o projeto de intervenção “Cuidando de Quem Cuida: trabalhando a corporeidade” teve como objetivo, a mediação das atividades e ações que visam levar as mães e responsáveis a reflexão sobre a sistemática de vida que os mesmos vivenciam, todo o trabalho e dedicação das mães no desenvolvimento do tratamento, a abdicação da sua individualidade para uma adoção integral ao parente deficiente. Nesse aspecto, o projeto buscou oferecer equilíbrio corporal e proporcionar qualidade de vida às participantes.

Essa vivência nos estimulou a buscar estudar de forma mais profunda sobre a responsabilidade feminina no cuidar. Ao tratar trabalho feminino, é necessário rever como foi articulado essa lógica que impõe que um determinado tipo de trabalho seja considerado naturalmente feminino ou não. São aspectos que fundamentam a educação sexista e reforça a sociedade e seus fortes traços da cultura patriarcal.

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Como no exemplo das mães da APAE, a luta diária pelo desenvolvimento da criança com deficiência é muitas vezes uma batalha unilateral. São mães que trabalham na criação dos filhos, nas atividades domésticas, limpando, lavando, passando roupa, fazendo a comida, uma divisão injusta e cruel do trabalho para manter a família, trabalho esse que por vezes é invisível e não tem seu esforço reconhecido, já que grande parte dos pais se desresponsabilizam pelo cuidado com seus filhos.

Com isso, a responsabilidade recaí na mãe, avó ou outra figura feminina. Essa desresponsabilização paterna é fruto de um processo histórico ligado a desigualdade de gênero.

Vivemos em uma cultura conservadora e autoritária que ainda hoje permanece nos espaços sociais e serve de direcionamento predominante nas relações sociais. Essa realidade requer uma maior percepção, com base na referência das relações de gênero e as diversas expressões do patriarcalismo dominante, na família e na sociedade como um todo.

Quando presente, a figura masculina se coloca como o responsável pela orientação da família, na tomada de decisões cotidianas. Diante disso, espera-se a valorização deste papel paterno através do respeito dos filhos e submissão das esposas. Muitas vezes a responsabilidade de suprir as condições materiais desta família era do pai e, por esse motivo, era dele o poder de decisão de vários aspectos ligados a vida familiar, o que anula e torna invisível o trabalho feminino para a manutenção da família, já que seu trabalho era dentro da casa para deixar tudo pronto para o marido e filhos, assumindo os papeis pré determinados pela cultura patriarcal.

Outro elemento evidenciado atualmente é o aumento do número de lares assumidos integralmente pelas mulheres, chefes de família que assumem individualmente a responsabilidade da manutenção do lar e da subsistência dos filhos, muitas vezes devido ao abandono paterno ou desemprego que acarreta o descumprimento com a pensão legal dos filhos.

É importante buscar compreender a complexidade da cultura patriarcal, e não minimizar ou culpabilizar os sujeitos por essas adversidades, de responsabilidades individualizadas e trabalhos invisíveis. O serviço social, ao problematizar as desigualdades de gênero, procura compreender as mulheres como sujeito de direito e,

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ao mesmo tempo, compreender em quais condições de vida essa mulher vive, sua condição social, violências sofridas e oportunidades de resistência.

O serviço social busca desnaturalizar o que se impõe ser feminino, o que se considera ser mulher, por entender que ser mulher é uma construção social, e não algo determinado biologicamente, tão pouco enfatizar a ideia de mulher submissa, passiva, dona de casa, limitada a essa perspectiva, como se fosse obrigatório por ser mulher ser mãe, ou sinônimo. Esse modelo de maternidade patriarcal que se sujeita sempre aos desejos dos outros, das necessidades dos outros, ainda que em detrimento de si.

No código de ética do serviço social fazem parte os princípios: a luta pela defesa da ética, dos direitos e da emancipação humana. O compromisso da assistente social é de buscar garantir a mulher que a maternidade não seja uma imposição social, ou uma contingência biológica, que ser mãe seja um ato de escolha que implica liberdade e autonomia. Portanto, destacamos a importância de estudar sobre a naturalização de papeis e funções femininas, justificada pela cultura de subordinação da mulher, relacionada diretamente, com a reprodução e manutenção do capital.

A metodologia desse estudo foi, exclusivamente, análise bibliográficas e análise documental. Buscando, compreender as resultantes atuais que vivenciamos em nossa sociedade, para isso, seguimos uma sequência na historicidade da sociedade, desde o comunismo primitivo, até as divisões de classes, o surgimento e ampliação da ideologia patriarcal e suas adaptações ao mundo contemporâneo.

Com base na análise bibliográfica, objetivamos conseguir problematizar a responsabilidade da mulher no cuidado familiar, nos marcos da sociabilidade capitalista. Desta forma, perceber que a construção do que seria a essência feminina, é algo manipulado e tendencioso.

Para a realização de nosso trabalho tecemos como objetivos específicos, apreender o papel imposto à mulher na sociedade de classes, como surgimento da divisão de classes, os lugares que cada indivíduo deveria ocupar, e assim compreender a naturalização de papeis, atinando para o desenvolvimento de habilidades impostas ao ser feminino, voltadas a atender os interesses do capital; analisar a relação de subordinação e exploração feminina na sociedade capitalista e patriarcal.

A cultura patriarcal é reproduzida e naturalizada nas instituições e se torna cada vez mais dominante nas relações de gênero, então compreender o “cuidar” enquanto um trabalho naturalmente imposto à mulher é condição fundamental nesse

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processo. É possível desnaturalizar a relação entre o cuidado e o ser feminino, ao mesmo tempo, condicionar a problemática da interdependência, da necessidade de cuidado como um problema político central, o que nos remete, a consciência da falta de políticas públicas para atender a demanda do cuidado.

No primeiro capítulo pretendemos criar uma sequência cronológica, trazendo elementos para explicar a sociedade comunista primitiva, e o surgimento das sociedades de classes, mudanças nos agrupamentos sociais, e novo modo de produção. O surgimento da propriedade privada e suas implicações. A cultura patriarcal, como imposição para regulamento da sociedade. Ampliar o debate sobre a inserção feminina no mercado de trabalho.

No segundo capítulo vamos tratar das desigualdades de gênero, sobre as relações sociais, buscar compreender criticamente como o cuidado e as responsabilidades são naturalmente impostas ao ser feminino, e sobre a atuação do Estado. E finalizamos com a conclusão final, apresentando os elementos que defendemos, as argumentações e apontamentos que iremos concluir no final da pesquisa.

