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CAPÍTULO III. ESPECIFICIDADES COMUNICACIONAIS III 1 Elementos de contextualização

III. 2 2 A singularidade da Comunicação no caso TTIP

O caso TTIP e, mais especificamente, a sua comunicação são anunciados como algo inédito no que respeita à transparência na negociação de um acordo comercial internacional. A singularidade desta abordagem faz-se notar através de um conjunto de elementos, como é o caso da secção do website da Comissão dedicada ao Tratado.

Como é possível concluir a partir da análise do website previamente elaborada, existe um nível de aprofundamento dos temas superior àquele que se poderá verificar em casos como o do CETA96 ou TiSA97. Partindo da informação disponibilizada nesta plataforma, torna-se possível destacar elementos que contribuem igualmente para a unicidade da estratégia comunicacional do caso TTIP e que derivam da referida iniciativa de transparência – reforçada, por exemplo pela estratégia Trade for All.

Deste modo, destaca-se a publicação dos textos de negociação98 (incluindo-se aqui os textos integrais das propostas e os documentos de posicionamento da Comissão nas negociações, publicados pela primeira vez a 7 de Janeiro de 201599), a partilha de material relativo às diversas rondas de negociação, como relatórios e principais declarações100 e ainda a partilha de um Guia de Leitura101, glossário102 e factsheets103 que procuram explicitar as temáticas abordadas em cada capítulo do Tratado.

Nesta linha de disponibilização de documentos, destaca-se igualmente a publicação do Mandato de negociação para o Tratado, a 9 de Outubro de 2014104.

Ainda no que respeita ao website, destaca-se a secção Have your Say, o reflexo da enfatização que a CE atribui ao engagement com a sociedade civil europeia sobre este tópico. Note-se que para além da realização de consultas públicas e reuniões regulares, as rondas de negociação são frequentemente acompanhadas pelos denominados “eventos para stakeholders”, já que “para a Comissão, incluir

stakeholders relevantes no processo de negociação do TTIP é de suma importância”

                                                                                                                96

Secção dedicada ao CETA disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/wSse1U

97 Secção dedicada ao TiSA disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/UVmMEb 98

Textos de negociação do TTIP disponíveis no seguinte endereço: http://goo.gl/udtLzA

99 Artigo disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/W7GozI

100 Material relativo às rondas de negociação disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/mF6N0w 101

Guia de Leitura disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/ZUwCL1

102

Glossário disponível no seguinte endereço: http://goo.gl/CX1RPw

103 Factsheets disponíveis no seguinte endereço: http://goo.gl/udtLzA

(CE, 2014, p. 6)105. Estes eventos têm assim em vista a actualização dos stakeholders e a obtenção do seu feedback.

A preocupação com a gestão da opinião pública sobre o TTIP é tal que, “Nos Estados-Membros onde este tópico [TTIP] se generalizou na opinião pública, a Comissão reforçou os seus gabinetes nacionais com peritos em comércio internacional que intervêm em debates e esclarecem a opinião pública”106.

Por fim, o simples facto de a equipa TTIP ser dotada de uma conta oficial no Twitter é por si um sinal que demarca a comunicação deste acordo, já que nenhum outro – como o CETA ou o TiSA – dispõe de uma conta exclusiva na rede social107.

A lógica de funcionamento da rede social em questão possibilita momentos de interacção directa e imediata entre a equipa TTIP e os utilizadores. A título de exemplo, destaca-se a utilização da hashtag108 #TTIPhour, que serviu de elemento identificativo

num momento de discussão dedicado à colocação de questões por parte dos utilizadores e à posterior resposta por parte da Comissão109. Note-se que dadas as limitações da plataforma quanto ao número de caracteres, esta discussão poderá permanecer num patamar superficial – aspecto que poderá até evidenciar uma escolha estratégia da CE no que respeita ao recurso a uma rede social que obriga a intervenções sucintas, já que a tarefa de resposta e todo o processo de diálogo se tornam mais simples e rápidos.

