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2.3 Regras interacionais

2.3.2 A sequência dialogal

Em uma perspectiva interacional, Kerbrat-Orecchioni (2006) considera que as sequências são as unidades que compõem as interações. Na visão da autora, “a sequência pode ser definida como um bloco de trocas ligadas por um forte grau de coerência semântica

ou pragmática, ou seja, trata-se de um mesmo tema ou centra-se sobre uma mesma tarefa”. (KERBRAT-ORECCHIONI, 2006, p. 56).

Conforme destacam Passeggi et al. (2010, p. 263), no âmbito dos estudos da Análise Textual dos Discursos, cuja referência são os trabalhos de Jean-Michel Adam, a sequência é reconhecida como “uma categoria de análise consolidada e regularmente utilizada nas descrições textuais.” Na abordagem desse estudioso, a teoria das sequências textuais fundamenta-se na compreensão de uma unidade textual mínima, proposição-enunciado. Essa “é o produto de um ato de enunciação”. (ADAM, [2008] 2011, p. 108).

Em sua discussão, Adam ([2008] 2011, p. 205) salienta: “as sequências são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições- enunciados: as macroproposições”. Nesse sentido, a macroproposição é definida como “uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência”. (Ibid., p. 205).

De acordo com o autor em questão, “as macroproposições que entram na composição de uma sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições”. (ADAM, [2008]2011, p. 205). Essas combinações são designadas de narrativa, argumentativa, explicativa, dialogal e descritiva. Esses cinco tipos de combinações pré-formatadas de sequências “correspondem a cinco tipos de relações macrossemânticas memorizadas por impregnações culturais (pela leitura, escuta e produção de texto) e transformadas em esquema de reconhecimento e de estruturação da informação textual”. (Ibid., p. 205). Partindo dessas noções, Adam ([2008] 2011, p. 205) focaliza

uma sequência é uma estrutura12, isto é:

 uma rede relacional hierárquica: uma grandeza analisável em partes ligadas entre si e ligadas ao todo que as constituem;

uma entidade relativamente autônoma, dotada de uma organização interna que lhe é própria, e, portanto, numa relação de dependência-independência com o conjunto mais amplo do qual faz parte (o texto). (ADAM, [2008] 2011, p. 205).

Discorrendo sobre os estudos de Adam (1992), Silva (2012, p.125) afirma que “uma sequência textual é um fragmento dotado de alguma autonomia no âmbito do texto em que se insere, e constituído por segmentos prototípicos correspondentes a diferentes fases que são inerentes a essa sequência”. Conforme essa perspectiva, “a sequência é, então, uma entidade

com relativa autonomia; configura uma estrutura hierarquizada, decomponível em macroproposições ligadas entre si e relacionadas com a totalidade do texto”. (Ibid., p. 125).

Na discussão realizada, Silva (2012, p. 126) menciona que um texto “inclui uma ou mais sequências, que se manifestam de forma integral ou elíptica (isto é, que ocorrem no texto com todas as suas fases típicas ou sem algumas delas) e que são do mesmo tipo ou de tipos diferentes.” Dessa forma, um texto pode ser integrado tanto por uma sequência, quanto por sequências de vários tipos, narrativo, descritivo, entre outros. Assim sendo, para esse autor, a sequência apresenta-se como uma unidade que se relaciona ao todo textual.

Silva (2012) destaca que os quatro primeiros tipos de sequências, geralmente, são produzidos em situações comunicativas monogeradas, isto é, em que um único locutor produz o texto. Já a sequência de tipo dialogal é poligerada, pois é produzida em situações de comunicação em que há mais de um locutor contribuindo para o desenvolvimento do texto em curso, conforme podemos observar em conversações.

