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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE ARTES - CEART PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA ALEXANDRE DA SILVA SCHNEIDER

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE ARTES - CEART

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

ALEXANDRE DA SILVA SCHNEIDER

SOCIEDADE MUSICAL AMOR À ARTE:

UM ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A ATUAÇÃO DE UMA BANDA EM

FLORIANÓPOLIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA

(2)

ALEXANDRE DA SILVA SCHNEIDER

SOCIEDADE MUSICAL AMOR À ARTE:

UM ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A ATUAÇÃO DE UMA BANDA EM

FLORIANÓPOLIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Música, área de concentração Musicologia/Etnomusicologia.

Orientação: Prof. Dr. Marcos Tadeu Holler

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AGRADECIMENTOS

Ao prof. Marcos Holler, pela orientação, dedicação e paciência com a qual conduziu este trabalho.

Aos membros da banca examinadora, professores Luís Fernando Hering Coelho e Luiz Henrique Fiaminghi pelas valiosas observações e contribuições.

Aos colegas, professores e secretárias do PPGMUS, pelas idéias, discussões e momentos compartilhados.

Aos demais orientandos de mestrado e de iniciação científica do prof. Marcos, que, de alguma forma, contribuíram para este trabalho.

À CAPES pela bolsa cedida para a realização desta pesquisa.

A toda a Sociedade Musical Amor à Arte, especialmente ao seu presidente, Nélio Schmidt, pela atenção, dedicação e paciência, que permitiu com que este trabalho fosse realizado.

À Helena, por sua ajuda na organização do acervo, pelas sugestões, idéias, carinho e risadas.

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RESUMO

SCHNEIDER, Alexandre da Silva. Sociedade Musical Amor à Arte: um estudo histórico sobre a atuação de uma banda em Florianópolis na Primeira República, 2011. 137 p. Dissertação (Mestrado em Música). Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Artes, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

Em 1897 foi fundada na cidade de Florianópolis a orquestra da Sociedade Musical Amor à Arte, com o intuito de fornecer a seus sócios e ao público da cidade momentos de prazer por meio da música. Dois anos mais tarde, a orquestra tornou-se uma banda, que permanece ativa até a atualidade. Este trabalho é um estudo histórico-musicológico sobre a atuação da Sociedade Musical Amor à Arte em Florianópolis no período conhecido como Primeira República ou República Velha (1889-1930), baseado na pesquisa de partituras e documentos de seu acervo, assim como em referências em periódicos da época. Procura-se, além de caracterizar a banda no período em questão, através da descrição de sua sede, repertório, apresentações, uniforme, dentre outros aspectos, verificar como ela se inseria e quais suas funções na sociedade florianopolitana da época.

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ABSTRACT

In 1897 the orchestra of the Sociedade Musical Amor à Arte was founded in Florianopolis, in order to provide its members and the people of the city moments of joy through music. Two years later it turned into a band, which remains active until today. This work is a historical-musicological study about the activities of the Sociedade Musical Amor à Arte in Florianopolis in the period of time known as Primeira República or República Velha (1889-1930), based on scores and documents from its collection, as well as references in newspapers of the period. The chief purpose is to delineate the band by means of its repertoire, performances and uniforms, among others, and to define the band‟s functions in the society of Florianopolis at the time.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Parte dos documentos encontrados no acervo da SMAA ... 10

Figura 2 – Fotografia da banda da SMAA em data desconhecida ... 39

Figura 3 – Cubos utilizados no processo de seleção de novos sócios ... 41

Figura 4 – Atual sede da Sociedade Musical Amor à Arte ... 43

Figura 5 – Livro de presença – Outubro de 1916 ... 48

Figura 6 – Banda da Sociedade Musical Amor à Arte em 1908 ... 51

Figura 7 – Flugelhorn. Chamado de bugle nos livros de presença da SMAA ... 53

Figura 8 – Barítono (saxhorne tenor) e eufônio (saxhorne barítono) respectivamente ... 54

Figura 9 – Bombardão (modelo sax) e contrabaixo (sousafone) respectivamente ... 54

Figura 10 – Marcha Fúnebre 11A ... 61

Figura 11 – Dobrado Dr. Adolpho Konder ... 62

Figura 12 – Dobrado Dr. Hercílio Luz ... 63

Figura 13 – Maxixe Canto das horas ... 67

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Instrumentos da banda da SMAA ... 52

Quadro 2 – Gêneros musicais e número de partituras encontradas ... 55

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 01

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO ... 03

1.2 REVISÃO DE LITERATURA ... 06

1.2.1 A musicologia histórica em Santa Catarina ... 06

1.2.2 Bandas civis e militares ... 07

1.3 FONTES E ACERVOS ... 08

1.3.1 Acervo da BPSC ... 08

1.3.2 Acervo da SMAA ... 09

1.3.2.1 Partituras impressas ... 10

1.3.2.2 Partituras manuscritas ... 11

1.3.2.3 Livros-caixa e documentos financeiros diversos ... 12

1.3.2.4 Livros de atas ... 12

1.3.2.5 Livros de presença ... 13

1.3.2.6 Lista de sócios propostos e lista de contribuintes ... 13

1.3.2.7 Relatórios do estado da sociedade ... 13

1.3.2.8 Documentos da biblioteca da SMAA ... 14

1.3.2.9 Documentos diversos enviados e recebidos pela SMAA ... 14

1.3.2.10 Estatutos ... 14

2 CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DE FLORIANÓPOLIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA ... 16

2.1 POLÍTICA ... 16

2.2 SOCIEDADE ... 20

2.3 CULTURA E ENTRETENIMENTO ... 23

3 AS BANDAS ... 28

3.1 BREVE HISTÓRICO DAS BANDAS DE MÚSICA ... 28

3.2 AS BANDAS NO BRASIL ... 30

3.3 AS BANDAS EM FLORIANÓPOLIS ... 32

4 A SOCIEDADE MUSICAL AMOR À ARTE ... 37

4.1 A SMAA NA PRIMEIRA REPÚBLICA ... 39

4.1.1 Constituição ... 39

4.1.2 Sede ... 42

4.1.3 Ensaios ... 43

4.1.4 Apresentações ... 44

4.1.5 Fardamento ... 49

4.1.6 Instrumentação ... 51

4.1.7 Repertório ... 54

(10)

4.1.7.2 Marchas ... 59

4.1.7.3 Dobrados ... 61

4.1.7.4 Hinos ... 63

4.1.7.5 Arranjos de trechos de ópera ... 64

4.1.7.6 Tangos, maxixes e sambas ... 64

4.1.7.7 Latinos e norte-americanos ... 68

4.1.7.8 Música para circo ... 69

4.1.7.9 Compositores de Santa Catarina ... 70

4.2 FUNÇÕES DA SMAA DENTRO DA SOCIEDADE FLORIANOPOLITANA . 75 4.2.1 A SMAA como provedora de música e formadora de gosto... 75

4.2.2 A SMAA como formadora e espaço para a atuação de músicos ... 77

4.2.3 A SMAA como divulgadora da República ... 78

4.2.4 A SMAA como ponto de interação entre classes ... 80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 82

6 REFERÊNCIAS ... 84

6.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 84

6.2 DOCUMENTOS MANUSCRITOS ... 88

6.3 JORNAIS ... 89

6.4 FONTES DAS ILUSTRAÇÕES ... 90

APÊNDICE ... 91

Apêndice 1 –Estatuto da Sociedade Musical Amor à Arte de 1916 ... 92

Apêndice 2 – Comunicados internos da Sociedade Musical Amor à Arte ... 103

Apêndice 3 – Partituras encontradas no acervo da Sociedade Musical Amor à Arte ... 104

ANEXOS ... 121

Anexo 1 – Comunicado do Clube Recreativo 15 de Novembro à Sociedade Musical Amor à Arte. 12/11/1908 ... 122

