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A REVOLUÇÃO CULTURAL E O TERCEIRO PLANO QUINQUENAL

A TRAJETÓRIA DO SOCIALISMO DE MAO TSÉ-TUNG (1949-1978)

1.5. A REVOLUÇÃO CULTURAL E O TERCEIRO PLANO QUINQUENAL

Em maio de 1966, começou a Revolução Cultural, iniciativa de Mao Tsé-tung, de modo a enfrentar a influência do revisionismo na URSS que conduzia a população soviética a uma sociedade de classes equivalente à do capitalismo. Neste contexto, o PCC tinha que prevenir a restauração capitalista na China através da estratégia de reeducação ideológica pautada no marxismo-leninismo.

A Revolução Cultural passa a ser impulsionada pela ala do Partido que se articula em torno da liderança de Mao. É necessário, diz, “identificar e desmascarar os agentes da burguesia infiltrados no Partido”. Mas não se trata de destruir o Partido e sim de reeducar seus quadros, que são recuperáveis. Para isso são criadas as Escolas de Reeducação de Quadros do PCC, as chamadas Escolas 7 de Maio – data da carta de Mao e Lin Piao, que apoia o movimento social iniciado e critica o ensino vigente (7 de maio de 1966). O culto a Mao chega ao seu apogeu entre 1966 e 1969 (BEZERRA, 1987, p.74).

60 A indústria leve destacou-se na produção de equipamentos eletrônicos e de material necessário a extração de petróleo, dentre outros (MILARÉ; DIEGUES, 2012).

61 A indústria pesada iniciou a exploração de novas minas de carvão e de ferro; construíram-se novas siderúrgicas e fábricas produtoras de equipamento elétrico, máquinas-ferramentas e de material para a indústria química (MILARÉ; DIEGUES, 2012).

62 “Desde 1959 China no publica estadísticas industriales detalladas. Sin embargo, teniendo en cuenta los datos globales publicados, se advierte que en los últimos años se ha experimentado un progreso industrial importante. En 1964, la producción industrial ha aumentado el 15% en relación con 1963. Para ciertos productos (acero, petróleo, azúcar, etc.) el progreso ha alcanzado el 20%. En 1963 ya había habido un progreso respecto a 1962, y la producción media del período 1958-1962 (secundo quinquenio) fue superior en el 68% a la de 1953-1957 (primer quinquenio) para los principales productos de consumo”. (BETTELHEIM, 1965, p.92).

A Revolução Cultural foi definida como uma continuação da Campanha de Educação Socialista. Tratava-se de combater os “Quatro Velhos: velhos hábitos, velha cultura, velhas ideias, velhos costumes” (BEZERRA, 1987, p.73). Colocava-se, assim, em questão: 1) o papel dos intelectuais e o caráter do ensino universitário que criticava o regime; e 2) o apelo de Mao e Lin Piao aos jovens para que se tornassem “vermelhos e especialistas”63. Nesse sentido, várias organizações populares foram criadas, com

destaque para os Guardas Vermelhos64 e os Comitês Revolucionários da Tríplice

Aliança65 - formados por membros do PCC, do EPL e das massas (BEZERRA, 1987;

COGGIOLA, 1985; SUYIN, 1968).

O movimento radicalizou-se66, combinando violência67 e repressão68, sendo

controlada a situação somente em 1968 depois de centenas de mortos em confrontos armados. Mudou-se a orientação para a técnica de alinhamento com as massas, por meio de reuniões e participação. Tratou-se da tentativa de unir a sociedade chinesa pela força das ideias e não pela força física, num movimento de debate e crítica constante à luta político-ideológica (SUYIN, 1968).

63 “Em Mao, os dois fatores (marxismo-leninismo como filosofia política e ciência como conhecimento das leis do universo) estão completamente fundidos; pensamento e prática politicamente corretos devem conduzir, inevitavelmente, ao êxito na realização científica e outros objetivos concretos. Daí o apelo aos jovens para que sejam “vermelhos e especialistas”. Pois se a motivação for correta, então o anseio de saber e fazer, a intensificação do entusiasmo pela aprendizagem e realização, libertarão capacidades criadoras e aniquilarão a letargia, a pusilanimidade e a aceitação da inépcia – características tão comuns no patrimônio dos povos colonizados” (SUYIN, 1968, p.131).

