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SECÇÃO I: A AUTONOMIA ADOLESCENTE

AUTONOMIA ADOLESCENTE E CONTEXTO SOCIAL

O nosso trabalho de investigação, debruça-se a partir de ura campo de observação e de reflexão particular, o da Psicologia, sobre a

autonomia. Não iremos aprofundar aqui portanto os aspectos sócio-

históricos ligados à autonomia nas diferentes épocas históricas, no sen- tido sincrónico e diacrónico, mas tão só tecer considerações sobre al- guns aspectos sociais.

Entendemos a autonomia como uma tarefa desenvolvimental iniciada desde cedo na infância do Homem e conhecendo a partir daí períodos de intenso crescimento.

Um desses períodos é a adolescência (do latim adolescere que significa crescer) e é para dentro desse período do ciclo vital que iremos dirigir o nosso olhar, lançar a nossa interrogação...

A passagem de um estado simbiótico com a mãe na infância precoce (Mahler, 1968) para um estado de diferenciação e de autonomia pode ser considerada uma invariante no crescimento humano; já as condições em que essa passagem se processa conhece uma grande variabilidade consoante os diversos contextos em que decorre.

Começaremos por abordar a problemática das condições socio-históricas, o contexto mais alargado, dentro do qual outros e outros se configuram e dentro do qual necessariamente qualquer estudo sobre a autonomia deve ser enquadrado.

Nenhuma sociedade pode funcionar efectivamente ou perdurar, se cada um dos seus membros não funcionar competentemente por si mesmo, se não contribuir com a sua parte pessoal para a sobrevivência. Por outras palavras, todas as sociedades esperam que os seus membros adultos sejam auto-suficientes em determinado grau e esperam que os seus membros jovens se tornem mais autónomos (ou mais auto-suficientes) durante o periodo do seu maior crescimento, desenvolvimento e socialização.

Todas as sociedades esperam portanto que um certo grau de autonomia e de responsabilidade social seja atingido após a adolescência dos seus membros. A "quantidade e qualidade" de autonomia requerida difere, de acordo com as expectativas relativas aos esteriótipos dos papéis sexuais e de acordo ainda com o sistema de valores de cada sociedade.

As sociedades industrializadas ocidentais, quadrante em que nos englobamos como país e como realidade cultural, erigiram como um dos seus valores centrais a liberdade individual, a possibilidade de atingir um estatuto de indivíduo autónomo, capaz de decidir sobre a sua própria vida. A terapeuta Vivian Rakoff (1978) afirma mesmo que "até muito recentemente a individuação, a independência, e o direito de dar prossecução a uma identidade pessoal têm sido percebidas como expressões do maior bem estar social. Esta tem sido a ideologia essencial do século vinte" (op.cit., p.119).

No entanto, as sociedades ocidentais diferem na forma como preparam as suas crianças e adolescentes para a autonomia e dentro de cada sociedade, os valores erigidos pelas diferentes classes sociais moldam diferentes expectativas relativas à autonomia do adolescente . Por exemplo, na opinião do sociólogo português Moisés Espírito Santo, teria havido uma mudança na sociedade portuguesa na forma como socializa os seus membros mais jovens, em direcção a um menor grau de autonomização destes: "a educação moderna ( à maneira citadina) está cada vez mais

difusa. A antiga educação popular previa a independência, ou como se dizia, fazer homenzinhos e mulherzinhas e não bébés. Hoje, procura-se levar as crianças e os jovens à infantilização".1

Infelizmente não dispomos de informação de historiadores ou sociólogos portugueses sobre esta matéria, o que nos permitiria contex- tuar mais solidamente a nossa própria investigação .

A arte de criar e transformar em homem ou mulher o bébé humano não é contudo fácil. A antropóloga Ruth Benedict (1938) afirma mesmo que "a natureza dispôs a situação dramaticamente: num lado, o novo recém-nascido, fisiologicamente vulnerável, incapaz de singrar por si próprio ou de participar por sua própria iniciativa na vida do grupo, no outro lado, o homem ou a mulher adultos" (op. cit., p. 161). Acresce ainda que a nossa cultura enfatizou, muito mais do que outras, os con- trastes entre a criança e o adulto (criança assexuada / adulto apreciado pela sua virilidade; criança protegida dos aspectos feios da vida / adulto enfrentando-os sem poder claudicar; criança obedece / adulto comanda), o que a leva a considerar a existência de três grandes padrões de descontinuidade entre os papéis de adulto e de criança: Estatuto responsável - Estatuto não-responsável; Domínio - Submissão; Papéis sexuais contrastantes.