Anexo 2 – Mapa demonstrativo das peças de fardamento que tem cada músico ... 123

Anexo 3 – Carta do Tiro de Guerra No. 40 à SMAA. 22/01/1917 ... 124

Anexo 4 – Carta do Tiro de Guerra No. 40 à SMAA. 22/01/1919 ... 128

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1 INTRODUÇÃO

No século XIX e início do XX as bandas proviam música para os mais variados eventos sociais, tanto no âmbito sacro quanto no profano, serviam como formadoras de músicos e contribuíam para a evolução dos gêneros em voga no período. Hoje, apesar do número reduzido, as bandas ainda são atuantes na sociedade, especialmente no que se refere à formação de músicos, como afirma Cislaghi (2009):

As bandas de música estão presentes em diversos contextos e estão relacionadas às manifestações e eventos sociais populares de naturezas diversas, encontrando-se bastante presentes nas comunidades e influenciando na vida das pessoas. Além disso, constituem um espaço importante de ensino e aprendizagem musical envolvendo muitas perspectivas de ensino. (CISLAGHI, 2009, p. 13)

Uma banda, genericamente, é um conjunto formado por instrumentos de sopro e percussão. Existe, na historiografia musical brasileira, uma divisão entre bandas militares e civis. As bandas militares teriam aparecido no Brasil no início do século XIX com a chegada da Família Real em 1808 e, então, fornecido o modelo para as bandas civis que apareceriam mais tarde, em meados do século XIX, sob diversos nomes como Lira, Filarmônica, Associação, Corporação ou mesmo Banda (CARVALHO, 1998, p. 232).

As bandas surgiram em Florianópolis também no século XIX, e tomaram força a partir da segunda metade do século, com o crescimento tanto do número de conjuntos quanto da sua atuação no cenário sócio-cultural da cidade.

(12)

A presente dissertação consiste num estudo histórico-musicológico sobre a atuação da Sociedade Amor à Arte em Florianópolis nos fins do século XIX e início do século XX, no período conhecido como Primeira República ou República Velha (1889-1930), por meio de seu acervo e de referências nos periódicos da época.

Binder (2006) e Carvalho (1998) ressaltam a importância e a necessidade de estudos sobre bandas de música, que somente nos últimos anos começaram a adquirir certa força na musicologia brasileira, apesar da grande relevância que tiveram nos séculos XIX e XX. O primeiro acredita que por muito tempo os musicólogos brasileiros foram indiferentes à história desses conjuntos e que, em virtude de poucos estudos aprofundados, muitas informações são equivocadas sobre o assunto e muito ainda há a ser explorado. Carvalho (1998), por sua vez, aponta para o lado da preservação. O autor acredita que as bandas estão se tornando cada vez mais raras e que há a necessidade de um resgate destas instituições, que tiveram grande participação na história da música brasileira e são verdadeiros patrimônios vivos.

Destaca-se também a importância do estudo, da preservação e da difusão do material conservado no acervo da SMAA. O acervo, que possui diversas informações e obras da música catarinense de todo o século XX e do final do século XIX, possui amplas possibilidades para outros estudos históricos e musicológicos, assim como um grande número de partituras, que podem contribuir para um melhor conhecimento dos compositores, composições, arranjos e músicos da cidade e do estado ao longo do século XX. Téo (2007) teve contato com o acervo e em seu livro, A vitrola nostálgica, apontou:

A organização deste acervo é necessidade primordial, especialmente se considerarmos a ausência de arquivos destinados à música catarinense. É possível que sejam encontradas composições inéditas da lavra de músicos locais que, após a execução pela banda, tenham sido abandonadas junto a outros milhares de partituras. (TÉO, 2007, p. 138)

(13)

Uma vez estabelecidos o recorte temporal e as fontes primárias, tanto impressas quanto manuscritas, como a principal fonte de pesquisa, procurou-se encontrar informações sobre a atuação das bandas na cidade, sobre o contexto histórico-social de Florianópolis na época e, sobretudo, a organização e atuação da Sociedade Musical Amor à Arte no período. Os documentos utilizados foram fotografados para que pudessem ser estudados fora do local em que se encontram. Foram igualmente gravados num DVD, que foi entregue a SMAA, para que possam ser disponibilizados a pesquisadores que tenham interesse no estudo da banda e do acervo da Sociedade.

Aponta-se que o uso de fontes textuais para a pesquisa musicológica deve ser bastante cuidadoso. Os documentos são muitas vezes imprecisos e apresentam uma visão parcial dos assuntos que tratam. Para sua leitura e interpretação, destaco a necessidade de uma visão crítica, sempre tendo em mente quem os escreveu, para quem eram destinados e o motivo pelo qual foram escritos e mantidos.

A presente dissertação encontra-se dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo, realizou-se uma descrição dos documentos encontrados nos acervos da BPSC e da SMAA. Todos os documentos foram descritos, mesmo aqueles que não tenham sido utilizados nesta dissertação. Isso foi feito com o intuito de fornecer informações sobre os acervos, em especial, o da SMAA, que é ainda desconhecido, que estimulem novas pesquisas e, possivelmente, uma catalogação.

O segundo capítulo trata do contexto histórico e social de Florianópolis na Primeira República. Foram abordados pontos como a vida política, a sociedade, a cultura e o entretenimento na cidade. Procurou-se com esta contextualização um maior conhecimento da vida na capital, com a intenção de situar as bandas em meio a este cenário.

O terceiro capítulo traz uma revisão da história das bandas: seu surgimento, o aparecimento das bandas no Brasil e a história das bandas na cidade de Florianópolis desde os primeiros registros até o início do século XX.

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1.1 REFERENCIAL TEÓRICO

Kerman (1987), em seu livro Musicology, fez uma crítica à metodologia utilizada à época para a pesquisa musicológica, acusando-a de se basear demasiadamente no factual e no documental, seguindo uma linha ainda ligada ao pensamento positivista. Sugeriu como um novo caminho para a disciplina uma aproximação com a teoria literária e cultural, assim como uma orientação para a crítica. A partir da crítica do autor, a musicologia iniciou uma nova fase, que ficou conhecida como Nova Musicologia. Apoiada em ideias pós-modernistas, nesta nova fase da disciplina, a música não é mais vista como um produto, mas como um processo envolvendo compositor, intérprete e consumidor. A Nova Musicologia utiliza métodos de outras áreas como sociologia, antropologia, lingüística, e mais recentemente de campos de estudo como relações de gênero e política, sendo também freqüentemente associada à etnomusicologia (DUCKLES e PASLER, 2006).

Trevor Herbert (2003) aponta como um dos caminhos interdisciplinares para a musicologia a associação da história da música com as atuais tendências da história, influenciadas pelo pensamento pós-moderno, como a história social, a história cultural e a micro-história. Segundo o autor (2003): “Em suas manifestações

mais moderadas, o pós-modernismo oferece maneiras, com base nos métodos e preocupações dos historiadores sociais, de se lidar com aqueles com que a história da música costuma deixar de lado”1 (HERBERT, 2003, p. 151). A base filosófica de tais tendências, que ficaram conhecidas como a nova história, é de que a realidade é social ou culturalmente construída (BURKE, 2002, p. 11). O relativismo adotado

por esta postura apresenta extensas possibilidades na área da musicologia histórica. Napolitano (2005) segue também a perspectiva apontada por Herbert (2003).

O autor, aproximando a musicologia histórica da história cultural, crê na necessidade de se compreender as várias manifestações e estilos musicais dentro de sua época e da cena musical nos quais estão inseridos, “sem consagrar e reproduzir hierarquias de valores herdadas ou transformar o gosto pessoal em medida para a crítica histórica” (NAPOLITANO, 2005, p. 8). Segundo ele, as novas formas

1 In its more moderate manifestations, postmodernism offers ways of building upon the methods and

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metodológicas e historiográficas, que vêm sendo usadas nos estudos musicais, têm como característica “não hierarquizar questões sociais, econômicas, estéticas e culturais, mas articulá-las de modo a valorizar a complexidade do objeto estudado”

(Ibidem, p. 8).

