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Foto 81. Ayana descobre o bumbum de Yuri

2.4 A SELEÇÃO, A TRANSCRIÇÃO E A ORGANIZAÇÃO DOS

A análise do material videogravado seguiu as diretrizes da opção metodológica já anunciadas e se desdobrou em procedimentos orientados pelo objetivo do estudo, qual seja, examinar o comportamento interativo da criança com coetâneos e da criança com adultos profissionais, relacionando-o a práticas pedagógicas, no ambiente da creche.

Cada registro videogravado foi assistido pelo menos duas vezes, ocasião em que se podia circunscrever as ações entre parceiros envolvidos em brincadeiras ou outras atividades partilhadas. A configuração interacional recortada foi denominada de episódio (CARVALHO, et al. 1996; PEDROSA, 1989).

As cenas foram vistas, ora em velocidade normal, ora acelerada, noutras vezes com a imagem “congelada” momentaneamente ou voltando nas imagens que pareciam conter detalhes reveladores de informações pertinentes ao episódio investigado. Esse primeiro rastreamento das filmagens de cunho exploratório foi eleito a fim de se ter ideia do conjunto de eventos de cada sessão através de uma ampla perspectiva: o que está acontecendo nas situações interativas?

Em seguida, procedemos a uma primeira seleção de cenas/eventos do conjunto de horas videogravadas, agrupando o material selecionado em episódios numa tabela com dados alçados das cenas analisadas, visando facilitar o trânsito de informações entre os diferentes eventos. A tabela construída para tal finalidade foi subdividida em temáticas de análise com os seguintes indicadores (ver apêndice C):

a) situação interativa – recorte da circunstância principal da cena;

b) título – sinopse de um acontecimento ou detalhe que facilmente identificasse a cena- alvo da investigação;

c) CMEI/data da coleta/mídia – identificação da instituição, registro do nº da sessão na organização temporal e a especificação do DVD onde a cena em pauta estava copiada;

d) localização/minutagem – recorte temporal do(s) evento(s)-alvo(s) da investigação; e) duração – extensão temporal do segmento analisado no percurso da sessão examinada;

f) configuração da atividade – breve apresentação da situação interativa marcada pela seleção de um conjunto de significados atribuídos ao episódio;

g) integrantes – crianças e/ou adultos profissionais presentes na cena.

O passo seguinte foi a seleção dos episódios para apresentação do estudo e posterior transcrição. O percurso de exploração de cada episódio foi feito mediante a observação e descrição das ações das crianças. A forma de abordar os episódios seguiu um procedimento sistemático, embora não rígido. Primeiramente buscava-se identificar o antecedente à abordagem social  pretendeu-se rastrear o início do direcionamento social da criança ao parceiro. Num segundo momento, foram examinados e descritos os comportamentos entre parceiros, focalizando as ações da criança iniciante e as (re)ações apresentadas pelo parceiro- alvo que caracterizam o desenrolar da interação. Nessa ocasião, uma pergunta guiou o percurso investigativo: como as crianças iniciam o contato social com o parceiro e se entrosam em atividades conjuntas?

A exploração dos dados também considerou o contexto privilegiado para estudar ações da Educação Infantil (BONDIOLI, 2002). Nessa perspectiva, o estudo das práticas cotidianas nos permitiu refletir sobre o que se faz na creche com e para as crianças a partir de circunstâncias nas quais a ação educativa acontecia. Sendo assim, definimos como recorte do fluxo de atividades em andamento no berçário, os seguintes elementos da jornada diária: a) momentos de atividade dirigida pelo adulto que estrutura o acontecimento, escolhendo as atividades que devem ser realizadas, propondo ações, espaços e tempos e/ou atuando diretamente com a criança;

b) ações de apoio às iniciativas infantis – o adulto, sem dirigir a atividade, oferece materiais, disponibiliza espaços, objetos e momentos para as brincadeiras de livre escolha das crianças e só interfere em momentos agonísticos ou em risco de segurança física da criança; c) momentos de atividades de livre escolha pela criança;

d) o período do almoço;

Uma pergunta guiou o percurso investigativo neste segundo momento da exploração dos dados: como a interação de crianças e adultos profissionais no berçário gera indicadores da organização pedagógica favorável às aquisições socioafetivas e cognitivas da criança? Em seguida, buscamos examinar e descrever aspectos qualitativos dos episódios com o olhar centrado nas interações das crianças com o coetâneo e com os adultos profissionais, explorando as formas de inserção da criança na atividade proposta pelo adulto; a sequência da experiência interativa; o tipo de atividade em que os parceiros estavam envolvidos; o tipo de proposta sugerida pela educadora; o modo de implementação da proposta; a participação das crianças na proposta, examinando situações geradas a partir das sugestões da professora e/ou ADI; o modo como o adulto interage com as crianças durante o desenrolar da atividade; o uso de recursos materiais e da organização do espaço físico, bem como o modo como as crianças se organizam socialmente com os materiais disponíveis na sala.

Uma vez efetuada a transcrição das situações interativas eleitas, decidiu-se percorrer as singularidades de cada episódio agrupando detalhes pertinentes à organização interacional construída pelo grupo ou díades. Para tal empreendimento, foram utilizados códigos a fim de identificar eventos comuns por meio de cores e sinais gráficos. A análise do episódio Encontros na mesa 3 serve para ilustrar esse ponto (ver apêndice D).

Uma vez efetuada essa codificação, o próximo passo foi comparar as distintas circunstâncias no intuito de apreender as especificidades dos dados através do confronto entre diferenças, traços comuns ou elementos recorrentes alçados das situações interativas observadas.

Para a apresentação dos resultados do estudo, julgamos pertinente resumir os momentos dos episódios escolhidos, preservando detalhes que orientassem o leitor para os aspectos da discussão que se pretendeu realçar em cada trama interacional selecionada e intitulada.

A sequência de episódios transcritos e analisados não foi aleatória. Ao contrário, a forma de apresentação dos achados do estudo seguiu uma organização situada em dois blocos de análise. O primeiro conjunto apresentou a sequência de engajamento social das crianças com seus coetâneos em níveis de complexidade crescente e qualitativamente diferentes evidenciados nas ações conjuntas.

No segundo bloco de análise, os resultados do estudo foram agrupados em episódios que tematizam as interfaces entre a criança em interação social e a organização das práticas pedagógicas no berçário planejadas com o intuito de apoiar, proteger e acolher a criança, bem como favorecer suas aquisições sociafetivas e cognitivas.

A seguir apresentaremos e discutiremos os achados capturados por este estudo, dando visibilidade aos processos interativos de criança–criança e criança–adultos profissionais nas práticas cotidianas do berçário. Algumas implicações para a organização do ambiente pedagógico favorável às aquisições da criança serão apontadas.

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