Ao discutir sobre o reconhecimento das sequências dialogais, Adam ([2008] 2011, p. 246-247) pontua que “as diferenças entre as condições enunciativas orais reais e condições enunciativas escritas explicam a defasagem importante que existe entre uma conversação oral e um diálogo teatral, cinematográfico, romanesco ou de história em quadrinhos”. Segundo o autor, “a imitação da conversação oral leva a formas dialogais escritas que não poderíamos confundir com a oralidade autêntica”. (Ibid., p. 247).

Nessa direção, Adam ([2008] 2011) evoca uma citação de Goffman (1987, p. 85) para fundamentar uma definição acerca do texto dialogal-conversacional, conforme segue:

As enunciações não se encontram localizados nos parágrafos, mas em turnos de fala que são outras tantas ocasiões temporárias de ocupar alternativamente a cena. Os turnos são, eles próprios, naturalmente, emparelhados sob formas de intercâmbios bipartidos. Os intercâmbios estão ligados entre si em sequências marcadas por uma certa tematicidade. Uma ou mais sequências temáticas formam o corpo de uma conversação. Essa é a concepção interacionista, que supõe que toda enunciação é uma declaração que estabelece as palavras do locutor seguinte como sendo uma réplica ou uma réplica ao que o locutor precedente acaba de estabelecer ou, ainda, uma mescla das duas. As enunciações não se sustentam sozinhas e não têm feqüentemente [sic] nenhum sentido entendidas assim; elas são construídas e calculadas para sustentar a esteira da colaboração social que implica a tomada de turno de fala. Na natureza, a palavra pronunciada somente se encontra no intercâmbio verbal, ela é feita totalmente para esse habitat coletivo. (GOFFMAN, 1987, p. 85 apud ADAM, [2008] 2011, p. 247).

Apoiado nessa compreensão de enunciações, Adam ([2008] 2011) detém-se, então, a apresentar a composição da estrutura canônica de uma sequência dialogal. Para empreender essa noção, esse pesquisador utiliza como exemplo um trecho em discurso direto do conto de fadas Cinderela, de Perrault, descrevendo a organização, a seguir:

T76 [Q-A1] Cinderela, você gostaria de ir ao Baile? [R-B1] – Ai, senhoritas, vocês estão brincando comigo, aquilo lá não é coisa pra mim. [AVAL-A2] – Você tem razão iriam rir se vissem uma borralheira ir ao baile. (ADAM, [2008] 2011, p. 248).

Ao analisar o trecho, o pesquisador em questão menciona que no conto os personagens (A e B) se alternam para formar um intercâmbio completo, isto é, uma troca, instaurada pelo questionamento de (A) Q e reposta de (B) R. Depois, tem-se a avaliação (Aval) da resposta por aquele que pergunta (A), que fecha assim a sequência-intercâmbio.

Com base no discurso apresentado, Adam ([2008] 2011) ressalta que a estrutura observada configura-se como um núcleo transacional de um texto dialogal. “Em torno desse núcleo transacional de base, um texto dialogal é enquadrado por sequências fáticas de abertura e de fechamento. Como as sequências transacionais constituem o corpo da interação, um texto conversacional elementar completo poderia ter a forma seguinte”. (ADAM, [2008] 2011, p. 248), conforme o esquema 29, a seguir apresentado:

Quadro 4 – Organização da sequência dialogal

Fonte: Adam ([2008] 2011, p. 250)

Observamos, no esquema, o texto conversacional composto por sequências fáticas e sequências transacionais. As sequências fáticas dizem respeito aos intercâmbios [A1] [B1] e

[A4] [B3] que abrem e fecham, respectivamente, o evento comunicativo. A sequência transacional se circunscreve a partir de um esquema que apresenta, em sua organização, pergunta [A2] – resposta [B2] – avaliação [A3]. Essa organização é a estrutura de uma sequência dialogal que constitui o corpo da interação em um texto dialogal, como apontado por Adam ([2008] 2011).

