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A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA POLÍTICO NO MODELO DA “GERAÇÃO” Num contexto de tensões e contradições, anteriormente citadas, o Partido Comunista

O LEGADO DO SOCIALISMO DO TIPO CHINÊS: JIANG ZEMIN (1993-2003) E HU JINTAO (2003-2013)

3.1. A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA POLÍTICO NO MODELO DA “GERAÇÃO” Num contexto de tensões e contradições, anteriormente citadas, o Partido Comunista

Chinês aproximava-se do momento de substituir suas lideranças, no início dos anos de 1990. Para este fim e de maneira a garantir seus planos à China, Deng Xiaoping recorreu ao modelo da “geração”, como tática de renovação continuada do desempenho diretor do PCC. Em sua visão, o modelo caracteriza-se por:

coortes de dirigentes estruturados num encadeamento de gerações, cada uma com atuação previsível de dez anos, iriam levando adiante, indefinidamente, a tarefa do desenvolvimento e da modernização tecnológica da China. A cada geração cabia adequar a realidade social, econômica e política do país às mutantes exigências domésticas e do quadro internacional. Ao personagem reconhecido como o núcleo de cada geração competiria velar pela compatibilidade organizacional do partido com os ajustamentos introduzidos por sua coorte. Dessa maneira, tornava-se possível antecipar o gradual acúmulo de conquistas concretas, através das quais o PCC legitimaria continuamente sua presença na governança do regime (OLIVEIRA, 2003, p.144).

Apesar de Deng Xiaoping se intitular como da Segunda Geração e Mao Tsé-tung da Primeira, esse modelo obteve sucesso com a ascensão de Jiang Zemin, representando a Terceira Geração. Cabe ressaltar que houve certa desconfiança se o sucessor de Deng Xiaoping sobreviveria à frente do PCC e do Governo da RPC. Alguns políticos céticos de Pequim, jornalistas e acadêmicos estrangeiros acreditaram que ele não subsistiria no poder após a morte de Deng122. Entretanto, Zemin

demonstrou “aptidões insuspeitadas de paciência, flexibilidade e ardileza política” (OLIVEIRA, 2003, p.144).

A ascensão de Jiang Zemin como chefe de Estado na China foi possível por meio das mudanças implementadas ainda no período de Deng Xiaoping, em 1988, ao reestruturar o sistema de controle dos quadros (OLIVEIRA, 2003).

Se na era de Mao as credenciais para o apogeu no Comitê Central do PCC e no governo estavam intrinsecamente relacionadas ao desempenho na Revolução e a firmeza ideológica ao socialismo, nos finais da década de 1980, “com a remodelação do regime promovida por Deng Xiaoping, passaram a ser favorecidos os ‘engenheiros vermelhos’, militantes convictos e com formação universitária” (OLIVEIRA, 2003, p.139).

[...] Deng Xiaoping prepararia a sua sucessão tendo como objetivo a ascensão de líderes que combinassem boa formação técnica e uma capacidade de adequação no novo sistema de poder na China, menos personalista e mais institucionalizado, com renovação periódica dos cargos mais altos do Estado e do Partido e um processo decisório mais fundado na busca de consensos entre um pequeno colegiado do que na vontade de um líder incontestável (LYRIO, 2010, p.94).

A ascensão de líderes com a formação mais tecnocrática, de maneira a erradicar os males do sistema político em vigor, eximia a participação na Longa Marcha e nos primeiros anos da Revolução na China. Deng, ao implementar os novos parâmetros no sistema chinês, alcançou o apoio necessário à eleição de Jiang Zemin, que ocupou os principais cargos no Partido e no governo da República Popular da China123. Isto,