Na sua opinião, estes três padrões de descontinuidade nos papéis esperados enquanto criança e mais tarde enquanto adulto (pai ou mãe), seriam em grande parte responsáveis pelo stress e pela natureza tumul- tuosa ("storm and stress") da adolescência nas culturas ocidentais.

1. In " 0 Jornal Ilustrado", suplemento ao nQ 683 de " 0 Jornal" de 25

Um outro padrão de descontinuidade que as sociedades in- dustrializadas ocidentais conhecem actualmente é, segundo a antropóloga Margaret Mead (1970), o padrão pré-figurativo: o fosso inter-geracional criado pela impossibilidade da transmissão da herança cultural (transmissão do saber e da experiência dos pais para os filhos) devido à acelerada mutação social (inovação tecnológica, novos recursos postos à disposição dos adolescentes não conhecidos na adolescência dos pais, etc.), o que coloca os adolescentes perante novos desafios situacionais, transformando-os mais em " criadores de cultura" do que em herdeiros da cultura dos progenitores.

No entanto, esta visão não é partilhada por alguns historiadores que minimizam a importância do "fosso inter-geracional" e trazem uma outra perspectiva que nos parece interessante contrastar com a an- terior.

Segundo Gillis, um historiador que tratou a questão da juventude e da História na perspectiva da tradição e da mudança nas sociedades europeias: "Os membros jovens de uma classe particular experienciam o mundo diferentemente da forma como os membros mais velhos o experien- ciam, mas ambos partilham uma herança comum. A noção popular de "fosso geracional" ignora esta totalidade e deve ser usada só com grande precaução. Existem,é certo, diferentes gerações [...] mas existe também uma enorme continuidade dentro duma classe, género, ou grupo étnico que liga as gerações numa visão e em comportamentos comuns [...] . Os jovens são tanto executores como herdeiros da tradição. Cada geração redefine as suas tradições de modo a dar resposta às suas necessidades par- ticulares " (Gillis, 1981, cit. in Youniss & Smollar, 1985, p.173).

Também determinados mecanismos sociais podem afectar de modo contraditório o desenvolvimento da autonomia durante a adolescência.

Fasick (1984), um sociólogo canadiano, dá-nos um exemplo de como, na sociedade norte-americana do vigésimo século, dois mecanismos sociais afectam de modo contraditório o desenvolvimento da autonomia adoles-

cente: o sistema escolar e a economia de mercado em larga-escala. A contradição situa-se, segundo o autor, no facto que a primeira contribui para o fomento e institucionalização da dependência no adolescente, o segundo pressiona para a capacidade dum funcionamento autónomo e com- petitivo.

A contradição entre a pressão do mecanismo económico que põe muito peso na autonomia do jovem adulto e o sistema escolar que fomenta a dependência infantil, representa para o autor um padrão de descon- tinuidade no condicionamento cultural de que fala Benedict (1938).

A cultura juvenil seria então na sua perspectiva e de acordo com outros autores (Parsons, 1950, Burlingame, 1970, cit. in Fasick, 1984), uma invenção social do século XX, que serve para tornar difuso o stress provocado pelas contradições dos mecanismos sociais: a pressão provinda da dependência em que é colocado o adolescente, cuja estrutura de vida, quer na es'cola quer na familia,é uma extensão da infância e da sua necessidade de atingir um sentido de autonomia. Segundo o autor, a integração do adolescente na cultura dos pares representa um dificil mas primeiro maior passo em direcção a uma vida autónoma, e o comportamento a área fundamental que mediatiza a autonomia:" a arena dentro da qual os adolescentes afirmam a sua autonomia e realizam um estilo de vida dis- tinto é no reino do comportamento -não todo o comportamento, mas as ac- tividades não essenciais orientadas para os tempos livres que con- substanciam a sua vida social com os pares"( op.cit., p.150). 0 com- promisso com a cultura juvenil permite ainda na opinião do autor, deixar intactos compromissos maiores com os valores básicos partilhados pelos pais e pela comunidade.

Uma outra situação paradoxal, relativamente à posição da sociedade americana perante a autonomia adolescente, é identificada pelos inves- tigadores americanos,Hill e Holmbeck.