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2 DA SOCIEDADE COMUNISTA PRIMITIVA AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: RESGATE HISTÓRICO PARA COMPREENDER A ORIGEM DO PATRIARCADO

2.1 Da família comunal à família monogâmica: compreendendo o surgimento do patriarcado.

Os seres humanos ou homo sapiens, assim como outros seres vivos, foram convivendo em pequenos grupos, pois, através dessa junção, teriam mais possibilidades para sobrevivência, em meio as adversidades climatológicas, e até mesmo se proteger do ataque de animais. A oportunidade de viver em comunidade fortalecia e facilitava aos seres humanos as novas adaptações necessárias. Um diferencial dos seres humanos para outros seres vivos foi o surgimento do trabalho como atividade humana.

O trabalho necessita de uma idealização na mente, a partir da realização de algumas atividades pelos indivíduos. Na execução, cria-se um planejamento prévio, para organizar e definir as melhores formas para o sucesso do plano. Então, o trabalho era responsável por transformar a natureza, a cada execução, de um trabalho, novos conhecimentos, habilidades e técnicas eram obtidas.

Com a repetição de várias atividades, foi sendo adotado uma forma mais prática e fácil para as atividades do cotidiano. Isso propicia a evolução das sociedades, assim como, a transformação dos indivíduos. Esses avanços eram articulados, pois não existe sociedade sem indivíduos, nem desenvolvimento social que não modifique no desenvolvimento dos indivíduos. A execução de várias atividades de subsistência como a coleta, a caça, favorecia aos bandos conhecer a natureza, saber interpretar o que sugere as mudanças climatológicas, o benefício para a produção eficiente, aparece a necessidade de aumentar o bando e a produção de alimentos. A partir daí, vai iniciar uma distribuição de tarefas, estabelecendo mudanças nas relações sociais.

Devido as baixas quantidades de alimentos para coleta, era normal o nomadismo a essas comunidades, a pouca oferta de alimento mantinha o grupo pequeno, em constante busca por novas áreas para coleta, isso impossibilitava o transporte das ferramentas, e por isso deveriam ser simples e de fácil fabricação. Não era pelo fato de viver em grupo que a violência estava distante, a violência era pela

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sobrevivência, o mais forte se alimentava melhor que outro mais fraco. Porém, mesmo os mais fortes precisavam da ajuda da comunidade, o conflito com outros animais tornava a colaboração fundamental para a sobrevivência de todos do bando. A violência existente era de indivíduos contra indivíduos, não de classe contra classe.

A ajuda era mútua, a colaboração e união dos esforços eram a chave para a sobrevivência. O número de natalidade era controlado, assim como, o número de mulheres e homens adultos no bando também. O número de bebês estava ligado a capacidade de reprodução feminina. (LESSA, 2012).

De acordo com as necessidades do bando, era decidido o destino dos bebês, uns eram abandonados outros eram escolhidos. A vida feminina era preservada e protegida, na divisão das tarefas eram afastadas das mais perigosas. A responsabilidade no cuidado com as crianças, a tarefa de criar era tão coletiva quanto qualquer outra. No bando, a criação infantil não tinha dependência de uma figura paterna ou materna, a criança era orientada a considerar todos os homens da tribo como autoridade paterna, e as outras crianças que não fossem irmãos, deveriam ser consideradas como primos(as), somente as mães era particularizada. Não havia abandono de criança com a morte da mãe, outra mulher de primeiro grau de parentesco, como uma tia, avó ou outra figura feminina assumia a responsabilidade.

A vida das crianças era responsabilidade coletiva, da mesma forma a preparação dos alimentos. A sobrevivência de todos dependia do esforço de cada indivíduo, as atividades direcionada pelo sexo eram mínimas, mais essa divisão de atividades não criava hierarquia dentro do grupo. Sobre as relações afetivas e sexuais havia liberdade para serem livres e consensuais, não existiam proibições ou regulamentações sobre essas relações, somente o compromisso com a sobrevivência da comunidade.

É eminente as diferenças entre as comunidades primitivas, e a sociedade de classe, existiam princípios que regrava a convivência coletivamente, pois existia a colaboração entre os indivíduos e não a concorrência.

Parte das atividades das sociedades primitivas eram divididas por fatores naturais como: idade, sexo, força física. As trocas de mercadoria não tinham caráter comercial, eram fundadas, pelos laços de amizade entre os bandos. A execução de atividades dava a completa autonomia, sem o controle ou vigilância de outras pessoas.

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(...) As pessoas não viviam para enriquecer! E foi esta sociedade sem a concorrência desenfreada de todos contra todos que lançou a humanidade no processo de desenvolvimento que nos conduziu até ao presente. A humanidade pôde se desenvolver – como a história o demonstra – sem as relações de concorrência que, hoje, transformam a todos nós em lobos de nós próprios (LESSA, 2012, p.20).

Com o início da concorrência entre os indivíduos, a exploração do trabalho de uns, foi dando possibilidades para poucos acumularem bens. A sobrevivência através do trabalho coletivo foi deixada de lado, para individualizar as atividades, o que modificou a organização social, e separou a comunidade em classes, dando início ao acúmulo das forças produtivas. E assim, surgiu a classe dominante, com a posse dos meios de produção, explorando e se beneficiando dos trabalhadores que tinham sua força de trabalho para vender. Foi possível a partir disso, acumular o trabalho excedente, por conseguinte, deu início a propriedade privada. Para compreender essa exploração, podemos exemplificar com um trabalhador de indústria automobilística, que ao final do mês produziu três automóveis, mais, o que o trabalhador assalariado recebe pelo seu trabalho não é compatível nem com o valor dos pneus do carro que ele produziu. Com isso é notável, o quanto o trabalhador é explorado, o modo de produção capitalista torna o trabalhador cada vez mais distante do fruto do seu trabalho.

Com a produção excedente foi possível o surgimento da exploração do homem pelo homem, mesmo com o aumento na produção, havia uma carência na distribuição de tudo que era consumido, com isso não tinha saldo para as forças produtivas. Na sociedade de classe houve um aumento significativo das forças produtivas, diferente nas sociedades primitivas. A partir da produção do excedente a sociedade de classes avançou na produção das forças produtivas, e o modo de produção primitivo foi se modificando e possibilitando a exploração de uma classe sobre outra.

