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Capítulo III Narrativas Visuais Sobre a Indústria e o Trabalho

3.1 A Revista Industrial

A Revista Industrial é um álbum que foi elaborado entre os anos de 1889 e 1900 para representar o estado de São Paulo na Exposição Universal de Paris de 1900 e, hoje, faz parte do acervo da biblioteca do Museu Paulista. É composto por 85 páginas – das quais apenas 78 foram preenchidas – de dimensões 47 x 57 cm –, encadernadas em couro cuja capa, assim como a primeira página (Fig.46), contém o nome da obra, o estado

que representa, sua destinação, um retrato do então presidente de São Paulo – Coronel Fernando Prestes de Albuquerque, provavelmente a reprodução da tela de Almeida Júnior de 1898 (Fig. 47) – e o brasão da República. O exemplar único é acompanhado de uma caixa de acondicionamento em madeira com o interior encapado por veludo verde e amarelo representando de forma gráfica simplificada parte a bandeira do Brasil(Fig. 48).

Almeida Júnior - Retrato do Dr. Fernando Prestes de Albuquerque, 1898 Óleo sobre tela. Acervo do Museu Paulista.

(Figura 47)

Álbum na caixa de acondicionamento

A suntuosidade de suas proporções, encadernação e estojo apresentam o álbum como um objeto projetado para estar à altura dos que nele foram representados e do evento para o qual se destinava. Esta materialidade também é uma ferramenta que concede distinção aos referentes do conteúdo. Assim, apresenta-se um movimento recíproco de valoração e legitimação na criação e figuração na Revista, os luxuosos atributos do álbum conferem status aos nele representados e colocam ambos, o álbum e os referentes, como merecedores de participação na Exposição Universal. De forma análoga, a estampa de imagens de autoridades no início de publicações tem uma dupla função que legitima e autoriza a obra, ao mesmo passo em que concede prestígio e poder ao retratado, prática bastante difundida no período.

O álbum tem edição fac-símile comemorativa do centenário do Museu Paulista feita com o patrocínio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, na qual é apresentada como uma “iniciativa das empresas brasileiras (...) [e] a forma que a indústria paulista encontrou para participar da Exposição Universal de 1900”88. Além disso, nesta reedição, a iniciativa de sua criação é atribuída a Jules Martin89, litógrafo francês, formado pela academia de belas artes de Marselha. Radicado na cidade de São Paulo desde 1868, tornou-se importante figura na cidade tanto por seu trabalho gráfico quanto por sua participação no projeto do primeiro viaduto do Chá. Entretanto, em pesquisa dedicada ao trabalho do litógrafo e comerciante de imagens, Mateus Pavan de Moura Leite aponta que não foram encontradas em seu catálogo oficial menções da participação da Revista Industrial ou do Brasil na exposição, tampouco em publicações do período destinadas ao Brasil e América Latina ou nas obras e anotações do próprio Martin90. Além disso, aponta que o álbum foi resultado de um projeto encabeçado por Ramon Alarcon e teria como objetivo fazer parte de uma coleção maior intitulada Álbum Brasileiro ou Álbum dos Estados destinada a ser exibida na exposição de Paris de 1900.

Por meio de notícias em jornais e apontamentos feitos por Martin em seu álbum de recortes e recordações, Mémoires et Documents, Leite estabelece que Alarcon percorreu o país procurando representantes locais que contribuíssem para o

88 FERREIRA, Carlos Eduardo Moreira. Apresentação. In: Revista industrial: Estado de São Paulo em Paris: Exposição de 1900: Brasil. Edição da Fiesp, 1995, fac-símile de parte do álbum original do Museu do Ipiranga, Universidade de São Paulo. São Paulo: Fiesp, 1995.

