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2 CONTRIBUIÇÕES DA ASCD PARA O ESTUDO DAS IDENTIDADES

2.1 Estado da arte

As identidades passam por uma efervescência em pesquisas nas diversas áreas: em sociologia (HALL, 2006; 2012; BAUMAN, 2005); psicologia (DECHAMPS; MOLINER, 2009; JAQUES, 2012); e no trabalho (DUBAR, 2005). Esse destaque da temática também ocorre na grande área da linguagem: literatura, linguística e LA.

Em LA, os trabalhos são diversificados quanto à temática das identidades. As diversas coletâneas (SIGNORINI, [1998] 2002; MOITA-LOPES, 2002; CORACINI, 2003; MAGALHÃES; GRIGOLETO; CORACINI, 2006; BASTOS; MOITA-LOPES, 2011) refletem bem os caminhos trilhados quanto ao tema. Na trilha da diversidade temática estão os estudos sobre alteridade, subjetividade, movimentos sociais, novas tecnologias, ensino- aprendizagem, questões étnicas, sexualidade, alunado, professorado e discurso acadêmico.

Um retrato desse destaque das identidades é marcado pelos Programas de Pós- Graduação em Linguística Aplicada. Nos programas das Universidades de Campinas (Unicamp) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), reconhecidamente entre os mais importantes do país, no último ano, 2013, foi possível verificar, em pesquisa no banco de dados das instituições, a realização de pesquisas na temática.

Na Unicamp, a tese de doutorado intitulada “O discurso universitário-científico na contemporaneidade: marcas e implicações na constituição identitária do pesquisador em formação” (ROSA, 2013) discute a formação da identidade de pesquisador, envolto à questão do discurso acadêmico (universitário-científico), como elemento da problematização, capaz de transformação de sentidos já-dados, naturalizados ou reafirmados. A tese reflete sobre a identidade do pesquisador em formação, marcada pela heterogeneidade discursiva, por meio do processo de produção e transmissão do conhecimento. A autora defende a hipótese de que

a identidade do pesquisador em formação se constitui em um movimento tenso de aproximação-afastamento com relação a uma imagem ideal e espectral, a figura do cientista, definida e reafirmada a partir de uma matriz de sentidos que pode ser compreendida pela referência à designação ciência moderna, a qual é, também, passível de questionamento, principalmente, por seu caráter idealista (ROSA, 2013).

Além da pesquisa de Rosa (2013), outros trabalhos sobre identidade foram realizados no programa descrito - Materiais didáticos multimídia no estudo de Língua Portuguesa: deslocamento nas relações entre as posições-sujeito professor e aluno (MEGID, 2013); Universidade e universitários indígenas na internet: inclusões e exclusões no âmbito da

representação (NIEDERAUER, 2013); e Identidades em trânsito: ser-estar entre línguas- culturas e pobreza (PEIXOTO, 2013)17.

Por meio do mesmo processo de mapeamento, as pesquisas realizadas na PUC-SP, também, evidenciam a proeminência da questão das identidades, principalmente as marcas subjetivas das representações discursivas.

Na dissertação: “Colaboração crítica na formação de coordenador: uma prática em construção”, Santos (2013) discute a formação de coordenador como uma atividade sócio- histórico-cultural, em que os participantes do processo são agentes ativos e efetivos para produção de conhecimento. Já na tese “O professor e suas representações sobre cursos de formação digital: um estudo de caso em Belém do Pará” (PINTO, 2013), o objetivo do trabalho foi investigar que representações um grupo de professor tem sobre a modalidade a distância. A pesquisa visa reconhecer quais representações os cursos de formação de professores revelam, antes, durante e depois de suas realizações. Por fim, a dissertação “A construção da identidade marginal no livro “graduado em marginalidade”: a linguística sistêmico-funcional como ferramenta aos estudos críticos” (TORRES, 2012) confirma a heterogeneidade temática que os estudos de identidade em LA comportam. A pesquisa apresenta uma discussão temática sobre a mudança identitária que a personagem principal do romance passa durante a história. Segundo o pesquisador, a “pesquisa, ainda, contribuiu com as discussões sobre anti-linguagem (HALLIDAY, 1982), ao mostrar que a reconstrução identitária de indivíduos excluídos poderá ser em uma anti-sociedade, como acontece com Burdão”18 (TORRES, 2012)19.

Tão importante para formação de estudiosos na área de LA, quanto aos demais programas de pós-graduação citados, o Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) da UFRN, ao longo dos anos, também, tem-se enveredado pela discussão das identidades, em suas diversas abordagens.

Fazendo um mapeamento da década atual, a partir de 2010, pode-se citar, como primeiro trabalho encontrado sobre a temática, a tese: A constituição discursiva de identidades etnicorraciais de docentes negro/as: silenciamentos, batalhas travadas e histórias ressignificadas (LOPES, 2010). Em 2011, Lins defende a pesquisa Cidade e identidade: discursividades

17 Dados disponíveis em:

http://www.iel.unicamp.br/biblioteca/resumo.php?ar=Lingu%EDstica%20Aplicada&an=2013.

