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Este capítulo irá abordar aspectos da materialidade dos livros de leitura da série Puiggari-Barreto, buscando compreender quem eram os personagens que compõem a coleção e como foram representados nos quatro livros de leitura. Neste capítulo também será examinada a imagem de criança idealizada, construída pelos autores, ao longo dos volumes, destacando as pautas de comportamentos que deveriam ser ensinadas e aprendidas pelas crianças leitoras do material.

Na análise dos aspectos materiais do livro, buscando as representações dos personagens, dois itens que se interrelacionam foram considerados: o texto e imagem. A compreensão dessa interrelação se pauta nos estudos produzidos por Chartier (1994, 1998, 2010), nos quais o autor destaca que as imagens, em relação com o texto, são capazes de construir significados para a leitura, direcionando o leitor a se apropriar das mensagens contidas no texto. Para Chartier (1998, p. 15) “a imagem é muitas vezes uma proposta ou protocolo de leitura, sugerindo ao leitor a correta compreensão do texto, o seu justo significado”.

O conceito de representação, utilizado na analise e desenvolvido por Chartier (1988), é aquele que considera que

a noção de representação pode ser construída a partir das acepções antigas. Ela é um dos conceitos mais importantes utilizados pelos homens do Antigo Regime, quando pretendem compreender o funcionamento da sua sociedade ou definir as operações intelectuais que lhes permitem apreender o mundo. Há aí uma primeira e boa razão para fazer dessa noção a pedra angular de uma abordagem a nível da história cultural. Mas a razão é outra. Mais do que o conceito de materialidade, ela permite articular três modalidades da relação com o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de delimitação que produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as práticas que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças ás quais uns representantes (instâncias coletivas ou pessoas singulares) marcam de forma visível e perpétua a existência do grupo, da classe ou da comunidade. (CHARTIER, 1988, p. 23)

Diante disso, não podemos deixar de destacar que o sentido de qualquer texto, segundo o mesmo autor,

depende das formas que o oferecem à leitura, dos dispositivos próprios da materialidade do escrito, assim, por exemplo, no caso dos objetos impressos, o formato do livro, a construção da página, a divisão do texto, a presença ou ausência das imagens, as convenções tipográficas e a pontuação. (CHARTIER, 2010, p.07)

Observando a presença das imagens em muitas lições da série Puiggari-Barreto, é possível perceber como elas participam, juntamente com o texto, da construção dos personagens. Se a imagem é capaz de participar dessa construção, o estudo realizado neste capítulo vai apresentá-las, observando-as como dispositivos textuais que criam um importante papel na compreensão e decifração dos conteúdos ensinados, bem como fornecem recursos para a apropriação, por parte dos leitores, dos ensinamentos destinados às crianças.

2.1 – Os personagem da série Puiggari-Barreto representados nas páginas dos livros

Os personagens que compõem as narrativas dos quatro livros de leitura são amigos e membros da família Paulo, um menino que, ao longo da coleção, tem sua rotina escolar narrada. Paulo, o personagem principal, tem uma irmã mais nova, Luizinha, e um mais velho, Victor, que “já não tem mais aquelles modos de criança” (PUIGGARI-BARRETI, 1922, p.05). O pai de Paulo é Dr. Silva Ramos, um médico bastante querido na cidade: “Dr. Silva Ramos é um médico muito bom. O povo todo tem muita fé nelle”. (PUIGGARI-BARRETI, 1922, p.08). A mãe dele é D. Julia, uma mulher “ainda bem moça e muito sympathica” (PUIGGARI-BARRETI, 1922, p.08). Sua avó é D. Lúcia e seu Padrinho, o tio José. Ambos sempre participam das histórias, ensinando às crianças um aprendizado novo.

Paulo

Paulo é um menino que, nas lições sempre adquire um aprendizado novo. Ele é representado como um menino comprometido com as tarefas e compromissado com a rotina escolar e está sempre acompanhado de seus livros. Bem vestido, é obediente e seu

comportamento é exemplar. Quando o menino se comporta de maneira reprovável, logo é corrigido pelos adultos, e passa a se comportar da maneira desejada. Paulo experimenta vivências diferenciadas na escola e em casa, ao longo das lições.