89 MORAES, Flávio Fava. A Revista Industrial In: Revista industrial: op. cit.

90 LEITE, Mateus Pavan de Moura. Jules Martin, litógrafo: catálogo iconográfico de um comerciante de imagens de São Paulo. Dissertação de Mestrado – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade

Estadual de Campinas, 2016. Disponível em: Disponível em:

preenchimento dos álbuns. Então, o idealizador carregaria consigo exemplares do álbum e pranchas base, já impressas, divididas em 16 pequenos quadros, que poderiam ser preenchidos por anúncios (com fotografias ou desenhos) de empresas locais. O comércio dos espaços nas páginas do álbum, assim como a contribuição de alguns governos estaduais serviria de financiamento ao projeto e as obras resultantes retornariam para instituições e bibliotecas locais após a exposição. Além das fontes apontadas por Leite, foi encontrada apenas uma pequena nota no periódico A Província, publicado no Recife no início do ano de 1900, que cita a empreitada de Alarcon “que tanta aceitação tem tido pelas vantagens que traz ao comércio e às indústrias”91, aponta seu representante oficial na cidade e a continuação de sua viagem “para o norte a bordo do Espírito Santo”92. Considerando que as notícias sobre o projeto publicadas em jornais da capital federal datam de outubro de 1889; em periódicos do Paraná, do meio de dezembro do mesmo ano; em Minas Gerais; da passagem para do ano de 1900, e em Pernambuco, do dia 11 de janeiro, é provável que o proprietário da Revista Industrial e do Álbum Brasileiro tenha saído da capital nos meses finais do ano para percorrer estados no sentido do sul-norte. Assim, teria passado por São Paulo ao longo segunda quinzena de dezembro de 1899.

É igualmente possível que seu encarregado em São Paulo tenha sido Jules Martin. Isto pode ser inferido pela intensa participação que teve na obra, visto a quantidade de páginas que contém aquarelas de sua autoria, 34 no total93, o que inclui 18 anúncios que ocupam uma prancha (ou página) inteira e 21 que ocupam frações de prancha. Constam entre as imagens por ele elaboradas uma página dedicada ao Instituto Histórico de Geográfico de São Paulo, do qual também era membro honorário desde 1897, a folha de rosto na qual é ele próprio o homenageado (Fig 49) e são exibidos, em meio a motivos clássicos, prêmios recebidos (medalhas), um pequeno histórico do artista, assim como alegorias de sua profissão (detalhes, Fig 50), seu endereço e o brasão de sua cidade natal na França, Moustiers Sainte-Marie94. Apesar de não conter aquarelas de

91 O texto completo do jornal é: “Segue hoje para o norte a bordo do Espírito Santo o sr. Ramon Alarcon, proprietário da Revista Industrial e Álbum Brasileiro, que tem de figurar na exposição de Paris de 1900 e que tanta aceitação tem tido pelas vantagens que traz ao comércio e as indústrias. Fica encarregado de todos os negócios referentes a esse álbum e substituindo o sr. Ramon Alarcon, o sr. Antonio Nunes Coimbra, a rua do Encantamento no. 9. Boa Viagem” – A Província: folha diária da manhã, Recife. 11 de janeiro de 1901. Disponível em <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/8365> acesso 14 dez. 2017.

92 Ibidem.

93 Considerando as páginas que contém aquarela e não apenas reproduções fotográficas, 38 no total, apenas 4 contém desenhos que não foram assinados por Martin, três de página inteira e um de página fracionada. 94 O brasão no canto inferior esquerdo da figura 49, aproximado na figura 50, corresponde ao brasão de sua cidade natal, no qual é representada uma estrela, símbolo da cidade com a qual Jules Martin tinha uma relação especial. Segundo Leite: Em sua passagem por Moustiers Sainte-Marie, Jules Martin presenteou à vila da infância com uma estrela dourada gravada com suas iniciais (fig.24). Pendurada entre dois rochedos que cercam o vilarejo incrustado nos Alpes, esta estrela remete a um símbolo antigo, presente no brasão da

Martin, ainda outra prancha do álbum faz referência a ele pois contém uma fotografia de página inteira do viaduto do Chá (Fig. 51) na qual se nome, como criador e concessionário aparece em destaque na legenda.

Página de rosto da Revista Industrial, aquarela de Jules Martin em auto homenagem.95 (Figura 49)

cidade e cuja história data da idade média. Jules Martin fez uma litografia sobre ela, acompanhada de uma breve história. A peça original havia desaparecido há tempos, assim como outras que se seguiram. Procurando ocupar este vazio, Jules Martin encomendou em Paris uma nova estrela, de dez pontas, 80 cm, niquelada e dourada, para assim restituir à cidade o seu símbolo, agora marcado com suas iniciais e o ano de sua passagem pela região. Mais do que símbolo de sua gratidão para a vila onde nasceu, a estrela aparece como busca do reconhecimento daqueles que deixou, consolidando assim uma imagem de sucesso de quem saiu de seu país e conseguiu enriquecer.” LEITE, Mateus Pavan de Moura. Op. Cit. p. 89 e 90

