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CAPÍTULO 3 – OUTLANDER NO STREAMING

3.1. A SÉRIE LITERÁRIA

Neste capítulo, analisaremos fragmentos de legendas exibidas em plataformas de streaming. Para tal análise, elegemos a primeira temporada da série de TV Outlander, correntemente exibida pela Netflix, com eventuais menções às temporadas seguintes da mesma plataforma. As legendas selecionadas serão analisadas à luz dos conceitos dos Estudos da Tradução, discutidos no primeiro capítulo desta dissertação, bem como a partir das pesquisas sobre o streaming, em particular a Netflix, e a legendagem de modo geral, abordadas no segundo capítulo. Nosso objetivo com as análises é pensar, de forma embasada, como ocorre o processo de tradução para streaming e quais os possíveis impactos desse meio de divulgação na elaboração e recepção das legendas produzidas.

Partimos do pressuposto de que a legendagem para streaming compartilha características com a tradução para legendagem para TV fechada, cinema, DVD etc. Porém, temos como hipótese a possibilidade de também haver diferenças, sobretudo na recepção das legendas, uma vez que a forma de visualização do espectador pode se dar de forma distinta da TV fechada, por exemplo, com acesso a temporadas inteiras de séries, o que lhe permite, como já discutido no capítulo anterior, assistir a episódios seguidos, assim como facilmente voltar ou avançar trechos e episódios.

3.1. A SÉRIE LITERÁRIA

A série de TV Outlander é baseada nos romances escritos por Diana Gabaldon, cujo primeiro livro, homônimo à série, foi publicado em 1991. A série literária, atualmente, conta com oito livros já publicados nos Estados Unidos e um nono ainda em produção. No Reino Unido, o primeiro livro da série foi publicado sob o nome Cross Stitch. No Brasil, a série de romances começou a ser publicada em 2004 pela Editora Rocco, tendo o primeiro livro recebido o título de A viajante do tempo (2004), sendo que a referida editora publicou os sete primeiros livros da série. Em 2014, os direitos de publicação foram adquiridos pela Editora Saída de Emergência, que publicou novamente os três primeiros livros da série. Finalmente, após o fim da Editora Saída de Emergência, os direitos passaram para a Editora Arqueiro, a qual continuou a relançar a série a partir do quarto livro.

Diana Gabaldon, em sua página oficial57, esclarece que sua intenção ao escrever o primeiro livro da série não era, necessariamente, publicar a obra. Segundo a autora, era seu desejo descobrir o que era necessário para escrever um romance, e se esse seria o caminho profissional a trilhar dali em diante. Por isso a autora afirma que a série começou “por acidente”. Gabaldon descreve o processo dizendo que começou a escrever o primeiro livro da série em março de 1988 e sequer tinha intenção de contar a alguém sobre o livro, menos ainda de publicá- lo58. De todo modo, o romance, que apresenta elementos fantásticos e históricos, foi publicado

inicialmente nos EUA e logo se tornou um sucesso, sendo publicado também em diversos países, como o Brasil. Na Espanha, por exemplo, o primeiro livro da série recebeu o título Forastera (1993), enquanto na Itália foi publicado como La Strainiera (2003) e na Alemanha como Feuer und Stein (1995).

Com o sucesso e a longevidade da obra de Gabaldon, Outlander foi transformada em uma produção audiovisual, a qual estreou nos Estados Unidos em nove de agosto de 2014. A série é produzida e exibida pelo canal Starz em parceria com a Sony Pictures Television. No Brasil, Outlander é exibida desde 2015 pelo canal fechado de TV Fox Premium, estando suas quatro temporadas também disponibilizadas na plataforma de streaming da Fox (a Fox Play) para os assinantes do canal e/ou da plataforma. Em outubro de 2016, a primeira temporada de Outlander passou a ser exibida no Brasil também pela Netflix. Atualmente, as três primeiras temporadas estão disponibilizadas nessa plataforma.59