No Primeiro livro há uma lição intitulada Paulo, na qual há uma apresentação do menino em forma de poema:

Paulo

Entre risos e cuidados Vivia aquela criança. Tudo eram festas, agrados,

Tudo paz, tudo esperança. O papai o estremecia; A mamãe o idolatrava;

A vovozinha, a titia, Todo mundo o estimava! Quase sempre conseguia, Por ser justo, seus desejos.

E presentes recebia Entremeiados com beijos.

Passava os dias contente; Era-lhe a vida um regalo. Vizinho, amigo ou parente,

Mostravam todos amal-o!

(PUIGGARI-BARRETO, 1922, Primeiro livro, p.15)

Nesta poema Paulo é representado como um menino justo. Por ser justo, realiza seus desejos e é presenteado por isso. A mensagem que fica para as crianças leitoras da série é a de que, se fossem justas como Paulo também seriam presenteadas e alcançariam seus desejos. A construção do personagem se faz dentro de um modelo ideal de família, aquela família capaz de cuidar, proteger e ensinar a criança: a família perfeita. A imagem que acompanha esta lição apresenta Paulo em um cenário primoroso, gerando indícios para pensar nesse modelo de família que a série constrói: família perfeita em uma casa perfeita.

Imagem 6 – Imagem contida na lição Paulo

Primeiro Livro de Leitura Puiggari-Barreto - 26ª de edição – 1922.

Sala impecável, tapete, cadeiras, mesa com enfeites, cortinas e quadro na parede representam um modelo de espaço perfeito. Nesta imagem, Paulo é representado como um pequeno adulto. Suas vestes limpas e bonitas. Paulo não está uniformizado para ir para escola, mas traz nas mãos um livro. Ao longo da coleção, em diversas outras lições, Paulo é representado dessa mesma forma.

Por meio das narrativas e das ilustrações contidas nas lições que descrevem Paulo é possível apontá-lo como um menino estudioso. O livro como companhia do menino, representa o papel que o livro deveria ganhar dentro do contexto da rotina de um aluno, bem como lança a ideia de que os próprios autores puderam, por meio das ilustrações da coleção, fazer a propaganda dos seus produtos: os livros que deveriam ser adquiridos para as crianças.

A construção do personagem Paulo também acontece na lição O caderninho de Paulo. Nesta lição, o texto dialoga com a imagem, apresentando a rotina do aluno. Nesta lição é narrado o comportamento de Paulo, que todos os dias, após chegar da escola, escrevem um poema em seu caderninho.

Imagem 7 – Imagem contida na lição O caderninho de Paulo

Terceiro Livro de Leitura Puiggari-Barreto - 7ª de edição – 1911.

Concentrado, Paulo está sentado escrevendo em seu caderno de estudos, cumprindo seu dever de aluno. Não podemos deixar de destacar que esse era o seu trabalho. Na imagem a seguir temos a mesma representação.

Imagem 8 – Imagem contida na lição O caderninho de Paulo

Terceiro Livro de Leitura Puiggari-Barreto - 7ª de edição – 1911.

Paulo está no seu quarto escrevendo um poema em seu caderninho. Depois de terminar suas tarefas de casa, o menino sempre escrevia um poema para levar para sua professora ler. A ilustração que acompanha a lição, percebemos que Paulo está em seu quarto, concentrado, debruçado sobre a mesa. Paulo havia acabado de fazer sua lição e estava pensativo, buscando ideias para escrever um novo poema.

Ao longo da série, Paulo vai vivenciando as mais diversas situações, deixando transparecer que é uma criança ”bem educada”. A representação atribuída ao garoto, como um garoto justo e estudioso deveria servir de exemplo para as crianças leitoras da série. As crianças, em idade escolar, assim como Paulo, deveriam ser como ele e estar sempre acompanhadas de seus livros, fazendo suas tarefas escolares, cumprindo seu dever enquanto aluno. Sempre quem ensina algo novo ao garoto é um adulto. Seu pai, sua mãe, sua professora ou seu padrinho tio José.

Luiza

Outra personagem que se apresenta na série é Luizinha, também protagonista das lições. Luiza é uma pequena menina de cinco anos de idade, que ainda não frequenta a escola. A todo o momento, Luiza é vigiada e castigada por seus pais, por apresentar maus comportamentos, como desobedecer, não fazer boas ações e mentir com muita frequência. A personagem Luiza, corporifica os comportamentos infantis reprovados pela sociedade daquela época e que deveriam ser modificados. Ao contrário de Paulo, Luiza não era uma criança exemplar. Ao final de cada lição, havia uma correção dos seus comportamentos, e Luiza aprendia algo que auxiliaria sua mudança de comportamento.

