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A cultura escolar em debate: as possíveis diferenças de implementação

1.6 As entrevistas e os sujeitos

Em conformidade com a adoção do estudo de caso, as entrevistas realizadas nesta pesquisa envolveram os sujeitos educacionais diretamente ligados à implementação do novo currículo de História, a saber: os professores de História do ensino médio e os PC das duas escolas selecionadas, além do PCOP da disciplina de História da DE Regional de Assis.

A escolha desses sujeitos deve-se a percepção de que é no interior das salas de aulas, atribuindo relevância investigativa à prática dos profissionais da educação, que melhor se verifica o “destino das políticas públicas” no sistema educativo (Faria Filho. et al., 2004, p.141). Têm-se, dessa forma, os protagonistas da reforma curricular paulista, cujas entrevistas seguiram roteiros individuais (Anexos 01, 02 e 03), dada a singularidade de suas funções na reforma curricular proposta pela SEE-SP.

Dentro dessa perspectiva, os professores de História são responsáveis por desenvolver o novo currículo em sala de aula; os PCs são os gestores responsáveis por difundir nas unidades de ensino a nova proposta curricular e preparar pedagogicamente o trabalho docente, sendo elo entre escola e DE; e o PCOP de História é o orientador pedagógico do trabalho docente e mediador das relações entre a escola e os professores com a Diretoria Regional de Ensino e, em uma instância maior, com a SEE-SP. Por esse motivo, é compreendido na pesquisa como um responsável formal pela implementação do novo currículo.

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Optou-se pelo desenvolvimento de entrevistas semiestruturadas e abertas, cuja vantagem é a flexibilização do ato investigativo e o favorecimento de uma relação menos formal e mais confiável entre as partes, o que permitiu que as perguntas pudessem ser incluídas, excluídas ou reformuladas de acordo com os objetivos da pesquisa. Seguindo os direcionamentos de Lüdke e André (1986), Sarmento (2003) e Szymanski (2008), pretendeu- se fazer com que as questões formuladas para os sujeitos, embora previamente estruturadas, seguissem um ritmo natural, próprio do diálogo.

A intencionalidade do pesquisador vai além da mera busca de informações; pretende criar uma situação de confiabilidade para que o entrevistado se abra. Deseja instaurar credibilidade e quer que o interlocutor colabore, trazendo dados relevantes para seu trabalho. A concordância do entrevistado em colaborar na pesquisa já denota sua intencionalidade – pelo menos a de ser ouvido e considerado verdadeiro no que diz – o que caracteriza o caráter ativo de sua participação, levando-se em conta que também ele, desenvolve atitudes de modo a influenciar o entrevistador. (SZYMANSKI, 2008, p. 12)

Tendo em vista tais pressupostos, foram valorizados tanto os silenciamentos quanto as fluentes afirmações dos entrevistados e, quando observadas confusões ou indeterminações em seus discursos, procurou-se reformular a pergunta geradora do conflito, de modo a facilitar a compreensão do sujeito, sem que o foco da questão fosse alterado. Sempre que houve oportunidade, suas elocuções foram utilizadas para incitar outros questionamentos pertinentes à investigação proposta, buscando se afastar daquilo que Sarmento (2003) denomina como “questões de poder”, próprias da entrevista. Nesse sentido, Woods (apud Sarmento, 2003, p.162) julga ser preferível

[...] evitar a conotação formalista da “entrevista”, considerando que a expressão “conversação” sugere melhor a natureza da relação etnográfica na qual se realiza esse “processo livre, aberto, democrático, bidirecional e informal, onde os indivíduos se podem manifestar tal como são, sem se sentir presos a papéis determinados”. [...]. Não obstante, o acto - sempre indisfarçavelmente formal de alguém falar de si e de sua acção nas entrevistas - reactualiza (e, dado que a relação é de indivíduo para indivíduo, até potencia) a incidência das questões do poder a que acima aludimos, nas relações entre o investigador e os actores.

Desse modo, as entrevistas, por mais informais, flexíveis e confiáveis que pretendam ser, desenvolvem-se em meio a questionamentos e arguições, o que pressupõe avaliações e julgamentos de ambos os lados e isso não deve ser desconsiderado. Na maioria das vezes, tais

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sentimentos são permeados por expectativas e temores, conforme deixam transparecer as palavras de Sarmento (2003, p.162),

[...] o desejo de ser bem interpretado pode levar ao receio de não explicar adequadamente o seu ponto de vista, com o medo de comprometer a identidade individual ou grupal. A entrevista, desse modo, pode assemelhar- se a um embaraçante e perigoso exame. Por outro lado, a assunção de uma acção dramatúrgica e teatral por parte dos actores sociais é, nestas circunstâncias, particularmente favorecida, seja pelo silenciamento do que pode ser “perigoso”, seja pela narrativização idealizada ou ficcional da realidade.

Diante das dificuldades encontradas na realização das entrevistas, o objetivo foi tornar o ambiente da investigação menos formal. Ao iniciar as “conversações”, foram apresentados primeiramente o investigador e os objetivos da pesquisa, posteriormente, os entrevistados foram convidados a fazer comentários sobre suas trajetórias profissionais, sobre seus regimes e cargas horárias de trabalho e suas concepções em relação à disciplina de História e sobre os desígnios da educação contemporânea. (SZYMANSKI, 2008)

Após esse momento, os sujeitos foram questionados quanto às particularidades contextuais das escolas selecionadas e acerca de suas percepções em relação à reforma curricular paulista – em termos da materialidade, das orientações pedagógicas e da cultura profissional e escolar. Finalmente, foram colocadas questões que remetiam ao SARESP, cuja repercussão é entendida como determinante para avaliar o trabalho desses sujeitos durante a implementação do novo currículo.