O paradoxo está, segundo os autores referidos, em que se continua a associar adolescência com luta-pela-autonomia ao mesmo tempo que se tem perante ela uma enorme atitude de protecção, ou ainda uma atitude que visa retardar a chegada à adulticia: "a pressão sobre os jovens para adiar a transição para a adulticia é enorme apesar de ser evidente que eles atingem a maturidade física mais cedo do que no passado" (Handlin et ai., 1971, cit. in Hill & Holmbeck, 1986, p. 147).

0 trabalho, as experiências educacionais, raramente oferecem opor- tunidades para o desempenho de papéis sociais regulados pelos próprios adolescentes ou para o desempenho duma conduta autónoma já que, se por um lado, lhes é dada maior liberdade, por outro lado, pais e professores controlam largamente o seu dia-a-dia passado quase em full-time na es- cola.

Segundo os autores ainda, esta situação teria levado alguns analis- tas do'sistema escolar de nível secundário nos E.U.A., a criticar a pas- sividade do papel de estudante e a recomendar reformas destinadas a promover a autonomia.

Nós próprios, em trabalho anterior (Fleming, 1983), sublinhámos que a disjunção entre a capacidade procriativa do jovem (maturidade biológica mais cedo atingida do que no passado) e a sua capacidade socio-económica (acesso à casa e ao emprego retardados) se tem vindo a acentuar, encorajando-se por um lado a separação do jovem da família de origem e retardando-a por outro lado, já que dum modo geral o jovem per- manece hoje até mais tarde no seio da família, situação que parece ser comum tanto nos jovens europeus como norte-americanos.

Com efeito, o sociólogo francês Chamboredon (s/d)2 identificou al- guns índices do prolongamento do período de coexistência entre as 2. Comunicação apresentada no "Colóquio Nacional sobre a Pós- Adolescência", Grenoble, Abril-Maio, 1983.

gerações: a permanência duradoura nos estatutos pré-matrimoniais e pré- parentais (casamento retardado e acesso retardado à paternidade), afir- mando que "tudo se passa como se houvesse um atraso ou uma transferência do momento do establishment" (op. cit., p. 16).

Com maiores ou menores contradições, num contexto mais ou menos descontínuo entre gerações, a socialização dos adolescentes é sem dúvida um factor importante na forma como adultos e adolescentes lidam com os problemas da autonomia .

Generalizado, contudo,é o desejo que cada sociedade tem que os seus membros adolescentes se tornem indivíduos autónomos das suas famílias de origem e venham a integrar a comunidade adulta e a partilhar os seus valores básicos: que assegurem em suma, a reprodução biológica da espécie e a reprodução cultural da sociedade.

Mas será que o desejo de autonomia é partilhado pelos próprios adolescentes? A investigação prévia responde afirmativamente à questão formulada: a autonomia aparece como um valor fundamental na vida dos adolescentes (Konopka, 1983, Meyer, 1988), como uma das questões mais importantes e aliciantes, associadas à expectativa da entrada na adolescência (Williamson, 1985), como um dos aspectos mais interessantes da idade (Benaches, 1981). Nós próprios, em colaboração com outros autores (Figueiredo et ai., 1983) em trabalho de investigação prévio, pudemos verificar empiricamente a presença do desejo de autonomia, em adolescentes portugueses, no período peri-pubertário: colocados perante o dilema entre a autonomia e a dependência da família, 48.0 % dos rapazes e 46.8 % de raparigas de 12-13 anos optam já pela autonomia e essa proporção sobe de forma significativa com o aumento da idade.

No contexto das ciências mais empenhadas no estudo do desenvol- vimento do ser humano, também a questão da autonomia merece um lugar proeminente. Teóricos de diferentes orientações são unâmines em con-

siderar a autonomia como uma questão central para a compreensão da segunda década da vida, seja a autonomia entendida como constructo cru- cial, estádio ou tarefa desenvolvimental.

Greenberger (1984), autora de importantes obras sobre a adolescência, afirma concretamente - e a sua afirmação é sumamente ilustrativa do interesse posto pelas teorias psicológicas no tema da autonomia - que: "o funcionamento competente do indivíduo como uma en- tidade separada ou independente é um ponto focal de todas as teorias psicológicas do desenvolvimento, [...] o tema major nas teorias da per- sonalidade é que os indivíduos se desenvolvam a partir duma posição de total vulnerabilidade e dependência face a outros para uma subsequente condição de competência e autonomia " (op. cit., p. 4 ) .

Não queremos no entanto terminar esta introdução, de carácter mais sociológico, sem referirmos o pensamento da terapeuta Vivian Rakoff (1978), que alerta para os perigos duma tónica excessiva posta pela cul- tura no culto do ser individual criando na sua opinião a ilusão da desvinculação.