Na série, Luiza é representada como uma menina “pequenita, mas experta como uma gatinha. [...] Anda sempre tão limpa e bem vestida que dá gosto vêl-a!” (PUIGGARI-BARRETO, Primeiro livro, 1922, p.19). “Parece uma allemanzinha pelo doirado dos seus cabellos, que são crespos e sedosos. Parece tambem uma allemanzinha pelos olhos azues, vivos e buliçosos: vivos como os de um ratinho, e azues como um pedaço de ceo! ” (PUIGGARI-BARRETO, Primeiro livro, 1922, p.19).

Acompanhando essa descrição para a personagem na lição intitulada Luiza, a menina vem representada em duas ilustrações:

Imagem 9 – Imagem contida na lição Luiza

Primeiro Livro de Leitura Puiggari-Barreto - 26ª de edição – 1922.

Imagem 10 – Imagem contida na lição Luiza

Nessa ilustração, Luiza está na sala de sua casa carregando suas bonecas, que assim como ela, estão limpas e bem vestidas, com fitas no cabelo. Na lição intitulada Luiza há uma menção ao comportamento higiênico da garota, ao se afirmar que a menina está sempre limpa. O comportamento de Luiza é descrito em outras lições que compõem a série. Ao longo dessas lições, Luiza comete vários deslizes, abrindo espaço para que seus pais, tios e avós corrigissem seu comportamento.

Como um exemplo de comportamento à avessas, a menina é representada na série como gulosa, desobediente e mentirosa. Por seus maus comportamentos, é castigada diversas vezes. Luiza se torna um exemplo daquilo que não deveria ser repetido e praticado, antagonicamente a Paulo, a figura exemplo daquilo que deveria ser imitado.

Na narrativa A mentira disfarçada a personagem Luiza protagoniza uma ida ao pomar para observar as lindas jabuticabeiras que haviam florescido e dado doces frutos. Por ordem de sua mãe, ela deveria se manter com as mãos atrás das costas e não deveria colhê-las. Observando o pomar, Luizinha sofria uma grande tentação. A menina não conseguia deixar de desejar as lindas jabuticabas: “Os olhinhos vivos e cobiçosos não se afastavam das jabuticabas. A boquinha já estava secca” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.60).

Foi então que teve a brilhante ideia, comeria as jabuticabas direto no pé apenas utilizando sua boca. Dessa forma não precisaria colhê-las, desobedecendo as ordens de sua mãe, e assim o fez: “com as mãozinhas para traz, inclinou-se um pouco, e trincou com os dentinhos, a jabuticaba mais bonita”. (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.60). Ao final, certa de que não havia desobedecido as ordens de D. Júlia, Luiza exclama: “Não sou, pois, desobediente! Comi-as, é verdade; mas não puz as minhas mãos na jabuticabeira” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.60). Não podemos deixar de ressaltar que a figura do adulto é quem ditava as formas como as crianças deveriam se portar, e neste caso de Luiza, a menina havia descumprido as ordens de sua mãe.

Dando continuidade a esta última narrativa, a historieta intitulada Zilda fugiu conta o retorno de Luizinha do pomar de jabuticabas. Logo que a menina chegou à sua casa, procura a boneca Zilda para brincar e nota que ela havia desaparecido. Procura por toda a casa e questiona sua mãe, D. Júlia, sobre o paradeiro da boneca. Sua mãe, sem hesitar, logo responde: “Zilda foi-se embora [...] porque ella disse que a Luizinha, às vezes, não procede como deveria proceder” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.66). “Zilda me disse que só voltará no dia que praticares uma bôa acção” (PUIGGARI-

BARRETO, 1922, p.68). A menina fica preocupadíssima, pega outra boneca, a Mimi, antes desprezada por ela, abraça-a bem forte e permanece pensativa, lembrando-se da situação. O fato de a boneca ter ido embora representou um castigo para Luiza, pois um dos seus maiores prazeres era poder brincar com a boneca. A mãe da menina deixa bem claro que a boneca só voltaria quando Luiza praticasse uma “boa ação”, que neste caso seria o bom comportamento.