Herbert (2003) aponta para a micro-história (LEVI, 1992; VAINFAS, 2002) quando exalta a ênfase em temas e práticas que se encontram fora dos padrões tradicionais da metodologia histórica. Segundo o autor, a micro-história vai no fluxo oposto das grandes narrativas. Os micro-historiadores “se apóiam no obscuro e no

desconhecido em vez de no grande e no famoso [...] pegam incidente pequenos do cotidiano e os recontam como histórias, analisando-os como pistas simbólicas e metafóricas para coisas maiores”2 (EVANS apud HERBERT, 2003, p. 152). Geralmente tais estudos revelam relações entre o popular e a elite, estabelecendo um quadro histórico mais amplo.

Castagna (2008) destaca ainda que a musicologia no Brasil, a partir da década de 1990, começou a ter um maior contato com a musicologia internacional, e sofreu mudanças que motivaram o surgimento de uma nova musicologia no país. Essa nova fase da disciplina acumula as conquistas da geração anterior, mas procura se preocupar com o aspecto crítico e reflexivo do movimento chamado Nova Musicologia. Aponta, no entanto, que a fase positivista da musicologia brasileira não produziu material suficiente para este avanço na disciplina e que atualmente a organização de informações é ainda uma necessidade:

Isso não significa, entretanto, que a fase positivista [...] tenha produzido suficiente material para subsidiar interpretações e reflexões de fôlego sobre o passado musical brasileiro. Pelo contrário, ainda resta muito trabalho a ser feito no que se refere à catalogação de acervos, edição de obras, organização e sistematização de fontes, o que impõe à nova musicologia a responsabilidade de desenvolver trabalhos sistemáticos e, ao mesmo tempo reflexivos. (CASTAGNA, 2008, p. 50)

Segundo o autor, “o grande problema da musicologia brasileira atual é a necessidade de um maior nível reflexivo a partir das fontes e fenômenos musicais, mas, ao mesmo tempo, a inexistência de uma quantidade suficiente de fontes organizadas” (CASTAGNA, 2008, p. 54).

2

(16)

Holler (2008) destaca a importância de estudos musicológicos em regiões afastadas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, principais focos de estudo da musicologia no Brasil. O autor menciona Lucas (1998), que frisa a necessidade de estudos nestas regiões:

Quero [...] chamar a atenção para o fato de que não são de interesse musicológico apenas aquelas regiões de alta visibilidade histórico documental. As chamadas regiões periféricas da sociedade colonial, praticamente ausentes da historiografia musical brasileira, a exemplo da região sulina, representam elos importantes na compreensão [das mudanças na cultura musical]. (LUCAS apud HOLLER, 2008, p. 02).

O autor aponta ainda que “Trabalhos recentes envolvendo essas periferias têm demonstrado várias possibilidades de estudo, e o levantamento de informações mostra que ainda existem grandes lacunas na historiografia da música no Brasil”

(HOLLER, 2008, p. 9). Pesquisando a produção musical em Santa Catarina, região distante dos considerados grandes centros, busca-se trazer novas informações e questionamentos para os estudos musicológicos no país.

1.2 REVISÃO DE LITERATURA

1.2.1 A MUSICOLOGIA HISTÓRICA EM SANTA CATARINA

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ligadas à música presentes no Estado. Não perdem seu valor como fonte para estudos da música em Santa Catarina, porém carecem do caráter crítico e reflexivo explorado pela Nova Musicologia.

Os estudos musicológicos encontrados na área são bastante recentes. Podemos citar, dentre eles, o trabalho de conclusão de curso de Ana Ribamar Braga (2000),Levantamento de aspectos da cultura musical em Desterro nos séculos XVIII e XIX, e as dissertações de mestrado de Andrey Garcia Batista (2009), Frei Bernardino Bortolotti e a cena musical em Lages: uma contribuição para a historiografia da música na Serra Catarinense, de Roberto Rossbach (2009), As sociedades de canto da região de Blumenau no início da colonização alemã e de Simone Gutjahr (2010), Atuação de músicos em associações religiosas de desterro nos períodos colonial e imperial. O livro A vitrola Nostálgica de Marcelo Téo (2007), que aborda a música e constituição cultural na cidade de Florianópolis nas décadas de 1930 e 1940, também aparece como uma importante contribuição.

Destacam-se ainda as pesquisas realizadas dentro do projeto Fontes sobre a história da música em Santa Catarina, realizadas através de um levantamento de dados de periódicos impressos em Desterro e presentes na Biblioteca Pública de Santa Catarina (HOLLER, 2008; FRECCIA e HOLLER, 2008; PIRES e HOLLER, 2008; VINCENZI e HOLLER, 2008; PAMPLONA e HOLLER 2010; GONÇALVES e HOLLER, 2010). Os levantamentos realizados em tal projeto também levaram a confecção de dois trabalhos de conclusão de curso: A programação no Theatro Santa Izabel e o gosto musical em Desterro no final do império (2008) por Gustavo Freccia e Atuação das sociedades musicais, bandas civis e militares em Desterro durante o Império (2008) por Débora Pires.

1.2.2 BANDAS CIVIS E MILITARES

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A pesquisa de Pires e Holler (2008), Atuação das sociedades musicais e bandas civis em Desterro durante o Império, assim como o trabalho de conclusão de curso de Pires (2008), ambos mencionados anteriormente, aparecem como contribuições para o estudo das bandas na cidade de Florianópolis no século XIX. O capítulo As bandas de cá, capítulo presente no também já mencionado livro A vitrola nostálgica de Marcelo Téo (2007), apresenta relevantes informações sobre as bandas em Santa Catarina, principalmente entre as décadas de 1930 e 1940. Ressalta-se também, no terreno da antropologia social, a dissertação de Maria Luísa Páteo (1997), Bandas de música e cotidiano urbano, que aborda a atuação das bandas e música no final do séc. XIX e início do séc. XX em Campinas (SP).

Existem ainda trabalhos sobre bandas nas áreas de educação e educação musical, que de acordo com Cislaghi (2009) se intensificaram nos últimos anos (DUTRA, 1992; CAJAZEIRA, 2004; HIGINO, 2006; CAMPOS, 2008). Dentre os trabalhos citados pelo autor, dá-se destaque à dissertação de mestrado de Elizete Higino (2006), Um século de tradição: a banda de música do Colégio Salesiano Santa Rosa (1888-1988), que possui cunho histórico, tratando de um período de 100 anos (1888-1988) da banda de música do Colégio Salesiano Santa Rosa em Niterói, no estado do Rio de Janeiro.

1.3 FONTES E ACERVOS

A seguir encontra-se uma breve descrição dos documentos encontrados nos dois acervos utilizados para este trabalho: o acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina e o acervo da Sociedade Musical Amor à Arte.

1.3.1 ACERVO DA BPSC

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(2010) se utilizaram do acervo e levantaram informações relevantes para a história da música no estado.

Além das informações levantadas no projeto de pesquisa citado anteriormente, que foram retiradas de diversos jornais da capital durante o império, como O Conservador, O Despertador, Opinião Catarinense e Jornal do Comércio, os periódicos consultados foram basicamente jornais que circularam na capital entre os anos de 1897 e 1930. Dentre eles, destacam-se A República, O Estado, A Gazeta e O Dia.

1.3.2 ACERVO DA SMAA

A Sociedade Musical Amor à Arte possui um acervo que conta com documentos e partituras guardados desde sua fundação em 1897. No momento da pesquisa o acervo encontrava-se debaixo de um tablado na sala de ensaio da banda, em condições longe de ideais, principalmente em virtude da falta de espaço na sede para o armazenamento de arquivos. Parte dos documentos encontrava-se em caixas de papelão, mas a grande maioria apenas empilhada sob o tablado, juntamente com outros utensílios não mais utilizados como capas para instrumentos, estandartes antigos, caixas, sacolas e copos.

Com o andamento da pesquisa, procurei retirar estes documentos do local em que se encontravam, separando-os conforme seus diferentes tipos e guardando-os em caixas de arquivo, que deverão ser realocadas futuramente. Embora não tenha sido possível fazê-lo, pela falta de tempo hábil, acredito que o acervo será organizado, catalogado e guardado em local apropriado, haja vista sua relevância para novos estudos históricos e musicológicos, assim como sua importância como fonte de composições.

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este, não sistematizados, espalhados pelo país, que podem ser relevantes no estudo das bandas e da música brasileira nos séculos XIX e XX.