95 Em baixo da medalha encontra-se o seguinte texto em francês: “Nascido na França (B. Alpes) em 1832. Formado na escola de Belas-Artes de Marselha em 1848. Desenhista plumista litógrafo em Paris 1852- 1855. Fundador do L'Album Autographique Méridional, Marselha - 1867. Chegado em S. Paulo, Brasil, em 1868. Professor de Caligrafia, Arquitetura e Pintura com Aquarela e Pastel e modelagem. Fundador da Litografia em S. Paulo em 1869 e Introdutor de Zincografia em 1882. Autor e Concessionário do Viaduto do Chá em São Paulo. Fundador, 1º presidente 3 vezes reeleito (1881, 82 e 1885) da Sociedade Francesa de Beneficência XIV julho. Membro (medalha) da L'Académie Nationale Manufacturier de Paris. Membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Membro honorário do Círculo Francês. Autor e Concessionário das Galerias de Cristal em projeto de construção. Vários Prêmios de Exposições de Desenho.” Tradução Livre.

Detalhe da página de rosto

(Figura 50)

O Viaducto de S. Paulo. Inaugurado no dia 6 de novembro do anno de 1892. Tem 200 metros de comprimento, 14 metros de largura e 20 m de alto - foi Jules Martin, cidadão francez e autor

concessionario do projeto em 1880. [sic]

Além do mais, devido a própria postura de Martin como difusor e articulador dos negócios comerciais e industriais da região é possível que tenha sido o escolhido como representante local da publicação conforme foi observado por Mateus Leite ao buscar entender o lugar social ocupado por Martin na sociedade paulista. A partir da segunda metade da década de 1870, momento em que mudou sua oficina para a rua São Bento, coração comercial da cidade e onde se manteve até 1887, dedicou-se a organização de eventos de exposições fotográficas ou de grandes reproduções de pinturas célebres e do estabelecimento de acordos comerciais, num esforço para:

[...]consolidação de seu estabelecimento enquanto uma espécie de intermediário na venda de produtos de terceiros e como um espaço para exposição de imagens. [...] A sua oficina pretende tomar parte em uma rede comercial diversificada, onde a fatura e venda de imagens é parte de uma circulação mais ampla envolvendo outros produtos e serviços. [...]Desta forma, a sua oficina não atuaria apenas como lugar de encomenda e compra de litografias, mas torna-se um elo numa cadeia de comércio e negócios. [...] procura tornar sua empresa um lugar de passagem, onde o transeunte poderia se entreter e se informar pela observação das imagens, adquirir bilhetes das peças de teatros, conferir se havia algum novo remédio milagroso e eventualmente passar à condição de consumidor, porque via algo para adquirir.96

A oficina de Martin pode ser compreendida como um local de convergência de práticas visuais também observadas nos museus, exposições universais, galerias, aproximando a oficina aos espaços e publicações típicos da modernidade do século XIX. Soma-se a isso ainda a proposta de autoria do mesmo para construção em São Paulo de galerias de cristal, “passagens que atravessariam os bairros centrais da cidade valendo- se de estruturas em ferro, cobertura de vidro e iluminação elétrica”97. Embora não tenham sido concretizadas, tais passagens comparáveis às benjaminianas98 testemunham mais uma vez sua inserção em uma economia visual que coloca a experiência da observação como grande catalizadora de novas práticas e organizações econômicas, comerciais e industriais na qual a Revista Industrial pode ser melhor contextualizada.

Em relação às imagens fotográficas, a Revista conta com 76 páginas além da capa e folha de rosto. Destas, 65 trazem fotografias: 29 são ocupadas por apenas uma fotografia, oito apresentam grupos de duas ou quatro e fotografias e não contém nenhuma

96LEITE, Mateus Pavan de Moura. Op.cit. p. 68-70. 97LEITE, Mateus Pavan de Moura. Op.cit. p. 92