“(...)Da mesma forma como o trabalho de coleta fundou o modo de produção primitivo, também será um novo modo de intercambio material com a natureza, o trabalho alienado (o trabalho explorado), que fundará a sociedade de classes. Por isso a gênese do trabalho explorado é, também, a gênese das classes sociais” (LESSA, 2012, p.21).

Com essas modificações no modo de produção, novas relações sociais foram estabelecidas. O trabalho explorado deu início a propriedade privada, e o crescimento

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da sociedade de classes que sua riqueza é gerada por meio de exploração. Ao sair da sociedade primitiva – cuja base era a coletividade, o trabalho de um significava a sobrevivência de todos, a cooperatividade e a unificação com o grupo – para se transformar com a individualização das atividades e a particularidade para a entrega do que foi produzido, o trabalho era cada vez mais socializado, contudo somente poucos tinham o benefícios de usufruir da produção final.

O primeiro desses elementos é a transformação da relação dos indivíduos com o trabalho. Alguns indivíduos, a minoria da sociedade, passam a exercer as atividades de controle e de vigilância sobre aqueles que transformam a natureza nos meios de produção e de subsistência. Essa vigilância e controle são fundamentais para a exploração do trabalho. O núcleo deste controle e desta vigilância é historicamente preciso: só a violência é capaz de fazer com que um indivíduo entregue o produto do seu trabalho para a classe dominante (LESSA, 2012, p.23).

Foi através da violência que a reprodução da sociedade de classe foi possível, suas atividades eram sobre a aplicação da violência e controle, sobre os explorados: os escravos, servos e, posteriormente, os proletários que tinham a responsabilidade de transformar a natureza em riqueza social. O que é retirado por meio desse trabalho com o auxílio da violência, é propriedade privada. São elementos que instituem a sociedade de classes; a violência, as classes sociais e a propriedade privada.

Segundo a teoria marxista, o Estado surge subordinado essas organizações gentílicas que seria o chamado comunismo primitivo, ou associações meramente privativas, religiosas. Aconteceu a partir daí o acúmulo de trabalho excedente, pelo novo modo de produção que vai iniciar a concorrência entre os indivíduos, submetidos a exploração do seu trabalho. Essa estrutura teve sua fragmentação a partir de três fatores primordiais; primeiro o surgimento da propriedade privada, segundo a divisão social do trabalho, e terceiro o surgimento das classes sociais. De modo geral, a classe dominante considera que é a classe proprietária, domina o cenário econômico, domina a sociedade civil, ao subjugar a classe dominada que a classe não proprietária, isso porque, a classe dominante detém os meios de produção, em detrimento a outra só detém a sua força de trabalho.

Então, a necessidade da venda da sua força de trabalho para aqueles que já tem os meios de produção, porém apenas o domínio da sociedade civil está na esfera civil não seria suficiente para essa classe, então, ela cria uma organização política, que vai

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defender predominantemente os seus interesses classistas. Logo, o Estado para os marxistas seria uma organização política, criada pela classe dominante para ajudar na manutenção dos interesses econômicos, principalmente, como também políticos, sociais e culturais. (ENGELS, 2010)

Mais para exercer sua dominação era necessário instrumentos que legitimassem o interesse geral, ou seja, que envolve toda a sociedade, todas as classes. A partir daí a classe dominante utiliza vários elementos discursivos como: Direito, que é um mecanismo que garante essa estrutura estatal de dominação classista, faz transparecer discursivamente, que o Estado defende o interesse de todos. Na visão marxista, existe toda uma estrutura discursiva para transformar a ideia de direito que não seria apenas uma técnica de ordenação de conduta, ou seja, seria algo contingente histórico e precário, mas passa a ser uma ciência jurídica, e com isso implica dizer que seria algo universal. Em síntese, o direito assim como o Estado são instrumentos legitimadores dos interesses da classe social dominante. E após dominar a sociedade civil, economicamente e culturalmente, socialmente direciona a máquina estatal para defender os seus próprios interesses.

Lessa, conclui: “Em resumo: propriedade privada, classes sociais, exploração do homem pelo homem e Estado são imprescindíveis para a nova forma de organização da vida social que é a sociedade de classe” (LESSA, 2012, p.25).

Essa nova dinâmica das relações de produção transforma e reorganiza as atividades cotidianas. A partir de agora, a criação das crianças, a preparação de alimentos, são atividades particulares. Inicia-se o desejo pelo acúmulo de bens. Os indivíduos esquecem os planos coletivos e colocam a concorrência como parte da nova vida social, cresce a individualização dessas atividades, que agora são privadas, instituindo a família como um núcleo privado.

Vários aspectos mudaram na passagem da família comunal para a família monogâmica, muitos deles colocam algumas responsabilidades exclusivas para as mulheres, o que antes era de cunho coletivo, agora será papel feminino na estrutura familiar. Por exemplo é a criação das crianças, a execução de atividades domésticas, como organizar o lar, produzir as refeições, lavar, passar. O homem só é responsável pelo suprimento material desta família, é ele quem trabalha para oferecer condições de subsistência para sua esposa e filhos, e nada mais, é dele o privilégio de ter tudo pronto. Era do homem o poder de decisão, os filhos e esposas deveriam seguir as

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ordens sem questionamento, pois a ideologia dominante afirmava que o homem era superior a mulher, e por isso ela lhe devia obediência e submissão.

Com o surgimento da propriedade privada houve a necessidade de tornar as relações afetivas regulamentadas. O Estado detinha poder sobre as relações afetivas, estabelecendo normas e condutas para as relações matrimoniais, uma forma de exercer um domínio, que deveriam estar legais diante do Estado, com a assinatura de ambos os envolvidos, e testemunhas. O mais importante, quanto invasivo, seria a certeza da pureza da noiva a qual pretendia casar-se, pois, com os bens acumulados era preciso ter certeza da legitimidade dos possíveis herdeiros, daí a importância da virgindade feminina, num provável filho primogênito.