64 “Os Guardas Vermelhos, formados especialmente por jovens carregados de ideais revolucionários, se espalham aos milhares pela China, pregando as ideias de Mao e propondo contestação implacável da ordem política existente” (BEZERRA, 1987, p.74).

65 Os Comitês da Tríplice Aliança deveriam assumir progressivamente o poder ocupado pelos Comitês Revolucionários (Rebeldes Revolucionários), com representantes do EPL e membros confiáveis do PCC (BEZERRA, 1987, COGGIOLA, 1985).

66 “Os guardas vermelhos deveriam ver a Revolução Cultural como a luta de uma classe para derrubar outra e não poupar ninguém nessa luta; ao contrário de 1949, quando o PCC tivera de mostrar alguma cautela na tomada de poder, para não afastar os centristas e liberais, em 1967 ‘tudo que não se encaixe no sistema socialista e na ditadura do proletariado dever ser atacado’” (SPENCE, 1995, p.571). 67 “Milhares de intelectuais e outros foram espancados até morrer, ou morreram em consequência dos ferimentos. Incontáveis outros cometeram suicídio [...] depois de tentar inutilmente evitar as pressões da Guarda Vermelha destruindo suas bibliotecas e coleções de arte. Outros milhares ficaram presos durante anos, muitas vezes em celas solitárias. Milhões foram deslocados para o campo, a fim de se purificar através do trabalho” (SPENCE, 1995, p. 570-571).

68 “As técnicas de humilhação pública tornaram-se cada vez mais complexas e dolorosas, com as vítimas forçadas a desfilar pelas ruas com ‘orelhas de burro’ ou com cartazes auto-incriminadores pendurados no pescoço, recitar suas autocríticas diante de multidões zombeteiras e ficar durante horas com as costas curvadas e os braços abertos no que era chamada de ‘posição do avião’” (SPENCE, 1995, p.570).

Porém, como consequência, a educação superior ficou extinta por uma década e a vida intelectual abolida pelo dogmatismo. E jovens estudantes69 descontentes foram

retirados das cidades para trabalhar nos campos (ANDERSON, 2010; COGGIOLA, 1985; SPENCE 1995). Houve o envio de 17 milhões de jovens das cidades para as áreas rurais e expurgos que se caracterizaram pelo afastamento dos dirigentes do alto escalão do partido e do Estado, sem deportações (NABUCO, 2009). Os expurgados foram enviados para um “campo de reeducação”, dentre eles Deng Xiaoping e Liu Shaoqi, ambos destituídos de todos os seus cargos e expulsos do PCC (COGGIOLA, 1985).

A transformação espiritual e social terá de ser realizada, portanto, pela educação na moralidade socialista, elevação da consciência política, acompanhadas da conversão prática das teorias aprendidas, para que não se reduzam a mero verbalismo. Estudar, compreender e, especialmente, aplicar (com ênfase nessa causalidade ideia-ação) a soma de teoria e prática revolucionária, hoje conhecida como o Pensamento de Mao Tsé-tung, é corretamente, dialética e cientificamente, como convém a um marxista- leninista. Hoje, setecentos milhões de pessoas estão aprendendo a pensar e a agir, usando o método de Mao como seu guia (SUYIN, 1968, p.130).

Em 1969, o PCC foi reestruturado no IX Congresso e uma nova força ressurgiu frente ao Pensamento de Mao Tsé-tung, dissolvendo-se o Grupo Central da Revolução Cultural. Em 1970, devido aos dissabores de uma ascensão política, Lin Piao voltou- se contra Mao, numa tentativa de Golpe de Estado. Não obtendo sucesso, Lin foi destituído do PCC e, na tentativa de fuga para a URSS, morreu em um acidente aéreo (BEZERRA, 1987; SUYIN, 1968).

