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2.6 A SEPARAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA TARDIA E NA POS-ADOLESCÊNCIA.

Mas se a emergência da puberdade assinala o início dum período de grandes mudanças, quer no adolescente quer no contexto familiar, a emergência da sua saída de casa, na fase final da adolescência, assinala ela também um período com problemática específica, envolvendo pais e filhos em novas tarefas desenvolvimentais necessárias para a concretização da autonomia.

A investigação sobre a saída de casa na adolescência final - questão que nos tem interessado particularmente e sobre a qual temos trabalhado - tem-se desenvolvido sobretudo nos E.U.A.

A partir da década de 60, começa a surgir numerosa literatura vinda das Clinic College, toda ela salientando os problemas da separação e as crises de identidade que a saída de casa e entrada na Universidade propicia.

Apesar de representar uma forma natural de separação, em contraste com a separação induzida por dificuldades emocionais ou familiares, a frequência de manifestações sintomáticas verificadas durante o Ia ano no College, quer nos adolescentes quer na unidade familiar, identifica este período como altamente gerador de stress (Wedge, 1958, Blaine et al. 1961, Dewees et al. 1961, Fountain, 1961, Ichikawa, 1961; Sanford, 1962 in Fleming, 1983).

Benedek (1954) sugere que os pais repetem com os filhos, de diferentes maneiras, degraus do seu próprio desenvolvimento e que em al- gumas circunstâncias conseguem a resolução de conflitos à posteriori.

Em consonância com Benedek, Elson (1964) verifica que na altura da separação, por ocasião da ida para o College, alguns pais começam a reexaminar os seus compromissos, quer na relação conjugal, quer com os filhos. Podem ainda iniciar uma luta pela sua independência, como com- petidores contemporâneos dos seus filhos, não era fantasia, mas agindo os seus próprios problemas não resolvidos. Nestes casos, as tarefas do adolescente tornam-se mais difíceis dado que ele deixa de poder ter a iniciativa da separação, e em vez disso, os seus pais estão-se separando dele.

Elson compara dois grupos de estudantes, apresentando como sintomas comuns a depressão, baixa de rendimento escolar, redução de actividades sociais ou super-actividade. Num dos grupos, verificou-se a existência em todos os casos, de dificuldades conjugais nos pais dos adolescentes, tendo estes o papel de depositário de queixas e de intérprete recíproco de necessidades e desejos dos pais. A saída do filho teria provocado a confrontação directa do casal e a ruptura. Este grupo apresentou, em relação a outro onde não existia dificuldades conjugais nos pais, um muito maior grau de sentimentos de raiva e culpa como reacção à interrupção abrupta da sua dependência aos pais. 0 outro grupo, em que havia uma renúncia voluntária aos laços de dependência, apresentou apenas uma forte componente de dor. 0 stress em eco que certos pais vivenciam, quando os seus filhos saiem para o College, pode precipitar um abandono parental antes que o adolescente esteja preparado. Elson propõe um tratamento que vise restaurar a iniciativa adolescente para continuar a tarefa de separação emocional, ajudando-o a ultrapassar a depressão reactiva.

Dum modo geral a investigação clinica produzida a partir dos or- ganismos de saúde para Universitários, indica que muitos dos problemas que trazem os estudantes a estes organismos são manifestações sintomáticas da luta pela separação e individuação na adolescência tar- dia (Elson, 1964).

A investigação realizada com amostras não clinicas traz no entanto uma compreensão mais virada para a dinâmica familiar.

A importância do factor parental na qualidade da separação, bem como a mudança na qualidade dos vínculos adolescentes-progenitores, aquando da saída de casa, é evidenciada pela investigação empírica realizada por Murphey et ai. (1963), cujos resultados já apresentámos atrás.

Na mesma linha de orientação, largamente inspirada nas teorias de Bowlby, vai a investigação de Hotch (1979) que estuda em adolescentes tardios a relação entre diferentes estilos de percepção da saída de casa e graus de "auto-suficiência" (self-sufficiency) e de "proximidade"

(relatedness), conceitos derivados dos anteriores conceitos de Murphey et ai. (1963) "autonomous" e "relatedness".

0 autor constata que graus moderados de proximidade aos pais tendem a estar associados a um "estilo activo" (agent style), definido como uma percepção de saída em que o adolescente é um elemento activo na separação por oposição a um "estilo passivo" (patient style).

