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Características Edafoclimáticas e Florísticas da UC MONA Grota do Angico:

PROTEÇÃO INTEGRAL NO SEMIÁRIDO SERGIPANO

5.1. MONUMENTO NATURAL GROTA DO ANGICO

5.1.1. Características Edafoclimáticas e Florísticas da UC MONA Grota do Angico:

Segundo Jatobá (1994), o clima é um dos mais destacados integrantes da esfera geográfica. Influencia consideravelmente todos os outros componentes do complexo geográfico natural, especialmente o relevo.

Portanto, devido atuação do clima semiárido, na região do MONA predomina o processo de meteorização mecânica das rochas (ver figura 23). Na meteorizaação mecânica temos a desagregação das rochas, sem, entretanto acarretar numa alteração química do corpo rochoso, muito embora a prepare para a ação da mesma. No caso particular da área de estudo, as mudanças de temperatura são os principais responsáveis pela intemperização mecânica, através dos movimentos de contração da estrutura rochosa, acarretando assim num faturamento da mesma, que por sua vez irá desagregar- se paulatinamente, formando assim, uma área com a presença marcante de seixos e matacões.

130 Figura 23: Mosaico representativo da relação entre os aspectos litológicos e fitogeográficos na MONA Grota do Angico (foto A- Leito de um rio intermitente com presença de seixos; foto B-leito de um rio intermitente com presença de matacões; foto C- rocha fraturada, dando ênfase à desagregação mecânica; foto D- área com grande presença de afloramentos de rochas, denotando a pouca profundidade do solo).

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

Nesse sentido, tendo em vista o processo de desagregação mecânica das rochas, pode-se destacar que na área de estudo predominam solos rasos, pouco desenvolvidos, com a constante presença de seixos e matacões. Onde prepondera a presença de blocos rochosos, fruto do desmembramento mecânico típico do semiárido, podemos encontrar uma vegetação mais dispersa, com o predomínio do estrato arbustivo e herbáceo, muito embora, também encontremos o estrato arbóreo em menor número (ver figura 24).

Assim, confirma-se a assertiva de Franco (1983), onde este destaca a presença de solos pouco desenvolvidos, pedregosos, com presença marcante de campos de matacões entremeados na vegetação da caatinga hiperxerófila. Além da presença de corpos hídricos intermitentes (ver figura 20- foto A e B), onde nos períodos secos, a vegetação tem um maior desenvolvimento, por conta da proximidade do lençol freático, sendo encontrada a presença de bromeliáceas.

131 Figura 24: Estratos da Vegetação da MONA Grota do Angico, 2012.

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

Na área de pesquisa foram encontrados os três estratos da vegetação, herbáceo, arbustivo e arbóreo (ver figura 24), conforme o ressaltado por Franco (1983). Tais estratos estão diretamente ligados às condições edafoclimáticas, visto que, onde impera o clima mais árido, com mais meses secos e, por conseguinte possui solo raso e pedregoso, apresenta predominantemente o estrato herbáceo (ver quadro 07).

Em áreas onde a escassez hídrica apresenta-se mais branda, com solos desenvolvidos do ponto de vista de seus horizontes, a vegetação exibe um maior porte, com a presença de espécies arbustivas e arbóreas. Comprovando assim, a influência do clima na configuração do arranjo vegetacional (ver figura 24).

Portanto, de acordo com as condições edafoclimáticas, na área do MONA Grota do Angico predominam, no estrato herbáceo a macambira (Bromélia laciniosa); no

132 arbustivo o marmeleiro (Croton sonderianus), e no arbóreo o umbuzeiro (Spondias tuberosa), muito embora, outras espécies apresentem ampla predominância na área de estudo. Assim, tendo em vista as diversas formas das espécies vegetais se adaptarem à semiaridez (perda das folhas, brotação de espinhos), podemos salientar a predominância da influência climática na formação da flora local, pois à medida que o clima apresenta- se mais árido, podemos encontra uma redução no estrato vegetacional, leia-se, onde houver maior escassez hídrica predominará o estrato herbáceo, e este irá aumentado de acordo com as fontes de alimentação de umidade, sobretudo em áreas com maiores índices de pluviosidade.