As mulheres sofrem a opressão masculina desde criança, a ela é cobrado obediência e submissão, inicialmente, pelo pai, o primeiro homem a qual tem contato, posteriormente, na vida adulta ao marido. Esse repasse se traduz na tradicional ritualização da cerimonia do matrimônio, quando a noiva entra na igreja acompanhada pelo seu pai, seu dono, que a conduz até as mãos do seu noivo, que repassa a responsabilidade do cuidado para outro homem, agora seu marido. Ao marido deve-se fidelidade, é dele o poder de decisão sobre o trabalho da mulher, sua mobilidade, a hierarquia marital deve ser respeitada pela esposa. Com tais particularidades a família se estabelece, e reproduz aspectos da cultura patriarcal.

E o que seria cultura patriarcal? O conceito patriarcal é a ideia da supremacia do homem sobre a mulher. Com isso outros termos vão surgir para fortalecer essa ideologia dominante, agora imposta e apoiada pela classe dominante. O machismo carrega a naturalização da superioridade masculina, o que introduz na sociedade um pensamento masculino. As raízes dessa ideologia podem ser relatadas desde a chegada dos portugueses, o início foi classista, racista e machista. A sociedade que vivemos apresenta o machismo como resultado de uma série de discurso e de práticas.

O patriarcado se mostra claramente na manutenção do ambiente público e privado. No público, tudo que diz respeito ao homem, porque ele é o sujeito ativo. Já no privado, tudo que diz respeito a mulher, porque ela é a pessoa passiva.

Essa transição da família comunal para a família monogâmica alterou diretamente as atividades ligada a reprodução biológica. Para o desenvolvimento da família monogâmica, houve mudanças nas relações entre o homem e a mulher. O que antes se estabelecia como uma relação igualitária e consensual, passa a ser uma

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relação de poder. Uma vez que, as atividades agora masculinas vão resultarem propriedade privada, já as atividades femininas não produzem riqueza privada.

(...) Caberão assim, aos homens da classe dominante as atividades fundamentais para a reprodução da sociedade, acima de tudo a exploração do trabalhador. A economia, o Direito, a política, a religião, a guerra, o comércio, as artes, a filosofia, a ciência, a exploração e a conquista de novos territórios surgem já como atividades masculinas. A vida dos indivíduos masculinos está, na nova sociedade, diretamente articulada aos destinos coletivos; todas as “grandes questões sociais”, tudo o que diz respeito ao destino da classe, á história do período, estará a cargo dos indivíduos masculinos; serão agora, tarefas que cabem “aos homens (LESSA, 2012, p.27).

É nesse momento histórico, que a divisão das atividades entre homens e mulheres vai gerar desigualdades e desvalorização do trabalho feminino. A responsabilidade feminina agora será com as atividades essenciais para a vida social. Segundo Engels: “(...) o trabalho doméstico das mulheres perdia agora sua importância, comparado ao trabalho produtivo do homem; este trabalho passou a ser tudo; aquele, uma insignificante contribuição”. (ENGELS, 2010, p.204)

É importante considerar a família, como uma instituição dentro da sociedade. Onde se estabelece as primeiras relações sociais, e se reproduz ideologias e culturas. Família é um espaço de relações marcadas historicamente pela opressão das mulheres. Um espaço extremamente relevante para a construção das identidades dos indivíduos. Porém, também é nesse ambiente em alguns casos, que se estabelecem relações violentas e restrições às vidas das mulheres, que seguem determinados padrões de organização da vida familiar. Mas isso, não significa que a família possa ser um ambiente de amor e afeto. É preciso compreender esse ambiente das relações familiares, numa perspectiva que traga, em conjunto, a construção histórica da domesticidade como elemento imposto ao feminino.

O ser feminino aparece com a natureza ligada à emoção, e por isso seria algo que precisa ser controlado, domesticado, então, já começa assim a surgir uma concepção binária a respeito do corpo, o corpo feminino como diferente. Consciente das diferenças biológicas e sociais impostas a cada sexo, é notável que determinados conceitos continuem sendo reproduzidos como: o menino tem que brincar com brinquedos de menino, bola, carrinho. Já as meninas têm que brincar com brinquedos

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de meninas, a boneca, as panelinhas. Acabou se naturalizando no imaginário das pessoas a ideia de que é normal as mulheres sejam controladas, sejam subjugadas e até mesmo violentadas pelos homens.

É notável a influência para a construção social de cada sexo, quanto os meninos brincam com liberdade, as meninas desenvolvem laços afetivos e maternais sobre as bonecas e as primeiras noções sobre o cuidado são aprendidas quando criança. Muitas vezes as pessoas não se dão conta que são exatamente nessas práticas corriqueiras que os pais estão construindo fronteiras simbólicas e rígidas que delimitam e buscam definir o que se espera da masculinidade e da feminidade. Espera-se das meninas que elas sejam boazinhas, que seja dóceis e quando diferente disso: “Essa menina parece um menino de tão bagunceira!”.

O centro do pensamento machista é que todas as características femininas são depreciadas. Uma socialização tendenciosa, ela mantém essa dicotomia entre homem x mulher, ela mantém a divisão público privado, porque cria os meninos dentro da ideologia da masculinidade cujo valor central é a invulnerabilidade. Diferente das meninas que são criadas dentro da ideologia da feminilidade cujo ponto central é a fragilidade e o apego.

O processo de socialização feminino dado por essa educação sexista que educa de forma diferente e desigual, na perspectiva de moldar um modelo de mulher para suprir os interesses patriarcal capitalista, tornando-se responsável pela introdução da divisão sexual do trabalho, onde a ideia de essencialmente feminino ou naturalmente feminino é imposta, e ao mesmo tempo coloca o trabalho feminino como subalterno, de baixo prestigio social. Para as mulheres são impostos trabalhos precarizado e desvalorizados E a partir daí as definições surgem do que era feminino ou masculina, assim como, trabalhos diferenciados para mulheres e homens, essa educação sexista é uma expressão da ideologia patriarcal (MIRLA, 2012).

2.2 A inserção da mulher no mercado de trabalho no capitalismo

Os avanços no sistema capitalista foram responsáveis pela precarização da condição dos trabalhadores, visto que, a exploração do trabalhador é maior que os ganhos reais para suprir suas necessidades com o custeio familiar. Diante dessa problemática, houve a necessidade do ingresso feminino no mercado de trabalho.

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A mulher nesse contexto é duplamente explorada pois o ingresso no mercado de trabalho não a lhe eximir do trabalho doméstico, que aos olhos da sociedade é invisível, desvalorizado as mulheres que começam a trabalhar em condições de desvantagens, pois a elas são atribuídas as responsabilidades do cuidado familiar, além do trabalho fora de casa.