após apresentar suas credenciais, ao promover um significativo crescimento

123 “Na 4ª sessão plenária do 13º comitê Central do Partido Comunista da China, realizada em junho de 1989, Jiang Zemin foi eleito membro da Comissão Permanente do Birô Político e secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da China. Em novembro do mesmo ano, foi eleito presidente da Comissão Militar do Comitê Central na 5ª sessão plenária do 13º Comitê Central do Partido. Em março de 1990, foi eleito presidente da Comissão Militar Central da República Popular da China na 3ª sessão plenária da 7ª Assembleia Popular Nacional. No 14º Congresso Nacional do partido Comunista da China, realizado em outubro de 1992, realizou o informe político intitulado ‘Acelerar a reforma e abertura e a modernização e conquistar maiores vitórias para a causa do socialismo do tipo chinês’, formulou a definição, em todo o Partido, da posição orientadora da teoria de Deng Xiaoping sobre a construção do socialismo tipo chinês, determinou a construção de um sistema de economia de mercado socialista com o objetivo da reforma do sistema econômico da China [...] Na primeira sessão plenária do 14º Comitê Central do Partido Comunista da China, foi reeleito membro da comissão Permanente do Birô Político, secretário-geral e presidente da Comissão Militar do Comitê Central. Em março de 1993, na primeira sessão plenária da 8ª Assembleia Popular Nacional, foi eleito presidente da República Popular da China e reeleito presidente da Comissão Militar da República Popular. No 15º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, realizado em setembro de 1997, fez o informe político sob o título ‘Manter no alto a grande bandeira da teoria de Deng Xiaoping para impulsionar em todos os sentidos a causa da construção do socialismo do tipo chinês rumo ao século XXI’, expondo ainda mais a posição histórica da teoria de Deng Xiaoping e sua importância orientadora, esclarecendo o programa básico do Partido Comunista da China na fase inicial do socialismo, além de fazer uma disposição geral e uma exposição profunda sobre a reforma e abertura e o desenvolvimento transecular da modernização. Na primeira sessão plenária do 15º Comitê Central do Partido, foi reeleito mais uma vez membro da Comissão Permanente do Birô Político, secretário-geral e presidente da Comissão Militar do Comitê Central do Partido Comunista da China. E na primeira sessão plenária da 9ª Assembleia Popular Nacional da China, realizada em março de 1998, foi reeleito de novo presidente da República Popular da China e presidente da sua Comissão Militar Central” (JIANG, 2002, p. 8).

econômico na região de Shangai, e ao reprimir as manifestações locais de oposição ao PCC (MARTI, 2007; LYRIO, 2010).

Ainda em 1989, Jiang Zemin reconheceu que o sistema político passava por um processo de aperfeiçoamento gradual de maneira a proporcionar, no futuro, a democratização da vida política, econômica, cultural e social da China (JIANG, 2002). Entretanto, no seu mandato não empreendeu grandes mudanças na estrutura política do PCC e no sistema decisório (LYRIO, 2010).

As mudanças realizadas alteraram o sistema de responsabilidade de quadros, modificando as relações verticais antes constituídas como as bases decisórias e de avaliações, tanto no Partido quanto as esferas com a sua influência (VARGAS, 2015). A nova lógica decisória incorporou estruturas de monitoramento e avaliação de desempenho124 governamental por meio da lógica das reformas de mercado125, ou

seja: descentralização de comando, contratos de trabalho, instituição de metas quantitativas, introdução da concorrência entre os burocratas estatais, emprego de incentivos econômicos e o conceito dos clientes.

Ele [Zemin] está determinado a ter sempre em mente a grande responsabilidade que o Partido Comunista da China e o povo chinês lhe dão e a empenhar-se em lutar para consolidar e desenvolver a construção do socialismo do tipo chinês, criado pelos revolucionários proletários da velha geração para transformar a China em um país socialista moderno próspero,

124 “A nova sistemática de avaliação de desempenho passou a ordenar os objetivos classificando-os de flexíveis, centrais e prioritários, sendo os últimos com poder de cancelar todos os demais, caso não atingidos. Dessa forma passaram a ser implementadas as políticas chave e as prioridades do nível central e condados, com destaque para os resultados econômicos e a estabilidade social – esta última classificada como objetivo prioritário e os primeiros geralmente classificados como objetivos centrais. Os resultados econômicos passam a ser a base do sistema de bonificações e promoções dos quadros, bancadas pelas receitas que os próprios distritos gerassem, com montante variável segundo ‘rankings’ coletivos por distrito, sendo pagos a todos os quadros do mesmo. A rotação de líderes entre níveis administrativos e geográficos, antigo artifício, mantêm-se como um meio complementar de garantir fidelidade dos quadros às orientações estratégicas do PCCh [...]. Uma alteração particular foi a instituição de contratos de desempenho pessoal e coletivo cujos conteúdos refletem tanto prioridades centrais quanto de autoridades locais. Os secretários de Partido e os líderes do governo em nível dos distritos passaram a assinar contratos de responsabilidade pessoal junto aos condados bem como contratos coletivos entre distritos e condado (VARGAS, 2015, p. 169).