98 Cabe aqui retomar os escritos de Walter Benjamin que se dedicam a imagens e práticas da vida urbana oitocentistas, Passagens. Nos excertos que formam a obra, aponta a ideia do exercício do olhar como ato fundamental e característico tanto das exposições universais quanto de uma série de outras atividades e costumes do período, dentre elas, as galerias comerciais. Espaços geralmente construídos com materiais e técnicas arquitetônicas novas que abrigavam em seu interior vitrines nas quais transbordam imagens e produtos da modernidade, espaço vital da flânerie, assim como de artigos modernos que se aproximam muito aos projetos de Martin.

intervenção em aquarela. Apenas 11 páginas não contém imagens fotográficas: sete são de anúncios inteiros ou fracionados de acordo com a grade das páginas (Fig. 52), a aquarela de Martin dedicada ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo já mencionada, uma página que anuncia a cidade de Campinas, uma gravura do Liceu de Artes de Ofícios e a última, uma “Planta Geral do Caes da Companhia docas de Santos” de 1887.

Página de anúncio do álbum

(Figura 52)

Apesar dos motivos e alegorias das aquarelas de Martin presentes no álbum aproximarem-se em alguns momentos de convenções e alegorias clássicas, o que pode ser atribuído à sua formação, o álbum insere-se num contexto de publicações que se pretendem modernas, tanto pela grande quantidade de fotografias que abriga, mais de 130, quanto pelas escolhas gráficas, como a fonte da capa que dialoga com tradições do século XIX de incorporação de elementos da natureza (Fig. 53). Além disso, destaca repetidamente o símbolo republicano (Fig. 46), o que pode ser visto como um esforço de demarcação da mudança de regime, visto que para a Exposição dm Paris, em 1889, foi elaborado um álbum, Album de vues du Brésil como parte da obra Le Brésil99, com o

99 RIO BRANCO, Barão do (José Maria da Silva Paranhos) (org.) Album de vues du Brésil. Paris: Imprimerie A. Lahure, 1889 <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/518670>

auxílio do Barão de Rio Branco, ainda como representante do império. Este álbum trazia imagens das principais cidades e atributos do país e o representaria não apenas na Exposição como também na Grande Encyclopedie de E. Levasseur100.

Detalhe da capa

(Figura 53)

Ainda considerando a estrutura da Revista, ela contém três tipos de pranchas: há as que funcionam como álbum de vistas das cidades de São Paulo, Campinas e Santos, que correspondem à metade do total de páginas; as que funcionam como anúncios de estabelecimentos comerciais, industriais e financeiros – de página inteira ou fracionadas – cerca de 45% das imagens. Por último, algumas poucas páginas dedicam-se à apresentação de instituições específicas que desejaram apoiar financeiramente a iniciativa e assinalar sua presença no estado ou na exposição (como o Instituto Histórico Geográfico, a organização Maçônica, o Centro Espanhol em Santos).

Nas vistas da Cidade de São Paulo – imagens de tipo I – são enfatizados diversos prédios governamentais e instituições estaduais, como o Palácio do Governo, Tesouro, Câmara Municipal, Hospedaria do Imigrante, locais esses que garantiriam o aparato de funcionamento institucional, além da Escola Politécnica, Escola Normal e o Museu Paulista que apresentam o aparato científico e cultural. Ao mesmo tempo, são representados aparatos de infraestrutura tanques de abastecimento de água da capital e hospitais, além do próprio porto de Santos, com destaque para espaços urbanos tipicamente valorizados em cidades que se pretendiam modernas, como é o caso das imagens de grande pontes, como o Viaduto do Chá, e áreas arborizadas, como o Jardim Público da Luz. Também são numerosas as imagens que retratam os espaços centrais da

100 Sobre o tema, ver: KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. 2. ed. São Paulo, SP: Ateliê, 2009. Parte 2: A Construção do Nacional na Fotografia Brasileira: O Espelho Europeu.

cidade como o Largo São Bento, a Praça da Sé, Rua XV de Novembro, Rua Direita, dentre outros, com seus trilhos, bondes e numerosos transeuntes; além de regiões novas, como a avenida Paulista, planejada e constituída em moldes europeus para abrigar a alta sociedade paulistana, que conta com três fotografias e incluem duas vistas panorâmicas (Fig. 54 a 60).