Por outro lado, temos as mulheres que se responsabilizam pelo comando familiar, que trabalham fora de casa e são responsáveis pela criação dos filhos, pela manutenção financeira e material da família. Podemos citar também as mulheres que buscam sua autonomia financeira a partir da educação e qualificação profissional (profissionais liberais: médica, advogada, professora etc.).

Compreendemos que não se trata simplesmente de entender que a emancipação das mulheres se dá, exclusivamente, com a saída do ambiente familiar, e na sua inserção no mercado de trabalho. Foi importante as mulheres se organizarem politicamente, para lutar por direitos iguais aos homens, romper com diferenças de gênero. Para isto, a organização coletiva e política das mulheres foi importante para problematizar e desnaturalizar as violências e opressões que as mulheres sofriam (e ainda sofrem) na sociedade, surgindo, assim, o feminismo.

O feminismo é um movimento social de luta por liberdade, igualdade de gênero, busca conquistar os direitos das mulheres em diversos espaços na sociedade: o trabalho, a política, no direito, dentro da divisão sexual do trabalho, no trabalho dentro e fora de casa.

Importante perceber como ao longo do percurso histórico da sociedade capitalista essa cultura patriarcal é reproduzida por diversas instituições para a ampliação e incorporação da ideologia dominante. Para isto se constitui importante a participação de instituições de grande respaldo social, como: a família, igreja, as escolas. Estas contribuíram, ao longo da história, para a reprodução da cultura patriarcal e burguesa.

Ao questionar a cultura patriarcal, é primordial obter elementos para perceber a formação da consciência do sujeito. Algumas mulheres reproduzem a cultura patriarcal, entretanto, nenhuma delas se beneficia com isso, diferente dos homens que ao reproduzir essa ideologia estão garantindo as condições de privilégios para si (MIRLA, 2012). Devemos compreender que as mulheres que reproduzem o patriarcado não podem ser responsabilizadas, uma vez que, o sistema aliena todos os

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sujeitos (homens e mulheres) levando-os à absorção das ideologias dominantes que impulsiona a reprodução desse sistema de opressão contra a própria mulher.

O senso comum traz no seu discurso, uma série de argumentações para justificar porque o trabalho feminino não deve ser visto da mesma forma que o trabalho masculino. Dizem que as mulheres são detalhistas, perfeccionistas, gostam de trabalhos manuais, em sua maioria, tem a facilidade para aprender a manusear artigos delicados, tais qualidades favorecem os trabalhos com a habilidade necessária para atividades artesanais, ou delicadas.

Ao apresentar tais qualidades o capital vai denominar de “dom”, com o objetivo de desqualificar e desvalorizar o trabalho feminino, para afirmar que por ser características naturais não exige esforço das mulheres, e por ser “fácil” não merece valorização. Quando na verdade, os trabalhos manuais podem ser feitos por ambos os sexos, e vai precisar de dedicação, pois é rico em detalhes e muita atenção da mesma forma, exatamente por tais particularidades os trabalhos manuais devem ser valorizados e reconhecidos como uma arte, e não um passatempo.

Não é à toa que dentro de uma universidade existem cursos como: enfermagem, pedagogia, serviço social, psicologia, letras com um número expressivo de mulheres e um número reduzido de homens, entretanto, nós temos as áreas de ciências e tecnologia com predomínio dos homens, e um número pequeno ainda de mulheres.

Ainda na escola teremos particularidades que vão funcionar também como um desses dispositivos de poder e de construção dessa concepção das mulheres como seres inferiores, como seres controlados, que precisam ser domesticadas.

As vezes as meninas se destacam na escola e é muito comum ouvir afirmação do tipo: ela é dedicada, ela é esforçada, estudiosa, mas raramente ela é brilhante, ela é inteligente, ou qualquer elogio na intenção de reconhecer suas qualidades.

A própria construção cultural que a gente recebe, que só mulheres dão aula no ensino infantil e fundamental, ao chamá-las de “Tia” é machismo. Porque a ideia de uma professora ser uma tia é o mesmo que desqualificar ela como educadora. Quem seria a tia? Uma pessoa que não precisa de formação, é a pessoa que está fazendo um favor de cuidar de alguém.

Assim, escola reproduz o machismo e as diferenças de gênero.

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Figura 1 - Presença Feminina nos Postos de Trabalho

Fonte: IBGE/2013.

Por esses motivos os trabalhos femininos são precarizados e não tem o reconhecimento, nem status para o capital, o que reforça a subordinação das mulheres a exploração. Esse desprestigio e desvalorização do trabalho feminino dificulta que as mulheres se reconheçam como trabalhadoras e busquem se organizar politicamente para as lutas da classe trabalhadora.

A mulher trabalhadora é duplamente explorada pelo capital trabalhando dentro e fora de casa. Exerce o trabalho doméstico não remunerado, pois sem ele não haveria condições para a reprodução de força de trabalho. O lar precisa permanentemente estar organizado e limpo, e com os suprimentos alimentares disponíveis, para que seus filhos e marido possam realizar suas refeições diárias.

A divisão sexual do trabalho é uma resultante da desigualdade de gênero. Analisando as relações de trabalho é notável que as desvantagens das mulheres não se restringem apenas numa perspectiva de gênero, mas sim é junção de vários elementos

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importantes como gênero, classe, raça. A partir dessa perspectiva, é possível compreender as mudanças na modernidade.

Segundo Cisne (2012), é disseminado pelo senso comum que as mulheres têm a capacidade de executar várias atividades ao mesmo tempo, e desta forma sua entrada no mercado de trabalho as torna atrativas para o capital de modo a explorar a polivalência feminina a favor do capital.

Nesse sentido, ratifica novamente Segnini (apud CISNE, 2012, p.124).

A conquista do espaço público do trabalho inserido num contexto altamente informatizado, tendo como estratégia um desempenho profissional caracterizado pela proposta de „qualidade total‟, que se transforma em produtividade elevada, revela uma das estratégias das mulheres nesse processo que introduz um novo elemento: o espaço privado, as tarefas domésticas, deixam de ser limitadores para a mulher nesse contexto de trabalho; ao contrário, passam a ser elemento qualificador, em face da possibilidade de ter adquirido socialmente habilidades requeridas pelo trabalho flexível.