Observa-se na figura 1, parte do material encontrado no acervo. Para sua consulta, a SMAA cedeu um espaço de sua sede, usado normalmente para reuniões e confraternizações. Ainda que improvisada e não exatamente adequada para a análise e conservação dos documentos, esta sala permitiu que fosse possível fotografá-los e estudá-los.

Segue abaixo a lista de todos os documentos encontrados no acervo da SMAA. Ressalto que, mesmo que nem todos tenham sido utilizados para a elaboração desse trabalho, acredito que seja importante mencionar, ainda que brevemente, quais são os documentos disponíveis no acervo como um todo.

Figura 1 – Parte dos documentos encontrados no acervo da SMAA. Fonte: Foto do autor.

1.3.2.1 Partituras impressas

As partituras impressas encontradas podem ser divididas basicamente em três tipos: avulsas, coletâneas e óperas.

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televisão. As coletâneas, principalmente dos anos 60, 70 e 80 trazem, em livros, temas e letras de canções dedicadas a festas e ao carnaval.

Além destes dois tipos de partituras foram encontradas, ainda, três reduções de óperas para piano e voz, duas destas pertencentes ao Club Beethoven.3 As partituras, aparentemente importadas da Europa, trazem na íntegra as óperas La Traviata de Verdi, Ruy Blas de Marchetti e Lohengrin de Wagner.

1.3.2.2 Partituras manuscritas

Sem dúvida, as partituras manuscritas são o tipo de documentação mais abundante no acervo da SMAA. Apesar de parte das partituras se encontrar misturadas umas às outras, desorganizadas ou incompletas, a maior parcela destas se encontra completa, organizada e separada em pequenas pastas de papelão. Geralmente consistem de arranjos para banda, divididos em folhas (normalmente por volta de 20), uma destinada a cada instrumento do conjunto.

Procurou-se dividi-las de acordo com o gênero musical, uma vez que foi o critério considerado mais apropriado para facilitar e agilizar seu estudo. Pensou-se em outros critérios como a separação por datas e por compositores, porém tais divisões se tornaram inviáveis, uma vez que nas obras encontradas, um número extensivo não apresentava seus respectivos compositores e um número ainda maior de obras não mostrava datas de suas respectivas composições ou cópias.

Pouco menos de 400 partituras foram separadas e estudadas durante a pesquisa. As partituras que aparecem datadas, aproximadamente 30% destas, apresentam em sua grande maioria datas entre 1900 e 1935. A mais antiga encontrada, a Valsa O 1º Beijo, composta por George Lamette, possui cópia datada de 1884 e a mais recente, o samba Na Aba, cópia do ano de 1985. Tais datas, no entanto, mesmo quando aparecem, pouquíssimas vezes mostram quando as obras foram compostas de fato. Geralmente apresentam a data em que a cópia da partitura foi feita e, por outras vezes, apresentam apenas a assinatura datada de algum membro da banda. Embora não se possa precisar a data de composição das obras a partir das datas das cópias e assinaturas, é possível saber que tais obras faziam parte do repertório da banda no período em que foram datadas.

3 O Club Beethoven era uma sociedade musical florianopolitana, que promovia concertos e recitais.

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Os compositores aparecem em pouco mais de metade das partituras. Estes são os mais variados, mas aparecem com maior freqüência aqueles locais como José Brasilício de Souza (1854-1910, autor do Hino de Santa Catarina), seu filho, Álvaro Souza (1879-1939), o Maestro Pedro Pavão do Nascimento (?-1940), regente da SMAA no início do séc. XX, além de outros instrumentistas da SMAA que também compunham. Em inúmeras partituras, no entanto, como a exemplo das datas, não há informações sobre quem as compôs.

Destaca-se que na grande maioria das peças, o nome da obra vem acompanhado do gênero musical a que corresponde. Esses são muito diversos, com destaque para as valsas, marchas e dobrados que aparecem com maior freqüência. Além destes, estão presentes também danças populares do início do século como polcas, mazurcas, schottisches e maxixes. Nota-se também um número considerável de hinos pátrios e de estabelecimentos locais como o Clube 12 de Agosto, a Escola Alferes Tiradentes e a União Beneficente dos Artistas. O samba aparece com alguma freqüência, principalmente após a década de 1920, e em pequeno números outros gêneros, latinos como boleros e habaneras, americanos como one-step, rag-time e cakewalk, além de outros como batuques e cateretês. Foram encontrados ainda alguns arranjos de trechos de óperas e obras sinfônicas para banda. Informações sobre as partituras manuscritas encontradas no acervo e mencionadas no trabalho se encontram no Apêndice 2.

1.3.2.3 Livros-caixa e documentos financeiros diversos

Dentre os documentos relativos à organização da banda, os livros-caixa foram aqueles encontrados em maior número. Contendo os registros de recebimentos e pagamentos da banda em ordem cronológica, os livros-caixa tinham como objetivo controlar as despesas e receita da sociedade. Junto a estes livros, foram encontrados também outros livros menores contendo os dividendos de tocatas, que registravam quanto cada músico devia receber ou mesmo pagar à banda, para aqueles que estavam em dívida com a SMAA. Inúmeros recibos ainda foram encontrados tanto para comprovar pagamentos recebidos pela SMAA, como pagamentos feitos por ela.

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Foram encontrados no acervo livros contendo atas dos encontros realizados pelos membros da diretoria da SMAA que revelam informações sobre o funcionamento da sociedade, como reuniões, posses de novas diretorias e homenagens prestadas a fundadores da sociedade.

1.3.2.5 Livros de presença

Hábito preservado até hoje na banda da SMAA, os livros-presença registram quais músicos compareceram aos ensaios da banda, assim como às mais variadas apresentações realizadas. Os livros-presença apresentam informações muito relevantes a esta pesquisa, pois além de conterem o nome dos músicos e seus respectivos instrumentos, mostram as datas dos ensaios, das apresentações e qual a natureza dos eventos em que a banda se apresentava, assim como se tocava recebendo pagamento ou de maneira gratuita.

1.3.2.6 Lista de sócios propostos e lista de contribuintes

Estas duas listas apresentam informações muito relevantes ligando a banda a diversos membros da elite da cidade. A lista de sócios propostos é dividida em colunas, as quais trazem o nome do sócio que está sendo convidado a fazer parte da sociedade, o sócio que propôs seu nome e se este aceitou se associar/foi aceito pela sociedade. A lista de contribuintes traz os nomes dos atuais sócios, o endereço em que podem ser encontrados e a contribuição em dinheiro feita por cada um deles mensalmente.

1.3.2.7 Relatórios do estado da sociedade

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1.3.2.8 Documentos da biblioteca da SMAA

A Sociedade Musical Amor à Arte possuiu durante muito tempo uma biblioteca. Segundo seu atual presidente, Sr. Nélio Schmidt, o acervo foi doado a Fundação Catarinense de Cultura. Em meio ao acervo da SMAA foram encontrados documentos relacionados à biblioteca como catálogos dos livros disponíveis e registros dos livros retirados e devolvidos pelos sócios.

1.3.2.9 Documentos diversos recebidos e enviados pela SMAA

Um grande número de documentos, como circulares, comunicados e convites, foi encontrado no acervo. Através deles, foi possível conhecer as relações entre a SMAA e outras instituições como outras bandas, clubes, irmandades e associações, geralmente da cidade, mas por vezes do estado ou mesmo de outros estados.

Entre tais documentos são mais comuns aqueles que acusam o recebimento e agradecem o envio de comunicação da SMAA sobre mudanças em sua diretoria. Também foram encontrados comunicados de outras instituições sobre eleição e posse de suas novas diretorias. Em um número menor, foram encontrados convites para que a banda e/ou a diretoria compareça a festas e solenidades.

Ainda puderam ser observados documentos internos da SMAA, em que músicos ou sócios solicitam licenças, pedem retorno à sociedade ou que sejam excluídos da lista de sócios. Alguns destes documentos, quando mencionados no texto, se encontram nos anexos desta dissertação.