A personagem Luiza é representada nas lições como teimosa, mentirosa, desobediente e gulosa, ela não respeita e não obedece ao que os adultos recomendam e como consequência é castigada por isso. Toda criança, que tivesse um comportamento como o de Luiza, não respeitando os adultos, mentindo e se comportando de maneira indevida seria castigada. As meninas, que gostam tanto de brincar com suas bonecas, poderiam ficar sem elas, assim como Luiza ficou. E em termos de comportamento, e neste caso comportamento feminino o que se quer construir, a partir da correção dos comportamentos da menina é a representação de uma boa garota, que no futuro se tornará uma mãe, como D. Júlia.

Não podemos deixar de ressaltar que essa trama, que envolve a personagem Luiza, acontece ao longo do primeiro livro de leitura, destinado às crianças de sete anos de idade que acabavam de ingressar na escola primária. E a história continua...Zilda continua desaparecida e Luizinha desesperada e ansiosa pela sua volta. D. Júlia conversa com a filha, que a todo momento pergunta sobre o retorno da boneca. D. Julia diz para a filha que a boneca Zilda mandou notícias, falando que está bem, mas que ainda não iria voltar. “Zilda não quer voltar ainda! Continua a dizer que foste muito ingrata. No dia que praticares uma acção bem bonita, Zilda voltará” (PUIGGARI- BARRETO, 1922, p. 75). Motivada pelas palavras de sua mãe, Luizinha decide realizar, naquele mesmo dia, uma boa ação. Todo esse diálogo entre as duas é apresentado na lição E Zilda onde está?. Nesta lição, Luiza se redime em relação a sua atitude reprovada na lição A mentira disfarçada. Ela passa a refletir sobre seu comportamento, pensando em estratégias para corrigir aquilo que havia sido reprovado.

O empenho de Luizinha, na luta pela volta da boneca Zilda, continua na lição Grosserias, não! Assim como havia prometido, Luiza estava pronta para realizar a sua boa ação ainda naquele dia. Durante todo o tempo, se comportou ajuizadamente, pois queria que Zilda voltasse. Sentada aos pés de D. Júlia, que costurava roupas para as crianças, a todo momento Luizinha se propunha a ajudar. D. Júlia rapidamente percebeu

que a menina estava ansiosa por praticar um gesto que fosse reconhecido pela mãe como digno de trazer de volta a boneca desaparecida, daí toda a sua presteza.

Com uma lição, D. Júlia ressalta à menina: “Estás muito boazinha, minha filha. Zilda vae ficar muito contente quando souber disso” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.76). A menina fica feliz, mas logo sua esperança de que a boneca voltasse se desfaz. Paulo, seu irmão, juntamente com um amigo haviam chegado da escola e convidaram a pequena para brincar. Luizinha não hesita em responder que não iria, porém fez isso de maneira muito grosseira, ao que sua mãe exclama:

Zilda não volta mais hoje! Ella se arrependeu e voltou do caminho. Ia chegando, mas ouviu que respondias grosseiramente para teu irmão, e fugiu horrorizada! Zilda não gosta de meninas grosseiras! (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.79).

Luizinha entristecida, porém consciente da falta que havia cometido, abaixa a cabeça e vai brincar com seu irmão, se desculpando pela atitude caracterizada pela mãe como grosseira e punida com o atraso na devolução da boneca.

Mais uma vez a garota não consegue se comportar como esperado e sofre mais uma punição, mas agora por outro comportamento indevido: a grosseria. Neste caso, além de mentirosa, teimosa, gulosa, desobediente, Luiza também é uma menina grosseira, e o castigo para tudo isso é ficar mais um tempo sem a boneca.

Luiza, durante todas as lições que protagoniza no Primeiro livro, representa em suas atitudes os comportamentos reprovados. Percebemos que são reprovados, pois os adultos responsáveis pela educação da menina estão sempre tentando fazê-la corrigir suas atitudes.

Além dessas lições, em Outra quéda de Luiza I, há mais um episódio que apresenta a figura feminina como protagonista da história, representando um mau exemplo. Nessa lição, Tio José havia passado na casa de Luizinha e deixado lindas ameixas que trouxera da Europa. As ameixas seriam degustadas no jantar que D. Julia ofereceria para a família. Luizinha não resistiu e comeu uma das ameixas. “Não saberão que fui eu!” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.103), exclamou a menina, acreditando firmemente em suas palavras.