Após ilustrar a "ilusão da desvinculação" através de alguns casos clínicos, Rakoff comenta: " através do processo histórico de evolução democrática, foi-nos dada, e numa escala sem precedentes, o direito de sermos indivíduos e independentes. E um grande privilégio, mas ele contém um grande perigo. 0 perigo é que podemos facilmente perceber er- roneamente o self como totalmente independente" (op. cit., p. 129).

Somos pela nossa parte muito sensíveis à importância que assume no evolutivo humano a relação humana, a necessária interacção permanente entre o self e o outro, ou ainda o self-no-outro e, neste sentido, par- tilhamos o sentir de Rakoff ao criticar uma excessiva valorização cul- tural da independência como meta individual a atingir, porque " talvez não tenhamos suficientemente percebido na natureza da identidade in- dividual a extensão do quanto o self está sempre contido nos outros"

Sublinhámos que a transição dum estado de dependência e vul- nerabilidade para um outro de maior auto-governo,é um padrão comum a todas as culturas. Afirmámos também que as práticas educativas usadas para preparar o estado adulto variam com as características do meio so- cial e que os dispositivos sociais postos à disposição do adolescente, contraditórios ou paradoxais, afectam o decurso da transição.

Introduzida a questão da importância do contexto sócio-histórico, iremos a partir de agora centrar-nos na sistematização da informação científica disponível, na área de estudo em que nos situamos, tentando apreender as diferentes conceptualizações, teorizações e experimentações que a questão tem merecido por parte da grande comunidade científica, também ela trabalhando em contextos e condições socio-históricas diferentes.

C A P I T U L O II

CONCEPTUALIZAÇOES DA AUTONOMIA

1. Conceptualizações da autonomia adolescente.

Apesar da importância conferida à adolescência pelas sociedades in- dustrializadas ocidentais no decorrer deste século, apesar da autonomia permanecer ao longo do tempo, uma questão central para os investigadores interessados no estudo do desenvolvimento psicossocial do adolescente, apesar ainda da autonomia ser uma das questões consideradas como muito importantes pelo próprio adolescente no seu vivido existencial, a operacionalização do conceito de autonomia não parece ter merecido investigação suficiente.

Alguns autores afirmam mesmo que a investigação nesta área per- manece largamente a-teórica e conceptualmente obscura por natureza

(Steinberg & Silverberg, 1986; Hill & Holmbeck, 1986) apesar dum corpo teórico vasto e consistente dentro de cada perspectiva.

As primeiras abordagens especificas datam dos anos 30, mas o maior volume de investigações surgiria a partir dos anos 60, período em que se enfatizou o conflito de gerações, a adolescência concebida enquanto rebelião, rejeição dos pais e dos seus valores , tese que viria a obter mais tarde pouca comprovação empírica.

Para as conceptualizações produzidas em torno do termo autonomia não são alheios os discursos ideológicas surgidos no seio da sociedade sobre os fenómenos juvenis, bem como as produções teóricas surgidas no seio da comunidade intelectual, mas o apuramento de uma conceptualização rigorosa e cumulativa parece longínquo.

Acresce ainda que o desenvolvimento da autonomia (envolvendo pais, pares, sociedade) é um processo complexo, exigindo uma abordagem com- preensiva, multivariada, das variáveis ou factores que a determinam. Complexo ainda pelas várias dimensões que envolve e pelas diversas conceptualizações que a abordam.

Com efeito, já em 1966, Douvan & Adelson, ao equacionarem e desen- volverem uma discussão teórica sobre a natureza multidensional da autonomia, sublinham que "o termo [autonomia] tem sido usado de forma variável e idiossincraticamente por autores de diferentes convicções e perspectivas" (op. cit., p. 130) e a situação descrita não se tem al- terado substancialmente até aos nossos dias.

Afim de captar as conceptualizações predominantes e a sua crítica, a partir do corpo de literatura disponível, começaremos por nos debruçar sobre a questão da conceptualização e operacionalização da autonomia, passando em revista, dos primeiros trabalhos às publicações mais recentes.

As primeiras abordagens empíricas sobre a autonomia adolescente utilizam o conceito de emancipação (Dimock, 1937; Sherman, 1946).