1.3.2.10 Estatutos da SMAA

Dois estatutos foram encontrados. O primeiro deles é o estatuto da caixa beneficente dos músicos, que teve seu início em 1912. A caixa beneficente tinha

como objetivo “[...] socorrer aos músicos quando as causas forem dignas de ser atendidas, bem como as suas famílias, como único legado a quantia de 150#000 a

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2 CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DE FLORIANÓPOLIS NA PRIMEIRA REPÚBLICA

2.1 POLÍTICA

Segundo Piazza e Hübener (2003), a monarquia entrou em decadência no Brasil na década de 1870. As mudanças de ordem econômica e as alterações sociais, como o crescimento da população urbana, o aumento da classe média urbana e a maior escolarização, geraram insatisfação com o regime monárquico. Segmentos da sociedade como os militares, produtores de café, e funcionários públicos e liberais se organizaram e após a publicação do Manifesto Republicano ainda em 1870, criaram o Partido Republicano.

Os mesmos autores destacam que o Partido Republicano inicialmente se consolidou em províncias como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nas demais províncias, as propagandas e os movimentos eram realizados através de clubes e jornais. “O Clube Republicano foi fundado em

Desterro em 1885 para fazer propaganda das ideias republicanas através da

fundação de jornais republicanos e candidaturas políticas” (NECKEL, 2003, p. 9). O jornal A Voz do Povo era o meio utilizado para a divulgação de suas ideias. Vale destacar, contudo, que em meados de 1887, o Clube Republicano na capital era pequeno, contando com apenas 17 membros.

O Partido Liberal e o Partido Conservador foram as principais forças políticas no período imperial. No momento da proclamação da república, os liberais detinham o poder em Santa Catarina. A instabilidade causada pela instauração do novo regime fez com que os conservadores vissem uma oportunidade de retornar ao governo. Embora ambos os partidos tenham manifestado seu apoio à república, a mudança de regime não foi tranqüila. (NECKEL, 2003, p. 10).

(27)

retornar ao quartel, foi obrigada por um motim de soldados a sair às ruas em passeata promovendo e dando vivas ao Império. Os membros do motim foram presos e alguns baleados em seu retorno.

Ainda em 1889, Lauro Müller foi nomeado governador provisório do Estado pelo presidente Deodoro da Fonseca e embarcou no Rio de Janeiro com destino a Desterro. Ao chegar, foi recebido pelos membros do Clube Republicano, acompanhado de uma grande multidão e da banda do 25º BI.

Neckel (2003) destaca que a insistência dos jornais e documentos oficiais da época em apontar a tranqüilidade da instalação da república indica a ocorrência de

disputas políticas. “[Estudos recentes] destacam a existência de uma nova elite urbana, atenta, influente e aberta ao novo regime, que não pertencia à antiga elite partidária do regime Imperial e que via na República a possibilidade de sua inserção

na política” (NECKEL, 2003, p. 11). Inúmeras solenidades, discursos e obras foram realizadas e veiculadas com o intuito de mostrar a irreversibilidade do novo regime. Apesar da indicação de tranqüilidade e de um apoio generalizado à república, ela foi inicialmente marcada por conflitos e agitações. Seu caráter militar provocou insatisfação por parte dos simpatizantes da monarquia e, também, dos republicanos, que viram a república se afastar dos seus ideais.

Passado o momento inicial da proclamação da república, os conflitos e as tensões tornaram-se evidentes demais para que pudessem ser escondidos. Quando os ex-liberais e ex-conservadores perceberam que suas pretensões em ocupar cargos no novo regime não se tornariam realidade, juntaram-se no Partido da União Nacional para concorrer contra a situação (Ibidem, p. 17). Os veículos usados para a divulgação de suas ideias foram o Jornal do Comércio e a Tribuna Popular. Travou-se uma batalha entre os ex-monarquistas e os republicanos através de artigos, panfletos e boatos. Quando chegadas as eleições para senadores e deputados federais, os republicanos foram eleitos para todos os cargos disputados, gerando uma insatisfação ainda maior por parte dos ex-monarquistas. Lauro Müller foi um dos eleitos para a câmara dos deputados, deixando o cargo de governador para o 2º vice-governador, Gustavo Richard.

(28)

Novembro e em 1892, o nome do Teatro Santa Isabel, que se tornou o Teatro Álvaro de Carvalho. E, como pôde ser observado em inúmeras das comunicações encontradas no acervo da SMAA, os documentos oficiais passaram a ser redigidos

com a saudação “Saúde e Fraternidade” no lugar de “Deus guarde sua majestade”, utilizada durante o Império (CHEREM, 1998, p. 16).

Segundo Neckel (2003), após o fechamento do congresso por Deodoro da Fonseca em 1891, Lauro Müller, então deputado federal, reassumiu o governo do estado. Sob a alegação de que havia apoiado o golpe de Deodoro, Müller, após pouco tempo, se viu forçado a renunciar. Uma Junta Governativa Provisória, então, assumiu o governo estadual. Essa junta, composta e apoiada por ex-conservadores e ex-liberalistas, agora unidos no Partido Federalista, dissolveu o Congresso Representativo do Estado, formado por republicanos. Foi o retorno da antiga elite ao poder.

Os federalistas ganharam força e o apoio do interventor enviado do Rio de Janeiro, vencendo as eleições de 1892 para o Congresso Estadual. Em 1893, teve início a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, contra o governo de Floriano Peixoto e de Júlio de Castilhos. Com a adesão dos revoltosos da Armada no Rio de Janeiro, a Revolução Federalista culminou com o estabelecimento em Desterro do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil.

A reação florianista teve o apoio republicano e foi bastante violenta. Em abril de 1894, os federalistas foram derrotados e o coronel Moreira César foi enviado do Rio de Janeiro para governar o estado. Seu governo ficou conhecido pelas inúmeras prisões e pelos fuzilamentos, nos quais vários membros da elite antiga foram mortos.

O Partido Republicano Catarinense, “agrupando republicanos históricos e

representantes da classe média urbana em que se incluíam militares graduados, profissionais liberais e representantes rurais” (NECKEL, 2003, p. 34), reorganizou-se e com a convocação de eleições por Moreira César, Hercílio Luz foi eleito governador do estado.

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então governador, Felippe Schimdt (1898-1902), através do jornal República, enquanto Schmidt e seus partidários se defenderam através do jornal O Dia. O partido foi apenas se reunificar no governo Lauro Müller (1902-1906). Este, convidado a participar do governo de Rodrigues Alves, como ministro da viação e obras públicas, deixou o cargo de governador para seu vice, Vidal José de Oliveira Ramos Jr. Entre 1906 e 1910, assumiu o governo Gustavo Richard, trazendo para Florianópolis o serviço telefônico, o serviço de abastecimento de água e o de iluminação elétrica. (PIAZZA e HÜBENER, 2003, p. 161)

Vidal Ramos retornou ao governo em 1910 e dedicou sua administração à grande reforma do ensino primário no estado, além de lidar com a disputa do Contestado. Felippe Schmidt tomou posse mais uma vez em 1914, aprovando o acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina, e, também, instalando a rede de esgotos para a capital. Após o governo de Schmidt, Müller foi mais uma vez eleito, porém quem tomou posse foi seu vice Hercílio Luz. Luz foi eleito novamente em 1922, governando o estado até 1924, quando faleceu. No período de seus dois mandatos, entre 1918 e 1926, realizou uma série de obras na capital, destacando-se o saneamento da ilha, assim como a construção de uma ponte ligando ilha e continente, ponte esta que levou seu nome. O último governador da Primeira República foi Adolfo Konder (1926-1930), em cuja administração houve uma ênfase na melhoria dos portos e a remodelação da Polícia Militar do Estado. (PIAZZA e HÜBENER, 2003, p. 162)

Como destaca Neckel (2003), pode-se dizer que as primeiras décadas do regime republicano, período em que a SMAA foi fundada oficialmente, foram marcadas pela aliança entre as duas principais lideranças do Partido Republicano Catarinense, Lauro Müller e Hercílio Luz, com um acordo entre os dois políticos, em que Müller indicava os candidatos aos cargos federais e Luz, os candidatos aos cargos estaduais.