No que diz respeito ao domínio geomorfológico, conforme ressaltado, o MONA Grota do Angico está inserido no pediplano sertanejo, que apresenta relevo monótono, com a presença de algumas formas residuais, como os inselbergs, dentre outras geoformas de estrutura cônica, decorrentes da dissecação homogênea do relevo. Tal modelado é decorrente da erosão linear, com áreas restritas de dissecação diferencial marcada pelo controle estrutural. (MACEDO, 2012). (Ver Figura 25).

133 Figura 25: Mosaico representativo da vegetação da MONA Grota do Angico (foto A- vista aérea da vegetação em período seco; foto B-vista aérea da vegetação após evento pluvial; foto C- fisionomia da vegetação em regeneração após incidência da chuva; foto D- fisionomia da vegetação em período de longa estiagem (mata branca); foto E- espécie cactáceas localizadas próximas à fonte de umidade (rio São Francisco); foto F- espécie cactácea localizada distante de fontes de umidade, no entorno da cede da UC.

134 No que diz respeito aos trabalhos de campo, com visita in loco. Foram realizadas visitas de campo na área de pesquisa, em todas as estações climáticas durante os anos de 2012 e 2013.

Vale resaltar que, em Janeiro de 2013 ocorreu um evento pluviométrico significativo, em forma de chuva torrencial, fato esse que modificou significativamente a fisionomia da vegetação no mês supracitado, mesmo sendo um período de seca. A chuva torrencial abrangeu assim os municípios onde a MONA Grota do Angico está localizada, a saber: Canindé de São Francisco e Poço Redondo. Portanto, em tal oportunidade podemos verificar a alta capacidade de regeneração da vegetação da caatinga, no que diz respeito às suas funções fisiológicas.

Portanto, tivemos registros da vegetação em período seco, onde a fisionomia vegetativa corresponde à denominada mata branca, devido às diversas formas de adaptação à escassez hídrica, como a queda das folhas, que correspondeu ao campo do mês de dezembro de 2012 e Dezembro de 2013 (ver figura 25- fotos A e D).

Conforme se pode verificar na figura 25 (fotos A, B, C e D), onde se faz um comparativo entre o mosaico vegetacional seco, e após um evento chuvoso (vale lembrar que houve somente um dia de chuva em Janeiro de 2013 de forma concentrada, o que é característico do Nordeste do Brasil), podemos salientar a capacidade das espécies da caatinga em retomar vigorosamente sua atividade fenológica, tanto das fenofases vegetativas, como reprodutivas, denotando assim suas estratégias de adaptação a semiaridez.

135 Figura 26: Mosaico representativo das condições ambientais nas fácies úmidas das vertentes próximas à fontes de umidade (foto A- rocha habitada por liquens); (foto B- bromeliáceas presentes próximo ás fontes de umidade); (foto C-tronco de árvore da caatinga habitada por liquens); (foto D - espécie da caatinga em fase de floração e frutificação).

Fonte: Trabalho de Campo, 2013.

Ademais, em se tratando das adaptações ao clima quente e seco, podemos destacar o desenvolvimento das espécies cactáceas, visto sua alta capacidade de adequação às altas temperaturas e a baixa umidade. Portanto, na figura 25 (fotos E e F), podemos verificar dois indivíduos cactáceos, um localizado próximo à uma fonte de umidade (foto E da figura 25), e outro situado longe de fontes úmidas (foto F da figura 25).

Nesse sentido, pode-se salientar o maior desenvolvimento do indivíduo vegetal (cactácea) localizado nas áreas mais secas, longe de fontes de umidade, configurando uma espécie de clímax da vegetação. Caso semelhante de adaptação, porém de espécies mais tolerantes á umidade é a presença de bromeliáceas nas fácies úmidas das vertentes próximas ao rio São Francisco. (Ver figura 26)

Desse modo, confirmar-se-á a influência preponderante das variáveis/elementos climáticos no processo de regeneração da vegetação, além da adaptabilidade das espécies às condições de semiaridez. Porquanto, pode-se notar a influência da variável hídrica no processo de recomposição da atividade fenológica do mosaico vegetacional,

136 pois na presença de umidade as fenofases (floração, frutificação, emissão foliar), apresentam maior desenvolvimento, retomando com maior vigor a atividade fisiológica das plantas.