De um modo geral, os teóricos e investigadores estão de acordo em considerar que a separação da família é uma das experiências mais universais da adolescência (Douvan & Adelson, 1966), que a saída de casa constitui uma transição evolutiva importante na fase final da adolescência e início do estatuto de adulto (Murphey et ai. 1963, Sulivan & Sulivan, 1980), transição mobilizando grande envolvimento emocional e dificuldades de separação, quer nos pais quer nos filhos (Margolis, 1981; Wechter, 1983; Fleming, 1986; Giami et ai., 1987) e uma

tarefa de cuja melhor ou pior resolução resultam efeitos decisivos para as tarefas desenvolvimentais posteriores (Margolis, 1981; Anderson & Fleming, 1986; Hoffman, 1984).

Contrariando a ideia predominante, oriunda sobretudo da investigação clínica, que tende a ver a saída de casa como um acon- tecimento trazendo sobretudo efeitos negativos (conflito, stress), quer para os pais quer para os filhos, Sullivan & Sullivan (1980) afirmam, pelo contrário, que "a separação física deve ser um acto positivo de autonomia permitindo que filhos e pais exibam duma forma mais livre o afecto e a comunicação sem medo de inibirem a luta pela autonomia" (op. cit., p. 94).

Sullivan & Sullivan referem que a autonomia adolescente envolve uma tarefa extremamente paradoxal que é a de aumentar a independência dos pais mantendo em simultâneo o afecto e a comunicação com eles, paradoxo igualmente vivido pelos pais, mas por ambos desejado. Os resultados da sua investigação, trazem grande confirmação aos seus pontos de vista.

Comparando dois grupos de rapazes, de 17 e 18 anos, um ingressando pela primeira vez no College, outro não, os autores verificam que o primeiro grupo exibiu um aumento no afecto, comunicação, satisfação e independência na relação com os seus pais. Também encontraram um aumento na afeição das mães e da dependência em alguns pais, face ao filho.

Os autores afirmam que a separação imposta pelo ingresso na Univer- sidade facilita o crescimento do rapaz em direcção ao objectivo desen- volvimental de se tornar funcionalmente independente dos seus pais reforçando simultaneamente os laços emocionais a eles.

No mesmo sentido vão os resultados de Keny (1986) que encontrou uma associação positiva entre o relacionamento harmonioso com os pais e o bem estar psicológico na adolescência tardia, e entre sentimentos de proximidade aos pais e a competência social em contexto universitário.

Também Pipp et al. (1985), partindo das teorias que os adolescentes constroem sobre o desenvolvimento das suas relações com os seus pais, encontram, numa amostra de universitários com idade média de 19 anos, residindo fora de casa, sentimentos de grande proximidade aos pais (comparáveis aos níveis infantis) a par com um sentimento mais forte do que no passado de responsabilidade, domínio e autonomia.

Os resultados sugerem, na opinião dos autores, que o processo de individuação está ainda em movimento por volta dos 19 anos e concluem que o "processo crescente de autonomização e responsabilização ocorre num contexto de relação entre pai e filho, enlaçada e talvez protegida, por um forte laço afectivo de amor" (op. cit., p. 1001).

Hoffman (1984), cujo trabalho já referimos no Cap. II, propôs, a partir fundamentalmente das teorias psicanalíticas sobre a separação- individuação (Mahler, Bios), uma conceptualização das diferentes dimensões da separação psicológica adolescente e desenvolveu um instrumento de auto-relato destinado à sua avaliação.

Os resultados da investigação de Hoffman, realizada numa amostra constituída por adolescentes universitários entre os 18 e os 22 anos, 62% dos quais caloiros revelam que: (1) uma maior independência con- flitual está relacionada com melhor ajustamento pessoal, e sobretudo nas relações amorosas e (2) uma maior independência emocional está relacionada com melhor ajustamento escolar. Contrariamente ao esperado, o autor encontra uma correlação negativa entre a independência de atitudes e o ajustamento pessoal. Na sua interpretação, atitudes ex- tremamente diferentes entre o adolescente e os pais podem reflectir uma reacção de rebelião ou uma ausência de independência conflitual.