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governo republicano iniciaram uma intensa luta. Com as dificuldades financeiras da

época, os cargos públicos representavam “não somente influência política, mas

também uma alternativa para a manutenção das rendas familiares” (PEDRO apud NECKEL, 2003, p. 25). Com o intuito de parecer civilizado, as famílias abastadas importavam as modas e hábitos do Rio de Janeiro, procurando no moderno e no metropolitano uma forma de desqualificar seus concorrentes.

Pode-se notar até a década de 1920, apesar do acordo entre as duas forças, Müller e Luz, uma clara divisão de lideranças políticas no estado. Müller predominou até a I Guerra Mundial, quando foi acusado de simpatizante da Alemanha, em virtude de suas raízes alemãs. Hercílio Luz, com sua ascendência bandeirante e açoriana, passou a impor-se como maior liderança no período que se seguiu.

2.2 SOCIEDADE

O enriquecimento de alguns comerciantes e o aparecimento de uma elite administrativa fizeram com que a diferença entre classes se tornasse, na segunda metade do século XIX, mais acentuada. Junto às mercadorias importadas da Europa, que decoravam as casas das classes mais abastadas, também apareceram novos hábitos e gostos que acentuaram ainda mais a diferença entre ricos e pobres. Com tal mudança, os mais abastados passaram a associar as classes mais pobres com o perigo, os maus hábitos, e o surgimento das epidemias e desordem na cidade.

As ideias dos higienistas europeus, na virada do século XIX começaram a aparecer nos discursos dos administradores públicos de Desterro no último quarto do século XIX. Porém, apenas após a Revolução Federalista e a Revolta da Armada que esses debates se intensificaram e algumas obras começaram a ser realizadas. Novas ruas foram abertas, antigas ruas ganharam nomes de republicanos, a bandeira e hino do estado foram cunhados, procurando associar a república com o novo e o moderno.

(31)

Ao lado da abertura e do calçamento de ruas, de organização de praças, de limpeza de logradouros públicos, acentuaram-se as preocupações dos administradores em dotar a cidade de obras de saneamento que garantissem a manutenção de uma nova ordem e de um novo modo de vida. [...] Para o poder público e setores mais abastados, tornou-se essencial dar um aspecto “agradável e sadio” para Florianópolis. [...] As insistências dos administradores em transformar Florianópolis em uma cidade “moderna e civilizada” sugere que “a antiga vila” era incompatível com a nova ordem política e social que se instaurava. (NECKEL, 2003, p. 53)

A área central da cidade passou por inúmeras reformas e melhoramentos nas primeiras décadas do século XX. Como destacado anteriormente, foram instaladas as primeiras redes de água encanada e iluminação pública com energia elétrica. Construiu-se, também, a primeira avenida da cidade e, em 1922, uma ponte para ligar a ilha ao continente, que foi concluída em 1926. Apesar dos melhoramentos, vale destacar que a economia de Florianópolis continuava em declínio. Tais reformas foram apenas possíveis devido à força de sua elite política. Essa, no entanto, a partir de 1910 passou a perder, em parte, suas forças com a ascensão dos políticos pecuaristas da região do planalto catarinense.

Intervenções no cotidiano da população e para a alteração da paisagem urbana continuaram a acontecer, especialmente entre 1910 e 1930. Ruas foram alongadas, redefinidas e calçadas, e inúmeros prédios e casas foram demolidos sob o discurso do bem estar público.

Como já mencionado, ao mesmo tempo em que a distinção entre abastados e pobres se acentuava com os novos gostos e hábitos, observavam-se intervenções sociais, baseadas numa política médico-sanitarista, que procurava “regenerar” a

população pobre, considerada doente e atrasada, esforços com o intuito de fazer com que Florianópolis alcançasse o ideal de modernidade que os políticos e abastados desejavam. Conforme resume Neckel (2003):

Alteravam-se as paisagens da cidade ao mesmo tempo que eram promovidas interferências nos hábitos e atitudes de seus habitantes que, ultrapassando os limites das práticas repressivas, pretenderam atingir não só os corpos, mas também as mentes dos indivíduos, visando modificar modos de vida. Passar das proibições e sanções para intervenções educativas foi outra dimensão desta modernidade urbana, que ganhou força no contexto das forças políticas republicanas. (NECKEL, 2003, p. 64)

(32)

de casas, que deram lugares a avenidas, praças e prédios, além de modificar a paisagem urbana do centro da cidade, forçou esses moradores a se mudarem para morros e regiões periféricas.

Além das modificações no cenário, o comportamento e hábitos da população deveriam ser mudados, para que Florianópolis chegasse ao status de cidade moderna que sua elite desejava. Maiores cuidados com o corpo, alimentação e limpeza, além de padrões que caracterizavam uma boa conduta eram propagados pela imprensa da época. Artigos sobre más condutas, abordando vícios como o álcool e o jogo eram igualmente freqüentes. Pessoas que se situavam fora do padrão do mercado de trabalho, como bicheiros e vendedores ambulantes, eram taxados de vagabundos pela imprensa local.

Neckel (2003) ainda destaca que:

[...] entre 1910 e 1930, observam-se várias mudanças no aparato policial-judiciário, no sentido de aprimorar formas de vigilância e de intervenções sobre a cidade e seus habitantes, para não só abolir condutas indesejáveis, como produzir indivíduos adaptados aos padrões de conduta urbana então em circulação. (NECKEL, 2003, p. 75)

No entanto, apesar de todas as mudanças ocorridas, a desobediência às novas regras de conduta continuou a acontecer. O problema da insalubridade não foi resolvido e de um modo geral, não se estabeleceu uma nova ordem urbana e social como se desejava.

A situação econômica no início do século XX era bastante ruim. O porto continuava em declínio, assim como o comércio, que se restringia ao consumo local. A produção industrial era pequena e a produção agrícola não conseguia abastecer toda a população, sendo que alimentos vinham de outras partes do estado. O mercado de trabalho era reduzido e pouco diversificado. A população mais pobre da cidade tinha, então, que recorrer a subempregos como biscateiros, ambulantes e carregadores (NECKEL, 2003, p. 79). As mudanças ocorridas na cidade causavam dificuldades ainda maiores de sobrevivência, gerando tensões entre os grupos dominantes e os populares. Outro fator, que também dificultou o envolvimento dos mais pobres com atividades regulamentadas, foram os elevados impostos, responsáveis pela constante alta de preços.

Neckel (2003) procura destacar em seu livro como as operações urbanas

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das elites parcelas pobres da população, bem como os riscos e as ameaças que

representavam” (Ibidem, p. 95). As preocupações com estes segmentos, que se afastaram do centro urbano, reapareceram com as epidemias, que ultrapassaram os

limites dos morros e periferias, mais uma vez “perturbando” as elites. Para a autora,

“A República legitimou-se não com base no apoio do povo, mas com base na

constituição do novo regime como emblema de modernidade e de civilização”

(Ibidem, p. 99).

2.3 CULTURA E ENTRETENIMENTO

Segundo Côrrea, o período entre 1896 e 1930 foi um dos mais produtivos

intelectualmente para a cidade de Florianópolis, pois, “paralelamente ao

desenvolvimento urbano e a modernização, houve a preocupação do delineamento

da definição da estrutura cultural em Santa Catarina, a partir da sua capital”

(CÔRREA, 2008, p. 300).

Diversos acontecimentos contribuíram para a definição de uma cultura catarinense republicana. A fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC), a criação de inúmeras revistas voltadas a assuntos culturais e sociais preocupadas com o registro do passado desterrense, a criação de revistas literárias e da Academia Catarinense de Letras (ACL) foram ajudadas pela unificação política do Estado e a concentração das lideranças sociais e culturais de Florianópolis no mesmo partido, o Partido Republicano (Ibidem, p. 300).