III. 3. A estratégia comunicacional da sociedade civil110

De modo a que possa ser analisada a dimensão estratégica da comunicação da ECI, há que identificar primeiramente quais as necessidades comunicacionais que lhe subjazem. Neste sentido, dever-se-á entender a ECI enquanto uma Social Movement

Organization (SMO)111, para que, partindo da tipologia de funções comunicacionais elaborada por Laura Stein (2009), seja possível analisar o caso da ECI. Todavia, deverá                                                                                                                

105

Fonte: TTIP Explained – disponível em http://goo.gl/AeBkrp

106 Artigo disponível no endereço: http://goo.gl/5rt19x

107 A conta EU TTIP Team insere-se na lista de Departamentos e Serviços da CE que marcam presença

no Twitter. A lista encontra-se disponível no seguinte endereço: https://goo.gl/RZauqM

108 Hashtag: Palavra ou sequência de palavras unidas antecedida do sinal cardinal (#), usada geralmente

para identificar assuntos nas redes sociais. in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://goo.gl/nLOQii [consultado em 30-03-2016].

109 Interacção resultante da #TTIPhour disponível no seguinte endereço: https://goo.gl/FK1T8V 110

Relembramos que apesar de intitulada “A estratégia comunicacional da sociedade civil”, o presente segmento foca-se particularmente na acção da ECI que, inevitavelmente, se encontra interligada com outras entidades da sociedade civil europeia.    

ter-se presente a singularidade da génese da Iniciativa, que remetendo para o recurso a um instrumento de participação disponibilizado pela CE, acabou por evoluir para uma campanha independente.

A tipologia de Stein diferencia a “comunicação segundo esta forneça informações; auxilie na acção e mobilização; promova a interação e diálogo; faça ligações laterais; sirva como um canal para a expressão criativa; ou promova a angariação de fundos e produção de recursos” (Stein, 2009, p. 6). Partindo desta enumeração de funções comunicacionais das SMO, torna-se possível realizar a sua identificação a partir do caso concreto da ECI.

Grande parte do trabalho de campanha da ECI inclui o fornecimento de informação, seja esta disponibilizada através das plataformas virtuais como o website ou redes sociais, seja presencialmente em acções de divulgação, reuniões e conferências.

Uma vez veiculadas as informações-chave que reflectem a razão de ser da campanha, a acção e mobilização são a prioridade que se segue. Aqui inclui-se a assinatura da petição e a sua divulgação, bem como a participação em manifestações (como as que ocorreram a 10 de Outubro de 2015) e acções de sensibilização.

Por sua vez, a promoção do diálogo e interacção pode assumir diferentes formas, seja o diálogo num sentido vertical, com os órgãos responsáveis pela tomada de decisão, seja o diálogo num sentido horizontal, entre os já – ou potenciais – apoiantes da ECI. Este tipo de interacção poderá acontecer no contexto das NTIC – associado a redes sociais, contacto telefónico e contacto através de e-mail – ou da interacção presencial – por via de reuniões, conferências, encontros de cariz informal e manifestações.

A iniciativa não se encontra fechada sobre si mesma, sendo constituída por uma rede de centenas de ONG’s que a apoiam. A referência a estas organizações é comum, especialmente através das redes sociais, onde é possível verificar este tipo ligações horizontais com outros grupos por via de hiperligações para as respectivas páginas.

A questão da ECI se poder constituir como um canal para a expressão criativa afasta-se um pouco do descrito pela autora, já que esta se refere à expressão criativa através da web. No caso da ECI pode verificar-se este tipo de expressão nas acções

offline, através da presença satírica de cartazes, máscaras e carros alegóricos.

Por fim, são também objecto da sua comunicação questões relacionadas com a angariação de donativos e com o aumento de recursos – sejam estes financeiros ou

humanos. Aliás, como já referido, a homepage do website da ECI oferece ao visitante a possibilidade de efectuar um donativo – opção também presente na página de Facebook.

Ainda no que respeita às SMO, poder-se-á também categorizar a ECI como uma

advocacy organization, na medida em que disponibiliza uma “plataforma virtual para

interacção, organização, comunicação, e mobilização” (Dahlgren, 2009, p. 192). Esta plataforma vê-se materializada através do website da Iniciativa, que em coordenação com as diversas redes sociais permite a consecução destas quatro actividades distintas.

Estando assim descritas as funções comunicacionais inerentes à Iniciativa de Cidadania Europeia, chegou o momento de analisar os diversos aspectos estratégicos que orientam a sua actividade comunicacional.