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A cultura escolar em debate: as possíveis diferenças de implementação

1.7 O início da implementação: jornal, revista e imposição

1.7.1 A Revista do Professor e o Jornal do Aluno: os primeiros passos

Antes da efetiva implantação e distribuição das novas matrizes curriculares e de seus materiais didáticos (Caderno do Professor e Caderno do Aluno), a SEE-SP, de acordo com o plano de metas e ações de 2007, buscou, primeiramente, implantar na rede de ensino “[...] programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os ciclos de aprendizagem (2ª, 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio)” (SÃO PAULO, 2007).

Dessa forma, foi lançado um Programa de Recuperação pelo qual os alunos passariam nos primeiros 42 dias do ano letivo de 2008. Em 17 de fevereiro, a Folha de São Paulo, mídia impressa de grande circulação no Estado, informava à sociedade as mudanças a serem iniciadas pela rede de ensino pública do Estado de São Paulo:

Começam amanhã, 18, as aulas nas 5.500 escolas da rede pública estadual de ensino de São Paulo. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, uma série de mudanças estão previstas para o ano letivo de 2008, que serão vivenciadas pelos cerca de 5,5 milhões de alunos. Durante os 42 dias iniciais, estudantes de 5ª a 8ª série e de Ensino Médio - cerca de 3,6 milhões - devem retomar as aulas com reforço em matemática e língua portuguesa. O objetivo do novo projeto, segundo a secretária de Estado da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, é reforçar essas disciplinas. "As competências de leitura, escrita e matemática são básicas para o futuro de qualquer estudante", afirma. O projeto prevê ainda a inclusão de novos materiais no processo de aprendizagem como, por exemplo, a Revista do Professor, que deverá orientá-los sobre como tratar os temas em sala de aula. Serão dez títulos durante o período de recuperação, separados por disciplina.

Para subsidiar o trabalho de recuperação de aprendizagens, foram distribuídos nas escolas de ensino fundamental II e ensino médio o Jornal do Aluno e a Revista do Professor, com exemplares disponíveis para todos os professores e alunos da rede. Tais materiais foram elaborados com base nas avaliações do SARESP/2005 e tinham como objetivo promover, sobretudo, a recuperação das habilidades leitora, escritora e matemática para que os alunos da rede obtivessem melhores desempenhos em avaliações padronizadas de larga escala.

Por esta razão, as disciplinas foram organizadas em dois blocos interdisciplinares nestes materiais: Língua Portuguesa, Língua Inglesa, História, Educação Física e Arte compunham o grupo que privilegiava as habilidades de leitura e produção de texto, enquanto Matemática, Geografia e Ciências (no ensino médio, Química, Física e Biologia) formavam a grupo que privilegiava as habilidades matemáticas.

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Reproduzindo a linguagem dos meios de comunicação, o Jornal do Aluno apresentava atividades organizadas em situações-problemas com a temática de cada disciplina, sendo organizado em ciclos de ensino, a saber, 5ª e 6ª séries e 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e 1ª série e 2ª e 3ª séries do ensino médio.

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Figura 04: Capa do Jornal do Aluno São Paulo faz escola. Edição Especial da Proposta Curricular. 2ª e 3ª séries do Ensino Médio. 2008.

Por sua vez, a Revista do Professor, tinha como objetivo subsidiar a prática pedagógica do profissional docente, oferecendo possibilidades de aplicação e avaliação das

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atividades propostas pelo Jornal do Aluno. Nesta publicação, algumas disciplinas foram agrupadas pela SEE-SP, de modo que tanto o ensino fundamental quanto o médio receberam cinco exemplares diferenciados da Revista. A disciplina de História dividiu espaço com Geografia e Filosofia, pois, naquela ocasião, Sociologia ainda não fazia parte da grade curricular do Estado de São Paulo.

Figura 05: Capa da Revista São Paulo Faz Escola. Edição Especial da Proposta Curricular. Disciplinas de Geografia, História e Filosofia. 2008.

Apesar de seu caráter provisório, estes materiais abriram caminho para que novas relações pudessem ser delineadas na rede de ensino do Estado de São Paulo. Nesse sentido, com o início no Programa de Recuperação e com a distribuição da Revista do Professor e do

Jornal do Aluno, a intenção da SEE-SP foi promover mudanças paulatinas que

contemplassem, entre outros, os campos do ensino-aprendizagem, da prática pedagógica, dos métodos de avaliação, da gestão escolar e também da remuneração de docentes e funcionários da Educação paulista.

Dentre outros aspectos, o que mais preocupou educadores e intelectuais acerca desses apostilados foi a centralidade que eles atribuíram aos saberes próprios das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Desde então, questiona-se o programa São Paulo faz escola, as novas matrizes curriculares e seus materiais didáticos quanto ao espaço reservado para os

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conhecimentos próprios de outros campos disciplinares, entre eles a História, uma vez que o centro das ações da SEE-SP parece convergir, sobretudo, para o desenvolvimento específico das competências matemática, leitora e escritora. Boim (2010, p.31-37) ao posicionar-se sobre o assunto, chama atenção para outros problemas que também circundaram esses apostilados:

[...] Os professores foram obrigados a adiar o início do trabalho com o conteúdo de suas respectivas disciplinas para voltar seus esforços ao cumprimento da meta unilateralmente estabelecida pelo governo paulista – intensificar, recuperar e melhorar a qualidade do ensino oferecida em São Paulo. [...]. O material chegou definido e pronto nas escolas estaduais durante o planejamento do ano letivo com um calendário de execução já estabelecido. Aos professores coube o dever de cumprir, independentemente de qualquer circunstância, o calendário sugerido, seguindo todas as orientações da Revista do Professor e do Jornal do Aluno.

Não há dúvidas de que tais materiais didáticos (Revista e Jornal) foram implementados na rede de maneira vertical, já que sua elaboração não contou com a participação dos responsáveis por colocá-lo em prática, os professores. Entretanto aferir como foi a recepção desses materiais no interior das mais de cinco mil escolas do Estado é tarefa complexa, a ser desempenhada em investigações que se voltem ao interior das escolas.

Por fim, embora seja importante apresentar o Programa de Recuperação para identificar a totalidade das ações da SEE-SP no programa educacional São Paulo faz escola, aprofundar a investigação em seus meandros não se configura como objetivo desta investigação. Por outro lado, transcorridos os 42 dias iniciais do ano letivo, em continuidade ao plano de metas São Paulo: uma nova agenda para a educação pública, foram divulgadas novas propostas curriculares para todas as disciplinas dos ensinos fundamental II e médio públicos estaduais, as quais, ineditamente, vieram acompanhadas de materiais didáticos: os

Cadernos do Professor e, a partir de 2009, Cadernos do Aluno.

Com isso, a SEE-SP objetivava uniformizar a prática pedagógica na rede pública de ensino paulista. Frente ao exposto, interessa saber: Como os professores lidaram com esta iniciativa da Secretaria? Como recepcionaram na escola as novas matrizes curriculares? Como foram preparados para o trabalho com os novos materiais didáticos? Enfim, qual papel coube aos sujeitos educacionais envolvidos nesta reforma curricular “proposta” pela SEE-SP?

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