• Nenhum resultado encontrado

Segundo Côrrea, o período entre 1896 e 1930 foi um dos mais produtivos intelectualmente para a cidade de Florianópolis, pois, “paralelamente ao desenvolvimento urbano e a modernização, houve a preocupação do delineamento da definição da estrutura cultural em Santa Catarina, a partir da sua capital” (CÔRREA, 2008, p. 300).

Diversos acontecimentos contribuíram para a definição de uma cultura catarinense republicana. A fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC), a criação de inúmeras revistas voltadas a assuntos culturais e sociais preocupadas com o registro do passado desterrense, a criação de revistas literárias e da Academia Catarinense de Letras (ACL) foram ajudadas pela unificação política do Estado e a concentração das lideranças sociais e culturais de Florianópolis no mesmo partido, o Partido Republicano (Ibidem, p. 300).

A intelectualidade da época era dividida em dois grupos, não oponentes, mas voltados a interesses distintos. O grupo ligado a assuntos relacionados ao Estado era liderado por Hercílio Luz e José Boiteux, além de contar com desembargadores, comerciantes, profissionais liberais, militares como Felippe Schmidt e políticos como Vidal Ramos e Gustavo Richard. Este grupo foi responsável por fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina em 1896 e lançar o primeiro número de sua Revista Trimensal em 1903. O outro grupo, que fundou a revista literária Terra e em 1920, a Academia Catarinense de Letras, era formado em grande parte por jornalistas e professores ligados à rede estadual de ensino. Faziam parte dele Othon Gama D‟Eça, Francisco Barreiros Filho, Altino Flores, Ivo D‟Aquino Fonseca, Antônio Mâncio da Costa e, também José Boiteux (Ibidem, p. 301).

Entre 1916 e 1920, algumas revistas ilustradas foram lançadas por jornalistas da capital, cedendo espaço para que os jovens pudessem mostrar seus poemas e sua verve irônica. Em março de 1920, surgiu a revista Terra, de Artes e Letras, que segundo Côrrea (2008), refletiu, mais do que qualquer outra revista, o pensamento da intelectualidade florianopolitana da época. A revista, que inicialmente se preocupava mais com os problemas literários e a qualidade da língua nacional, foi se preocupando cada vez mais com os problemas políticos da cidade e do estado.

Em 1924, com o falecimento de Hercílio Luz, a Academia Catarinense de Letras, fundada em 1920, perdeu seu maior protetor e incentivador. Assumiu o governo em seu lugar, o vice-governador Antônio Pereira e Oliveira, que tinha maior proximidade com Lauro Müller e Vidal Ramos. Os intelectuais florianopolitanos da Academia Catarinense de Letras perderam seu prestígio perante o novo governador, que se voltou para um grupo considerado pelos acadêmicos como de menor importância literária, o Centro Catarinense de Letras. Deste outro grupo faziam parte mulheres e negros como Ildefonso Juvenal, Antonieta de Barros, Sebastião Vieira, Trajano Margarida e outros. O Centro Catarinense de Letras, em 1925 lançou o primeiro número de sua revista, com o apoio do governo do estado, algo que a ACL não havia conseguido fazer em cinco anos de existência. O governador e seu secretariado tinham grande prestígio pelas atividades do grupo, que realizou também o Festival Lítero-Musical no Teatro Álvaro de Carvalho em 1925 (Ibidem, p. 308).

Apesar de ter cessado suas atividades no mesmo ano, o Centro teve grande importância na vida cultural da cidade, uma vez que, além de representar uma oposição às ideias estéticas da ACL, tinha membros intelectuais mulheres e negros, numa época em que existia preconceito racial e de gênero acentuado.

O teatro era também fonte de cultura e entretenimento na capital na Primeira República. Era comum a vinda de companhias dramáticas de outros estados e, por vezes, até de outros países, que passavam pela ilha representando peças de sucesso, com ênfase naquelas do chamado teatro ligeiro como operetas, zarzuelas,

vaudevilles e revistas, como se pode observar nos jornais locais da época. Vale

ressaltar que também existiam as sociedades dramáticas particulares, que eram locais e realizavam récitas com alguma freqüência.

Collaço (2007) aponta a revista como o gênero do teatro musicado que mais ganhou popularidade entre a elite florianopolitana. Muitos dos jovens que faziam

parte da intelectualidade da cidade, membros da ACL ou do Centro Catarinense de Letras, passaram a escrever para este tipo de espetáculo. Segundo a autora, a ausência de uma casa editora na capital fez com que o teatro se tornasse um excelente veículo para a divulgação da produção da intelectualidade da cidade. O gênero revista foi escolhido, pois era aquele de maior aceitação na capital federal e nas demais províncias do país, além de ser o mais representado por companhias em excursão que passavam pela cidade, fazendo com que os escritores e público tivessem familiaridade com este gênero.

O cinema, que chegou à cidade por volta de 1900, passou a dividir espaço com o teatro nas primeiras décadas do século XX, principalmente a partir da década de 1910. Foi possível observar nos jornais propagandas de sessões, geralmente trazidas por companhias de fora e apresentadas no Teatro Álvaro de Carvalho.