Passeggi et al. (2010), ao abordarem a estrutura do texto conversacional proposta nessa perspectiva teórica, explicitam que a sequência em questão pode ser ilustrada em alguns versos da primeira estrofe do poema “O fantasma e a canção”, de Castro Alves, publicados no livro Espumas Flutuantes, conforme transcrevemos, em seguida:

Quadro 5 – Poema “O fantasma e a canção” O fantasma e a canção

Quem bate? – “A noite é sombria”! Pergunta A1 Resposta B1 = Turno 1 Quem bate? – “È rijo o tufão!...

Não ouvis a ventania? Ladra à lua um cão”.

Pergunta A2 Resposta B2 = Turno 2

- Quem bate? – “O nome qu’importa? Chamo-me dor...abre a porta!

Chamo-me frio...abre o lar! Dá-me pão...chamo-me fome! Necessidade é o meu nome!”

Pergunta A3 Resposta B3 = Turno 3

Mendigo podes passar! Avaliação A4

Fonte: Passeggi et al. (2010, p. 295)

Segundo os estudiosos, “nesse trecho, em versos que reproduzem o discurso direto, observa-se uma estrutura canônica de transação, na forma de uma sequência dialogal elementar, com pergunta, resposta e avaliação” (PASSEGGI et al., 2010, p. 294). No exemplo ilustrado, os autores em questão entendem que os personagens A (a canção) e B (o fantasma) se alternam ao longo da estrofe para constituir um encadeamento de réplicas, logo, uma sequência-intercâmbio completa. No poema, as perguntas de PA1, PA2 e PA3, com suas respostas correspondentes RA1, RA2 e RA3 configuram 3 turnos. No final, tem-se a avaliação A4 das respostas antecedentes.

Avançando na discussão sobre a estrutura da sequência dialogal, Adam ([2008] 2011) também se detém a refletir sobre a materialização dessa sequência específica em outros textos. Um desses é o poema, transcrito, a seguir, Sonnet d’automne de Baudelaire.

T3513 Teus olhos me dizem, claros como o cristal:

“Para ti, bizarro amante, qual é então meu mérito?” Q1 - Sê encantadora e cala-te! Meu coração, que todo irrita não-R1 Exceto a candura do antigo animal,

Não quer te mostrar seu segredo infernal [...] Crime, horror e loucura! – Ó pálida Margarida! Como eu, não és tu um sol outonal,

Ó minha tão branca, ó minha tão fria Margarida? Q2= R1

Na análise apresentada, Adam ([2008] 2011) explica que o poema tem duas perguntas e uma resposta. Uma das perguntas está no início do poema e reproduz, na ótica desse estudioso, em discurso direto um intercâmbio. As aspas observadas no 2 verso enquadram a pergunta feita, enquanto o travessão no 3 verso indica a alternância do locutor e, consequentemente, sua resposta. Conforme esse teórico,

a alternância dos EU e TU garante a articulação dialogal mínima das duas intervenções, mesmo se o verso 2 é, de fato, uma fala silenciosa atribuída aos olhos daquela cujo nome parece ser Margarida. O ato de ‘resposta’ toma aqui não a forma da asserção habitual, mas a de uma ordem. (ADAM, [2008] 2011, p. 251).

A última pergunta (Q2) é considerada por Adam ([2008]2011) como um questionamento exclamativo, cuja resposta é vislumbrada no 3º verso.

Observamos, no poema, que as intervenções [Q1] não-[R1] e [Q2] = [R1] não configuram a estrutura transacional de uma sequência dialogal, contudo, a alternância dos interlocutores nos versos 2 e 3 materializam uma articulação dialogal entre as duas intervenções, conforme aponta Adam ([2008]2011). Essa articulação dialogal deixa evidente que o diálogo não prosseguiu, logo, não gerou uma sequência, bem como um intercâmbio completo.

