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Há uma sciencia, que todos devemos conhecer, e que nos ensina a maneira pela qual podemos manter a nossa saúde: é a hygiene! A hygiene ensina-nos que a saúde depende de: comer com moderação; respirar ar puro, oxygenado; fazer exercícios corporaes; dormir a horas certas, e durante 9 horas no maximo; e conservar o corpo escrupulosamente limpo. (PUIGGARI- BARRETO, Segundo livro de leitura, 1911, p.104)

Este fragmento, parte da lição que tem como título “Uma lição de higiene”, no Segundo livro de leitura constitui-se em uma entrada privilegiada quando se procura interrogar a presença da higiene nos livros da série graduada Puiggari-Barreto. A higiene, como ciência que ensina a manter a saúde, figura como um dos temas abordados nos livros da coleção. Enunciada como um código de preceitos que se articulam ao asseio corporal, ao sono, à alimentação, aos exercícios físicos e à respiração de ar puro, a higiene é o tema principal desta lição, apresentada no Segundo livro de leitura, e comparece em mais dezessete lições ao longo dos volumes.

Na lição, da qual o trecho acima faz parte, o personagem central, Paulo, um menino de seis anos de idade, adoece, após comer pêssegos de maneira exagerada. O discurso da higiene, marcado pela moderação, encontra eco na voz do seu padrinho, tio José, que reprova o comportamento do menino. Interpelando-o, o tio aproveita o episódio da doença do menino, para ensinar a Paulo “Uma lição de hygiene”, nos seguintes termos: “Perdeste o dia escolar de hoje. É justo que aprendas ao menos uma lição. Escuta: uma de nossas obrigações é cuidar de nossa saúde, e fazer tudo o que for possível para nos tornamos robustos e fortes”. (PUIGGARI-BARRETO, Segundo livro de leitura, 1911, p.104).

Esta lição nos permite observar quais são os comportamentos higiênicos prescritos e os anti-higiênicos; o que se considera como uma atitude saudável em termos de alimentação, asseio corporal e práticas corporais; que atitudes os personagens das narrativas da série graduada deveriam adotar na vida cotidiana e, ao mesmo tempo, que atitudes deveriam ser evitadas.

Neste capítulo vamos nos debruçar sobre os livros de leitura da série Puiggari- Barreto, procurando recensear a presença da higiene nas lições, considerando a sua

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Fragmento retirado da lição De Cama, que compõe o Terceiro livro de leitura Puiggari-Barreto, 7ª edição, 1911, p.163.

distribuição nos livros da série. Menos que recompor os episódios, interessa perceber quais são os preceitos que figuram, quer de forma direta, quer indireta, nas lições e ilustrações que compõem os quatro livros graduados e sobre que atitudes da vida cotidiana esses preceitos incidem. Por meio desse exame, busca-se compreender o modo como a higiene foi veiculada em livros cuja finalidade primeira era ensinar as crianças das escolas primárias a ler.

Nas lições da série, alguns personagens apresentam comportamentos higiênicos ideais, que deveriam ser seguidos pelas crianças. Em contraposição, também encontramos ações reprováveis, marcadas pela censura dos adultos, que corrigem e ensinam uma “lição” para ajustar o mau comportamento. No conjunto dos preceitos higiênicos, os personagens Paulo, Luiza, Negrinha (a gatinha de estimação da família S. Ramos) e Donato encenam comportamentos ideais e reprováveis, representações do bom comportamento opondo-se ao mau. Nas lições, esses personagens aprendem um conjunto de comportamentos a serem incorporados, representando a imagem idealizada de criança para as primeiras décadas do século XX. Na análise da higiene nos livros de leitura considerou-se a intencionalidade dos autores de atingir o leitor infantil, conformando-lhes os comportamentos.

