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A Segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: da

4 DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA

4.6 A Segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: da

Apesar da quantidade de leis encontradas sobre infância e educação neste período entre a LDB de 1971 e a CF/88112, as mais relevantes são a LDB em si (Lei nº 5.692/1971) e o novo Código de Menores (Lei nº 6.697/1979). A Lei de Diretrizes e Bases, sancionada em 1971, trouxe alterações formais para a educação, inclusive a mudança de nomenclatura e organização. O Ensino de 1º grau, com duração de oito anos, passa a agregar o antigo ensino primário e o primeiro ciclo, ginasial, do ensino secundário113, e o Ensino de 2º grau, com duração de três ou quatro anos, equivalente ao antigo segundo ciclo, o colegial, do ensino secundário. Esta LDB 5692/71, em conformidade com a CF/67, estabelece o ensino compulsório entre os sete e 14 anos de idade e trata ligeiramente da educação de crianças pré idade obrigatória, mencionando apenas em um artigo que “os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete anos recebam conveniente educação” (§ 2º do Art. 19). Muitos aspectos, contudo, foram mantidos, tais como a exigência feita às empresas de oferecer ensino, agora de 1º grau, aos seus funcionários e filhos destes, ou o recolhimento do salário-educação; as exigências de formação dos professores; e a preferência por bolsas de estudos aos alunos capacitados e carentes de recursos. A LDB 5692/71 institui o ensino profissionalizante, ainda no 1º grau, como sondagem de aptidões, e transforma o 2º grau em diversos cursos profissionalizantes, então obrigatórios a todos os estudantes. A LDB 5692/71 apresenta um interesse pela formação profissional e preparação para o trabalho que a difere das outras duas Leis de Diretrizes e Bases, a anterior de 1961 e a posterior de 1996, que fica evidente desde seu artigo 1º, que determina que

O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para

                                                                                                               

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Um total de 23 leis localizadas no portal da legislação.

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A LDB 5692/71faz a correspondência com a CF/67 entre o ensino primário obrigatório presente naquela Carta Constitucional e o Ensino de 1º grau.

o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania. (Lei nº 5.692/1971).

Em 1982, diversas alterações foram feitas na LDB 5692/71 por meio da Lei nº 7.044, contudo o foco na profissionalização permaneceu, como verifica-se pela alteração do artigo 4º, que estabelece que “a preparação para o trabalho, como elemento de formação integral do aluno, será obrigatória no ensino de 1º e 2º graus e constará dos planos curriculares dos estabelecimentos de ensino” (§ 1º do Art. 4º). Há uma diferenciação interessante, relativa às escolas de zonas rurais, que podem alterar o calendário de aulas para que as férias coincidam com períodos de plantio e colheita, considerando, por um lado, as crianças do campo como mão de obra, junto a suas famílias, e, por outro, a diminuição dos números de repetência e evasão.

Em continuidade à apresentação de dados estatísticos, em 1980, foi feito o nono recenseamento demográfico, que revela que 67% das crianças entre sete e 14 anos, o novo intervalo da obrigatoriedade, frequentava uma instituição de ensino. Ao segmentar os dados entre ‘população de sete a nove anos’ e ‘de 10 a 14 anos’, a proporção, respectivamente, é de 63% e 69%, ou seja, em termos percentuais, não se verifica qualquer acréscimo na população atingida pela escolarização compulsória desde a década anterior.

4.6.1 O Novo Código de Menores

O Código de Menores (Lei nº 6.697), de 1979, substituiu aquele consolidado em 1927, dele diferindo já ao tratar de seu objeto: a assistência, proteção e vigilância de todos os menores de 18 anos, no que tange às medidas preventivas, e, em casos especiais, dos menores em situação irregular, não mais nomeados menores abandonados e delinquentes. A definição do que são ‘situações irregulares’ mostra uma mudança de atitude em relação aos menores de idade se comparado ao Código de 1927, pois são esclarecidas da seguinte forma:

I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b)

exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal (Art. 2º).

Esta mudança na forma de tratamento e definições fica perceptível ao observar os termos que deixaram de ser usados neste Código, tais como vadiagem, libertinos, mendigos e delinquentes. Da mesma forma, verifica-se que o tratamento esperado nas medidas cabíveis aos menores, que objetivam “... fundamentalmente, à sua integração sócio-familiar” (Art. 13), não são mais, pelo menos no discurso legal, uma forma de proteger a sociedade das crianças perigosas, mas de protegê- las dos perigos que a sociedade impôs a elas, ou de integrá-las de forma adequada, segundo a lei, à sociedade. Conforme já apontado, parte deste Código é dedicada aos menores em situação irregular e parte à proteção, em diferentes aspectos, de todos os menores de 18 anos.

A respeito da proteção proposta no código, nomeada medidas de vigilância, destaca-se a proibição de crianças desacompanhadas de pais ou responsáveis em espetáculos culturais; em estabelecimentos de jogos, de azar ou não; e em viagens. Destacam-se as alterações, estabelecidas no antigo Código de Menores, no que se refere à perda ou suspensão do pátrio poder, que é regido pelo Código Civil, no qual se afirma o pátrio poder exercido pelo marido em colaboração com a mulher, e não mais pelo marido somente, assim como se revoga o artigo no qual se determinava que a mãe que se casasse novamente perderia o direito ao pátrio poder114.

Apesar de todas essas alterações, vale destacar, conforme já apontado no primeiro capítulo desta tese, que o termo menor, no Brasil, continua a ter uma conotação negativa (ALVIM, VALLADARES, 1988), ou seja, denomina um grupo de crianças excluídas de determinadas condições sociais, econômicas e/ou políticas.

Outra diferença deste código para o antigo é a ausência de determinações especiais no que se refere ao trabalho de menores, pois o novo Código de Menores apenas indica que este deva ser tratado em legislação especial. Isto não significa necessariamente uma desatenção, mas indica a concordância com as regulamentações propostas e existentes na CLT, inexistente quando do primeiro código. Poucas foram as alterações relativas à proteção do menor trabalhador,                                                                                                                

desde 1967, exceto pelas exigências referentes à necessidade de que este tenha o curso primário e/ou seja alfabetizado (Lei nº 5.686/1971).