Porém, a menina logo se arrependeu, depois de olhar para o prato de ameixas todo desarrumado. Consciente da sua incapacidade de deixá-lo como antes, preocupada com o fato de que perceberiam o sumiço da fruta, Luiza exclama mais uma vez, para si

mesma, suspirando profundamente: “Não saberão que fui eu!” (PUIGGARI- BARRETO, 1922, p.103).

A saga de Luiza continua na lição Outra quéda de Luiza II, agora tentando esconder o fato de ter apanhado as ameixas que seriam servidas como sobremesa no jantar. Quando toda a família já havia jantado e se encontrava sentada à mesa, esperando a sobremesa ser servida, Dr. Silva Ramos se levantou para pegar o prato com as suculentas frutas e notou a ausência de uma delas: “Aqui falta uma! Quem a teria comido?” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.104). Todos negam o ato, até mesmo a menina. Dr. Silva Ramos, muito esperto logo pondera:

Não é pela ameixa... Si ellas aqui estavam, eram para ser comidas. Mas é que esta fructa é muito perigosa! O caroço tem um veneno terrível que mata em menos de duas horas! Podia ser que, quem a comeu, engolisse o caroço, e... (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.105).

Desesperada, Luiza não hesita em exclamar, diante da observação do seu pai: “Eu não engoli, não, papae. Atirei-o fora, quer ver?” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.105). Dito isto, a pequenina se põe a chorar, após todos caírem em uma profunda gargalhada, caçoando da armadilha em que Luizinha acabara de cair.

Com esse comportamento, a menina é taxada como gulosa. Como seu comportamento foi mais uma vez reprovado, Luiza continuaria sem a boneca Zilda, ou seja, continuaria sendo castigada. Com a maneira errônea de se comportar, Luiza se distancia cada vez mais daquilo que é esperado dela: praticar boas ações para poder reaver a boneca. Em nenhum momento nas lições, Luiza consegue ter seu comportamento aprovado.

Neste conjunto de lições que representam a personagem Luiza, a lição “Não Peças!” é a última delas. A historieta aborda mais uma peripécia de Luiza, pondo em cena mais uma ação considerada indesejada. A menina, que irá depois de muito tempo visitar sua madrinha, recebe uma ordem de sua mãe, para que de forma alguma peça algo à madrinha. D. Júlia recomenda à menina que, caso queira alguma coisa, deve esperar sua madrinha oferecer.

A menina concorda e segue muito feliz para o passeio. Chegando à casa da madrinha, logo se depara com uma apetitosa cesta de frutas. Depois de dar duas voltas ao redor da cesta, ela exclama: “Eu agora sou muito obediente, sabe madrinha?” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.115). Rindo, a madrinha ressalta: “Ah! Sim? Pois fazes muito bem, minha filha: assim devem proceder todas as meninas educadas!”

(PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.115). Muito contente com o elogio, a menina sorri e vai logo comentando com sua madrinha que D. Júlia havia lhe recomendado algo que ela não iria esquecer, e que de forma alguma iria contar o que era. A madrinha, muito curiosa, vai perguntando, perguntando, até que a menina não hesita e responde: “Está bom, eu digo. Mas digo só porque a senhora mandou, e eu quero ser obediente. [...] Mamãe me recommendou que não pedisse fructas; ainda que fossem bonitas como essas” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p.116). A madrinha sorri, e de forma bastante descontraída, diz à menina que a mãe não lhe havia proibido de comer, desta forma poderiam saborear as deliciosas frutas. Foi o que fizeram. Luizinha e a madrinha sentaram-se perto de uma mesa e degustaram as mangas, o abacate e as maçãs que estavam na fruteira. Quando D. Julia descobriu, disse para a menina que Zilda nunca mais iria voltar, pois de nenhuma forma Luiza havia realizado uma boa ação.

Muito triste e pensativa por tudo o que tinha feito, Luiza decidiu propor para sua mãe que sua boa ação seria não se comportar mais daquela maneira. Ao invés de praticar a boa ação, para recompensar os comportamentos reprovados, Luiza promete para seus pais que não agiria mais daquela maneira, como forma de redenção e como uma maneira de recuperar Zilda. D. Julia, após consultar Dr. Silva Ramos sobre a proposta da menina, comunica a garota que seu pai aceitou sua proposta. Luiza deveria

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