Palácio do Governo

Hospedaria de Immigrantes da Capital; Palácio da Agricultura e Thesouro; Panorama visto da Avenida Paulista. I; Panorama visto da Avenida Paulista. II

(Figura 55)

Eschola Normal. Capital; Eschola Polytechnica. Capital; Congresso do Estado; Camara Municipal. Capital

Cantareira - Tanque de Accumulação; Cantareira. Jardim dos tanques de accumulação do abastecimento da capital; Panorama de São Paulo tirado da Vila Buarque I; Panorama de São

Paulo tirado da Vila Buarque II

(Figura 57)

Hospital de isolamento da capital; Jardim da Luz (II); Avenida Paulista. Capital; Ponte grande sobre o Rio Tiete. Capital

Santos. Panorama visto do caes; Resrvatorio da Liberdade; Santos. Panorama visto do caes; Resrvatorio da Liberdade

(Figura 59)

Jardim Público da Luz

Embora também algumas imagens de Santos figurem nas páginas iniciais, em meio às fotografias da capital, o álbum pode ser dividido em três seções de acordo com as cidades que estão sendo retratadas: São Paulo, Campinas e Santos101. Isso pode ser observado tanto pela quebra nos padrões de ocupação das páginas, formato e características das imagens fotográficas e legendas (Fig. 54 a 60, São Paulo; Fig. 61 e 63 Campinas; Fig. 64 e 65, Santos) – indicando que as imagens foram produzidas separada e independentemente –, quanto pelo fato de que antes das páginas dedicadas a cidade de Campinas é exibida uma página divisória que anuncia a cidade, como uma espécie de capa, assinada por Martin (Fig. 61). Nas seções de São Paulo e Campinas repetem-se, embora não necessariamente em ordem direta, imagens que se dedicam a mostrar os atributos urbanos e infraestruturais da cidade, lugares de relevância e representação social e anúncios de estabelecimentos locais. As imagens relativas à cidade de Santos, que parecem ser uma iniciativa não do município ou organização de representantes industriais ou comerciais locais, mas unicamente da Companhia Docas de Santos, compõem a parte final da publicação. São sete páginas em sequência, seis imagens fotográficas das quais apenas a primeira apresenta legenda (Fig.64) que mostram diferentes espaços do cais, encerradas por uma planta da área.

101 Por motivos de preservação, todas as páginas da Revista Industrial foram retiradas da encadernação original, digitalizadas e acondicionadas individualmente. Na ordem sugerida pela numeração dos arquivos digitais, intercalam-se em alguns momentos pranchas relativas à cidade de São Paulo e Campinas. Como as páginas do álbum não são numeradas, não é possível precisar se houve alguma inversão de ordem no momento da retirada das pranchas ou, o que é mais provável ainda devido ao próprio caráter do projeto de Alarcon, se elas foram preenchidas em momentos distintos a partir da divulgação do projeto nas regiões, gerando as sobreposições explicitadas.

(Figura 61)

Matriz Nova; Jornal da Cidade de Campinas

Serviço de Saneamento

(Figura 63)

Companhia Docas de Santos

(Figura 65)

A obra apresenta, ainda, um grande número de fotografias que retratam casas de figuras personalidades de importância econômica e, muitas vezes, também política. No caso da capital, apenas a casa de Conselheiro Antônio Prado, então prefeito da cidade, é representada, mas na parcela do álbum dedicada à cidade de Campinas, sete páginas são completamente dedicadas a imagens de residências. O que pode ser explicado pelo posicionamento da cidade em relação à economia estadual. Enquanto nas páginas relativas à capital abundam os anúncios de bancos, hotéis, casas comerciais de naturezas diversas, na cidade de Campinas, além dos atributos urbanos, existem apenas dois anúncios nos moldes que misturam fotografias e aquarelas de Jules Martin, do Grande Hotel Paulista (Fig. 66) e da Fábrica de fumos "Liberdade"– o único de página dupla em toda a revista –, além de fotos sem aquarelas da fábrica de gelo Viuva Krug & Filhos, Casa Importadora "Roque de Charco" e Casa Colombo, que são colocadas em meio a fotos de vistas da cidade. Seguem-se a estas imagens as fotos de residências que pertencem a figuras da região ligadas à cafeicultura102 (Fig. 67 e 68). Assim, estas imagens também exprimem os atributos econômicos da cidade e, ao mesmo tempo, denotam o valor dado por contemporâneos à participação em obras como esta, que,

102 Arhtur Leite de Barros, Carlos Olympio Penteado, Comendador S. Andrare, Joaquim Alvaro Souza