Assim a manutenção da opressão a mulher é na perspectiva de controle e interesse da sociedade capitalista, pois sem a dupla exploração e a desvalorização do trabalho doméstico não haveria condições para a reprodução do sistema capitalista, inviabilizando as condições de reprodução dessa sociabilidade (MIRLA, 2012).

O ingresso da mulher no mercado de trabalho foi em condição de desvantagem como já foi dito anteriormente. Essa desvantagem é produzida no âmbito institucional, sendo reproduzida por um cotidiano que alimenta cultura patriarcal, construindo papeis bastantes diferentes para homens e mulheres.

Qualificam o trabalho de homens e mulheres de maneiras diferentes, isso são fatores importantes que devem particularmente ter relevância para pensarmos na posição da mulher na sociedade, são elas que exercem trabalho mais precarizado e são também as que chefiam os lares com menor renda.

Percebemos, que não se trata exatamente de pensar a desigualdade de gênero (sob a qual as mulheres estão submetidas) apenas no âmbito da vida doméstica. Mas, compreender as articulações entre vida domésticas e na vida pública, buscando compreender o circuito da precarização do trabalho, a desvalorização das vidas femininas e como estas repercutem também na vida privada das mulheres.

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Fonte: Portal G1/2010.

Sendo a divisão sexual do trabalho uma questão de gênero, as mulheres ainda dedicam o dobro do tempo semanalmente as tarefas domésticas ao cuidar dos filhos, das pessoas idosas, se comparado ao tempo dedicado pelos homens. Essas diferenças demonstram como nos organizamos enquanto sociedade no cotidiano da vida, e nos resultam em consequências para além do âmbito doméstico, uma vez que, dedicando mais tempo as atividades domésticas as mulheres têm menos tempo para dedicar-se a outras atividades, como a política, atividades culturais por exemplo. E sofre um maior processo de desgaste em virtude da tripla jornada de trabalho que enfrenta, então, significa menos energia pelo desgaste com o trabalho doméstico, por ser contínuo e incessante.

Sabemos que a dupla exploração da mulher também é uma forma de desresponsabilização do Estado no atendimento das necessidades básicas de reprodução da classe trabalhadora. Deste modo, o Estado não promove políticas públicas atuando somente com vistas a garantir os interesses capitalistas.

Assim, percebe-se que a cultura de subordinação da mulher encontra-se diretamente relacionada com a manutenção e reprodução do capital.

Sem o trabalho doméstico não remunerado, o Estado capitalista teria que arcar, por exemplo, com restaurantes, lavanderias e escolas públicas em tempo integral em grande escala, de modo a atender à

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massa da classe trabalhadora. Outra opção seria aumentar significativamente o salário mínimo, de tal forma que um trabalhador pudesse pagar por alguns serviços necessários à reprodução da sua força de trabalho. Ambas as alternativas implicariam em um ônus significativo que afetaria diretamente os lucros do capital.” (MIRLA, 2012, p.115-116).

A partir disso, reconhecer a mulher como sujeito de direito, como sujeito histórico, como sujeito da própria vida, diferente dos homens que já nascem com isso garantido e respeitado pela sociedade, se constitui em uma necessidade histórica que precisa ser enfrentada pela reivindicação e luta política feminina. O direito de ter autonomia sobre o seu corpo, direitos básicos, como o de ir e vir que para as mulheres é difícil pelas condições impostas pela sociedade patriarcal.

Uma mulher não possui autonomia para transitar na rua, sozinha na madrugada, devido as ameaças constantes de ter o corpo invadido e violentado. As roupas femininas são questionadas, não existe liberdade para opção de vestimentas, como se a roupa definisse o caráter feminino, por vestir algo mais curto estivesse colocando o seu corpo a disposição. Como se o corpo feminino não pertencesse a mulher, visto como um objeto de pertencimento ao outro.

O movimento do feminismo busca a igualdade para as mulheres, para lutar contra as constantes ameaças ou violências que possam acontecer contra a mulher. Também, atua no campo de produção de conhecimento, no desenvolvimento de grandes pesquisas sobre as desigualdades de gênero, buscando argumentos, base ideológica em teóricos que mostram a alienação sobre o ser feminino. Todas as imposições que buscam naturalizar e criar o caráter de essência feminina.

Destacamos a contribuição que o Serviço Social, desde o movimento de ruptura com o conservadorismo e da adoção de um novo projeto profissional alinhado aos interesses e defesa de direitos da classe trabalhadora, articula-se, também, à luta pela emancipação da mulher como sujeito de direito e autônoma sobre suas opções, a partir de uma apreensão crítica e de totalidade da realidade.

Assim, a categoria profissional denuncia e conscientiza as mulheres que tais imposições não são naturais, são ligadas a interesses do sistema capitalista, da cultura patriarcal, que desvaloriza e invisibiliza o trabalho feminino. Não só essa temática feminina, mas também a todos as dimensões que compõem as desigualdades sociais como o racismo, as relações de classe, relações de gêneros e outras.

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Mesmo diante de todos os avanços socioeconômicos femininos é preciso continuar a luta pelo espaço no meio político, por políticas públicas que assegurem a igualdade de direitos, visto que, as diferenças salariais continuam existindo, ainda que exerça o mesmo cargo. É preciso investimentos na área de assistência social, para a ampliação nas vagas em creches e projetos socioeducativos, para que os filhos das trabalhadoras possam estar sendo cuidados e tenham a assistência que precisam para seu desenvolvimento intelectual.

Portanto o feminismo não é o contrário do machismo. O feminismo é a luta pela igualdade dos indivíduos, em todos os aspectos, sociais, morais, culturais, financeiro. Diferente do machismo, que defende a superioridade masculina, o feminismo luta pela igualdade de direito, de responsabilidades, de acesso ao mercado de trabalho.

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou uma pesquisa no ano 2018 “Estatísticos de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”. Trata-se de um estudo compilando dados de pesquisas já feitas pelo IBGE, e outros órgãos também como INEP -

A referida pesquisa trabalha com nos indicadores propostos pela ONU1. Trazendo informações sobre temas como estruturas econômicas, participação nas atividades produtivas, acesso a recursos em educação, saúde e acesso a serviços relacionados à vida pública e tomada de decisão e diretos humanos das mulheres e das meninas. Tem o objetivo de fazer um retrato das condições de vida das mulheres no Brasil e proporcionar também uma comparação internacional, já que esse conjunto de indicadores da ONU é recomendado para todos os países fazer essa análise.

