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Fragmentação e a importância dos estudos florísticos e fitossociológicos para a conservação do semiárido.

A CAATINGA DO ALTO SERTÃO SERGIPANO: ASPECTOS

FLORÍSTICOS E ESTRUTURAIS

3.1. Fragmentação e a importância dos estudos florísticos e fitossociológicos para a conservação do semiárido.

O crescimento urbano desordenado e geralmente ilegal tem reduzido ainda mais as áreas de cobertura florestal e causado intenso impacto ambiental, principalmente na forma de poluição dos rios e contaminação de lençóis freáticos, que implica não somente na diminuição desse recurso natural bem como dos demais ecorecursos florestais a exemplo do solo, clima, fauna e flora.

É notório que a degradação paisagística rural resulta, além do avanço da fronteira agropecuária para atender a crescente demanda populacional por mais

105 alimentos, também da exigência cada vez maior por habitação e energéticos florestais como carvão e lenha, esse último componente para atender a indústria (cerâmicas), o comércio (pizzarias, churrascarias e padarias) e o setor doméstico (residências, casas de farinha e olarias) (CAVALCANTE e LIMA, 2000).

O uso não planejado dos recursos oferecidos pelo Bioma Caatinga tem proporcionado à fragmentação da sua cobertura vegetal, restringindo sua distribuição a remanescentes que podem ser considerados refúgios para a biodiversidade local.

As áreas de florestas contínuas são cada vez menores, avaliar as consequências da fragmentação e a qualidade ecológica dos fragmentos é um dos objetivos mais urgentes em conservação. (TONHASCA, 2005).

A fragmentação florestal pode ter resultados mais sutis do que os efeitos de borda, mas com sérias consequências.

Para Tonhasca (2005), fragmentação tem outras conseqüências ecológicas importantes, resultado das modificações das condições micro-climáticas na zona de transição entre a floresta e a área desmatada.

Ao ocorrer um processo antrópico de fragmentação do habitat, e de ruptura da continuidade espacial da ou das unidades da paisagem que apresentam melhores qualidades de recursos para as populações, à estrutura da paisagem é modificada, resultando em mudanças na composição e diversidade das comunidades.

A fragmentação ocasiona ruptura dos fluxos gênicos entre populações presentes nos habitats, reduzindo e isolando as áreas propícias à sobrevivência das populações, dando origem a extinções, cujos riscos aumentam à medida que o tamanho da população é reduzido.

De acordo Shaffer (1995), fragmentos florestais podem ainda conectar ecossistemas isolados, atuando como pontos intermediários para a dispersão, migração e colonização de plantas e animais.

Por isso, criar espaços territorialmente protegidos a fim de assegurar os remanescentes florestais, e estudos sobre a riqueza florística e fitossociológica do semiárido é de fundamental importância para a manutenção da vida na terra.

O estudo dos remanescentes vegetacionais que ainda apresentam boas condições de conservação e fundamental ao seu planejamento de uso e a sua exploração sustentada. (PEREIRA, 2002).

106 Neste sentido, são substanciais estudos que incrementem o conhecimento acerca da situação atual, diversidade e potencialidades da cobertura vegetal.

Para Werneck et.al (2000), os estudos detalhados sobre composição florística e a ecologia das comunidades vegetais são fundamentais para embasar quaisquer iniciativas de preservação e conservação de remanescentes florestais bem como para o desenvolvimento de modelos de recuperação de áreas degradadas, para seleção de espécies para fins silviculturais e para a utilização racional dos recursos vegetais através do manejo adequado.

O conhecimento das espécies botânicas da caatinga pode contribuir para o manejo sustentável, bem como do turismo ecológico, inclusive da agricultura, e estimular e apoiar a criação e o cultivo de espécies animais e vegetais silvestres, para aumentar a receita e o emprego no semiárido e obter benefícios econômicos e sociais sem efeitos ecológicos daninhos (MIRANDA, 2003).

O Nordeste do Brasil tem a maior parte de seu território ocupado pela caatinga que se caracteriza por ser uma vegetação xerófila, de fisionomia e floristica variada (DRUMOND et al., 2000).

Em seu aspecto fisionômico apresenta uma cobertura vegetal arbustiva à arbórea, pouco densa e geralmente espinhosa. Sua variabilidade espacial e temporal na composição e no arranjo de seus componentes botânicos é resposta aos processos de sucessão e de diversos fatores ambientais, onde a densidade de plantas, a composição florística e o potencial do estrato herbáceo variam em função das características de solo, pluviosidade e altitude.

As áreas de caatingas apresentam tipologias diferentes, traduzidas em adaptações e mecanismos de resistência ou tolerância às adversidades climáticas. Pereira (2000), complementa que esses sistemas se caracterizam como formações xerófilas, lenhosas, decíduas, geralmente com ampla variação florística. Por ser um Bioma único e com suas especificidades, existe uma lacuna de um melhor aprofundamento no que se refere o conhecimento sobre o mesmo.

Apesar das especificidades dos diferentes índices vegetais, vários fatores podem interferir na resposta espectral da vegetação como o ângulo de visada, a heterogeneidade das folhas, a inclinação do terreno e o tipo de solo. (OLIVEIRA, 2009).

107 De acordo com Araújo (2003), a flora herbácea é mais diversa que a flora lenhosa, e a diversidade e cobertura que as ervas oferecem ao solo apresentam-se sensíveis às variações dos microhabitats no tempo e no espaço.

