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Relações entre as diferentes categorizações da sociologia da

1 A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DA INFÂNCIA: CRIAÇÃO DO

1.3 Organização e categorização da sociologia da infância: as

1.3.1 Relações entre as diferentes categorizações da sociologia da

O texto de Frønes, conforme apontado acima, foi o primeiro dentro dos aqui apresentados a propor uma organização de trabalhos que estudam a infância a partir de um olhar sociológico, mesmo que não classifique o campo da sociologia da infância. Tomando esta primeira categorização como referência, abaixo serão feitas relações com a intenção de organizar estas categorizações e relacioná-las às pesquisas do campo no Brasil, discutidas na introdução da presente pesquisa. A figura a seguir esquematiza as categorias de pesquisa anteriormente citadas:

Figura 1 – Categorizações das pesquisas em sociologia da infância na literatura do campo

As duas primeiras dimensões apontadas por Frønes (1994) tratam das relações que as crianças estabelecem com atores de outras categorias geracionais e com atores da mesma categoria, ou seja, trata da ação das crianças e de suas relações inter e intrageracionais. Conforme se vê nas setas, em todos os outros trabalhos acima mencionados há referências à abordagem de pesquisa na sociologia da infância que se ocupa justamente das crianças, quais sejam: a criança tribal (JAMES, JENKS, PROUT, 1998), a abordagem da agência (QVORTRUP, 1999), sociologia das crianças (MAYAL, 2002), abordagem relacional (GAITÁN MUÑOZ, 2006a) e estudos interpretativos (SARMENTO, 2008). Tanto Frønes (1994) quanto Montandon (2001) apontam a questão da socialização em seus textos, sem incluí-la definitivamente em suas categorias. Montandon (2001) vai incluir os estudos de Corsaro (1997) que apresentam uma nova teoria sobre socialização a partir de seus estudos acerca das crianças em grupos de pares.

Os estudos da sociologia da infância que se interessam por perspectivas e abordagens apresentadas por Frønes (1994) nas duas outras dimensões da infância, dispositivos institucionais da infância e infância como grupo de idade, passaram a ser desenvolvidos com um olhar particularmente estrutural e, nesse sentido, essas duas dimensões também podem ser realocadas dentro de uma mesma abordagem44. Dessa forma, pode-se dizer que as categorias criança como estrutura social’ (JAMES, JENKS, PROUT, 1998), abordagem estrutural (QVORTRUP, 1999), sociologia da infância estrutural (MAYALL, 2002), abordagem estrutural (GAITÁN MUÑOZ, 2006a) e estudos estruturais (SARMENTO, 2008) compõem um mesmo grupo.

As outras duas categorias que não podem ser alocadas nas anteriores são propostas tanto por Montandon (2001) quanto por James, Jenks e Prout (1998). A primeira delas é a que corresponde aos trabalhos que abordam a construção social da infância, de acordo Montandon (2001) ou da criança socialmente construída, segundo a nomenclatura de James, Jenks e Prout (1998), categoria que também corresponde à linha da sociologia da infância desconstrutiva de Mayall (2002) e à abordagem construcionista de Gaitán Muñoz (2006). Na organização proposta por Sarmento (2008), as pesquisas inseridas em ambas as correntes interacionista e                                                                                                                

44 Mesmo que muitos dos estudos brasileiros realizados com crianças tenham sido desenvolvidos em

instituições, especialmente as escolares, para crianças (cf. NASCIMENTO 2011, 2013; QUINTEIRO, 2003), os dispositivos institucionais e a institucionalização das crianças e da infância não foram o objeto das pesquisas, conforme apontado na introdução desta pesquisa.

estrutural podem fazer parte desta categoria, a qual o autor não reconhece como uma abordagem diferenciada45.

Por fim, James, Jenks e Prout (1998) apresentam a criança como grupo minoritário, o que se relaciona com os estudos de intervenção categorizados por Sarmento (2008).

Em síntese, as pesquisas desenvolvidas na sociologia da infância no cenário internacional buscam compreender aspectos sobre a infância e sobre as vidas das crianças que tratem das relações em nível pessoal estabelecidas entre elas ou entre elas e atores de outras categorias geracionais; pesquisas que buscam entender a infância em sua condição de categoria, seu papel e lugar nas sociedades; pesquisas que buscam refletir sobre os diferentes discursos acerca da infância; e pesquisas que buscam compreender diferentes infâncias. Ao considerar todas essas propostas de categorização do campo da sociologia da infância, aquela esquematizada por Mayall (2002) parece ser a que consegue melhor agrupar os diferentes interesses e dimensões dos estudos da infância. Assim, utilizando suas categorias, retomam-se as teses brasileiras em sociologia da infância apresentadas na introdução da presente pesquisa46.

Entre os anos de 2011 e 2012, foram defendidas, de acordo com o banco de teses da CAPES, 10 teses que continham o descritor ‘sociologia da infância’, nove das quais podem ser consideradas se inserindo na perspectiva da sociologia das crianças, pois oito delas realizam pesquisas com crianças e buscam compreender seus mundos de vida e as relações estabelecidas entre as crianças; e uma tese que analisa a cultura infantil. Como para esta análise de teses foram considerados apenas os resumos disponibilizados pelo banco de dados, não é possível determinar se e como estas pesquisas têm entrelaçamento com as outras linhas de pesquisa do campo. A outra pesquisa localizada neste levantamento analisa discursos sobre a infância, relacionando os estudos da infância com os estudos de gênero, o que faz com que seja possível considerá-la parte da linha de sociologia da infância                                                                                                                

45 Entretanto, pode-se argumentar que as pesquisas que se inserem na abordagem estrutural visam

abordagens macrossociais e baseiam-se principalmente numa perspectiva estruturalista e buscam olhar para o que as crianças têm em comum e características da categoria infância mais generalizáveis, enquanto que as pesquisas de abordagem construcionista baseiam-se em perspectivas sócio-construcionistas e pós-estruturalistas e buscam compreender as diferentes infâncias de acordo com os contextos nos quais as crianças estão inseridas e nos discursos que produzem as infâncias.

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Levantamento apresentado na seção Levantamento de teses sobre infância e pesquisa no Brasil no banco de dados da CAPES, da Introdução.

desconstrutiva, proposta por Mayall (2002). O que estes dados mostram é que a linha da sociologia da infância estrutural tem recebido pouca atenção nas pesquisas brasileiras e as discussões nessa abordagem têm sido realizadas em outras instâncias acadêmicas que não o doutorado47. A seguir, uma das perspectivas de análise sociológica da infância, aquela que sustenta esta pesquisa.

                                                                                                               

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Ressalta-se que a análise da produção acadêmica não é o objeto desta tese, mas a compõe para integrar a discussão acerca do campo da sociologia da infância no Brasil. Dois aspectos deste levantamento são importantes, o primeiro que foram lidos somente os resumos, pois o objetivo era desenhar um breve quadro do interesse pela infância nas pesquisas; o segundo que o levantamento foi limitado pelo conteúdo disponibilizado pelo banco de dados de teses da CAPES que compreendia apenas os anos de 2011 e 2012, ou seja, não foram consultadas outras fontes que poderiam ampliar o levantamento.