O emprego das entrevistas semiestruturadas e abertas, em detrimento dos questionários escritos, permitiu não apenas a captação imediata e corrente da informação desejada, mas também preconizou a identificação do “não verbal”, como gestos e diferentes entonações de voz, os quais podem revelar dados importantes para o desenvolvimento do trabalho. Assim, “[...] enquanto outros instrumentos têm seu destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os elabora, a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado”. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.34.)

De maneira geral, as entrevistas foram realizadas no ambiente escolar durante todo ano letivo de 2011 e início de 2012. Cada participante foi entrevistado uma única vez e, devido à extensão dos roteiros, cada “conversação” durou em média duas horas, o que resultou em 122 laudas transcritas. Durante as transcrições, procurou-se preservar ao máximo a linguagem utilizada pelos sujeitos, editando apenas algumas incoerências gramaticais e cacoetes próprios

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da fala. Alterações e complementações só foram efetuadas quando indispensáveis para a compreensão do leitor.

Vale ressaltar que as informações colhidas com os cinco sujeitos educacionais envolvidos na pesquisa buscaram ser apresentadas de acordo com o ritmo natural das questões levantadas em cada capítulo. Igualmente, os depoimentos dos sujeitos somente são apresentados quando os mesmos podem contribuir para o desenvolvimento de uma ideia. Dessa forma, os relatos não são simplesmente apresentados ao leitor, ao contrário, são discutidos, relativizados, contextualizados, possibilitando que incitem ou concluam questões.

De acordo com tais premissas, parte-se para a apresentação dos sujeitos envolvidos na investigação. Importa observar que esta descrição procurou enfocar o percurso profissional dos entrevistados e foi desempenhada com dados fornecidos pelos próprios participantes, o que justifica a diferença de informações contidas em cada descrição.

A professora de História da escola A, entrevistada em 09 de setembro de 2011, é formada em História pela UNESP de Assis. Frequentou a faculdade entre os anos de 1980 a 1984. Antes de ser professora, trabalhou no INSS. Na década de 1970 passou no concurso efetivação do Estado de São Paulo, ingressando na carreira do magistério na cidade de Presidente Prudente. Para se aproximar mais da cidade de Assis, onde residia, participou de vários processos de remoção, por esse motivo lecionou em escolas de Cruzália e Tarumã, municípios próximos a Assis, e, finalmente, veio para a escola A, onde lecionou nas primeiras turmas formadas e hoje cumpre uma jornada de 33 aulas semanais, a máxima permitida pela SEE-SP. Não dá aula em outra escola do Estado, nem em escola particular e, em 2011, era a professora de História de todas as salas de ensino médio da instituição.

O professor de História da escola B, que não trabalha em outras escolas estaduais nem na rede privada, foi entrevistado em 06 de julho de 2011. Também formado em História pela UNESP de Assis, frequentou a faculdade entre os anos de 1993 e 1996 e começou a ministrar aulas em 1997. Passou no concurso de efetivação em 1999 e, em 2000, assumiu o cargo na rede pública estadual. Desde 2005, é efetivo da escola B, onde atualmente cumpre a jornada completa. Em 2011, era professor de História de todo Ensino Médio matutino do referido estabelecimento e de algumas séries do Ensino Fundamental.

A professora coordenadora da escola A, entrevistada em 16 de dezembro de 2011, é formada em Letras também pela UNESP de Assis, com habilitação em Língua Portuguesa e Alemã. Está no magistério há mais de 25 anos e trabalha na escola A desde 1998, onde passou a exercer a função de coordenadora a partir de 2001 por tratar-se da referida escola, uma vez que desempenhar a mesma função em outra não estava nos seus interesses.

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A professora coordenadora da escola B, entrevistada em 15 de fevereiro de 2012, está no magistério há 20 anos e há 12 exerce a função de professora coordenadora na escola B. Assim que se formou em Geografia, lecionou para adultos em uma propriedade agrícola em Mirante do Paranapanema, mas efetivou-se na rede de ensino paulista em 2000 na cidade de Americana, onde permaneceu por seis meses. Após esse período, veio por remoção para a escola B na cidade de Assis, onde permaneceu por dois anos antes de exercer a função de coordenadora. É natural de Santo Anastácio, cidade próxima a Presidente Prudente, mas se estabeleceu em Assis.

A PCOP da disciplina de História é formada em História pela UNESP de Assis. Frequentou a faculdade entre os anos de 1979 a 1984, está no magistério há vinte e cinco anos e há doze anos exerce a função de PCOP na DE de Assis. No ano de 2000 passou no concurso de efetivação, assumindo seu cargo de professora da rede pública paulista na cidade de Sumaré. No segundo semestre de 2000 foi removida para Presidente Prudente e, em 2002, para Cruzália. Em abril desse mesmo ano foi designada ATP de Geografia na DE de Assis, exercendo a função até ao ano de 2009, quando por meio de um processo seletivo (avaliação, apresentação de projeto e entrevista) foi designada para a função de PCOP da disciplina de História, a qual exerce até a atualidade.

Apresentados as escolas e os sujeitos, iniciam-se as considerações acerca dos meandros da implantação da proposta curricular, em 2008, na rede pública de ensino paulista.