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Identidade: contexto das relações culturais, simbólicas e sociais em práticas pós-

2 CONTRIBUIÇÕES DA ASCD PARA O ESTUDO DAS IDENTIDADES

2.2 Identidade: contexto das relações culturais, simbólicas e sociais em práticas pós-

Estudar sobre identidade é de extrema valia, não só no contexto do CL, como se faz nesta pesquisa, mas também nos diversos contextos em que ela é possível. Todavia, o título da subseção precisa ser elucidado. Principalmente, sobre em qual perspectiva este estudo se situa

e quais posicionamentos ele toma. Ou ainda, como prefere Merlucci (1995, p. 51), quais "lentes" serão utilizadas para compreender as identidades.

Identidade, simplesmente, pode ser definido como "aquilo que se é" (SILVA, 2012, p. 74). Responde a pergunta "quem tu es?". "O vocábulo identidade evoca tanto a qualidade do que é idêntico, igual, quanto à noção de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um ser social como diferente dos demais" (JACQUES, 2012, p. 163). Assim sendo, tem-se como principal referência a si próprio: se é negro ou branco, brasileiro ou estrangeiro, homem ou mulher, assim sucessivamente. Esse critério, evidentemente, leva em conta, apenas, os elementos essencialistas, deterministas, originários do indivíduo. São características sólidas, unificadas e integrais das identidades.

Se apenas o postulado acima fosse seguido, ou seja, o único válido para todos os efeitos identitários, não se chegaria ao pressuposto de que as identidades não pertencem ao mundo natural. Com efeito, as identidades são, sobretudo, atreladas ao contexto das relações culturais, simbólicas e sociais, principalmente, marcadas nas práticas pós-modernas (WOODWARD, 2012; SILVA, 2012; HALL, 2012).

Ainda sobre a constituição característica das identidades, elas podem levar em consideração os traços distintivos em relação ao outro. Isto é, as identidades são entendidas por meio da diferença em relação ao outro. É o que faz um ser diferente do outro. Da mesma forma que há a semelhança, há também a diferença entre os atores, em uma espécie de sistema classificatório, social e simbolicamente instaurado. Sendo assim, "uma identidade é sempre produzida em relação a uma outra" (WOODWARD, 2012, p. 47).

Quando se referem ao conceito de identidade, os autores empregam expressões distintas como imagem, representação e conceito de si; em geral, referem-se a conteúdos como conjunto de traços, de imagens, de sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio (JACQUES, 2012, p. 159-160).

Identidade deve ser um dos muitos conceitos em ciências sociais que, corriqueiramente, deve-se fazer uso com cuidados (subjetividade, sujeito e ator social). As identidades são múltiplas e fragmentadas, como são diversificadas as suas definições, conforme as citações acima. Identidade é um dos conceitos que operacionalizam "sob rasura", ou seja "uma ideia que não pode ser pensada da forma antiga, mas sem a qual certas questões-chave não podem ser sequer pensadas" (HALL, 2012, p. 104).

Convém ressaltar que nos diversos campos do conhecimento, com empenho e cuidado, a questão da identidade tem sido estudada e discutida atualmente (HALL, 2006; 2012;

WOODWARD, 2012; SILVA, 2012; DUBAR, 2005; DESCHAMPS; MOLINER, 2009). Nesses campos, busca-se entender, cada área com suas peculiaridades e objetivos, a concepção do sujeito/ator social “pós-moderno” que surge a partir de transformações sociais, culturais, políticas e econômicas. Bauman (2005) sugere que não é algo novo tratar sobre identidade nos estudos sociais.

É realmente um dilema e um desafio para a sociologia – se você se lembrar de que, há apenas algumas décadas, a “identidade” não estava nem perto do centro do nosso debate, permanecendo unicamente um objeto de meditação filosófica. Atualmente, no entanto, a “identidade” é o “papo do momento”, um assunto de extrema importância e em evidencia (BAUMAN, 2005, p. 22-23, grifo do autor).