Côrrea (2008) aponta que os divertimentos, na virada do século, eram poucos e que além das corridas de cavalo que ocorriam na Trindade, ou Trás do Morro, pouco existia. O autor cita Virgílio Várzea que aborda, em seu livro A Ilha de 1900, Florianópolis na última década do século XIX. Segundo Várzea:

Comumente, as diversões no Desterro não vão além das partidas dançantes em clubes e casa de família, e a ausência de outros quaisquer divertimentos é de tal ordem que semelhantes reuniões se repetem frequentemente duas, três e mais vezes por semana. [...] A tal respeito, é de justiça mencionar aqui, dentre as distintas associações desterrenses, o Clube Doze de Agosto, que conta com cerca de 30 anos de existência, o Clube Germânia, também de fundação antiga e o Clube Dezesseis de Abril. Estas agremiações compõem-se do que Florianópolis tem de mais seleto e elevado, e dão festas dançantes e sessões de jogos de salão para famílias, que são o que há de mais apreciável e digno. (VÁRZEA apud CÔRREA, 2008, p. 286)

O autor ainda destaca as praças e largos, que apesar de em pequeno número, apresentavam aspecto agradável, atraindo famílias da cidade. Em tais locais aconteciam normalmente as retretas, tanto por bandas militares, como civis. Segundo Várzea:

Excelente ponto de atração e recreio, é o passeio público das famílias desterrenses (?), que nele se reúnem aos domingos de tarde, em grupos graciosos e alegres, com crianças em volta, arejando e expandindo-se em curtos mas continuados passeios pelas aléias, ao som de uma ou mais músicas militares (VÁRZEA apud CÔRREA, 2008, p. 282)

Conforme a cidade se modernizava, as corridas de cavalo cediam espaço ao remo, que acontecia principalmente na Baía Sul. Três clubes náuticos foram fundados, o Clube Náutico Riachuelo e o Clube Náutico Francisco Martinelli, ambos em 1915, e o Clube de Regatas Florianópolis, depois renomeado Aldo Luz, em 1918. A rivalidade entre os clubes era grande e nos dias de páreo, geralmente aos domingos, a orla marítima sul se enchia de torcedores (CÔRREA, 2008, p. 293).

O futebol era, na época, pouco difundido pelo público, sendo até mesmo proibido em 1919 pelas autoridades estaduais. O primeiro jogo que se tem notícia aconteceu em 1910 entre equipes amadoras e os times do Avaí e Figueirense foram fundados apenas em 1921 e 1922 respectivamente (Ibidem, p. 293).

Quanto à música, além das já mencionadas retretas realizadas pelas bandas em locais públicos como praças e largos, clubes da cidade promoviam concertos, recitais e soirées, em que instrumentistas e cantores locais, assim como outros que estivessem de passagem pela cidade, apresentavam-se. O repertório dessas apresentações era bastante variado. Executavam-se trechos de obras de compositores renomados como Carlos Gomes, Verdi, Mozart e Donizetti, assim como peças de compositores locais como José Brasilício de Souza, Álvaro Souza, Pedro Alves Pavão, João Augusto Penedo e Adolfo Mello, como se pode observar nos jornais locais da época.

Destaca-se ainda o carnaval na cidade, que aumentava o número de bailes, mas que tinha como principal destaque, os desfiles das sociedades carnavalescas. Pamplona e Holler (2010), em estudo sobre o carnaval em Desterro na segunda metade do século XIX aponta sobre:

Os desfiles eram o ponto alto do carnaval desterrense. Neles as sociedades superavam-se, ano após ano, na beleza, criatividade e luxo dos carros alegóricos, fantasias, iluminação e fogos de artifício. Esmeravam-se na música executada pelas bandas e nas críticas e sátiras que apresentavam. De acordo com a imprensa local, proporcionavam um espetáculo exuberante e ordeiro que não deixava a desejar se comparado aos carnavais de outras cidades brasileiras, inclusive a Capital do Império (PAMPLONA e HOLLER, 2010, p. 10).

Os jornais do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX destacam os bailes, festas e desfiles promovidos pelas sociedades carnavalescas, que eram por muitas vezes “puxados” pelas bandas da cidade.

3 AS BANDAS

Polk (s.d.), no dicionário Grove Music Online, afirma que a palavra banda possui inúmeros usos dentro da música e que pode se referir a praticamente qualquer conjunto de instrumentos. Quando o termo é utilizado sem nenhum adjetivo que o complemente, normalmente, se refere a conjuntos de metais e percussão ou madeiras, metais e percussão.

O autor afirma que as bandas podem ser classificadas pelo instrumento ou família dominante no conjunto. Podem ser chamadas de uma banda de metais, de acordeões, de flautas, etc. Também podem ser classificadas de acordo com sua função, como banda militar, banda marcial e banda de teatro ou ainda pelo estilo de música que tocam: banda de jazz, banda de rock, banda pop.

Neste trabalho, como explicado anteriormente, quando se menciona banda, refere-se aos conjuntos de instrumentos de sopro e percussão, tão populares no Brasil na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Abaixo encontra-se uma breve retrospectiva sobre a história das bandas, primeiramente de maneira mais genérica, depois focando no Brasil e por último na cidade de Florianópolis.

3.1 BREVE HISTÓRICO DAS BANDAS DE MÚSICA

Brum (1988) divide a história das bandas em cinco períodos distintos, caracterizados pela aparição de novos instrumentos. O primeiro desses vai da Antiguidade à Idade Média. O autor destaca que neste período os tocadores prestavam serviços relevantes aos povos, principalmente religiosos. Afirma, igualmente, que existiam inúmeros conjuntos de sopro e percussão, mas que esses não podiam ainda ser chamados de bandas de música.

O segundo período se estende do fim da Idade Média ao fim do século XVII. Brum destaca a indústria do metal como fator importante nessa época. O avanço dessa indústria possibilitou a construção de novos instrumentos como trompas, trompetes, flautas e oboés. O autor destaca que no final do século XIII, ainda neste período, “já com o nome de banda de música, as tropas militares passaram a incluir grupos de executantes de instrumentos musicais em tipos diferentes: para serviços de infantaria e de cavalaria” (BRUM, 1988, p. 10).

Documentos relacionados