A intelectualidade da época era dividida em dois grupos, não oponentes, mas voltados a interesses distintos. O grupo ligado a assuntos relacionados ao Estado era liderado por Hercílio Luz e José Boiteux, além de contar com desembargadores, comerciantes, profissionais liberais, militares como Felippe Schmidt e políticos como Vidal Ramos e Gustavo Richard. Este grupo foi responsável por fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina em 1896 e lançar o primeiro número de sua Revista Trimensal em 1903. O outro grupo, que fundou a revista literária Terra e em 1920, a Academia Catarinense de Letras, era formado em grande parte por jornalistas e professores ligados à rede estadual de ensino. Faziam parte dele Othon

Gama D‟Eça, Francisco Barreiros Filho, Altino Flores, Ivo D‟Aquino Fonseca, Antônio

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Entre 1916 e 1920, algumas revistas ilustradas foram lançadas por jornalistas da capital, cedendo espaço para que os jovens pudessem mostrar seus poemas e sua verve irônica. Em março de 1920, surgiu a revista Terra, de Artes e Letras, que segundo Côrrea (2008), refletiu, mais do que qualquer outra revista, o pensamento da intelectualidade florianopolitana da época. A revista, que inicialmente se preocupava mais com os problemas literários e a qualidade da língua nacional, foi se preocupando cada vez mais com os problemas políticos da cidade e do estado.

Em 1924, com o falecimento de Hercílio Luz, a Academia Catarinense de Letras, fundada em 1920, perdeu seu maior protetor e incentivador. Assumiu o governo em seu lugar, o vice-governador Antônio Pereira e Oliveira, que tinha maior proximidade com Lauro Müller e Vidal Ramos. Os intelectuais florianopolitanos da Academia Catarinense de Letras perderam seu prestígio perante o novo governador, que se voltou para um grupo considerado pelos acadêmicos como de menor importância literária, o Centro Catarinense de Letras. Deste outro grupo faziam parte mulheres e negros como Ildefonso Juvenal, Antonieta de Barros, Sebastião Vieira, Trajano Margarida e outros. O Centro Catarinense de Letras, em 1925 lançou o primeiro número de sua revista, com o apoio do governo do estado, algo que a ACL não havia conseguido fazer em cinco anos de existência. O governador e seu secretariado tinham grande prestígio pelas atividades do grupo, que realizou também o Festival Lítero-Musical no Teatro Álvaro de Carvalho em 1925 (Ibidem, p. 308).

Apesar de ter cessado suas atividades no mesmo ano, o Centro teve grande importância na vida cultural da cidade, uma vez que, além de representar uma oposição às ideias estéticas da ACL, tinha membros intelectuais mulheres e negros, numa época em que existia preconceito racial e de gênero acentuado.

O teatro era também fonte de cultura e entretenimento na capital na Primeira República. Era comum a vinda de companhias dramáticas de outros estados e, por vezes, até de outros países, que passavam pela ilha representando peças de sucesso, com ênfase naquelas do chamado teatro ligeiro como operetas, zarzuelas, vaudevilles e revistas, como se pode observar nos jornais locais da época. Vale ressaltar que também existiam as sociedades dramáticas particulares, que eram locais e realizavam récitas com alguma freqüência.

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parte da intelectualidade da cidade, membros da ACL ou do Centro Catarinense de Letras, passaram a escrever para este tipo de espetáculo. Segundo a autora, a ausência de uma casa editora na capital fez com que o teatro se tornasse um excelente veículo para a divulgação da produção da intelectualidade da cidade. O gênero revista foi escolhido, pois era aquele de maior aceitação na capital federal e nas demais províncias do país, além de ser o mais representado por companhias em excursão que passavam pela cidade, fazendo com que os escritores e público tivessem familiaridade com este gênero.

O cinema, que chegou à cidade por volta de 1900, passou a dividir espaço com o teatro nas primeiras décadas do século XX, principalmente a partir da década de 1910. Foi possível observar nos jornais propagandas de sessões, geralmente trazidas por companhias de fora e apresentadas no Teatro Álvaro de Carvalho.

Côrrea (2008) aponta que os divertimentos, na virada do século, eram poucos e que além das corridas de cavalo que ocorriam na Trindade, ou Trás do Morro, pouco existia. O autor cita Virgílio Várzea que aborda, em seu livro A Ilha de 1900, Florianópolis na última década do século XIX. Segundo Várzea:

Comumente, as diversões no Desterro não vão além das partidas dançantes em clubes e casa de família, e a ausência de outros quaisquer divertimentos é de tal ordem que semelhantes reuniões se repetem frequentemente duas, três e mais vezes por semana. [...] A tal respeito, é de justiça mencionar aqui, dentre as distintas associações desterrenses, o Clube Doze de Agosto, que conta com cerca de 30 anos de existência, o Clube Germânia, também de fundação antiga e o Clube Dezesseis de Abril. Estas agremiações compõem-se do que Florianópolis tem de mais seleto e elevado, e dão festas dançantes e sessões de jogos de salão para famílias, que são o que há de mais apreciável e digno. (VÁRZEA apud CÔRREA, 2008, p. 286)

O autor ainda destaca as praças e largos, que apesar de em pequeno número, apresentavam aspecto agradável, atraindo famílias da cidade. Em tais locais aconteciam normalmente as retretas, tanto por bandas militares, como civis. Segundo Várzea:

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Conforme a cidade se modernizava, as corridas de cavalo cediam espaço ao remo, que acontecia principalmente na Baía Sul. Três clubes náuticos foram fundados, o Clube Náutico Riachuelo e o Clube Náutico Francisco Martinelli, ambos em 1915, e o Clube de Regatas Florianópolis, depois renomeado Aldo Luz, em 1918. A rivalidade entre os clubes era grande e nos dias de páreo, geralmente aos domingos, a orla marítima sul se enchia de torcedores (CÔRREA, 2008, p. 293).

O futebol era, na época, pouco difundido pelo público, sendo até mesmo proibido em 1919 pelas autoridades estaduais. O primeiro jogo que se tem notícia aconteceu em 1910 entre equipes amadoras e os times do Avaí e Figueirense foram fundados apenas em 1921 e 1922 respectivamente (Ibidem, p. 293).

Quanto à música, além das já mencionadas retretas realizadas pelas bandas em locais públicos como praças e largos, clubes da cidade promoviam concertos, recitais e soirées, em que instrumentistas e cantores locais, assim como outros que estivessem de passagem pela cidade, apresentavam-se. O repertório dessas apresentações era bastante variado. Executavam-se trechos de obras de compositores renomados como Carlos Gomes, Verdi, Mozart e Donizetti, assim como peças de compositores locais como José Brasilício de Souza, Álvaro Souza, Pedro Alves Pavão, João Augusto Penedo e Adolfo Mello, como se pode observar nos jornais locais da época.

Destaca-se ainda o carnaval na cidade, que aumentava o número de bailes, mas que tinha como principal destaque, os desfiles das sociedades carnavalescas. Pamplona e Holler (2010), em estudo sobre o carnaval em Desterro na segunda metade do século XIX aponta sobre:

Os desfiles eram o ponto alto do carnaval desterrense. Neles as sociedades superavam-se, ano após ano, na beleza, criatividade e luxo dos carros alegóricos, fantasias, iluminação e fogos de artifício. Esmeravam-se na música executada pelas bandas e nas críticas e sátiras que apresentavam. De acordo com a imprensa local, proporcionavam um espetáculo exuberante e ordeiro que não deixava a desejar se comparado aos carnavais de outras cidades brasileiras, inclusive a Capital do Império (PAMPLONA e HOLLER, 2010, p. 10).

Os jornais do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX destacam os bailes, festas e desfiles promovidos pelas sociedades carnavalescas,

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3AS BANDAS

Polk (s.d.), no dicionário Grove Music Online, afirma que a palavra banda possui inúmeros usos dentro da música e que pode se referir a praticamente qualquer conjunto de instrumentos. Quando o termo é utilizado sem nenhum adjetivo que o complemente, normalmente, se refere a conjuntos de metais e percussão ou madeiras, metais e percussão.

O autor afirma que as bandas podem ser classificadas pelo instrumento ou família dominante no conjunto. Podem ser chamadas de uma banda de metais, de acordeões, de flautas, etc. Também podem ser classificadas de acordo com sua função, como banda militar, banda marcial e banda de teatro ou ainda pelo estilo de música que tocam: banda de jazz, banda de rock, banda pop.