Entre 1971 e 1972, período de conciliação com os países ocidentais por meio da política de abertura e de acordos comerciais, Mao encarregou Zhou Enlai - hábil diplomata e conciliador entre as distintas vertentes internas no PCC - para coordenar a visita de Nixon à China70. No intuito de ajudar nesse processo, em 1973, Deng

69 “As investigações nas universidades e escolas de ensino superior, nas cidades, causaram um choque; após dezessete anos de China socialista, mais de 40% dos estudantes ainda eram provenientes de famílias burguesas, ex-latifundiários e capitalistas, se bem que estes não representassem mais de 5% da população. Contudo, na Universidade de Yunnan (Kumming), em 1962, foi-me declarado repetidas vezes que mais de 80% dos estudantes provinham de famílias operárias e camponesas. Mas isso não era verdadeiro em relação a certas universidades, como a de Pequim; no Instituto de Música de Xangai [Shanghai], um amigo contou-me que 90% dos estudantes eram de origem burguesa ou pequeno-burguesa no começo de 1966” (SUYIN, 1968, p.185).

70 “[...] Em 1971, o enviado dos EUA, Henry Kissinger, visita à China e prepara a viagem de Nixon, que viria a ser, no ano seguinte, o primeiro presidente norte-americano a visitar a China comunista. Na esteira da reconciliação com os Estados Unidos, a China é admitida na ONU, da qual é excluída Formosa [Taiwan], ainda governada por Chiang Kai-shek” (COGGIOLA, 1985, p. 63).

Xiaoping é reabilitado no partido e readmitido em suas funções diretivas. Ou seja, houve a tentativa de seguir uma “linha média” entre as duas correntes contraditórias de direção política no interior do PCC para o avanço das forças produtivas na China (BEZERRA, 1987). Nesse sentido, no X Congresso do PCC, reafirmaram-se os pontos positivos da Revolução Cultural e a definição de um plano de modernização econômico-social para a China (COGGIOLA, 1985).

Em termos de economia prática, a Revolução Cultural produz e fornece o ímpeto revolucionário preciso para se realizar o avanço econômico durante o período do Terceiro Plano Quinquenal (1966-70). Significa uma reorganização de alto a baixo de todos os departamentos, fábricas, usinas, organizações industriais e comunas; um surto na produção foi registrado nos primeiros meses da inovação. Este segundo salto visa à consolidação de todos os ganhos adquiridos durante os últimos dezessete anos, somados à outra aceleração do desenvolvimento, a fim de promover uma taxa de crescimento econômico ainda maior e isto, claro, associado a remodelação ideológica das motivações que está agora tendo lugar (SUYIN, 1968, p. 203).

Para Han Suyin (1968), no Terceiro Plano Quinquenal aplicou-se a política de se caminhar “em duas pernas” tanto para a indústria quanto para a agricultura: uma parte mecanizada e a outra parte com a intensa utilização de recursos humanos. O desenvolvimento industrial favorecia tanto a indústria pesada (grande escala) quanto a indústria leve (de grandes e médias dimensões), ambas financiadas pelo Estado. As fábricas de pequenas proporções apresentaram-se em maior número nas comunas, para o processamento de produtos agrícolas. Realizou-se um esforço de utilizar a combinação de fábricas altamente sofisticadas e de tipo arcaico, como, por exemplo, “numa fábrica de enlatados, a carne será processada com a máxima eficiência e o produto final transportado para os depósitos em carrinhos de mão” (SUYIN, 1968, p.89).

Com autonomia, as fábricas e as indústrias continuaram submetidas às autoridades locais e provinciais. Entretanto, esse grau de independência da elaboração global do planejamento econômico contribuía para que algumas regiões se desenvolvessem mais rapidamente que outras, devido às dificuldades de abastecimento, localização, transportes, disponibilidade de pessoal, equipamentos e uso dos fundos. Mas, a partir de uma análise geral, houve a expansão da produção social e do equipamento técnico avançado. Nas palavras de Han Suyin (1968):