Embasado nos postulados de Adam (1992) acerca das sequências dialogais, Silva (2012, p. 172) as considera como “qualquer texto (ou segmento textual) composto por um conjunto de intervenções de dois [...] locutores que alternam [sic] repetidamente na tomada da palavra. O texto produzido apresenta uma estrutura hierarquizada, em que cada nova intervenção decorre de contribuições anteriores”. Nessa concepção, a sequência dialogal é,

13 Ênfases do autor.

então, um texto ou segmento textual constituído por dois tipos de intervenções: as fáticas e as transacionais.

a) intervenções fáticas: são as que se inserem nos rituais de abertura e de fechamento da sequência dialogal; de acordo com a situação de enunciação (que é, por definição, sempre única) e com os padrões socioculturais da comunidade em que se está, as fases de abertura e de encerramento do diálogo podem ser mais ou menos extensas e conter mais ou menos intervenções de cada locutor;

b) intervenções transacionais: são as que constituem o corpo da interação verbal, e que incluem os conteúdos que os locutores pretendem comunicar, do ponto de vista das estruturas verbais usadas, são menos ritualizadas, e, por isso, menos previsíveis do que as intervenções fáticas. (SILVA, 2012, p. 173).

Na discussão sobre as sequências dialogais, Passeggi et al. (2010, p. 295) destacam que os intercâmbios constituintes das sequências fáticas podem ser reconhecidos também na letra da música “Sinal fechado” de Chico Buarque.

a) intercâmbio de abertura: - Olá! Como vai?

- Eu vou indo. E você, tudo bem?

- Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro ...E você? - Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo... Quem sabe? - Quanto tempo!

-Pois é, quanto tempo! b) intercâmbio de fechamento

- Por favor, não esqueça, não esqueça... - Adeus!

- Adeus! -Adeus!

Fica claro nesse texto da música que as intervenções fáticas dizem respeito às formas de cumprimento convencionalizadas nas sociedades, como os rituais de saudação e de despedida. Silva (2012) afirma que as intervenções fáticas são as mais previsíveis e rotineiras na abertura e encerramento das sequências dialogais e, consequentemente, na construção do diálogo em curso, haja vista que é comum que as pessoas ao iniciarem um diálogo se cumprimentem, como também se despeçam ao finalizá-lo. Na mesma direção, Kerbrat- Orecchioni (2006, p. 56-57) menciona que nas interações verbais,

As sequências que enquadram a abertura e a conclusão14 têm funções bem particulares – para a abertura: estabelecer o contato físico e psicológico entre os interlocutores (função “fática”), operar uma primeira, mas decisiva “definição da situação”, iniciar a troca propriamente dita de maneira favorável, graças a certo número de “rituais” confirmativos (cumprimentos, manifestações de cordialidade e do prazer que se experimenta com o encontro); para a conclusão: anunciar e organizar da maneira mais harmoniosa possível o fim do encontro, por meio, ainda, de diferentes trocas, com função “euforizante” (desculpas e justificativas de partida, balanço positivo do encontro, agradecimentos, votos, cumprimentos sob promessas de reencontro).

Já as intervenções transacionais são as que compõem o corpo das interações. Do ponto de vista de Silva (2012), as intervenções transacionais podem evidenciar em sua realização qualquer conteúdo, podendo este relacionar-se a diferentes tipos de sequência textual. Em outros termos, Silva (2012) explica que no desenvolvimento de uma interação os participantes podem abordar diversos temas, na forma de distintos tipos sequenciais. Afinal, é comum nos diálogos as pessoas narrarem histórias, descrevem ambientes, pessoas, etc.

Nessa perspectiva, Silva (2012) assume que as sequências dialogais são distintas dos demais tipos dispostos por Adam (1992), pois além delas serem geradas em situações comunicativas, em que se tem mais de um interlocutor contribuindo para a construção de um texto, elas podem integrar em sua composição outros tipos de sequências. Em sua abordagem, Silva (2012) deixa claro que os textos ou segmentos de textos que apresentam em sua materialização o tipo sequencial dialogal constituem-se como diálogos.