A umidade é um dos principais fatores limitantes para a vegetação do semiárido nordestino. Porém, a água em geral não é utilizada diretamente pelas plantas, sendo disponível apenas quando se encontra incorporada ao solo. Além da função de armazenamento e condução da umidade, o solo é o meio quimicamente ativo que retém e troca elementos minerais. Com isso, um fator determinante para a cobertura vegetal do semiárido e a diversidade que a mesma apresenta.

Esta diversidade ambiental se reflete na maior biodiversidade, na taxonomia complicada dos grupos e em padrões biogeográficos complexos em escalas relativamente pequenas. Essa diversidade de paisagens, vegetações e biodiversidade ocorrendo em mosaicos é um enorme desafio não apenas para estudos taxonômicos e ecológicos, mas especialmente para propostas de conservação.

O estudo detalhado da composição das espécies e da importância relativa de suas populações é elementar para a descrição de comunidades vegetais (ALVES, 2005), sendo uma excelente ferramenta para a elucidação de possíveis correlações entre variáveis físicas e vegetação.

A fitossociologia é um ramo da ecologia vegetal que envolve o estudo das relações entre as espécies componentes no espaço. Baseia-se na análise quantitativa da composição florística, da estrutura, do funcionamento, da distribuição e da dinâmica entre os táxons (ANDRADE, 2004).

Entre os pesquisadores da escola de Zurique-Montpellier surgiu o conceito de associação de Braun-Blanquet, que parte da premissa de que a composição florística total de uma porção vegetal é a que melhor expressa às relações entre as distintas espécies e entre estas e o ambiente (OLIVEIRA, 2009).

Estudos sobre a composição florística e fitossociológica do semiárido são requisitos indispensáveis para entender o comportamento, distribuição e estrutura dessa vegetação fornecendo subsídios para a elaboração de planos de manejo florestal sustentável e o estabelecimento de áreas prioritárias a conservação desse bioma. (FERRAZ, 2009).

108 A metodologia de estudos fitossociológicos nasceu na Europa, mas foram na América que se desenvolveram as técnicas de análise quantitativa, dando-se maior enfoque aos estudos do componente arbóreo das florestas (MOREIRA, 2007).

Ainda conforme Moreira (2007), no Brasil, os primeiros estudos fitossociológicos foram realizados com o objetivo de conhecer melhor a estrutura florestal, sendo realizados através do Instituto Oswaldo Cruz. Os estudos começaram a ter caráter acadêmico, com enfoques ecológicos, quando o pesquisador Stanley A. Cain, da Universidade de Michigan (EUA) veio ao Brasil com o intuito de aplicar os conceitos e métodos fitossociológicos, que foram desenvolvidos para florestas temperadas, nas florestas tropicais.

De acordo com Rodrigues (1998), as três áreas da Ecologia Vegetal que podem fornecer informações importantes quando se escolhem quais espécies serão utilizadas, como e quando plantá-las, recobrindo o solo no menor tempo, com menos perdas e com menor custo são: a fitogeografia, a sucessão ecológica e a fitossociologia.

A fitogeografia indica o tipo vegetacional que originalmente ocorre no sítio estudado, originado do histórico particular de evolução e migração das espécies componentes e suas adaptações às condições climáticas, pedológicas e biológicas locais. Em se tratando da sucessão ecológica o mesmo permite o reconhecimento de diferentes fisionomias e graus de maturidade da formação estudada e de seu entorno. Cada uma destas fisionomias pode estar representada por espécies particularmente adaptadas, com habilidades diferentes de crescimento, sobrevivência e reprodução.

Já a fitossociologia segundo Silva (2004), envolve o estudo das interrelações de espécies vegetais dentro da comunidade vegetal no espaço e no tempo. Refere-se ao estudo quantitativo da composição, estrutura, funcionamento, dinâmica, história, distribuição e relações ambientais da comunidade vegetal. Apoia-se muito sobre a Taxonomia Vegetal e tem estreitas relações com a Fitogeografia e as Ciências Florestais.

Os estudos fitossociológicos relacionados à caracterização das respectivas etapas sucessionais em que as espécies estão presentes, seja na regeneração natural ou em atividades planejadas para uma área degradada, apontam possibilidades de associações interespecíficas e de estudos em nível específico sobre agressividade, propagação vegetativa, ciclo de vida e dispersão, dentre outros. (SILVA, 2004).

109 A partir destas perspectivas que atribuem à fitossociologia um papel importante no embasamento de programas de gestão ambiental, como nas áreas de manejo e recuperação de áreas degradadas, matas ciliares e Unidades de Conservação.

Considerando a importância social, econômica e biológica do semiárido para a população do Nordeste, bem como o nível de alteração que o bioma caatinga já apresenta e a constante pressão com sua utilização sem critérios, justifica-se a preocupação com a biodiversidade, tornando necessária a realização de estudos que forneçam subsídios para a conservação e o uso racional dos recursos naturais nele existentes (PEREIRA, 2000).

Com isso, a fitossociologia, é tratada como subsidio para conservação do semiárido, uma vez que, envolve as relações das espécies com o meio.

Para que se possam executar projetos de conservação e planos de manejo sustentável na Caatinga são necessários que se conheça a vegetação da área de interesse, suas limitações e sua capacidade de resiliência e que estes estudos venham acompanhados de pesquisas fitossociológicas a fim de obter resultados mais confiáveis em se tratando da composição florística do semiárido nordestino.