125 “Ao invés do controle de amplos objetivos, como antes se dava, este passou a ocorrer com base em poucos objetivos selecionados como fundamentais, tendo o desempenho econômico como base sendo seletivo também em termos de localidades mais prósperas e de indivíduos. Por outro lado, o Partido flexibilizou drasticamente os mecanismos de controle das esferas não prioritárias bem como no que tange aos meios de lideranças locais alcançarem os objetivos, o que deu ampla liberdade às mesmas” (VARGAS, 2015, p.169).

democrático e civilizado, e por uma vida rica e bela para todo o povo chinês (JIANG, 2002, p.10).

No governo de Jiang Zemin, utiliza-se, de forma mais sistemática, as práticas gerencialistas de influência ocidental em organizações públicas. Estas práticas, de caráter tecnocrático e economicista, buscavam a formalização de processos, de maneira a adaptar-se ao modo chinês. Entretanto, no que tange às orientações estratégicas, estas permaneceram direcionadas e centralizadas pelo PCC, sendo a descentralização voltada à dimensão micro-organizacional às lideranças locais. Estas, sob os olhares da Comissão Central de Inspeção Disciplinar126 e com a

responsabilidade de ampliar a democracia por meio dos Comitês de Aldeia127,

formalizados pela Assembleia Nacional Popular em 1998 (VARGAS, 2015).

Prevaleceu na terceira geração, e ainda prevaleceu na quarta geração de líderes comunistas, a visão de que a base das mudanças deve ser a própria transformação, de dentro para fora, das estruturas governamentais e partidárias, e de que um processo controlado e medido de reformas institucionais permitirá o aperfeiçoamento do PCC e do Estado chinês, à maneira de uma máquina que se autorreforma e prescinde estímulos externos na forma de eleições amplas ou da convivência em pé de igualdade entre os poderes (LYRIO, 2010, p.100).

Nessa perspectiva, as reformas políticas implementadas pelo líder da 3ª e da 4ª geração consistiram muito mais na realização de mudanças administrativas e organizacionais, principalmente no interior do Estado e do Partido. A primeira reforma inaugurada com o próprio Zemin, foi a concentração dos três cargos mais importantes do Partido e do Estado (a Secretaria Geral do Partido, a Presidência da RPC e a Presidência da Comissão Militar Central do PCC), limitados a dois mandatos de cinco anos, com a restrição de idade máxima de 60 anos para o início do primeiro mandato128. Com o compromisso de elevar, durante esse período, os próximos

sucessores a altas funções do Partido e do Estado, como acontecera com Hu Jintao e o Primeiro-Ministro Wen Jiabao, e Xi Jinping e Li Kexiang, respectivamente (LYRIO, 2010).

126 Esta Comissão tinha como responsabilidade restringir os abusos dos líderes locais como também “estimular os processos participativos especialmente em nível da aldeia como um mecanismo complementar para fiscalizar e avaliar os líderes locais do governo e do PCCh, englobando nas consultas especialmente representantes de moradores das aldeias e gerentes de empresas chaves em nível dos distritos” (VARGAS, 2015, p. 171).

127 A intenção era estimular a participação decisória dos habitantes das aldeias (VARGAS, 2015). 128 Para a reeleição de Jiang Zemin em 1997 foi feita uma exceção na medida em que ele iniciou seu segundo mandato com 71 anos (LYRIO, 2010).

Outra reforma consistiu no crescente papel do Congresso Nacional do Povo (CNP), com a atribuição de discutir e ter a garantia de poder de veto às iniciativas do Partido, e não somente de endossar as propostas discutidas nos Congressos quinquenais do PCC. Assim, o CNP tornou-se uma “instância cada vez mais autônoma e critica na avaliação das atividades políticas de governo” (LYRIO, 2010, p. 102).

Na relação entre Estado e a sociedade, a principal reforma referiu-se à introdução de eleições em nível local, cuja lei foi implementada em meados da década de 1990, com a possibilidade de candidaturas de pessoas não-filiadas ao PCC129. Os sistemas de

eleições locais organizaram-se em mais de 60% dos povoados na década posterior à aprovação da Lei (LYRIO, 2010).