A China pode construir maquinaria para indústria, agricultura, defesa, transporte e pesquisa científica. Pode produzir todos os tipos de veículos

motorizados, navios, aviões, máquinas-ferramentas de alta precisão, instrumentos de medição, locomotivas e fábricas completas de tecidos. Produz materiais sintéticos, plásticos, computadores, prensas hidráulicas; é capaz de instalar fábricas de fertilizantes químicos, usinas siderúrgicas e refinarias, sem pedir ajuda de quem quer que seja. Fábricas completas estão sendo vendidas para o estrangeiro, e a China está também comprando fábricas completas. É capaz de projetar independentemente e construir modernos poços de carvão com uma produção anual de um milhão de toneladas cada, unidades integradas de ferro e aço com uma capacidade anual de produção de 1,5 milhões de toneladas de aço, fábricas de fertilizantes químicos, cada uma capacidade anual produtiva de 25.000 toneladas de amônia sintética, vários tipos de fábricas para a construção de maquinaria pesada, usinas elétricas com uma capacidade de 650.000 quilowatts, etc. (SUYIN, 1968, p. 92-93).

Com o passar do tempo um novo equilíbrio regional foi alcançado, com a mobilidade maciça de mão-de-obra destinada a construção de vias de comunicação e obras de infraestrutura, permitindo que as indústrias implantadas em áreas escassamente povoadas pudessem criar ou obter por meio de contrato com as comunas circunvizinhas os itens necessários na sua cesta alimentícia. Essa orientação criou novos povoados que se tornaram centros de comunicação (ferrovias, rodovias e aerovias) e importantes centros econômicos agroindustriais no interior da China. Essa medida transformou paisagens antes desérticas em base industrial, agrícola e mineradora a partir do florestamento e da drenagem e irrigação mecanizada. Faculdades de medicina, institutos técnicos e outras escolas foram transferidas de Pequim, Shanghai e outras cidades para essas novas regiões industriais para atender a necessidade de operários especializados (SUYIN, 1968).

As comunas, no âmbito do Terceiro Plano Quinquenal, concentraram-se na melhoria da irrigação e de recuperação do solo, com fertilizantes e técnicas agronômicas e científicas. A finalidade foi de elevar as safras, com lavouras intensivas e rotação de culturas. Para isso, concentrou-se a mão-de-obra na construção de represas, produção de energia hidrelétrica, construção de canais navegáveis e de irrigação. Estes projetos ficaram sob a reponsabilidade das comunas71, desde o seu

financiamento até a disponibilidade de pessoal. O Estado participava dos

71 “Cada comuna administra o seu próprio orçamento, que é dividido em fundos de acumulação (ou de reserva) e de consumo; a acumulação (investimento de capital) para construções é cerca de 5%; 60% do orçamento comunal destina-se ao pagamento aos membros da comuna” (SUYIN, 1968, p.68). O pagamento de salário era realizado por sistema de pontos, resolvendo o problema da monetarização do camponês, além da distribuição de itens básicos como alojamento, água e hortaliças (SUYIN, 1968).

investimentos de infraestruturas voltadas para obras de controle de enchentes dos grandes rios (SUYIN, 1968).

No término dessas grandes obras, o contingente de pessoal72 era deslocado para o

trabalho nas indústrias das comunas e do Estado. Ainda nas comunas haviam postos veterinários, centros de pesquisas agronômicas, bibliotecas, grupos culturais, hospitais, clínicas, escolas primárias (e em algumas escolas de ensino médio) e oficinas: de manutenção e reparação73, de construção civil, de carpintaria, de moinhos

de farinha, materiais industriais e artesanais (SUYIN, 1968).

Nesse contexto, houve melhorias na qualidade de vida da população chinesa, estando melhor alimentada e vestida, com maior poder de consumo de produtos em lojas e mercados. Eric Hobsbawm (1995) faz uma comparação entre o início e o final do período de Mao, ressaltando:

[...] na época da tomada comunista (dados de 1952), o chinês médio vivia essencialmente com meio quilo de arroz ou grãos por dia, e consumia pouco menos de 0,08 quilo de chá por ano. Adquiria um novo par de calçados a cada cinco anos, mais ou menos (HOBSBAWM, 1995, p.449).