Este último autor, enfatiza a importância do estudo da relação entre pais e filhos adolescentes para a compreensão da autonomia e desde logo sublinha a necessidade duma conceptualização rigorosa. 0 autor propõe o uso do conceito de desmame psicológico (psychological weaning), porque mais apropriado para o estudo do processo de atenuação do domínio

parental que, quanto a ele, envolve mudanças tanto nos filhos como nos pais e o uso do conceito de emancipação quando se pretende estudar as mudanças progressivas nos hábitos dos individuos em crescimento.

Esta conceptualização não conhece no entanto grande incremento por parte dos investigadores que vêm a utilizar progressivamente os termos de autonomia, independência, desvinculação (détachement) e mais recente- mente os termos de individuação (individuation) ou individualidade

(individuality) e ainda de auto-governo. Os termos autonomia e independência, nem sempre contêm duma forma explicita a conceptualização teórica do autor, remetendo mais para uma conceptualização implicita, perceptivel através da operacionalização adoptada.

No entanto, é possível encontrar na literatura disponível algumas conceptualizações:

Jersild (1957) considera que o elemento essencial de independência é "a liberdade, o desejo e a capacidade de ser responsável pelos próprios pensamentos, sentimentos, julgamentos morais e decisões práticas" (op. cit., p. 231). Refere que, mais importante que a independência formal ou económica é a independência psicológica, mais difícil de adquirir, por implicar um processo de separação emocional dos pais, de desidealisação.

E muito semelhante a definição dada por Murphey et ai. (1963) para autonomia: "capacidade de fazer escolhas separadas e responsáveis, demonstrada pelo sentimento de ser uma pessoa separada e não uma extensão de outras, um desejo de liberdade para fazer escolhas, selec- cionando ou rejeitando influências externas e assumindo responsabilidade pelas próprias decisões" (op.cit.,p. 645).

Kandel & Lesser (1969, 1972), num importante estudo conduzido com adolescentes, nos E.U.A. e na Dinamarca, sobre os factores familiares que promovem a independência, definem este conceito como um sentimento subjectivo de liberdade ("sentir-se livre").

Martin (1975) , em trabalho de revisão sobre as "Relações Pais- Filhos", refere que o conceito de independência inclui habitualmente as seguintes caracteristicas: iniciativa, auto-confiança e uma luta pela obtenção de objectivos, sem ajuda. Neste sentido uma pessoa sugestionável, procurando ajuda e conformando-se será pouco independ- ente. Embora reconhecendo alguma ligação entre os conceitos de independência e dependência Martin preconiza a sua separação conceptual, vendo no último uma réplica do conceito de vinculação (attachment).

Para Berzonsky (1981), "uma pessoa autónoma é razoavelmente auto- suficiente e relativamente independente, pelo menos, das pessoas que primeiramente cuidaram dela" (op. cit., p. 101). Aprofundando mais esta definição, o autor refere o modelo de Greenberger & Sorensen (1974, in Berzonsky, 1981). Neste modelo, a autonomia é definida enquanto capacidade para funcionar competentemente e considera-se que as realizações desenvolvimentais que promovem o funcionamento autónomo são: a auto-confiança -sendo esta básica - uma orientação positiva para o trabalho e um claro sentido de identidade.

Turnbull & Turnbull (1985) utilizam o termo independência, que definem como "a escolha de viver a própria vida com as capacidades e meios que lhe são inerentes, de forma consistente com os valores pes- soais [...] como sinónimo de liberdade de escolha, auto-determinação e autonomia de interferências externas" (op. cit., p. 108).

Outra definição semelhante é a de Margalit &. Schulman (1986), para quem a autonomia é "o desejo da pessoa controlar as suas próprias acções e ficar livre do controlo coercivo do seu comportamento pelos outros" (op. cit., p. 291).

Alguns autores, porém, avançaram mais na definição de autonomia, isolando diferentes tipos: a autonomia não seria um conceito unidimen- sional, mas pluridimensional como viria a ser demonstrado.

Ausubel (1954) distingue a autonomia volitiva, que consiste na capacidade de tomar decisões, da autonomia executiva, que se traduz na capacidade de realização, fazer as coisas por si próprio.

Douvan & Adelson (1966), como dissemos, propõem um conceito de autonomia de carácter multidimensional constituída por: autonomia emocional, comportamental e de valores. A autonomia emocional refere-se "ao grau em que o adolescente conseguiu abandonar os laços infantis à família" (op. cit., p. 130), a autonomia comportamental "diz respeito ao comportamento e à decisão" (op. cit., p. 130) e está mais ligada à capacidade de fazer coisas, de agir e de decidir por si próprio. Segundo

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