Para observarmos a presença das narrativas que abordam a higiene nos livros da série Puiggari-Barreto, o quadro a seguir apresenta o título dessas lições na coleção, bem como em que volume ela se encontram, juntamente com a marcação da paginação de cada narrativa:

Quadro 3: Lições da série Puiggari-Barreto que tematizam a higiene

Livro de leitura Títulos das narrativas Páginas no livro

Primeiro livro “Luiza” p.19

Primeiro livro “O primeiro dia de aula” p.27

Primeiro livro “Volta de Zilda II” P.142

Primeiro livro “Outra quéda de Luiza – I” p.101-103 Primeiro livro “Outra quéda de Luiza – II” p.104-106

Segundo livro “Férias” p.5-7

Segundo livro “História de um ignorante” p.52-54

Segundo livro “A ran” p.81-82

Segundo livro “Azedo e amargo” p.100

Segundo livro “Uma lição de hygiene” p.101-104

Segundo livro “Presente furtado” p.143-145

Terceiro livro “Preparativos” p.22-25

Terceiro livro “Margarida” p.117-118

Terceiro livro “A bycicleta” p.154

Terceiro livro “O desastre” p.158

Terceiro livro “De cama” p.161

Terceiro livro “Um 12 – álbum de Paulo” p.200

Fonte: Livros de leitura Puiggari-Barreto (Primeiro livro – 1922; Segundo livro – 1911/1913, Terceiro

livro – 1911, Quarto livro, 1909)

Realizando uma leitura do quadro, percebemos que a maior incidência da temática é no Segundo livro de leitura, no qual temos sete lições que versam sobre a higiene. No Primeiro livro, são cinco e no Terceiro livro, seis lições. Essa organização faz levantar algumas hipóteses. Não podemos deixar de considerar que a coleção é uma série graduada e mantém uma gradação entre os seus conteúdos, que deveriam ser ensinados e aprendidos pelas crianças.

Analisando as lições, percebemos que as narrativas do Primeiro livro apresentam a higiene como um comportamento a ser aprendido, diferente das narrativas do Segundo livro, nas quais o comportamento higiênico está sendo corrigido para ser devidamente incorporado pelos personagens. Já no Terceiro livro a higiene aparece como comportamento incorporado, como se os personagens tivessem obtido êxito nos ensinamentos do Primeiro e Segundo livro.

Para interrogar a presença da higiene nos livros de leitura, a construção do capítulo se orienta a partir dos preceitos de higiene elencados por tio José, em “Uma lição de higiene”, abordando-os como pautas de comportamento. A partir disso, tentaremos compreender como a higiene se configura como parte de um código de comportamento, atrelado a um código moral e disciplinar, elaborado pelos autores, na coleção. Por meio das histórias oferecidas às crianças, os autores construíram os

personagens que exibem comportamentos que podem ser vistos como bons ou maus para a sociedade da época.

Panizzolo (2011) enfatiza que os livros de leitura produzidos no final do século XIX e início do século XX conciliavam dois propósitos fundamentais do discurso republicano, em relação à formação da criança: o de educação e o de instrução, simultaneamente. Educação relacionada à transmissão de valores e instrução relacionada à transmissão de conhecimentos.

Souza (1998), discorrendo sobre esse processo educacional destinado à criança, destaca que era na formação moral e cívica que se encontravam as bases dessa formação. Segundo a autora, a moral abarcava um manancial de civilidade e bons comportamentos, dos quais se encontravam os hábitos e costumes que deveriam ser aprendidos pelas crianças, para serem utilizados na vida social.

3.1 - “Comer com moderação”

A moderação alimentar é o primeiro comportamento higiênico que se materializa na série Puiggari-Barreto, entrando em cena logo no Primeiro livro de leitura. Ele surge na lição intitulada Gulodice, construída de maneira antagônica ao hábito da gula, pois a moderação é apontada como o comportamento esperado e a gula como o comportamento reprovado, e é representada na atitude da gata Negrinha, animal de estimação da família Silva Ramos.

Negrinha, uma gata “sem moderação e muito gulosa, que anda pela cozinha, disfarçada a farejar, mesmo tendo a pança cheia” (PUIGGARI-BARRETO, 1922, p. 61), compõe um episódio em que, ao entrar na cozinha sentindo o cheiro de galinha cozinhando, sobe no fogão para assaltar a panela e acaba se queimando com a água quente. O fato de a gata ter se queimado com a água, ao tentar roubar da panela a galinha que cozinhava, é apontado como um castigo pela falta de moderação e gula.

Neste episódio, vivenciado pela gata Negrinha, a falta de moderação é apontada como gula e como um comportamento que iria gerar uma punição. A mensagem que a empregada transmite à gata, ensinando-lhe uma lição é que sempre que um comportamento não se enquadra a um “bom comportamento”, quem o praticasse seria repreendido.