Na mesma linha de preocupação - conceptualizar e medir o constructo de separação psicológica - vão os trabalhos de Moore e de Hotch.

0 primeiro trabalho destes autores (Moore & Hotch, 1981) representa uma tentativa de obter dados normativos sobre a saída de casa adoles- cente.

A saída de casa não é conceptualizada a partir dos paradigmas teóricos existentes mas a partir das próprias conceptualizações adoles- centes. Ou seja os autores equacionam as perguntas: (1) Como é que os adolescentes tardios definem a saída de casa ou a separação da família e

(2) Qual é o significado subjectivo destas definições para eles?

Para isso, Moore & Hotch (1981) estudam as percepções sobre a saída de casa, numa amostra de adolescentes de ambos os sexos, de 18 anos de idade, através de entrevista semi-estruturada. 0 seu trabalho conduziu à identificação de oito categorias definidoras do constructo saída de casa: controlo pessoal, independência económica, residência separada, separação física, afiliação escolar, dissociação, separação emocional e graduação. Os autores verificaram que as categorias "separação emocional" e "controlo pessoal" são duas configurações indicadoras de saída de casa associadas respectivamente a uma separação pais- adolescentes relativamente perturbada e não perturbada.

Em trabalho posterior, Moore & Hotch (1983) investigam a importância relativa atribuída pelos adolescentes a cada uma destas oito categorias. Os autores verificam que numa amostra de universitários entre os 18 e os 21 anos, vivendo fora de casa, o grau de importância atribuída decresce, segundo esta ordenação: "Controlo Pessoal", "Independência Económica", "Graduação", "Residência Separada", "Separação Física", "Afiliação Escolar", "Dissociação" e "Separação Emocional".

A categoria "Controlo Pessoal" - definida pelos itens: "tomar as suas próprias decisões", "menor controlo parental", "fazer as coisas por si próprio", "sentir-se suficientemente maduro" - aparece portanto, na percepção adolescente, como a dimensão mais importante associada à saída de casa. A dimensão "Separação Emocional" - definida pelos itens: "sentir-se como uma visita em casa", "sentir que já não pertence mais à casa", "não se sentir ligado à família" - aparece como a dimensão menos importante.

Curiosamente os autores não encontram neste estudo diferenças significativas entre os sexos embora considerem que o sexo é uma variável muito importante, mediando a percepção da saída de casa.

Moore (1987), após ter identificado as dimensões do constructo "separação pais-adolescentes", a partir das conceptualizações adoles- centes (tal como referimos atrás, no Cap. II) verifica que a forma como os adolescentes tardios realizam a separação física está associada com o seu bem estar psicológico e com a maneira como percepcionam a relação com os seus pais.

As dimensões "independência económica", "residência separada", "controlo pessoal" e "vinculação emocional", revelaram ser, em trabalho realizado por Anderson & Fleming (1986) , variáveis com alto poder preditivo, quer da "identidade do ego" quer do "ajustamento à Universidade".

0 estudo, conduzido numa amostra de universitários cuja média de idades era de 20.7 anos, pos era evidência uma forte associação entre as variáveis em estudo: tanto uma forte identidade do ego como um melhor ajustamento psicossocial no adolescente, estavam relacionados com percepções adolescentes de maior controlo sobre as suas vidas, independência económica e residencial e sentimentos positivos de vinculação emocional aos pais.

Estes resultados apoiam os resultados empíricos prévios de Moore & Hotch (1981, 1982, 1983) que sugerem que as estratégias de saída de casa acima tratadas estão positivamente associadas com uma separação dos pais bem sucedida.

0 facto de que são as duas dimensões "controlo pessoal" e "residência separada" que contribuem para uma maior proporção de variância, mais do que a vinculação emocional, sugere que se por um lado é importante a manutenção de laços positivos aos pais (Sullivan &. Sul-

livan, 1980), a separação física e o controlo pessoal sobre as suas próprias vidas, é um importante factor de "contra-peso" na balança "autonomia-vinculação".

Partindo do quadro conceptual concebido por Cooper e por Grotevant - que referimos atrás, no Cap.II - Campbell et ai. (1984) avaliam a utilidade preditora das dimensões individualidade (individuality) e ligação (connectedness) na diferenciação dos quatro estatutos de iden- tidade preconizados por Mareia. Os autores utilizam como medidas da ligação as percepções de afeição e de comunicação com os pais e como medidas da individualidade as percepções de autonomia.

