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A Situação Geográfica dos Grupos Indígenas no Nordeste e no Ceará

No documento Índios e Terras Ceará: 1850-1880. (páginas 50-53)

GRUPOS FAMÍLIAS LINGUÍSTICAS GRUPOS Tup

3.4 A Situação Geográfica dos Grupos Indígenas no Nordeste e no Ceará

Pompeu Sobrinho (1937) indica duas grandes famílias indígenas ao longo dos territórios que medeiam o rio São Francisco e o rio Parnaíba, incluindo os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Nos territórios correspondentes ao rio São Francisco e nas extremidades da Serra da Ibiapaba predominavam os índios Tupi. Nas terras do interior e no litoral do Rio Grande do Norte e Ceará, encontravam-se os Cariri. Em trechos diversos desse território registrou-se também a presença dos Jê e Karaiba.

Dentre os Tupi, os Tupiniquim são caracterizados por Capistrano de Abreu (2000) como o grupo de migração mais antiga. Em diversos pontos do território brasileiro os Tupinambá, outro grupo Tupi, forçaram os Tupiniquim a se retirarem em direção às terras do sertão, como aconteceu no Rio de Janeiro, na Baía de Todos os Santos, no norte de Pernambuco, em parte de São Paulo, em Porto Seguro, em Ilhéus, nas proximidades de Olinda. Do litoral do Ceará, os Tupiniquim migraram para a região serrana da Ibiapaba.

Conforme Serafim Leite (1945), os Tabajara são procedentes da Bahia, de onde começaram a se propagar em direção ao rio São Francisco, até as serras do Rariguaçu, que haviam sido conquistadas pelos paulistas. Dando continuidade àquele processo migratório, em virtude das relações conflituosas no interior do grupo, os Tabajara cruzaram os sertões do rio São Francisco e do rio Ipiaugui, entrando em disputa com os grupos que já habitavam os sertões. Eles passaram a habitar a Serra da Ibiapaba. Esse processo ocorreu a 200 anos da chegada dos portugueses, ou seja, quando as primeiras expedições colonizadoras tocaram a Serra da Ibiapaba, os Tabajara já estavam ali estabelecidos há pelo menos dois séculos.

Os Potiguara supostamente expandiram-se e migraram do Rio Grande do Norte, na direção poente, tendo atingido a parte oriental do litoral cearense. Tal processo migratório levaria esse grupo até a barra do Rio Ceará. Há notícia da presença Potiguar atuando entre a faixa praiana que vai das margens do Parnaíba até o golfo Maranhense. Nessa parte da costa, os Potiguara estabeleceram-se, em fins do século XVI ou início do século seguinte, passando a serem denominados genericamente de Tupinambá (STUDART FILHO, 1959/1962).

No Ceará, os territórios de influência Potiguara localizavam-se inicialmente na região do baixo Jaguaribe. Antes da chegada da primeira expedição colonizadora comandada por Pero Coelho de Souza, em 1603, os Potiguara habitavam o interior. O estabelecimento desse comandante no interior provocou o afastamento dos Potiguara de sua área de dominância. Com a retirada de Pero Coelho de Souza para o Maranhão, os Potiguara voltaram para as mesmas terras do Jaguaribe, onde foram posteriormente dominados por Martim Soares Moreno, que os levou para as aldeias estabelecidas no encontro do rio Ceará com o mar. (BEZERRA, 1918). Na condição de aldeados, os Potiguara prestaram serviços para os portugueses na defesa contra os piratas estrangeiros ou como guerreiros que integravam as bandeiras de resgate e as expedições punitivas, armadas contra os indígenas que relutavam em se submeter às ordens das missões religiosas ou aos métodos de trabalho escravos impostos pelos colonos.

Os Tapuia viviam às margens esquerdas do rio São Francisco ou nas suas encostas, no interior de Pernambuco. Haviam atingido essas regiões depois de serem expulsos pelas frentes de expansão colonizadoras dos portugueses. No Ceará, a população Tapuia predominava as terras do sertão e as serras do interior. Na Serra da Ibiapaba, os Tapuia viviam sob o domínio dos Tabajara. No entanto, os Tapuia eram vistos como nação forte e poderosa, inimiga dos Tabajara, que se comportavam como aliados dos portugueses (POMPEU SOBRINHO, 1997).

Os Tremembé são considerados um dos mais antigos grupos do Ceará. Desde o início do processo de ocupação das terras do Nordeste pelos portugueses, já havia informações de que aqueles índios vagavam entre o rio Camucim e o rio Parnaíba, esporadicamente estendendo-se até a foz do rio Itapicuru. Há informações de que, no século XV, seus territórios se ampliavam até a foz do rio Iguaçu ou até ao cabo de São Roque. Quando os Tremembé mantiveram seus primeiros contatos com os

colonizadores portugueses, seus domínios territoriais mais prováveis localizavam-se no litoral do meio-norte, entre Lençóis, no Maranhão, e Almofala, no Ceará (STUART FILHO, 1962, p. 46).

Os deslocamentos territoriais dos Cariri teriam levado esses índios do Rio Amazonas e seu afluente Tocantins à parte ocidental do rio São Francisco, onde se estabeleceram. A proliferação dos grupos e a necessidade de conquistar novos territórios que atendessem às suas demandas fez com que os Cariri migrassem para a Serra da Borborema, na Paraíba, alcançando em seguida o curso do rio Salgado, um dos afluentes do rio Jaguaribe, no Ceará. Os Cariri ocuparam, então, parte do território correspondente ao vale do Cariri, entre as Serras do Araripe e de São Pedro, caracterizadas pela abundância de água e pela fertilidade do solo, reunindo, portanto, condições propícias para o desenvolvimento da agricultura.

Os domínios territoriais dos Tarairiú compreendiam as praias norte-rio- grandenses, alcançando os sertões do Ceará e Piauí. As glebas dos Tarairiú estabelecidas no interior dessas duas capitanias perdiam-se entre chãos dominados por grupos Jê, Cariri e Tremembé (STUDART FILHO, 1962, p. 46).

Os Jê ocuparam as florestas localizadas ao norte do planalto brasileiro. As áreas onde os Jê se difundiram compreendiam o rio São Francisco, a leste, o rio Tocantins, a oeste, o rio Mearim, ao norte e rio Paraíba, ao sul; ou seja quase toda a metade oriental do planalto brasileiro. (STUDART FILHO, 1962, p. 63)

Studart Filho (1967) produziu uma distribuição geográfica dos povos indígenas, no Ceará, observada nos primeiros séculos de exploração da Capitania, pelos portugueses:

Quadro 2 – Grupos indígenas no Ceará por localização Geográfica –

No documento Índios e Terras Ceará: 1850-1880. (páginas 50-53)