No fim do período de Mao, o consumo médio de alimento chinês (em calorias) estava pouco acima da média de todos os países, acima de catorze países nas Américas, 38 na África e mais ou menos metade dos asiáticos – bem acima do sul e sudeste da Ásia, com exceção da Malásia e Cingapura [...] A expectativa de vida média de nascimento subiu de 35 anos em 1949 para 68 em 1982, sobretudo devido à impressionante e – exceto nos anos da fome – contínua queda da mortalidade. Como a população chinesa, mesmo descontando-se a grande fome, aumentou de cerca de 540 milhões para cerca de 950 milhões entre 1949 e a morte de Mao, é evidente que a economia conseguiu alimentá-los – um pouco acima do nível de começos da década de 50 – e melhorou ligeiramente o seu nível de roupas [...] A educação, mesmo no nível elementar, sofreu tanto com a fome, que reduziu a frequência de 25 milhões, quanto com a Revolução Cultural, que a reduzira em 15 milhões. Apesar disso, não há como negar que no ano da morte de Mao seis vezes mais crianças iam à escola primária do que quando ele chegou ao poder – isto é uma taxa de matrícula de 96%, comparada com menos de 50% mesmo em 1952 (HOBSBAWM, 1995, p.455).

Estas melhorias foram relacionadas ao aumento da produtividade, industrial e rural, do pagamento mensal dos salários e de prêmios em função de produtividade; e a

72 “A participação dos quadros urbanos, de intelectuais e estudantes, em todas essas obras e planos de construções, está ajudando a unificar o país e a realizar o necessário nivelamento entre o trabalho intelectual e manual, o que também faz parte da remodelação da China” (SUYIN, 1968, p. 65). 73De “tratores, barcaças, barcos e equipamento de pesca, material ferroviário, etc.” (SUYIN, 1968, p.68).

política de pouca diferenciação/variação salarial entre os trabalhadores. (BETTELHEIM, 1965).

No âmbito da assistência à saúde, as redes de hospitais e clínicas das comunas contribuíram para dotar os camponeses e operários de sistemas sanitários, com realizações de medidas públicas em escala nacional, com uma orientação também para o planejamento familiar, tratou-se do Sistema Médico Cooperativo (CMS), Sistema de Saúde Trabalhista (LIS) e Sistema de Saúde Governamental (GIS). Estes sistemas estimularam:

Processos informais de multiplicação da Medicina milenar chinesa, a partir da formação e da difusão do conhecimento dos chamados médicos de pés descalços. Ao lado da modernização da Medicina, os médicos comunitários faziam o atendimento à saúde familiar com o patrimônio natural e cultural que dispunham em cada comunidade. Com esses instrumentos improvisados, foi possível erradicar várias das doenças endêmicas que se multiplicaram na China durante o período das guerras sucessivas (GOMES, 2016, p. 95).

Porém, os avanços à assistência de saúde e o modo de vida dos chineses sofreram transformações decorrentes das medidas políticas e econômicas implementadas por Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tsé-tung e frente à conjuntura internacional, especialmente as décadas de crise após 197374. Em outras palavras, a China teve

que rever suas políticas interna e externa, para sua integração ao mercado mundial, diante da nova investida dos Estados Unidos e da pressão exercida pelas hostilidades com a URSS (GOMES, 2016).

74 “[...] o fato fundamental das Décadas de Crises não é que o capitalismo não mais funcionava tão bem quanto na Era de Ouro, mas que suas operações se haviam tornado incontroláveis. Ninguém sabia o que fazer em relação aos caprichos da economia mundial, nem possuía instrumentos para administrá- la. O grande instrumento para fazer isso na Era de Ouro, a política de governo, coordenada nacional ou internacionalmente, não funcionava mais. As Décadas de Crise foram a era em que os Estados nacionais perderam seus poderes econômicos” (HOBSBAWM, 1995, p.398). E “o que tornava os problemas econômicos das Décadas de Crise extraordinariamente perturbadores, e socialmente subversivos, era que as flutuações conjecturais coincidiam com convulsões estruturais [...] A tendência geral da industrialização foi substituir a capacidade humana pela capacidade das máquinas, o trabalho humano por forças mecânicas, jogando com isso pessoas para fora dos empregos [...] O crescente desemprego dessas décadas não foi simplesmente cíclico, mas estrutural” ((HOBSBAWM, 1995, p.402-403).

CAPÍTULO 2

NOS RUMOS DO “SOCIALISMO COM CARACTERÍSTICAS CHINESAS” DE