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A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA POLÍTICO

A TRAJETÓRIA DO SOCIALISMO DE MAO TSÉ-TUNG (1949-1978)

1.1. A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA POLÍTICO

O governo da República Popular da China (RPC), em 1949, organizou-se a partir de três componentes centrais: O partido Comunista (PCC), a estrutura governamental formal e o Exército Popular de Libertação (EPL)22. O primeiro orientava, coordenava

e supervisionava os aspectos ideológicos dos demais componentes, na medida em que integrava todos os órgãos governamentais, os tribunais de justiça, os sistemas educacionais e o exército.

As seções regionais do partido eram coordenadas pelo Comitê Central, que possuía 44 membros em 1949; catorze deles constituíam o Politburo [Bureau Político], que era dirigido efetivamente pelos cinco membros de sua ‘comissão permanente’ [...] Esse grupo era composto pelo presidente do PCC, Mao Zedong [Tsé-tung], Liu Shaoqi, Zhou Enlai, Zhu De e Chen Yun (SPENCE, 1995, p.494).

A estrutura formal do governo era constituída por duas instituições: o Conselho Central do Governo Popular23 e o Conselho de Estado24 (SPENCE, 1995). Instituía os

sistemas de consulta pública a partir das Assembleias Nacionais Populares (apresentava também um Comitê Permanente) e das Conferências Consultiva Política do Povo Chinês (DONG, 2004, VARGAS, 2015).

A estrutura de governo formal sobrepunha-se e se interligava constantemente com a organização do PCC, e ambos estendiam sua influência através de organizações de massa destinadas a ligar o país inteiro por cima de linhas regionais, por meio de algum foco especial ou interesse compartilhado (SPENCE, 1995, p. 496).

22 Estava sob o comando do Comitê Central Militar do PCC (SPENCE, 1995).

23 Constituído por um presidente – Mao Tsé-tung –, e 6 vice-presidentes (SPENCE, 1995).

24 Zhou Enlai era o primeiro-ministro e comandava 24 ministérios: agricultura, comunicações, cultura, educação, finanças, indústrias, alimentícias, negócios exteriores, florestas, combustível, indústria pesada, negócios internos, justiça, trabalho, leis, indústria leve, minorias nacionais, negócios chineses no exterior, correios e telecomunicações, saúde pública, segurança pública, ferrovias, indústria têxteis, comércio e conservação de água (SPENCE, 1995).

O Exército de Libertação Popular (ELP) tinha o seu poder implantado nas seis regiões25 políticos-militares que em a China fora dividida em 1949, por meio de um

comandante militar e um comissário político do exército. Em cada uma dessas regiões também havia um presidente de governo e um primeiro-ministro (SPENCE, 1995). Em 1954, houve a reorganização da estrutura do governo avançando para um sistema fortemente centralizado para a implementação das decisões do Comitê Central do PCC. O exército ficou sob a direção de um novo Ministério da Defesa, do Conselho de Estado de Pequim. E o país fora administrado a partir de 21 províncias26, cinco

regiões autônomas27 e duas municipalidades28, dentre as quais se encontrava

Pequim, a sede do Governo Central da RPC. Cabe ressaltar que:

Os governos provinciais tinham suas estruturas e prioridades próprias, que não se combinavam necessariamente com as estruturas e prioridades de Pequim. A vida política de determinada província era dirigida por três autoridades: o primeiro secretário do partido, o governador e o oficial mais graduado do ELP – o comandante regional, se seu quartel-general fosse na capital da província, ou um oficial de alta patente da região militar em que estava localizada a província. Essas três autoridades eram responsáveis por diferentes aspectos da vida da província. O secretário do PCC controlava o trabalho ideológico, campanha de massas, políticas rurais e designação de pessoal; o governador supervisionava a educação e o desenvolvimento econômico; o oficial do ELP não cuidava apenas das necessidades militares, mas também de várias atividades econômicas (fábricas, minas, comunicações) quando estivessem ligadas a necessidades específicas do exército e programas estratégicos. Controlava também as troupes culturais do ELP e muitos aspectos da segurança interna. O equilíbrio de força entre as três autoridades variava de província para província, dependendo de quem fosse a personalidade dominante ou tivesse os melhores contatos em Pequim (SPENCE, 1995, p. 644-645).

As três autoridades provinciais tinham cada uma sua própria equipe de especialistas e burocracia supervisionando o funcionamento da província através de níveis descendentes de comando, das cidades aos condados e comunas ou distritos (SPENCE, 1995, p. 645).

Apesar de nem todos os membros participantes das organizações no regime político na República Popular da China serem integrantes do Partido Comunista, todos eram experimentados na luta revolucionária na reconstrução do país (SPENCE, 1995). Como já citado outrora: “O governo é composto por um Presidente, Mao Tsé-tung, por

25 Birô do Nordeste, do Noroeste, do Norte, do Leste e do Centro-sul (SPENCE, 1995, p.496). 26 Mais tarde Taiwan iria constituir-se como a 22ª província (SPENCE, 1995, p. 514).

27 Xinjiang, Tibete, Mongólia Interior, Ningxia e Guangxi (SPENCE, 1995, p. 514). A autonomia étnica regional foi concedido na China, o que significa que dentro dos territórios das minorias étnicas da China, sob a liderança de um estado unificado, estas podem administrar assuntos internos e criar agências administrativas nas comunidades, dentro de suas próprias áreas (WHO, 2015).

6 vice-presidentes, sendo três comunistas29 e três não-comunistas30 e mais 56

membros31” (BEZERRA, 1987, p.58-59).

Logo, a composição dessas alianças a partir de forças sociais e políticas tão distintas (comunistas, liberais, classe média, pequena burguesia e estudantes) vão constituir as contradições internas à direção política da Nova República. De um lado, porque nem todos desejavam mudanças profundas nas estruturas inspiradas nas ideias socialistas. E de outro, porque no interior do próprio Partido Comunista havia disputas entre os líderes sobre duas linhas que o movimento socialista deveria direcionar-se: 1) uma baseada no modelo dos sovietes russos, onde o proletariado conduziria os camponeses à revolução socialista; 2) a outra corrente em que a China deveria criar e valorizar seu próprios caminhos rumo ao socialismo. A primeira linha conduziu as ações do Governo nos primeiros anos após a Revolução (BEZERRA, 1987).