Em áreas onde a escassez hídrica apresenta-se mais branda, com solos desenvolvidos do ponto de vista de seus horizontes, a vegetação exibe um maior porte, com a presença de espécies arbustivas e arbóreas. Comprovando assim, a influência do clima na configuração do arranjo vegetacional. (ver figura 28).

No tocante aos transectos demarcados, e sua posterior análise, no que diz respeito à fitogeografia, pode-se destacar as diferenças nos níveis de regeneração natural entre as duas parcelas estabelecidas, sendo a área 01, localizada em ambiente úmido – próximo ao Rio São Francisco, o local onde a regeneração natural apresentou maior eficiência, no qual a capacidade de resiliência da dos sistemas biofísicos, em particular a vegetação recompõe-se mais rapidamente, quando comparada ao transecto 02, localizado em espaço árido – localizado próximo à sede administrativa da UC, e com maior interferência antrópica (ver quadros 07 e 08).

137 QUADRO 07- LEVANTAMENTO FLORÍSTICO: ESPÉCIES VEGETAIS

Monumento Natural Grota do Angico TRANSECTO 01 – Área Úmida

Nome Popular Nome Científico Extrato Vegetacional CAP H Densidade/Abundância

Aroeira Myracroduon urundeuva Arbóreo 1,25m 13m Abundante

Bom-nome Maytenus rígida Mart. Arbóreo 55cm 6,30m Raro

Braúna Schnopsis brasiliensis Arbóreo 50cm 13m Raro

Burra de Leite Sapium glandulatum (Vell.) Pax Arbóreo 45cm 6m Raro Catingueira Caesalpinia pyramidalis Arbóreo 50cm 7m Dominante

Craibeira Tabebuia áurea Arbóreo 8cm 5,5m Abundante

Caroá Neoglaziovia variegata Herbáceo - - Raro

Espinheiro Pithecellabiumv viridiflorum Arbustivo - 7m Dominante

Facheiro Pilosocereus pachycladus Arbóreo - 5m Dominante

Gravatá Aechmealingulata L. Herbáceo - - Raro

Imbira Mimosa ophthalmocentra Arbóreo 77cm 8,30m Raro

Imburana Camniphora leptophloeos Arbóreo 2,27m 6,75m Abundante

Juazeiro Ziziphus joazeiro Arbóreo 70cm 6m Raro

Jurema Mimosa tenuiflora Arbóreo 25cm 9m Abundante

Macambira Bromélia laciniosa Herbáceo - - Abundante

Mau vizinho Leguminosae Papilionoideae Arbóreo 10cm 7m Raro

Mandacaru Cereus jamacaru Arbóreo - 5m Dominante

Palmatória Opuntia palmadora Herbáceo - - Raro

Pau ferro Caesalpinia férrea Arbóreo 46cm 5m Raro

Pereiro Aspidosperma pyrifolium Arbóreo - 6,30m Abundante

Piçarra de Cachorro Sida sp. Arbustivo - 1,20m Raro

Pinhão Bravo Jatropha molíssima Arbóreo 35cm 6,20m Abundante

Quipá Tacinga inamoena Arbustivo - 2m Abundante

Quixabeira Bumelia sertorium Arbóreo 1,60m 8m Abundante

Rabo de Raposa Harrisia adscendens Arbustivo - 1,30m Abundante

Umbuzeiro Spondias tuberosa Arbóreo 90cm 7m Abundante

Velanda Croton heliotropiifolius Arbustivo - 1 a 1,80m Abundante Xique-xique Pilocereus gounellei Arbustivo - 1,30m Abundante