Considerando que a noção de diálogo nas investigações de Adam (1992) exige mais alguns esclarecimentos, Silva (2012) se detém a explicar que é comum as pessoas designarem um texto em que os interlocutores se alternam na tomada da palavra de conversa, conversação ou diálogo. Nessa definição, o autor considera os diálogos que ocorrem em uma realidade objetiva, como também os que se dão em uma realidade ficcional.

Ao explicitar a compreensão sobre os termos conversação e diálogo, Silva (2012, p. 169) salienta: “No âmbito específico dos estudos linguísticos, Adam (1992) propôs que não sejam usados indiferentemente os termos conversação e diálogo [...] haverá a ganhar em rigor terminológico – distinguindo duas perspectivas de análises diversas, embora complementares”. Pautado nas reflexões de Adam (1992), Silva (2012) menciona que nesse enfoque é sugerido que o termo conversação seja utilizado para referir-se a um gênero discursivo que apresente como característica a alternância de seus participantes na tomada da

palavra. Como exemplo desses gêneros, esse estudioso cita a entrevista e o debate. Já o termo diálogo deve ser empregado para designar um determinado tipo sequencial integrante do texto dialogal – a sequência dialogal.

Assim, nessa visão, “ambos os termos denotam o mesmo objeto: um produto verbal composto por intervenções alternadas de dois ou mais interlocutores. O que difere é a perspectiva de abordagem, o ângulo a partir do qual se observa esse objeto”. (SILVA, 2012, p. 169). Dessa forma, entendemos que nos postulados de Adam (1992) a noção de diálogo está relacionada ao tipo sequencial dialogal, portanto, quando se fala em diálogo também se fala em sequência dialogal.

Em pesquisas desenvolvidas no âmbito do grupo Val. Es. Co. (Valência, Espanhol Coloquial) da Universidade de Valência, do qual também é coordenador, Briz (2007) menciona que tem adotado o termo diálogo para referir-se a um tipo de discurso, cuja materialização é frequente em gêneros como a entrevista, o debate, a conversação, e outros. Sob essa ótica, a conversação representa o protótipo dos diálogos.

De acordo com Briz (2007), o discurso conversacional apresenta em sua organização quatro unidades estruturais, são elas: o ato, a intervenção, o intercâmbio e o diálogo. O ato e a intervenção fazem parte do nível monológico do discurso, enquanto o intercâmbio e o diálogo do nível dialógico. Para o autor 15,

O ato é a menor unidade da conversação e o componente básico de uma intervenção; a intervenção, portanto, é constituída por um ato ou um por um conjunto de atos. A combinação de intervenções (iniciativa e reativa) de diferentes emissores gera um intercâmbio e um ou a vários intercâmbios constituem o que temos chamado de diálogo. (BRIZ, 2007, p. 16).

Nesse ponto de vista, “o mínimo para falar de diálogo é um intercâmbio (Ic), que é o mesmo, que uma intervenção iniciativa (Ii) e outra reativa (Ir)”. (BRIZ, 2007, p. 16)16. Assim,

Briz (2007) mostra, por meio do esquema 1, a seguir, que a forma mínima de realização de um diálogo é semelhante a de um intercâmbio.

15 Tradução nossa: “El acto es la unidad menor de la conversación, el constituyente básico de una intervención; la intervención, así pues, esta constituida por un acto o conjunto de actos. La combinación de intervenciones de distintos emisores (inicio y reacción) da lugar a un intercambio y uno o varios intercambios forman lo que hemos denominado diálogo.” (BRIZ, 2007, p. 16).

16 Tradução nossa: “El mínimo para hablar de diálogo es un intercambio (Ic), o lo que es lo mismo, uma intervención iniciativa (Ii) y otra reactiva (Ir)”. (BRIZ, 2007, p. 16).

Esquema 1

Fonte: Briz (2007, p. 17)

Comentando o esquema, Briz (2007) menciona que as intervenções do tipo iniciativa- reativa constroem intercâmbios, que, por sua vez, são entendidos como formas mínimas de expressão em um diálogo. Nesse sentido, Briz (2007) pontua que podemos observar a realização de um diálogo mínimo em situações de saudação, em que as pessoas ao saírem de casa encontram outras e se cumprimentam: (1) A: Bom dia; B: Bom dia.

