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4.2 FUNÇÕES DA SMAA DENTRO DA SOCIEDADE FLORIANOPOLITANA

4.2.4 A SMAA como ponto de interação entre classes

última ganhava no momento em que importantes membros da elite se tornavam sócios, pois recebia, além de contribuições em dinheiro, distinção e prestígio por ter membros da elite como sócios. Os primeiros, por sua vez, obtinham visibilidade na cidade, por se tornarem patrocinadores de uma instituição tradicional, assim como através das homenagens prestadas pela banda da SMAA.

4.2.4 A SMAA como ponto de interação entre classes

Assim como Téo (2007) destaca a mistura nos programas das retretas de músicas de origem europeia, apreciadas pela elite, com gêneros apreciados pelas classes mais pobres, como o samba, dentro de uma estética de banda sinfônica, sem que houvesse distinção entre estas e aquelas, é possível perceber também dentro dos próprios membros da banda, a presença dos mais variados indivíduos desde a elite às classes mais pobres. Páteo (1997) afirma sobre as bandas:

Enquanto atividade cultural que fez da música seu instrumento de inserção e comunicação, as bandas expressaram também dimensões e contradições da sociedade naquele momento através do agenciamento de seus músicos: escravos, fazendeiros, comerciantes, barbeiros, italianos, alemães, negros, foliões, operários, são alguns dos agentes sociais que travestidos de músicos mostraram para a cidade um pouco de sua cara. (PÁTEO, 1997, p. 186)

Dutra (1992) ainda aponta para declaração concedida pelo Sr. José Domingos Vieira, que, apesar de recente, pode refletir o que acontecia no início do século XX. Segundo o depoimento recolhido pela autora daquele que era o membro mais idoso da Sociedade Musical e Cultural Santo Amaro durante seu estudo:

Eu me sinto muito bem com o grupo da banda. Não tem rico, não tem pobre, não tem preto, nem branco, todos são tratados por igual. Nós temos médico, engenheiro, comerciante, carpinteiro, tem eu que trabalho como servente, todos são iguais, lá junto eu faço uma hora de lazer, esquecendo as dificuldades da vida. (VIEIRA apud DUTRA, 1992, p. 36)

Como foi constatado por Téo (2007) a SMAA teve seu início com membros de famílias tradicionais da cidade de Florianópolis, porém, com o passar do tempo foi aceitando membros de classes mais pobres dentro da banda, ainda que mantendo alguns membros da elite da cidade. Creio que a mesma interação descrita por Páteo

(1997) e Dutra (1992) tenha acontecido dentro da banda da SMAA, gerando uma interação entre classes pouco comum na época.

Ainda destaco que não apenas dentro da banda tal interação acontecia. Em algumas das ocasiões em que a banda da SMAA tocava como recepções, homenagens, procissões e retretas, as apresentações eram abertas ao público, e o repertório bastante variado, indo desde a ópera italiana ao maxixe, gerando também uma interação entre repertórios e entre espectadores, que eram oriundos das mais diferentes classes e lugares da cidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurei com essa dissertação, através da contextualização dentro da sociedade da época e de um histórico das bandas em Florianópolis, mostrar como se dava a atuação de uma banda na cidade durante a Primeira República.

A documentação presente no acervo da Sociedade Musical Amor à Arte, associada aos jornais presentes no acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina, se mostrou uma rica fonte de informação para a pesquisa musicológica no estado de Santa Catarina.

Foi possível perceber, através desse estudo, que as bandas tinham grande atuação na sociedade da época, participando dos mais diversos eventos sociais tanto no âmbito sacro quanto no profano.

Destaca-se ainda o fato de que a Primeira República se mostrou uma época de transição, tanto na música quanto em outras áreas culturais, da influência europeia, até então predominante no país, para a norte-americana. Tal mudança pôde ser verificada tanto nos jornais, principalmente através do cinema, quanto nas partituras encontradas no acervo, que passaram a apresentar gêneros latinos e norte-americanos no lugar dos gêneros musicais europeus, que tinham grande popularidade no século XIX. Aponta-se que as bandas foram grandes divulgadoras destes gêneros, assim como da música europeia, principalmente aquela proveniente das óperas. Esta música, presente apenas nos salões da elite, passou a tomar as ruas e praças através das apresentações realizadas pelas bandas.

Verificou-se ainda que a escassez de orquestras, escolas de música e conservatórios na capital até meados do século XX fez com que as bandas tivessem importante papel como formadoras de músicos na cidade. A SMAA forneceu aulas para um grande número de aprendizes, que por vezes se tornaram mestres de bandas militares em outras localidades do país. Notou-se também que a banda servia como um espaço, no período em questão, para a atuação de músicos e compositores locais. Estes músicos, oriundos das mais diversas classes, fizeram da banda um ponto de interação entre as camadas sociais existentes na cidade.

Outro aspecto que pôde ser verificado foi a participação da SMAA como instituição divulgadora e propagadora dos ideais republicanos no início do século XX, época em que a república ainda estava se consolidando. As constantes

homenagens a políticos através de recepções, apresentações e composições ajudaram na exaltação das principais figuras republicanas do estado.

Gostaria de destacar a importância dos acervos das bandas de música como fonte para pesquisas sobre a história da música tanto catarinense, quanto brasileira. As bandas foram instituições que tiveram ativa participação em nosso país tanto no século XIX, quanto no século XX. Algumas bandas, como no caso da SMAA, mantêm acervos, que possuem relevantes informações para a história da música em nosso país.

Aponto ainda que existem amplas possibilidades para novos estudos musicológicos dentro do próprio acervo da SMAA. Há ainda um grande número de partituras e outros documentos que não foram explorados no acervo. Sua organização e catalogação são fundamentais e certamente levarão a um melhor conhecimento da história não somente da banda, mas da cidade de Florianópolis e da música composta e realizada na capital nos últimos 120 anos.

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