As mulheres apesar de representar mais da metade da população brasileira, estão sub representadas em diversas esferas da vida pública. A participação das mulheres na câmara dos deputados no congresso nacional, em dezembro de 2018, era de apenas 10,5%, enquanto a média internacional chega a 23,6% de participação feminina eleita, colocando o Brasil na 152º posição entre 190 países (IBGE, 2018).

Sobre a participação das mulheres em posições de liderança tanto na esfera pública, quanto na esfera privada, mostra que, do total de cargos gerenciais ou cargos de liderança, 37% são ocupados pelas mulheres. Porém, as mulheres representam 43%

1

A UNSD, como Secretaria da Inter-agency and Expert Group on Gender Statistics – IAEG-GS, é encarregada de coletar e compilar dados e metadados de agências líderes e disponibilizar esses dados na internet. Para informações mais detalhadas, consultar o endereço: http://genderstats.un.org.

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da população ocupada, isso reafirma a sub-representação (IBGE, 2018). São elas que tem maior escolarização que os homens, mas ainda não se reflete na realidade, tanto nessas posições de liderança e nas posições dentro de instituições públicas, assim como, nas instituições privadas e no mercado de trabalho. A falta de correspondência entre o nível de instrução e os resultados obtidos nessas outras esferas.

A desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres no mercado de trabalho se dá independentemente do tipo de atividade econômica que você esteja analisando havendo, atualmente, para as mesmas ocupações e formação profissional, salários diferentes. Em geral, as mulheres recebem apenas 75% do que os homens recebem, nos aspectos de formação superior e horas trabalhadas, as mulheres recebem 63% do que os homens recebem, isso pode ser um indicativo também que muitas mulheres com nível superior também não estejam trabalhando em ocupações adequadas para sua formação. (IBGE, 2018)

No gráfico abaixo podemos acompanhar as adversidades na conjuntura entre os gêneros.

Figura 3 - Comparativos de Gênero

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Fonte: IBGE/2018

Existe uma maior participação das mulheres no trabalho doméstico tanto no remunerado, quanto no não remunerado. Ao cuidar de parentes, cuidando de algum morador do domicílio, uma pessoa que precisa de assistência por motivo de saúde, o idoso, uma criança. Os demais afazeres da casa, a gestão da própria casa, quando se tem que passar instruções para outra pessoa, tudo isso está dentro do que é chamado afazer doméstico ou cuidados, que são formas de trabalho, ainda que não haja remuneração.

O que chama atenção para a questão feminina é, que não importa o filtro aplicado na pesquisa os rendimentos das mulheres nos trabalhos serão sempre menores que dos homens. Na maioria dos indicadores quando há uma separação por cor ou raça, percebemos que as mulheres negras ou pardas estão em pior condição do que as mulheres brancas. Nesse caso, até na escolaridade existe uma diferença muito grande, entre as mulheres brancas e as mulheres negras e pardas que tenham nível superior, as mulheres brancas tem o dobro, e quando olhamos para o mercado de trabalho isso se repete, a participação das mulheres negras ou pardas nos cargos gerenciais ainda menor.

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3 O CUIDADO E AS RESPONSABILIDADES FEMININAS

3.1 A responsabilização sobre o cuidado e a atuação estatal

Os seres humanos assim como os outros seres vivos, no ato do nascimento, precisam do apoio dos pais, e demais sujeitos, criam-se laços afetivos pela conexão existente entre eles. O desenvolvimento do indivíduo passa por muitas fases, as quais englobam o desenvolvimento humano, e em todos as fases da vida teremos o cuidado como uma necessidade social própria da condição humana. Desde o momento da concepção, essa criança já interage com sua família, já vai interagir com o seu meio social.

Dependendo da disponibilidade de recursos da família ou de vagas oferecidas pelo Estado, a criança deve iniciar sua vivência numa instituição educativa, seu desenvolvimento vai se construindo com seu processo escolar, a construção da sua personalidade, e ao mesmo tempo, desenvolver sua sociabilidade infantil interagindo com outras crianças, com os professores e com seus pais. Uma vez que, os seres humanos precisam de orientações e ajuda no cuidado de si mesmo, em várias fases da vida, o cuidado e os estímulos fazem parte da rotina humana.

Uma criança ao nascer com determinada enfermidade, vai precisar de mais cuidados, mais recursos, para uma melhor qualidade de vida, utilizam medicações contínuas e terão cuidados para além da dimensão da saúde. A exemplo de crianças com necessidades especiais, ou que são diagnosticadas com transtornos, as crianças autistas por exemplo não só os cuidados físicos, cotidianos, mas seu desenvolvimento deve ser estimulado, e para isso o Estado deve dispor de vagas para a educação a essas crianças, com profissionais qualificados e preparados para atender essa demanda. Assim como, precisam ter um acompanhamento clínico em várias especialidades, na tentativa de promover o bem-estar as crianças, não só a família, mais o Estado também deve colaborar oferecendo serviços para facilitar a vida do indivíduo. Algumas prefeituras disponibilizam a locomoção para a realização do tratamento.

Na prefeitura do Natal, a mobilidade urbana conta com o Programa de Acessibilidade Especial- Porta a Porta – PRAE oferecendo transporte para as pessoas com dificuldades de mobilidade, aos participantes são oferecidas as locomoções de casa/ tratamento/casa. Mediante cadastro e inscrição regular em instituição habilitada.

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Esse serviço é bastante seletivo e oferece um número reduzido de vagas. Aos demais é viabilizado um cartão com créditos para locomoção da criança em tratamento e seu acompanhante, de acordo com os dias de tratamento.

Todo o seu processo de desenvolvimento humano terá menos dependência dos cuidados, a criança passa a construir seu meio social, a partir das suas particularidades, e afinidades, são gostos parecidos que selecionam os colegas, e possíveis amigos futuramente. Mesmo a criança ganhando uma pequena autonomia, é preciso a atenção constante e o cuidado sobre a integridade física, pois, é na segunda infância que se tornam mais vulneráveis aos assédios e riscos cotidianos, a violência urbana são fatores que cada vez mais, aprisionam e restringem a liberdade para brincar ao ar livre, e esse monitoramento infantil, faz parte dos cuidados fundamentais para a segurança das crianças, que sempre precisam estar acompanhadas pelos pais ou responsáveis.