Avançando em sua exposição, o estudioso focaliza que em uma conversação os intercâmbios também se instauram a partir de um encadeamento de intervenções do tipo iniciativa-reativa, como demostrado no diálogo mínimo. Em seguida, Briz (2007) chama atenção para o fato da estrutura de um diálogo conversacional, que pode ser observada no esquema 2, a seguir:

Esquema 2

Fonte: Briz (2007, p. 17)

Consoante as considerações de Briz (2007), o esquema evidencia que uma conversação é instaurada por um intervenção inicial (Ii), cuja função é abrir o evento comunicativo. No desenvolvimento da conversação, pode-se ter várias intervenções que

podem ser tanto de natureza (Ir-i), quanto não. Quando as intervenções no curso de uma interação são do tipo (Ir-i), elas geram intercâmbios entre os interlocutores. Por último, tem-se uma intervenção (Ir) que tem finalidade de fechar o texto conversacional.

Briz (2007) frisa que no desenvolvimento de uma conversação as intervenções nem sempre são do tipo iniciativa-reativa, entretanto, elas apresentam-se como as mais constantes no referido gênero. Do ponto de vista desse autor, é a presença de intervenções iniciativas- reativas que fazem com que as pessoas ao longo de uma conversação instaurem intercâmbios e, consequentemente, sequências de diálogos. Nessa perspectiva, Briz (2007) considera que a conversação é gênero que incluiu em sua materialização várias sequências, essas instituídas de forma dialogal ou não.

Silva (2012, p. 170) menciona que o diálogo é um texto que se desenvolve com “interlocutores em presença ou à distância, oralmente ou por escrito, ao longo de um determinado tempo. Uma sequência dialogal é, por isso, um texto (ou segmento textual) produzido coletivamente”. Esse estudioso focaliza que “os segmentos textuais prototípicos de uma sequência dialogal correspondem a diferentes fases do texto que atualizam este tipo sequencial”. (SILVA, 2012, p. 172). Dessa forma, Silva (2012) deixa claro que a estrutura macroproposiconal que compõe as sequências dialogais dá-se tanto pela articulação entre as intervenções fáticas e transacionais, como também pela relação entre uma intervenção específica e as demais constituintes do texto dialogal.

Silva (2012, p. 173) destaca que as intervenções dos participantes em um diálogo “têm frequentemente caráter binário. Por outras palavras, cada intervenção de um locutor é geralmente seguida de uma outra do seu interlocutor, que configura uma réplica ou reação à primeira intervenção.” Conforme sugere o autor, é recorrente que as intervenções dos interlocutores apresentam-se correlacionadas entre si, seja em virtude dos assuntos abordados, dos atos ilocucionários realizados e/ou dos efeitos perlocutórios almejados.

Nessa direção, Kerbrat-Orecchioni (2006, p. 53) salienta: “para que se possa falar verdadeiramente de diálogo, é preciso não somente que, pelo menos, duas pessoas se encontrem presentes, que falem alternadamente e que testemunhem por seu comportamento não verbal o ‘engajamento’ na conversação, mas que seus respectivos enunciados sejam mutuamente determinados”17. Segundo essa estudiosa, em uma interação “as contribuições dos participantes estão numa relação de dependência condicional, ou seja: toda intervenção é

17 Ênfase da autora.

criada na sequência de certo número de coerções e de um sistema de expectativas”. (Ibid., p. 52).

Kerbrat-Orecchioni (2006, p. 57) explica que a intervenção é “produzida por um único falante: é a contribuição de um falante particular em uma troca particular18.” De acordo essa pesquisadora, não se pode confundir a noção de intervenção com a de turno de fala. Galembeck (2010, p. 70), sobre essa questão, explica que “a idéia [sic] de turno – de acordo