Na lição, essa mensagem para os leitores, sobre a importância da moderação, ganha destaque na voz da empregada: “Se não fosse tão gulosa não teria se queimado”

(PUIGGARI0-BARRETO, 1922, p.62). Neste episódio, a moderação é o hábito ideal, a gula é apontada como comportamento reprovado e o castigo como consequência do mau comportamento.

Não podemos deixar de ressaltar que os autores, para ensinarem sobre a moderação para as crianças, primeiramente apresentam a atitude reprovada (a gula) como parte do comportamento de um animal: a gata Negrinha. É como se os autores relacionassem o mau comportamento à irracionalidade. Os animais, por não pensar sobre o que fazem, agem de maneira indevida. As crianças, como seres racionais, jamais poderiam agir como a gata, devendo atuar de maneira diferente dela.

Ainda no Primeiro livro de leitura, o preceito higiênico da moderação ganha espaço em outras duas lições, que se intitulam: Outra quéda de Luiza – I e Outra quéda de Luiza – II. Nessas duas lições não é mais o animal que comete o erro e sim uma personagem que representa as crianças. Em ambas as lições, a moderação se atrela a gula e ao castigo.

Percebemos a higiene se conectando a um código disciplinar. O castigo tinha como objetivo criar uma disciplina em relação a determinado comportamento esperado pelo adulto. Nas duas lições, a moderação é apresentada como um comportamento essencial para preservação da saúde e se constrói, assim como em Gulodice, de maneira antagônica à gula. Nessas duas lições, produzidas em sequência, Luiza não consegue controlar sua vontade e, antes do jantar, come algumas ameixas que seriam servidas como sobremesa para toda sua família.

Comparando a atitude de Luiza com o comportamento da gata Negrinha, na lição Gulodice, é como se pudéssemos pressupor que a menina agiu de maneira irracional, assim como a gata, sendo gulosa. Seu pai, Dr. Silva Ramos, quando percebe a situação, tenta descobrir o malfeitor e aproveita para repreender a gula, utilizando-se da seguinte estratégia:

-Aqui está o prato de ameixas... Aqui faltam algumas! Quem as teria comido?

- Eu não fui; disse Paulo. - Nem eu; disse Donato.

-Nem eu também, afirmou Luizinha. Eu nem sabia que aqui em casa havia ameixas!

-Não é pelas ameixas; continuou o Dr. Silva Ramos, e sim pela saúde. Estas fructas são muito perigosas! O caroço tem um veneno terrível que mata em menos de duas horas. Podia ser que, quem as comeu,engolisse os caroços, e... (PUIGGARI-BARRETO, Primeiro livro de leitura, 1922, p.104)

É possível perceber que, em ambas as lições, para ensinar sobre a moderação, foi necessário ensinar sobre os perigos da gula. Neste trecho percebemos que o castigo, pela falta de moderação, poderia ser indiretamente, a morte. O pai da menina, além de tentar descobrir quem havia sido o “ladrão de ameixas”, aproveita para transmitir uma lição. A importância da moderação se firma na fala de Dr. Silva Ramos, quando ele ressalta a preocupação com a qualidade da saúde, atrelando em seu discurso o fato de que a falta de moderação alimentar poderia levar, naquele caso específico das ameixas, até a morte. O argumento do “suposto” caroço envenenado foi utilizado como uma estratégia para descobrir quem havia sido guloso, e possivelmente para poder inserir e reforçar, por meio de uma lição, a importância da moderação, sendo discursada por médico, figura representativa para a época.

Nesta lição, temos uma imagem que dialoga com o texto, indicando a atitude de Dr. Silva Ramos ensinando uma lição de higiene para Luiza. Como a garota também havia mentido sobre seu comportamento, possivelmente em um mesmo discurso, seu pai estivesse lhe ensinando a importância de duas condutas essenciais para a vida: ser moderado e não mentir.

Nesta imagem, vemos por meio do gesto que o médico faz com as mãos, levantando um dedo em direção a menina, uma representação de que ele está ensinando algo para ela, como um disciplinamento. A fim de produzir esse disciplinamento ou o comportamento desejado, a imagem reforça o que o texto apresenta.