Neste trabalho, como explicado anteriormente, quando se menciona banda, refere-se aos conjuntos de instrumentos de sopro e percussão, tão populares no Brasil na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX. Abaixo encontra-se uma breve retrospectiva sobre a história das bandas, primeiramente de maneira mais genérica, depois focando no Brasil e por último na cidade de Florianópolis.

3.1 BREVE HISTÓRICO DAS BANDAS DE MÚSICA

Brum (1988) divide a história das bandas em cinco períodos distintos, caracterizados pela aparição de novos instrumentos. O primeiro desses vai da Antiguidade à Idade Média. O autor destaca que neste período os tocadores prestavam serviços relevantes aos povos, principalmente religiosos. Afirma, igualmente, que existiam inúmeros conjuntos de sopro e percussão, mas que esses não podiam ainda ser chamados de bandas de música.

O segundo período se estende do fim da Idade Média ao fim do século XVII. Brum destaca a indústria do metal como fator importante nessa época. O avanço dessa indústria possibilitou a construção de novos instrumentos como trompas, trompetes, flautas e oboés. O autor destaca que no final do século XIII, ainda neste

período, “já com o nome de banda de música, as tropas militares passaram a incluir

grupos de executantes de instrumentos musicais em tipos diferentes: para serviços

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Binder (2006, p. 15) menciona que “foi no reinado de Luis XIV (1638-1715) que surgiu o modelo de banda do qual se derivaram os padrões instrumentais posteriores utilizados em boa parte da Europa”. Este novo conjunto implementado na corte francesa, no qual os oboés substituíram as charamelas utilizadas no modelo alemão, ficou conhecido como banda de oboés. Sua formação consistia de três oboés, baixão ou fagote e tambor. Os três oboés tomaram o lugar das duas charamelas soprano e uma tenor do modelo alemão.

O autor ainda destaca que em meados do século XVIII, houve uma transição das bandas de oboé para os grupos conhecidos como Harmoniemusik, por ele chamados de bandas de harmonia. Estes grupos, que se espalharam por entre a aristocracia europeia, possuíam como característica “a fixação de um par de trompas, a diminuição de três para dois oboés e o emprego de clarinetes e flautas, adicionados ou em substituição aos oboés” (BINDER, 2006, p. 16).

Segundo o autor, as bandas de harmonia, influenciadas pela moda turca que se disseminou pela Europa no século XVIII, agregaram instrumentos de percussão aos sopros, provocando uma nova transformação no instrumental. Após a adição dos instrumentos de percussão, para equilibrar a sonoridade do conjunto, aumentou-se o número de clarinetes e adicionaram-se flautins, requintas e trombones. Esta nova formação foi denominada como banda mista ou militar. Este modelo e suas variações foram utilizados em diversos lugares até meados do século XIX, antes do grande impulso provocado pela introdução dos instrumentos de válvulas e pistões nas bandas.

Brum (1988) apresenta uma divisão diferente e mais generalizada do que a apresentada por Binder (2006) para o mesmo intervalo. Segundo o autor, o terceiro dos cinco períodos que propôs para apresentar a história das bandas, se dá durante o século XVIII, no Classicismo. Em virtude da evolução dos instrumentos de sopro e percussão nesta época, muitos instrumentos de madeira foram suprimidos das bandas, com exceção do oboé e do fagote. Ainda neste período, Brum (1988) destaca a invenção da família dos saxhornes por Adolph Sax, a invenção das válvulas para instrumentos de bocal e a instituição de bandas nas usinas e fábricas, fatores que contribuíram para o crescimento e propagação das bandas.

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banda. No século XIX também se estabeleceram as famílias dos instrumentos e o efetivo das bandas em diversos países foi regulado por lei, inclusive no Brasil.

No quinto período, o século XX, a banda “passou a contar com executantes

de todos os instrumentos de sopro de interesse, e de percussão” (BRUM, 1988, p.

11).

3.2 AS BANDAS DE MÚSICA NO BRASIL

Diniz (2007) aponta para o fato de que já no século XVIII existiam, no Brasil, grupos musicais que se assemelhavam às bandas. Formados por escravos, obrigados por seus senhores a aprenderem novos ofícios, essas bandas eram denominadas de barbeiros, única profissão que permitia tempo vago para a aprendizagem de outras funções. Os barbeiros tocavam dobrados, quadrilhas e fandangos em festas, tanto religiosas quanto profanas.

As bandas no Brasil, na concepção que temos atualmente, começaram a

aparecer nos fins do século XVIII e início do século XIX. Carvalho destaca que “a primeira banda militar brasileira se apresenta em 1808 com a vinda da família real para o Brasil, quando chega com esta a „Música Marcial da Brigada Real da

Marinha‟ de Portugal, que depois vai dar origem a Banda dos Fuzileiros Navais”

(CARVALHO, 2008, p. 5).

Binder (2006) aponta, no entanto, que existem indícios de que já havia bandas no Brasil com padrões instrumentais semelhantes àquelas de Portugal, mesmo antes da chegada da corte portuguesa ou da banda da Brigada Real da Marinha. Binder afirma que, ao contrário do que autores como Tinhorão (1998) apontam, já existiam bandas de música nos moldes das bandas de harmonia antes de 1808. Essas, no entanto, passaram despercebidas pelos pesquisadores por não serem chamadas de bandas, mas por outros nomes, como música, instrumentos músicos e música marcial. O termo banda, segundo o autor, aparece na legislação administrativa e, também, em relatos sobre eventos da corte somente em 1810, porém apontando para a existência de bandas no país antes desta data.

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século XIX, em Recife, Olinda e João Pessoa, denominada então de Paraíba, percebe-se a presença de conjuntos com instrumentos muito similares aos estabelecidos para o exército português no decreto de 1802.4

Salles (1985), em seu estudo sobre a atuação das bandas na região Norte do país, aponta que não havia bandas de música no Pará antes de 1836. Binder (2006), no entanto, assinala um possível equívoco do autor, no qual menciona a presença de músicas dos regimentos já em 1823, que como visto anteriormente, pode estar se referindo às bandas de música.

Carvalho (1998) constata que, no estado de Minas Gerais, com a decadência do ouro no século XIX, também houve uma redução no pagamento dos serviços musicais, causando uma diminuição no número de instrumentistas. Este fator aliado à dificuldade de formação de orquestras e o surgimento de uma nova organização social fez com que novas bandas fossem formadas, principalmente, por músicos

militares. Segundo o autor, “essas bandas assumiram os serviços eclesiásticos

antes executados pelas orquestras. Os músicos cumpriam assim, suas funções militares e religiosas” (CARVALHO, 1998, p. 232).

Prossegue abordando o surgimento das bandas civis, que se tornaram numerosas no final do século XIX. Segundo o autor:

A partir daí começaram a surgir as bandas civis, as quais proliferaram no final do século XIX, quase sempre duas em cada povoado. Ostentando nomes iniciados, em geral, por Lira, Filarmônica, Associação, Corporação ou mesmo Banda, com uniformes que lembram o dos militares e com os tradicionais quepes, as bandas de cada cidade concorriam entre si, como outrora faziam as irmandades, e eram conhecidas como Banda do Coronel Fulano ou Banda da Igreja do Rosário. Rara era a localidade que não as possuía. (CARVALHO, 1998, p. 232)

As bandas tocavam nas mais variadas ocasiões como procissões, festas de padroeiros, funerais e festas religiosas, assim como nas comemorações cívicas, mais freqüentes após a Independência. Faziam a função antes realizada pelas orquestras, e em vez das obras orquestrais executadas anteriormente, tocavam marchas, dobrados, valsas, mazurcas, dentre outros gêneros (CARVALHO, 1998, p. 232).

4 Este decreto, citado por Binder (2006) e Brum (1988), especifica a formação instrumental das

Imagem

Figura 1  –  Parte dos documentos encontrados no acervo da SMAA. Fonte: Foto do autor.
Figura 2  –  Fotografia da banda da SMAA em data desconhecida (estima-se entre 1920-1930)
Figura 3  –  Cubos utilizados no processo de seleção de novos sócios. Fonte: Foto do autor
Figura 4  –  Sede da SMAA. Fonte: Foto do autor.
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