A última medida proposta por Jiang Zemin foi a “Tríplice Representatividade” ou “As Três Representações”. Esta foi anunciada no dia 1º de julho de 2001, no discurso de Zemin, em Celebração ao 80º aniversário da fundação do Partido Comunista, e sua aprovação ocorreu no 16º Congresso Nacional, no ano de 2002. Segundo autores como Ivan Quagio (2009) e Mauricio Lyrio (2010), talvez esta seja a mais polêmica das reformas, porque permitiu a filiação de empresários, diretores de multinacionais, banqueiros, comerciantes ricos, além de profissionais técnicos e intelectuais que representassem as forças produtivas avançadas na China à estrutura social do PCC. Quanto ao ELP, vale relembrar que no período maoísta, num primeiro momento, caracterizou-se como um dos componentes da estrutura da RPC, com os seus dirigentes ocupando altos postos no Partido e no Governo. Após o Grande Salto e a Revolução Cultural, houve as divergências entre os membros do PCC e do ELP. Já na era de Deng, foi realizada a reorganização do exército, em especial após as manifestações na Praça de Tiananmen, com o intuito de subordinar o exército às diretrizes do PCC. A missão do Exército do Povo passou a ser a de “garantir a

129 “Os próprios esforços do PCC, no sentido de renovar-se ideologicamente com a incorporação de elementos tradicionais do pensamento chinês e de pluralizar-se por meio da cooptação de forças sociais emergentes, como os empresários e os estudantes, também contribuem para o sucesso do Partido em sua estratégia de reformar para não mudar, ou seja, em seu propósito de promover mudanças administrativas, sucessórias e eleitorais limitadas para não ter de alterar a estrutura fundamental do jogo político, em que o PCC continua a exercer o monopólio do poder na China” (LYRIO, 2010, p. 191).

execução das políticas econômicas referentes à reforma e à abertura” (MARTI, 2007, p.199-200). E assim, manteve-se na Terceira geração, enquanto legado de Deng130.

Estas reformas também prevaleceram e continuaram a ser implementadas durante a quarta geração, sob a liderança de Hu Jintao131. Tanto este como Jiang Zemin foram

mais cautelosos às mudanças políticas do que Deng Xiaoping. De acordo com Jonathan Spence (1995) e Maurício Lyrio (2010), Deng não só estabilizou a China do ponto de vista institucional, como também consolidou um sistema sucessório na República Popular da China.

Sintoma maior que a estratégia de Deng teve êxito foi o fato de que, em 2002, cinco anos depois de sua morte, ocorreu, pela primeira vez na história do período republicano, um processo sucessório na China relativamente ordeiro e previsível, com a transição da terceira geração de líderes comunistas, a de Jiang Zemin, para a quarta geração, a de Hu Jintao (LYRIO, 2010, p. 96).

Este fato foi o que contribuiu para consolidar o compromisso entre Hu Jintao e Jiang Zemin e suas respectivas bases políticas. Isto de maneira a confirmar o segundo mandato quinquenal de Hu, como também a linha sucessória à quinta geração, cujos líderes ocuparam posições dentro do Comitê Permanente do Politburo, durante o 17º Congresso do PCC, realizado no ano de 2007 (LYRIO, 2010).

Hu Jintao prometeu dar continuidade às políticas de Jiang Zemin na construção do socialismo do tipo chinês, de modo a seguir: os rumos da reforma e abertura, a economia do socialismo de mercado, a reconstrução das instituições jurídicas de base legal socialista, a modernização socialista, além de reforçar o poder do Partido Comunista chinês num sistema de cooperação multipartidária por meio da democracia

130 De maneira geral, a transição do governo de Deng Xiaoping para Jiang Zemin foi tranquila, considerando que foi possível conter seus opositores e manifestações. Agências internacionais de direitos humanos não conseguiram com que os governos de seus países formalizassem uma sanção rigorosa e impetuosa contra a China com referência as ações praticadas na Praça Tiananmen. De acordo com Jonathan Spence (1995), talvez a única manifestação de um sentimento antichinês fora a rejeição, em 1994, apesar “dos esforços políticos e de relações públicas da China no sentido de ser a sede dos jogos olímpicos no ano de 2000” (SPENCE, 1995, p.695).