Em princípio, no auge do iluminismo, pensava-se em um sujeito (uma identidade) centrada em si, fonte do conhecimento, unificado, consciente, em que o centro era seu interior. Oposto a esse padrão sociológico, com o nascimento das ciências sociais (sociologia), refletia- se sobre uma identidade (posição de sujeito) que era formada pela interação entre o “eu” e a sociedade (interior-exterior). Entretanto, o sujeito pós-moderno, sobre qual a citação acima diz estar na “moda”, possui um processo que o ponto principal está em como entender as identidades reveladas nos discursos, ao ponto delas implicarem consequências qualificadoras (HALL, 2006). “As identidades flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas" (BAUMAN, 2005, p. 19).

As identidades são assim construídas e reconstruídas no decorrer de toda vida, um processo contínuo (MERLUCCI, 1995). O ator social jamais a constrói sozinho, pois leva sempre em conta os juízos de outrem e, também, de suas próprias orientações e autodefinições (DUBAR, 2005, p. XXV). Essas orientações são de ordens emotivas, cognitivas e sociais de diversas motivações (MERLUCCI, 1995, p. 45). De forma semelhante, Bauman confirma tal ideia, justificando que as pessoas tendem a não nascer com uma identidade, como outrora se pensava. Há neste caso um processo globalizante de busca por ela. Os sujeitos precisam “se tornar algo” - não nascem algo (BAUMAM, 2005).

Por meio disso, confirmando que as identidades transportam as múltiplas socializações em que todos estão inseridos, em um processo dinâmico que nunca termina (ANGERS, 2008), Pedrosa (2012a; 2012b), baseada nos pressupostos de Bajoit (2006; 2008), dentre outros sociólogos, estabelece a conjectura de que as identidades são as diversas capacidades que os atores têm de atuar sobre si, gerindo suas tensões existenciais.

Com base em um fundo cultural, dotado de capital social, o indivíduo vive experiências decisivas em sua relação com outros significativos (como pais, professores, cônjuges), surgindo momentos de tensões existenciais que ameaçam sua identidade. Essas tensões interpelam o sujeito a fim de desenvolver um trabalho de gestão de si que o orienta para a construção do ‘eu’, em um processo de eleição do que lhe convém na atual situação a fim de (re)modelar sua ‘imagem’, confirmando ou modificando sua identidade. (PEDROSA, 2012a).

Dessa forma, “A identidade pessoal é resultado, sempre provisório e evolutivo, de um trabalho sobre si mesmo, que chamamos de ‘trabalho do sujeito’, ou ‘gestão relacional de si’ ou também ‘trabalho identitário’” (BAJOIT, 2006, p. 158, grifo do autor).

As identidades têm sido cada dia menos vinculadas às questões de símbolos nacionais, de crenças e de nações, ou seja, menos atreladas às questões tradicionais e sólidas. Em novos tempos, a vinculação da identidade está em torno de contextos institucionalizados - mídia, empresas, clínicas entre outros (MOITA LOPES, 2008; ALMEIDA FILHO, 2007).

Outro ponto importante das identidades é a possibilidade de reconhecimento das semelhanças entre os atores sociais, possibilitando as associações coletivas. Pontos em comum que podem uni-los. Ou ainda, em alguns casos, reconhecer que não há semelhanças entre eles, mas, sim, diferenças. Mesmo assim, há associações entre os que se sentem diferentes em relação a outros.

Com a discussão, reafirma-se que a coletividade faz parte dos humanos (BAJOIT, 2006). Há no “homem” uma “necessidade” inerente de se agrupar. Uma faculdade de categorização social (TAJFEL, 1982 apud BAJOIT, 2006, p. 150-151), dando cada participante, a esse grupo, uma unidade de si-mesmo: o que se é chamado de identidades coletivas (DESCHAMPS; MOLINER, 2009).