Os resultados encontrados trazem confirmação às teses defendidas por Cooper e por Grotevant, segundo as quais um balanceamento entre a ligação familiar e o encorajamento à individualidade são necessários e facilitam uma saudável formação de identidade no adolescente.

Nesta mesma área conceptual - o modelo de individuação construído por Cooper e Grotevant - se alicerça a investigação de White et ai. (1985, in Hill & Holmbeck, 1986), que conduzem um estudo longitudinal sobre a individuação e a vinculação, em grupos de jovens adultos, sol- teiros e casados, de 22, 24 e 26 anos.

Os autores descrevem três níveis hierárquicos de maturidade nas relações, principal foco da sua investigação: Nível 1 - "Focado nele próprio" (self-focused), Nível 2 - "Focado-no-papel" (role focused) e Nível 3 - "Individuado-ligado" (individuaded-connected). No nível 3, que nos interessa mais particularmente, incluem-se os "indivíduos que são altamente individuados mas que também são capazes de se ligar a outros muito próximos em laços mútuos, recíprocos e íntimos" (White et ai. 1985, cit. in Hill & Holmbeck, 1986, p. 168).

Os resultados preliminares indicam que poucos indivíduos, entre os 22 e os 26 anos, se encontram neste terceiro nível de maturidade. As relações mantidas pelas raparigas situam-se a níveis mais elevados do que as relações dos rapazes e os scores de maturidade na relação com a mãe são mais altos do que com o pai.

De algum modo estes resultados estão em consonância com os de Loevinger e de Kohlberg, na área das teorias socio-cognitivas, que iremos abordar no Cap. V.

A inclusão nesta investigação de jovens adultos, casados, é inovadora, dado que a tendência geral é trabalhar com amostras de adolescentes tardios, solteiros, e de certo modo numa situação privilegiada - a de estudantes universitários - o que por si só não per- mite grandes generalizações a outras camadas da população.

A saída de casa é também, nos trabalhos revistos, motivada pelo in- gresso na Universidade, o que cria circunstâncias especiais de análise: o adolescente sai mas, regra geral, mantém-se num estatuto de dependência económica face aos pais e não constitui ainda família própria.

As saídas de casa por outros motivos e noutras circunstâncias sociais, não têm merecido a atenção dos investigadores. Exceptuam-se os trabalhos de Lefebre & Morval (1983) e de Giami et ai. (1987) que realizaram investigações com adolescentes canadianos e franceses respec- tivamente.

Lefebre & Morval (1983) analisam em dez famílias o período de saída de um membro adolescente motivado pelo casamento. Os resultados sugerem que o casamento é um excelente rito de passagem na delineação da separação entre pais e adolescentes verificando-se uma desvinculação progressiva nos casos de coabitação. Os autores sugerem ainda que os rituais escolhidos para a cerimónia são bons indicadores de alterações do sistema familiar.

Giarai et al. (1987) analisam um outro tipo de circunstância: jovens entre os 18 e os 23 anos, sem filhos, vivendo em residência separada dos pais, casados ou não.

Os autores constatam que "a partida do domicílio familiar, longe de significar uma ruptura entre gerações, é marcada pelo deslocamento das transações que reactivam os processos de comunicação" (op. cit., p. 854), quer ao nível do afecto, quer ao nível do comportamento. Os autores põem em evidência os movimentos de vai-e-vem, movimentos de separação e de ligação, períodos de permanência em casa e outros fora de casa, sugerindo um processo de separação por ensaio e erro.

A maior parte da investigação empírica revista aborda a problemática da saída de casa num contexto de contemporaniedade: o adolescente encontra-se na fase de saída ou já saiu de casa. Não conhecemos trabalhos que estudem a forma como o adolescente antecipa ou fantasia a saída.

Interessados nós próprios pela investigação nesta área e deparando com a inexistência de trabalhos que abordem a dimensão mais interna da representação imaginária da saída de casa, realizámos dois trabalhos de investigação sobre esse tema.