131 Deng Xiaoping foi o principal responsável pela escolha não apenas de Jiang Zemin, mas também do sucessor deste, Hu Jintao, que assumiria o poder em 2002. Em comum entre os líderes havia a formação tecnocrática, a moderação ideológica, certo conservadorismo político e a capacidade de compromisso dentro do Partido. As indicações de Jiang e Hu por Deng pareciam demonstrar a intenção de privilegiar sucessores capazes de trilhar uma linha intermediária entre os dois extremos. De um lado, a chamada “nova esquerda”, que criticava a abertura econômica e o privatismo, que chegou a clamar, nos anos 1990, pela volta à coletivização do “Grande Salto Adiante” e à democracia direta da “Revolução Cultural”, e de outro, os intelectuais liberais, na sua maioria fora do PCC, que defendiam reformas políticas mais ousadas (LYRIO, 2010, p.95).

socialista. Isto respeitando os quatros princípios fundamentais: 1) seguir o caminho para o socialismo; 2) defender a ditadura do proletariado; 3) sustentar a liderança do PCC; e, 4) salvaguardar o pensamento do marxismo-leninista, de Mao Tsé-tung, de Deng Xiaoping e a teoria da “Tríplice Representatividade” de Jiang Zemin (LYRIO, 2010; QUAGIO, 2009).

Apesar de Hu Jintao reforçar constantemente a necessidade de reformar a estrutura política, as mudanças implementadas foram no sentido de melhoria no sistema vigente, de maneira a simplificar a organização, reduzir a burocracia e alcançar maior eficiência na administração. Em suma, aperfeiçoar os modelos técnico-gerenciais implementados por Jiang Zemin (OLIVEIRA, 2003). Nessa direção,

O Partido Comunista Chinês (PCC) remodelou, no XVI Congresso (2002), suas instâncias superiores: Comitê Central (CC) e Bureau Político (BP). O Comitê Permanente (CP) do BP, que é o efetivo governo da China, foi totalmente renovado. Sua composição foi ampliada de sete para nove membros e, das personalidades que formavam o velho comitê, somente Hu Jintao concorreu à reeleição. Reeleito, foi incontinente designado Secretário- Geral do PCC. Na prática chinesa, modificações na cúpula dirigente, aprovadas num congresso do PCC, são reproduzidas na cúpula do governo, quando se reúne no ano seguinte a Assembleia Nacional do Povo, que é o Legislativo do regime (OLIVEIRA, 2003, p. 138).

Na opinião de Ivan Quagio (2009),

O número de membros do Politburo Estendido aumentou de sete para nove, para assim acomodar as preferências de Jiang Zemin, Zhu Rongji e de Hu Jintao. A nova geração de políticos a assumir o poder, também apelidada de quarta geração, era grosso modo liderada por dois grupos. O primeiro deles era a facção de Xangai, cujo nome derivava do fato de seus membros terem alguma conexão com o período em que Jiang Zemin era prefeito de Xangai. O segundo grupo era conhecido como a facção de Qinghua, já que seus membros haviam se graduado pela Universidade de Qinghua, e cujo líder era o próprio Hu Jintao. As duas facções eram bastante similares ideologicamente: pró-reformistas, mas hipercautelosos quanto à abertura política (QUAGIO, 2009, p. 185).

Hu Jintao, seguindo os passos de Jiang Zemin, defendeu o sistema político chinês enquanto uma especificidade do modelo político asiático. Ele valorizava a particularidade histórica da China e criticava a democracia ocidental em seus discursos. Em 2005, o presidente da RPC afirmou que não implementaria nenhuma das instituições do Ocidente como um modelo a ser copiado pela China, ao anunciar o “Livro Branco” ou o documento “A construção da Democracia Política na China”. Este livro explica, de forma sistemática, a opção dos líderes, de modo a apresentar os méritos e estratégias do regime político chinês (LYRIO, 2010).

Em 2007, Hu Jintao mencionou 61 vezes a palavra democracia, em um único pronunciamento. Tratou-se da Democracia com características próprias chinesas, a qual consiste num modelo consultivo, sob a direção e governo do Partido Comunista em defesa da cidadania, de maneira a aperfeiçoar a ditatura popular democrática (LYRIO, 2010).

A democracia consultiva estava consolidada na estrutura política da China, e se apresentava em quatro níveis institucionais mais relevantes, de acordo com Xulio Rios (2006):

Em primeiro lugar, a Assembleia Popular Nacional (APN), onde reside o poder legislativo e a soberania popular, uma entidade constituída por uma só câmara e representativa do país no seu todo. Em segundo lugar, o sistema de consultas e participação dos demais pequenos partidos, um total de oito, que, sob a direção do PCCh, definem as políticas essenciais na chamada Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A existência desta estrutura determina que o regime não prevê, de modo nenhum, a possibilidade da