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2 CONTRIBUIÇÕES DA ASCD PARA O ESTUDO DAS IDENTIDADES

2.5 A socialização no discurso acadêmico (lattes)

No caso desta pesquisa, a socialização é buscada pelos atores sociais nas diversas trocas relacionais. Ela se efetiva nas inúmeras participações que os textos dos atores passam e nos diversos eventos que o meio acadêmico permite: seleções de professores, alunos, funcionários da administração; defesas de doutorado, mestrado, especialização e graduação; congressos acadêmicos, conforme será discutido, posteriormente, sobre a área de atuação do CL no capítulo metodológico.

Essa relação social é orientada e significativa entre o ator e o grupo social por meio da realidade sociocultural que envolve o contexto. Sendo assim, toda socialização envolve “finalidades” que dão sentido à participação na vida em comum; “recursos humanos” e “materiais’ que devem ser adquiridos e utilizados para atingir fins legítimos; “espaços” que são os campos de atuação que atribuem significados de diferentes formas; e “constrangimentos” que, entendidos como significados relacionais, comportam a forma como um ator atua sobre os

outros. "Uma luta" entre eles por meio do domínio, poder, influência, autoridade e hegemonia (BAJOIT, 2006).

Para que cada ator social participe de uma identidade coletiva, ele leva em conta quatro condições/orientações sociais e culturais, essas práticas estruturam o convívio em sociedade (BAJOIT, 2006, p. 144-150):

O cálculo: o ator social se submete à autoridade porque a submissão é menos prejudicial, oferece-lhe menos riscos, ou desaprovação do grupo, já que o mesmo quer prestígio aprovação e reconhecimento. É a chamada racionalidade por interesse;

A habituação: ele já possui em seu esquema mental posições acerca da coletividade que ele a julga como boa. “Ele ocupa tal posição, cumpre tal função. E tem necessidade de desempenhar o papel que lhe corresponde para se sentir bem consigo mesmo [...]”. São as atribuições de traços identitários;

A identificação: ele é suscitado no desejo de empatia por outra. É a formação de um ideal de identificação;

A convicção: ele é convencido de “certezas” valorizadas pelos grupos sociais. As exigências da vida coletiva são orientadoras para eles. O bom-senso, a conduta e a consciência. Na participação dos atores sociais com o CL, é possível perceber as quatro formas de participação para formação de identidades coletivas. O cálculo está na busca do prestígio, na aprovação social, no reconhecimento das capacidades que o sujeito almeja por sua inscrição nesse meio. O cálculo é uma espécie de finalidade, de meios, de investimentos e de recompensas que orientam o ator, no plano cognitivo, a buscar determinada identidade e atitudes (MERLUCCI, 1995, p. 44). Essas orientações se tornam as estratégias que motivam e dão consciência, em alguns casos inconsciência, quanto ao lucro material e imaterial/simbólico na sua participação em grupo. Esse cálculo permeia todas as ações do ator social dentro do campo. Lançamento de livro, participação em eventos, palestras e aprovação de projetos, entre tantas práticas, são escolhas baseadas nos benefícios de sua participação. Por vezes, a escolha pode ser apenas para que não se obtenha prejuízo, desaprovação, junto ao grupo que pertence. É importante destacar, nesse momento, que o cálculo não pode ser reduzido apenas a relação de custo-benefício do ator, pois há, inevitavelmente, o envolvimento emocional, paixões, sentimentos, crenças, medos e sonhos que particularizam a participação do ator, em seu envolvimento, com a prática social e que são inerentes às identidades (MERLUCCI, 1985, p. 45).

Já a habituação é verificada pela ocupação e papéis sociais que atores sociais adquirem em seu processo de socialização: professores, pesquisadores, administradores, líderes de grupo

de pesquisa, dentre outras identidades. O ator assume traços atributivos que, por meio de suas atividades, são incorporadas ao “seu eu”, consequentemente, ao “seu grupo de pertença”. Essas caracterizações são oriundas do sistema de posições do próprio campo acadêmico. Sendo assim, os diversos discursos acadêmicos são, parcialmente, ou totalmente, engendrados nas práticas sociais e discursivas dos atores sociais (SANTOS; AZEVEDO, 2012, p. 88). Tais práticas se revelam nas lutas dentro do campo por hegemonia, por liderança epistêmico-metodológica e por poder político. Lutas construídas e alicerçadas pelo habitus que fundamentam o campo acadêmico.

Por meio do habitus acadêmico é que a identificação entre os atores e grupos se realiza. A identificação é o processo de socialização que simbolicamente atrai para incorporação do lattes na vida do pesquisador. O processo consiste, por se identificar com outro ator, em provocar o desejo no ator, de fazer parte do grupo dos que possuem títulos acadêmicos; dos que publicam livros e artigos; e dos que ocupam cargos na esfera pública ou privada. Uma empatia ocorre, gerando um modelo a ser seguido (uma influência). Há uma identificação, quando um “eu” reconhece valores quanto a um “outro eu” ou a um grupo. Quando a identificação acontece dentro de um grupo, há o processo de autoidentificação, onde o reconhecimento é mútuo entre os atores, sendo esse motivo a razão da manutenção do grupo (TEJERINA, 2010, p. 112-113; MERLUCCI, 1995, p. 47).

Para finalizar sobre os processos de socialização, a convicção é o processo que faz com que se acredite que tudo está correto. Ainda, a convicção de que não há o que se questionar ou discordar quanto às práticas seguidas; quanto ao modelo de grupo que foi instaurado; e quanto às escolhas que foram suscitadas pela identificação com algum grupo. Os sentidos de todas as coisas estão ali para uma vida coletiva saudável. Essas condutas são interiorizadas, orientando as condutas dos participantes.

Conforme discutido, acredita-se que a socialização combina os processos e as formas de relação de modo simultâneo. Uma motivação está ligada a outra. Não se quer dizer com isso que todo processo de socialização possa ser verificado por todas as condições apresentadas, contudo é possível afirmar que uma depende de outra. É a partir dessa socialização que temos as identidades coletivas. Os que participam das mesmas identidades coletivas podem se reconhecer entre si, pois há no ser humano organização entre si natural.

Para entender a realidade das práticas sociais e discursivas do CL e entender como emergem as identidades coletivas, alguns mecanismos são utilizados. Eles são consideradas traços constitutivos das identidades coletivas. Por meio desses instrumentos, é possível entender as relações múltiplas identitárias que se manifestam por meio dos gêneros.