O primeiro trabalho (Fleming, 1986), foi realizado numa amostra constituída por estudantes do ensino secundário, dos 18 aos 23 anos. 0 segundo trabalho (Fleming, 1988), numa amostra de universitários, dos 18 aos 25 anos. A partir da análise de conteúdo das histórias contadas pelos sujeitos acerca de um personagem imaginário que saía de casa, elaborámos e tratámos as seguintes categorias de resposta: (1) o con- texto relacional e motivacional da saída, (2) a atribuição do sucesso ou fracasso após a saída e (3) a vivência afectiva da situação.

A análise comparativa dos resultados encontrados nas duas investigações conduziu aos seguintes resultados:

Prevalecem, nos dois trabalhos, aqueles que concebem a saída num contexto de alta conflitualidade com os pais, embora seja superior a percentagem de sujeitos universitários capazes de imaginar a saída num contexto relacional sem conflitos.

Por outro lado, enquanto que 64% do total da amostra do primeiro trabalho imaginaram uma saída por rejeição do meio familiar, a maior parte dos jovens universitários imaginam já uma saída cuja motivação principal se prende exclusivamente com questões relacionadas com a afirmação de autonomia.

Tomadas em conjunto, os resultados revelam também uma grande diferença quanto ao modo como os jovens das duas amostras fantasiam o futuro após a saída de casa: a maioria dos jovens universitários antevê um sucesso total para o herói das suas histórias, ao passo que a maioria dos jovens e do ensino secundário fantasiam um futuro negro ou adoptam uma posição de grande reserva, acentuando as dificuldades. Tal como o estudo anterior, estão igualmente representados nas respostas dos jovens universitários os factores de sucesso/insucesso de ordem externa

(emprego, formação) e os de ordem interna (personalidade, esforço, persistência, preparação para a vida).

Os resultados atrás descritos para a terceira e última categoria de análise diferem, uma vez mais, dos encontrados para a amostra dos es- tudantes do ensino secundário: enquanto que ai predominavam os afectos negativos, a maior parte dos protagonistas das histórias dos estudantes universitários associam a saída a um envolvimento afectivo positivo.

Tornou-se-nos evidente, de acordo com os resultados das duas investigações, que a maioria dos jovens concebem a saída num contexto de alta conflitualidade com os pais, como se lhes fosse difícil representá-la num ambiente não conflitual que os obrigaria a assumirem- se como os principais agentes dessa separação. Subjacente a esta dificuldade estarão sobretudo dificuldades ao nível da desidealização dos progenitores, que uma vez transformados em maus pais facilitam o

processo de separação, necessariamente doloroso devido à persistência, pelo menos durante a adolescência tardia, de fortes vinculos e dependências afectivas aos pais.

0 segundo trabalho (Fleming, 1988), que incorporou a amostra dos pais, contemplou ainda a análise das expectativas do pai e da mãe, quanto à capacidade de autonomização dos seus filhos. Os resultados apontaram claramente para a prevalência de expectativas positivas quanto à capacidade de os filhos se autonomizarem com sucesso e para a manutenção de fortes laços afectivos entre pais e filhos.

2.7 - A IDADE E O SEXO

Os trabalhos revistos e comentados até aqui, põem em evidência a variabilidade da autonomia adolescente e todos eles identificam factores ou variáveis, principalmente de indole cultural e familiar, que dum modo ou de outro contribuem e explicam essa variabilidade.

Duas outras variáveis: o sexo e a idade, revelam também elas con- tribuir para explicar as diferenças entre adolescentes na quantidade e tipo de autonomia conseguida. No entanto são poucos os trabalhos que adoptaram claramente uma perspectiva desenvolvimental, tendo-se a investigação centrado, na maior parte dos casos, na procura de correlações entre a autonomia e outras variáveis, negligenciando os aspectos diferenciais ligados ao sexo e à idade.

A evidência empírica mais consistente, provinda da investigação prévia existente, diz respeito à idade.

Passamos a apresentar os estudos que, utilizando quer amostras em corte-transversal quer longitudinal, conduziram a resultados consis- tentes e que permitem evidenciar o carácter desenvolvimental da autonomia.

A maior parte desses estudos puseram ainda em evidência diferenças entre rapazes e raparigas, mas a evidência empírica neste tópico, é mais controversa.

0 estudo de Douvan & Adelson (1966), já por nós numerosas vezes referido, pôs em evidência que a autonomia comportamental sobe

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