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TEÓRICO-METODOLÓGICOS

NATUREZA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO

2.1. A Sociedade na Natureza: em busca da sustentabilidade

A natureza enquanto conjunto de simples elementos que subsidiam a vida e sua manutenção é algo factual. Entretanto, observar como a natureza é percebida ao longo da história humana e na sistematização da ciência é primordial para entender as demandas sociais e as formas de ocupação / relacionamento entre estes sistemas.

A sociedade vive na natureza, e dela depende diretamente, independente do modo de produção em que se encontre. Não há sociedade que sobreviva sem buscar uma relação harmoniosa com a sua condição de reprodução social.

Diante dessa problemática, a sociedade passa a demonstrar maior preocupação em relação à conservação da natureza. Com isso, faz-se necessário desenvolver estratégias que visem à sustentabilidade ambiental para fins da conservação do meio ambiente, a fim de manter a harmonia entre a sociedade e a natureza.

Cavalcanti (1996), destaca que um grande esforço se faz hoje para entender com rigor de que forma a questão ambiental deve ser incorporada á análise dos problemas sociais, tornando-os sujeitos a condicionamentos que tem sido persistentemente ignorados. Por ‘ questão ambiental’ aqui se entende não o discurso sobre o ‘verde’- que salienta o caráter de amenidade do ecossistema – e sim o problema da base biofísica, de matéria e energia, em que se assentam a vida e a sociedade.

84 Sem sensibilidade estética, não se desenvolve uma ética ambiental. Sem crítica conseqüente da relação ser humano-sociedade, sobretudo na idade moderna, falta à ética um fundamento negativo: a negação da negação, ou seja, a negação de tudo o que danifica e até destrói a natureza. Sem estética, ética e crítica, planejamento e política ambientais não correspondem à natureza, não são capazes de conceituar e implantar qualquer desenvolvimento sustentável (THIELEN, 2001, p. 17).

Fica evidente, portanto, a necessidade de se estabelecer formas mais sustentáveis na relação homem-natureza, a fim de (re) apropriar-se da terra de forma a não comprometer os recursos naturais existentes.

Uma vez que, no atual modelo de desenvolvimento globalizado o homem é apenas mais um elemento, assim como também é a natureza, que devem ser preservados, úteis que são para a definição e reprodução de um modelo de exploração que se sustenta há séculos, desde que o homem passou a se julgar acima da natureza, desde que achou que a dominava e ela estava ao seu dispor.

Com isso, os desafios do desenvolvimento sustentável se fundamentam na necessidade de formar capacidades para orientar um desenvolvimento com bases ecológicas, de equidade social, diversidade cultural e democracia participativa. (LEFF, 2001).

Ainda conforme Leff (2001), a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força da necessidade de sobrevivência da sociedade. Tais mudanças não serão alcançadas sem uma complexa estratégia política, orientada pelos princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável, mobilizada pelas reformas do Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil. Isto implica uma nova ética e numa nova cultura política que legitimariam os direitos culturais e ambientais dos povos, constituindo novos atores e gerando movimentos sociais pela reapropiação da natureza.

A conquista da alteridade, o respeito às diferenças e o fortalecimento de identidades culturais devem ser elementos essenciais a um processo legítimo de desenvolvimento sustentável.

A necessidade de reconceituar desenvolvimento em termos de apropriação efetiva, especialmente incorporando a geração de três dimensões de direitos humanos: os direitos políticos, civis e cívicos; os direitos econômicos, sociais e culturais e os direitos coletivos ao meio ambiente e ao desenvolvimento, fazem-se necessário para a sustentabilidade do uso da terra. (Sachs, 2004).

85 Para tanto, Sachs (2004), definiu cinco dimensões de sustentabilidade do desenvolvimento, a saber:

1) Sustentabilidade social, quando se refere às necessidades materiais e não- materiais das massas da população;

2) Sustentabilidade econômica, quando aloca uma gestão eficiente dos recursos e regula o investimento publico e privado;

3) Sustentabilidade ecológica quando se amplia a capacidade da engenharia para a intensificação do uso dos recursos potenciais de vários ecossistemas e o aumento de proteção dos recursos;

4) Sustentabilidade espacial como a distribuição mais equilibrada da configuração rural-urbana, conforme as atividades econômicas;

5) Sustentabilidade cultural, quando considera a busca das raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudança na continuidade cultural.

Montibeller-Filho (2001, p. 48) aduz que desenvolvimento sustentável:

[...] é desenvolvimento porque não se reduz a um simples crescimento quantitativo; pelo contrário, faz intervir a qualidade das relações humanas com o ambiente natural, e a necessidade de conciliar a evolução dos valores sócio-culturais com rejeição de todo processo que leva à deculturação. É sustentável porque deve responder à eqüidade intrageracional e intergeracional.

O desenvolvimento sustentável mostrou-se uma alternativa de desenvolvimento nos moldes capitalistas mais conciliadores na relação sociedade e natureza. A ideia de interação do natural, do econômico e do cultural faz-se cada vez mais uma necessidade aberta dentro do debate ambiental contemporâneo, pois são possibilidades que se apresentam para gerar uma revolução no pensamento e nas políticas de ambiente. (CARVALHO, 2010).

A partir do momento em que nos dermos conta de que a natureza- artefato só pode existir porque existe uma natureza-processo, obteremos os meios de compreender as nossas relações com a natureza e de as recompor na situação atual (LARRÈRE, 1997, p. 20). Considera-se que, para a consolidação de um novo naturalismo, baseado na sociedade em busca da sustentabilidade, exigir-se-ão novas instituições sociais, como ressalta Porto-Gonçalves (2007).

86 Segundo Carvalho (2010), histórico-geograficamente, as instituições que mantêm a separação natureza e cultura foram criadas para realizar tal objetivo; do mesmo modo, histórico-geograficamente será preciso inventar, com maior ou menor intensidade, nas suas múltiplas escalas, a nova idéia. Pois, a constituição de um novo naturalismo terá suas possibilidades se se atrelar a uma nova noção ética na relação homem e natureza, que vise à busca pela sustentabilidade ambiental.

A emergência do saber ambiental como forma de transformação só pode ocorrer com o fortalecimento das instâncias locais de poder, especialmente com a participação real de cada um, de forma consciente e comprometida, por meio de uma mobilização social e de mudanças institucionais.

O processo para se alcançar a sustentabilidade envolve elementos complexos e passa pelos detentores do poder. Questões políticas e econômicas devem ser contrapostas a valores culturais e éticos, resgatando saberes perdidos e reformulando conceitos para de fato transformar o mundo para melhor.

A racionalidade econômica deve dar espaço à racionalidade ambiental, que implicaria na formação de um novo saber e na integração interdisciplinar do conhecimento, o que possibilitaria a compreensão dos sistemas socioambientais em toda a sua complexidade.