18 Burdão: personagem principal do romance.

19 Dados disponíveis em: http://www.pucsp.br/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/linguistica-

imagético-espaciais e a construção da identidade espacial do Recife, Veneza brasileira (LINS, 2011).

Já em 2012, Meira defende a dissertação “Discurso de mudança e feminismo: estudo crítico da construção identitária feminina nas cartas do leitor da Revista Cláudia”, destacando a temática do feminismo identitário (MEIRA, 2012). No mesmo ano, Gambeta-Abella defendeu “O discurso dos tuiteiros: uma análise crítica da construção identitária coletiva e do empoderamento cidadão” - primeiro trabalho sobre as identidades coletivas com base nos pressupostos da ASCD (GAMBETA-ABELLA, 2012).

Em 2013, Diniz defende a dissertação “(Santa) Rita de Cássia na boca do povo de Santa Cruz/RN: identidades culturais em construção”. No texto, a pesquisadora investiga as identidades culturais de Santa Rita de Cássia construídas a partir das representações contidas no discurso dos moradores da área urbana do município de Santa Cruz, localizado na Mesorregião Agreste do Estado do Rio Grande do Norte (DINIZ, 2013). Por fim, no mesmo ano, foi defendida a tese intitulada “Entre saberes e práticas: a construção da identidade de professor de língua inglesa na formação inicial”, sobre a temática de identidades profissionais (GANDOUR, 2013). Nessa pesquisa, Gandour tomou como

referencial teórico os conceitos de Identidades Sociais propostos por S. Hall e A. Giddens, os conceitos de Identidade Profissional de C. Dubar, assim como os estudos sobre a formação do profissional reflexivo, conforme proposto por D. Schön, enveredando pala perspectiva crítica de reflexão e atuação profissional, a partir dos estudos de P. Freire, H. Giroux, S Kemmis, entre outros. O objetivo geral consiste em investigar o processo de construção da identidade profissional nos alunos-professores, buscando compreender o modo como esse processo se relaciona com a construção dos saberes e competências necessários à formação do profissional crítico-reflexivo (GANDOUR, 2013).

A discussão do trabalho possibilitou a identidade profissional ser compreendida como processo a partir de experiências vividas nos espaços de socialização, indissociável da prática, mutuamente estabelecida, pelo ensino e saberes docente. Pode-se verificar, com esses trabalhos, o destaque recebido pela temática nos últimos anos no PPGEL.

Embora diversos trabalhos existam sobre as identidades, até a realização deste estudo, não foi encontrada nenhuma pesquisa que mapeasse as identidades por meio do CL. Este gênero tem sido apenas trabalhado em manuais que normatizam o preenchimento da plataforma. Livros que destacam a forma de “como fazer o preenchimento dos dados” (AQUINO, 2011; CNPQ, 2013).

Como se sabe, um gênero possibilita o surgimento de outros gêneros. Assim, sendo o CL oriundo do gênero curriculum vitae (CV), foi possível encontrar dois trabalhos que nortearam suas pesquisas a partir de CV (FAIRCLOUGH, 2001; BORGHI; CALVO; FREITAS, 2010).

O primeiro aborda o CV como uma forma de mercantilização das práticas discursivas das universidades britânicas. A partir de seu próprio currículo, que outrora tinha apresentado para uma “promoção acadêmica”, Fairclough faz análise, por meio do gênero, como uma forma de autovalorização, autopropaganda. Tal trabalho possibilitou a discussão sobre o CL posteriormente. Foi a partir desse estudo que se vislumbrou esta pesquisa (FAIRCLOUGH, 2001).

Já o segundo trabalho aborda o CV como uma forma de reflexão sobre ensino- aprendizagem na formação docente inicial de alunos do curso de língua inglesa. Por meio de sequências didáticas, elaboradas para aplicação acadêmica com alunos do 4º período, foi possível compreender como esse trabalho pode afetar o processo de ensino-aprendizagem. (BORGHI; CALVO; FREITAS, 2010).

Como o CL é, de certa forma uma narrativa de si (autobiografias). Outros trabalhos podem suscitar referência (ROMERO, 2010; NÓVOA; FINGER, 2010; PASSEGGI, 2008; JOSSO, 2010). As autobiografias são para esses trabalhos uma forma de entender o sujeito docente. Uma forma de ampliar o conhecimento sobre sua formação, suas relações e ações. As análises são orientadas textualmente por “histórias de vida, relatos orais, fotos, diários, autobiografias, biografias, cartas, memoriais, entrevistas, escritas escolares e videografias” (JOSSO, 2010, p. 5).

Todos esses trabalhos foram os que mais se aproximaram da temática desenvolvida nesta pesquisa. A reflexão possibilitada por essas pesquisas suscitaram questionamentos e a probabilidade de verificar o CL como uma possível materialidade de análise que se realiza linguístico-discursivamente por questões identitárias hegemônico-ideológicas.

2.2 Identidade: contexto das relações culturais, simbólicas e sociais em práticas pós-