Outra fase de diferente nível de cuidado, mais de igual ou superior grau de atenção, é a adolescência, pois, é uma fase de descobertas, mudanças no corpo, o reconhecimento do seu grupo de amigos, começar a pensar na escolha de uma profissão, constante reflexão sobre a própria construção da sexualidade, é o período de desenvolvimento físico e da puberdade, com tais transformações as relações se estabelecem num processo social. Assim como, as crianças, os adolescentes são um alvo fácil para a manipulação de adultos que queiram tirar proveito da sua condição, em aspectos: sexuais, sociais e culturais. Atualmente, a sociedade vive um processo de exposição em redes sociais, isso é visto como natural, aos adolescentes postarem informações sobre o seu cotidiano, e suas preferências para a visualização de muitas pessoas. Exatamente, nesse momento é preciso o cuidado dos pais para acompanhar o que é exposto na rede social, manter limitado o acesso a internet, assim como noções cotidianas para a construção do caráter.

Aos chegar na fase adulta, começa as exigências sobre o ingresso no mercado de trabalho, as responsabilidades são maiores, as relações amorosas se solidificam, iniciam a construção de uma família, e sua carreira profissional. Em diferentes circunstâncias, a atenção e o cuidado se tornam fundamentais, por exemplo: uma mulher ao engravidar, vai precisar de um acompanhamento especializado, direcionado para o desenvolvimento do seu bebê, com saúde e as devidas orientações, uma possível batida no carro, uma cirurgia de urgência, um filho com febre, são fatos que

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estão fora do planejamento dos indivíduos, mais a partir disso, a família se organiza para oferecer a logística necessária para suprir tal necessidade, é no cotidiano repleto de imprevistos e adversidades, que vemos a interdependência que temos como indivíduos frágeis.

Na terceira idade é o período onde o idoso pode se constituir de uma forma mais sociável ou mais individualista dependendo de como foi o seu processo de criação. Também é nessa fase da vida que ficamos mais vulneráveis as doenças, e com baixa imunidade, muitos idosos fazem uso de medicamento para a estabilidade da pressão, uns tem diabetes, e outras enfermidades.

Alguns idosos desenvolvem doenças degenerativas, que as tornam totalmente dependente de cuidados, para se alimentar, fazer sua higienização diária, necessidades fisiológicas, ao se deparar com essas fragilidades, algumas famílias se organizam para contratar o serviço de cuidados, outras famílias de forma rotativa e democrática, vão intercalando os cuidados entre seus membros.

Entretanto, nessa mesma condição outras famílias acabam por não prestar os cuidados necessários, como muitos idosos já moram sozinhos, além da solidão constante, o avanço de doenças degenerativas os tornam vulneráveis e fragilizados. Quando existe uma situação de negligência e abandono, a denúncia deve ser feita para o ministério público e o idoso deverá ser encaminhado para o acolhimento em instituição especializada no cuidado do idoso. E aos familiares serão tomadas as medidas cabíveis pelo abandono ao idoso.

Analisando nossa condição humana, nessa breve descrição fica evidente a vulnerabilidades que enfrentamos em todas as fases da vida, a partir do que vivemos. É preciso colocar o cuidado no centro de uma discussão e trazer para a reflexão algo básico que é interdependência o fato de os vínculos e as relações de interdependência caracterizarem a vida humana. Mas a fragilidade, vulnerabilidade ligada a esses vínculos não são vivenciadas da mesma forma por todas as pessoas. E aí entra uma questão política fundamental, a pergunta que a gente pode fazer a partir das vivências: quem tem tempo para cuidar de outras pessoas? quem tem condições adequadas de cuidado para si quando necessita de cuidado?

Pensando em diferentes circunstâncias, na infância, quais crianças conseguem ter mãe e pai, adultos responsáveis perto delas de algum modo, em condições adequadas de cuidado? Como se dá essa organização do cuidado na infância?

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Levantando essas questões, surgem alguns problemas fundamentais tanto das relações de gênero no cotidiano, quanto da atribuição das responsabilidades envolvendo o entendimento que temos de quais responsabilidades são privadas, quais são coletivas, quais devem ser assumidas pelo Estado.

Diante de uma situação de necessidade, a família se mobiliza para oferecer os cuidados necessários. Porém, em muitos casos, são as figuras femininas que se responsabilizam, prioritariamente, no cuidado: a mãe, a irmã, a tia, a prima, a avó, a esposa, a sobrinha, são elas que largam suas atividades cotidianas, para suprir a necessidade do parente. Poucos são os casos nos quais os homens se responsabilizam pelo o cuidado, na maioria das vezes, são os membros familiares femininos que cuidam. É preciso conscientizar os indivíduos das responsabilidades coletivas, no espaço coletivo e familiar, sobretudo no que se refere aos cuidados fraternos. A importância de uma organização entre os membros para que as responsabilidades sejam divididas igualmente, buscar soluções coletivas, sem sobrecarregar as mulheres.

As desigualdades na distribuição das responsabilidades com o cuidado entre o Estado, família e nela pelas mulheres, podem causar grandes lacunas devido à falta de equipamentos públicos, sobretudo de políticas públicas para tratar de forma mais objetiva a questão do cuidado. Por consequência gera na população vulnerabilidades, fora isso os custos do cuidado no âmbito privado não facilitam o acesso para as famílias. Tais dificuldades modificam a vida das pessoas, limitando sua liberdade e oprimindo as mulheres na maioria das vezes.

Isso está relacionado diretamente como as relações de gênero e de classe se organizam nos marcos da sociabilidade capitalista na qual tem por característica intrínseca a desigualdade. Assim, os serviços que visam prestar os cuidados necessários a determinadas situações de vida não são acessados de modo igual a todos, pois uma vez em que esses serviços são ofertados pelo mercado eles inviabilizam a universalidade desse acesso, sendo repassado para a responsabilização individual e privada.

Segundo a autora Flávia Biroli (2018), o essencial ao tratar da questão do cuidado2, deve problematizar as possibilidades reais no provimento igualitário do

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“Isso porque me parece adequado entender o cuidado como trabalho – sem que afirmação signifique que se trata de um tipo de trabalho qualquer. Desse modo, pode-se ressaltar que: 1)cuidar exige tempo e energia , retirados do exercícios de outros tipos de trabalho, assim como do descanso e do lazer; 2)a grade de valorização (simbólica e material) das ocupações é determinante na precarização do trabalho

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