A noção de polissistema de Even-Zohar permite-nos pensar sobre as questões extraliterárias que exercem influência sobre a produção de literatura e sua respectiva tradução, seja a tradução de livros ou a tradução audiovisual. No caso de Outlander, assim como de muitíssimas outras obras literárias transformadas em adaptações audiovisuais tanto para TV quanto para cinema ao longo dos anos, o aspecto econômico nos parece ser um dos principais fatores que motivou a adaptação audiovisual. Nossa afirmação recai, primeiramente, no fato de que grande parte das adaptações audiovisuais se baseia em livros ou séries que tenham sido sucesso de vendas, de preferência também no âmbito internacional, logo, que trazem legiões de fãs ávidos por consumir novos produtos relacionados à obra. Em segundo lugar, porque a já alcançada popularidade da obra literária pode garantir, de certa maneira, um maior alcance ao produto audiovisual, o que se relaciona, novamente, com vendas em boa parte do globo. Quando

57 http://www.dianagabaldon.com

58 As informações sobre a escrita do livro foram retiradas do blog mantido por Diana Gabaldon

[http://www.dianagabaldon.com/2014/03/26-years-ago-today/].

esse sucesso é de fato alcançado, a relação se inverte e a produção audiovisual passa a conferir novos fãs e novos leitores para a obra literária, aumentando mais ainda o alcance da obra e influenciando diretamente o polissistema literário. Parece ser esse o caso de Outlander que, apesar de ser popular enquanto obra literária, adquiriu novo alcance com a adaptação audiovisual, o que, por sua vez, aumentou o volume de vendas dos livros, inclusive no Brasil. Cabe dizer que, com o alcance quase global do streaming, o sucesso de uma série ou filme pode acabar motivando sua tradução para línguas e países não contemplados inicialmente, impactando diretamente o polissistema da literatura traduzida nos referidos contextos.

3.2. A SÉRIE DE TV

A série de TV Outlander se baseia na obra de Diana Gabaldon, cujo primeiro volume recebeu o título de A viajante do tempo no Brasil. A série de TV, todavia, no Brasil, manteve o título em inglês, Outlander. A primeira temporada da produção audiovisual, assim como o primeiro livro, é ambientada na Escócia, inicialmente, em dois períodos distintos, separados por duzentos anos, correspondendo ao período pós-Segunda Guerra Mundial e ao período da revolução jacobita. Cada temporada, até o momento, corresponde a um dos livros de Gabaldon, seguindo a ordem de lançamento dos mesmos, que também é a ordem cronológica dos livros.

É importante dizer que as duas séries, de TV e literária, carregam uma legião de fãs ativos, os quais discutem questões dos livros, da série e da relação entre eles, além de comentarem sobre a legendagem da série. Há, por exemplo, uma página no Facebook60 em que os fãs comentam sobre cada novo episódio exibido, e aqueles que porventura tenham lido o livro correspondente à temporada comentam sobre as diferenças e semelhanças entre o livro e a adaptação audiovisual.

O enredo da primeira temporada de Outlander se concentra na construção do relacionamento dos personagens principais, Claire Randall e James Fraser, enquanto enfrentam percalços causados tanto por suas diferenças pessoais/temporais quanto pelo ambiente em que vivem. A narrativa da série, conforme o livro que a inspirou, inclui elementos fantásticos, como a viagem no tempo feita pela personagem principal, e históricos, como os aspectos sociais, políticos e culturais dos períodos por ela retratados. A história começa em 1945, quando a inglesa Claire viaja em lua de mel com o então marido, Frank Randall, para a Escócia após o

60 https://www.facebook.com/groups/OutlanderBRGrupo/. outras páginas, como

https://www.facebook.com/groups/Outlander.Claire.Jamie/, que também discutem e comparam a obra literária e a produção audiovisual.

No documento Legendagem para streaming: novas práticas? (páginas 85-87)