Essa relação entre texto e imagem, estudada Chartier (1990), em seu trabalho sobre textos e suas edições, é expressa pelo autor nos seguintes dizeres:

a ilustração induz uma leitura, fornecendo uma chave que indica através de que figura deve ser entendido o texto, quer a imagem leve a compreender a totalidade do livro pela ilustração de uma de suas partes, quer ela proponha uma analogia que irá orientar a decifração. (CHARTIER, 1990, p.179)

O gesto do pai representa uma reprovação em relação à atitude da menina. Com o prato de ameixas no colo, Dr. Silva Ramos simboliza estar falando sobre a importância de não comer nada de maneira exagerada. O gesto do médico representa uma possível correção em relação ao fato de a menina também ter mentido. O médico, em um mesmo episódio está ensinando duas lições para Luiza e para as demais crianças sentadas à mesa: deve-se comer com moderação e não se deve mentir. Nesta lição, a imagem é uma fonte de sentido ao texto. Ao promover com o texto um diálogo, ela possibilita que o discurso do médico se reafirme na lição. Essa representação pode indicar que, assim como os meninos aprendem, escutando o que Dr. Silva Ramos ensina à Luiza, as crianças deveriam aprender ao ler o livro de leitura, não mentindo e não sendo gulosos.

No Segundo livro de leitura, a moderação alimentar se materializa em Uma lição de hygiene e em Azedo e amargo. Nestas lições, percebemos a permanência do tema nas narrativas por intermédio da gula, entrelaçando-se a outras temáticas, como por exemplo, a frequência escolar. A moderação alimentar é um requisito para que as crianças não perdessem dias de aula na escola.

Na lição Azedo e amargo, Dr. Silva Ramos se aproveita da atitude de Paulo, que come pêssegos de maneira exagerada e passa mal, para ensinar-lhe uma lição e reprovar seu comportamento:

- Foi uma gulodice tua. A gulodice é um vicio, e, como todos os vícios, faz-nos esquecer as mais triviais obrigações, como a moderação. Tu, que tanto caçoava de Luizinha no anno passado, por ser gulosa, acabas de commetter a mesma falta! A consequencia eil-a ahi: por causa de cinco pecegos, perdes um dia de aula, e o que é pior, ficas doente! (PUIGGARI-BARRETO, Segundo Livro de leitura, 1911, p.101)

Nas lições do Segundo livro, as crianças já sofrem as consequências pelo mau comportamento. No Primeiro livro se constrói a ameaça e no segundo ela se concretiza. Tudo o que havia sido aconselhado no Primeiro livro, para que não houvesse repercussões sobre a saúde, aparece no Segundo livro atrelado a alguma consequência pelo mau comportamento. No caso de Paulo, se ele tivesse aprendido sobre a moderação, não teria ficado doente e perdido um dia escolar. O código disciplinar ensinado à Luiza, para que se comportasse de maneira esperada, no livro anterior, não foi aprendido por Paulo e por isso o garoto pagaria pela sua falta.

O exagero marca a reprovação do comportamento e a gula é apresentada como viciou. Uma criança educada deveria ser uma criança livre dos vícios, a começar pela gula. O vício é apontado no discurso como um mau comportamento, do qual as crianças deveriam se afastar. O vício seria capaz de afastar as crianças de suas obrigações, incluindo a rotina escolar. Como oposição às virtudes, o vício era a marca da má conduta.

Na narrativa intitulada Uma lição de higyene, entre todos esses preceitos que tio José ensina o que mais ganha peso dentro da própria lição é a moderação alimentar, pelo fato de seu sobrinho, Paulo, ter comido os pêssegos de maneira exagerada e estar acamado, com problemas de saúde, por conta do ocorrido. A moderação alimentar é apresentada como um pré-requisito para ter boa saúde. Nesta lição, que é continuação da lição Azedo e amargo, percebemos o peso da moderação alimentar, reafirmada como bom comportamento, nas palavras de Tio José:

- Uma de nossas obrigações é cuidar de nossa saúde [...] Para isso, temos de ser comedidos no comer e no beber. Comer de mais é sempre prejudicial. Beber de mais, nem se fale; além de estragar o estomago, transforma o homem num verdadeiro animal, inconsciente e repugnante. Ninguém se arrependeu ainda de comer pouco às refeições. Entretanto, milhares de pessoas, ou antes, milhões e milhões, têm-se arrependido de comer além da conta! Para se ter saúde é mister attender-se à quantidade e a qualidade do que se come! [...] Si, em vez de cinco ou seis, tivesse comido dez ou doze pecegos, talvez a esta hora estivéssemos tratando do seu enterro! (PUIGGARI-BARRETO, Segundo Livro de leitura, 1911, p.101)

A conduta reprovada do garoto é comparada a atitude de um animal. Acompanhando o que Tio ensina para Paulo em Uma lição de hygiene, temos a imagem que reforça a lição:

Imagem 26: Segundo livro de leitura, 1913, p. 122 – Lição: Uma lição de higyene

Nesta imagem vemos representada a consequência da atitude de uma criança que não tem moderação na alimentação. O mau comportamento, gerado pela gula prejudicou a saúde de Paulo, fazendo-o ficar acamado. O mesmo poderia acontecer com as crianças que se comportassem como ele. Segurando nas mãos do menino enfermo, tio José expressa na imagem um conselho que está dando ao menino, principalmente pelo gesto de sua mão direita. Tio José, buscando disciplinar o garoto naquele aspecto.

Em Uma lição de higyene, tanto o texto como a imagem se articulam para mostrar que a higiene, pode ser ensinada às crianças por intermédio de um adulto que não é um médico. Essa situação permite perceber a própria apropriação dos autores, do discurso médico, para ensinar higiene em seus livros. Os autores, por exemplo, se apropriam do discurso médico

No caso das crianças em idade escolar, quem ensinaria sobre higiene para elas seria o professor, tendo no seu discurso o mesmo peso que teria o discurso de um médico, para transmitir o assunto.

3.2 - “Respirar um ar puro, oxygenado”

Esse é outro preceito higiênico ensinado nos livros da série Puiggari-Barreto. Observamos que esse preceito se materializa nos livros de leitura por meio da

construção antagônica entre cidade e campo, trabalho e repouso. A temática é abordada a partir do Segundo Livro de leitura, com a lição intitulada Férias, apresentando as qualidades da vida no campo. Nessa lição, por intermédio das palavras de Paulo, a importância de respirar o “ar puro” é ressaltada da seguinte forma:

- Passei as férias na roça, esquecendo, por dous mezes, os trabalhos, os revezes e o preparo das lições! Foram semanas alegres, em que refiz a saúde; diverti-me quanto pude, respirando o ar puro do povoado e dos sertões! (PUIGGARI-BARRETO, Segundo Livro de leitura, 1911, p.5)

Não podemos deixar de destacar que, no período em que a série foi produzida, mais precisamente 1904, é um momento em que a urbanização de São Paulo estava acontecendo. As pessoas estavam começando a migrar do campo para a cidade.

Nogueira e Carvalho (2009), estudando o processo de desenvolvimento urbano paulista, destaca que

o deslocamento de um grande contingente de pessoas que viviam o modo de vida rural para as cidades, implicava em uma transição na organização do modo de viver urbano. Não foi um processo fácil, sobretudo para as pessoas mais pobres que estavam sendo expulsas para as cidades pela nova forma de acumulação capitalista. A “desordem” que se instalou a partir do movimento migratório crescente, fez com que o poder público realizasse intervenções nas grandes cidades, inicialmente fundamentadas em princípios higienistas. O aglomerado de pessoas em condições insalubres disseminou inúmeras doenças, assim como a falta de saneamento adequado contribuiu para o agravamento das doenças. (NOGUEIRA E CARVALHO, 2009, p.7)

A impressão que temos, a partir das lições construídas por Puiggari-Barreto, é que a única possibilidade de ter saúde, respirando o “ar puro” seria vivendo no campo. A cidade não proporcionaria isso às pessoas. Segundo o que destaca Paulo, subentendemos que para se ter saúde era preciso ficar longe das cidades.

Paulo diz que refez sua saúde no campo. Para isso, além da qualidade do ar, Paulo precisou se afastar da rotina de trabalho escolar. O repouso foi a solução. A rotina das atividades exercidas na cidade aparece na lição dando indícios para pensá-la como algo capaz de prejudicar a saúde dos indivíduos.

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