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Características Edafoclimáticas e Florísticas da UC Lagoa do Frio

PROTEÇÃO INTEGRAL NO SEMIÁRIDO SERGIPANO

1,666 MULTIPLICADO POR 14 =

5.2.1. Características Edafoclimáticas e Florísticas da UC Lagoa do Frio

Em relação à composição da vegetação da Caatinga foram notados nitidamente os três diferentes tipos de estratos nesta UC, os quais apresentavam as mais diversas espécies vegetacionais, com as mais diferentes formas, tamanhos e características. (Ver figura 35).

Figura 35: Estratos da Vegetação na Caatinga do Alto Sertão Sergipano.

Assim como a UC Grota do Angico, a Lagoa do Frio passa por uma das estiagens mais severas das últimas décadas.

Dessa forma, a vegetação reflete tais condições na sua morfologia. As cores acinzentadas e sem brilho, demonstram fielmente a razão do nome caatinga, que em tupi

Estrato Herbáceo Estrato Arbustivo Estrato Arbóreo F on te : S AN T OS , 2012

157 significa “Mata Branca”, demonstrados pelas mais diferentes espécies presentes nesse ecossistema.

Nota-se claramente a predominância de plantas com troncos retorcidos, com perda de casca e algumas muito espinhosas, ainda apresentavam poucas ou quase nenhuma folhas pequenas, características adaptativas que evidenciavam claramente a escassez de água nesse ambiente, demonstrando a grande capacidade adaptativa dessa vegetação, as condições do ambiente.

Notou-se também um número considerável de cactáceas das mais diferentes espécies, estas, suportam longos períodos de estiagem, sem perder a coloração verde, graças a sua grande capacidade de armazenar água. (Ver Figura 36).

Figura 36: Cactácea na UC Lagoa do Frio.

Fonte: Trabalho de campo, 2012.

Toda essa característica da vegetação, está intimamente ligada não só com a climatologia local, mas também com as características dos solos dessa área, haja vista que estes são responsáveis por fornecer toda a solução mineral que nutre as plantas, além do que, é no solo onde estas estão fixadas, estes são predominantemente pouco espessos, além de apresentarem um alto nível de pedregosidade. (Ver Foto 37).

158 Figura 37: Solos pedregosos no Parque Natural Municipal de Lagoa do Frio

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

Outra característica que foi percebida e quase sempre assola a vida dos habitantes dessa região devido a grande variabilidade climática e as altas temperaturas é o fato de que os reservatórios de água quase sempre secam no período sem chuva, sejam estes naturais ou barragens feitas com intervenções antrópicas. Estes fatos demonstram a ocorrência de episódios de insolação nos períodos de estiagem, acentuando a intermitência dos corpos hídricos. (Ver Figura 38).

Figura 38: Reservatório de água seco, localizada no Parque Natural Municipal Lagoa do Frio, Dezembro de 2012.

159 Já nos trabalhos de campo, realizados no mês de janeiro de 2013, houve a oportunidade de presenciar uma nova face da caatinga, mediante uma chuva torrencial já mencionada anteriormente por também atingir a UC Grota do Angico.

No solo novas plantas nasciam e davam origem a mais um ciclo de vida (regeneração natural). A cobertura vegetal passou então a ter a presença de muitas folhas verdes e algumas espécies passando pelo processo de floração assim como na UC anteriormente descrita. Com a regeneração das folhas, muitas plantas agora ganhavam volume, desta forma a caatinga agora ganhava em densidade e exuberância. (Ver Figura 39).

Figura 39: Caatinga subarbustiva no Monumento Natural Municipal Lagoa do Frio

Fonte: Trabalho de Campo, 2013.

Os reservatórios no geral, tanques, barragens e também os riachos e rios da região, diferentemente do ano anterior (2012), agora tinham um bom volume de água, (Ver Figura 40). O que revitaliza não só a fauna da caatinga, mas também toda a população da região, que depende direta e indiretamente dessa água para sobrevivência, seja para a utilização no seu cotidiano, beber, tomar banho entre outros, seja para a realização de outras atividades, como a agricultura e também a pecuária, atividades constantes na região.

160 Foto 40: Reservatório após precipitação, UC Lagoa do Frio.

Fonte: Trabalho de Campo, 2013.

É importante relatar também que assim como muitas outras Unidades de Conservação do Brasil, o Parque Municipal Natural de Lagoa do frio apresenta inúmeros problemas, o mais preocupante, e que desencadeia uma série de muitos outros, é a presença humana de forma intensa na área. Isso acontece pela falta de uma administração atuante que evite esse tipo de irregularidades.

Em virtude da ausência do plano de manejo da UC Lagoa do Frio, a mesma mesmo sendo uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, encontra-se abandonada pelo poder público e sem nenhuma fiscalização local, o que agrava ainda mais a problemática da presença humana intensa nessa referida UC.

Desta forma há uma grande contradição no que diz respeito à conservação da Caatinga, visto que na própria área de proteção integral, há substituição desta formação vegetal para a utilização de inúmeras outras atividades, tais como a agricultura, verificadas in loco na UC Lagoa do Frio. (Ver Figura 41).

161 Figura 41: Agricultura no Parque Natural Municipal de Lagoa do Frio.

Fonte: Trabalho de Campo, 2012.

Além desse agravante da substituição da Caatinga pelas plantações, outra questão a ser dialogada é sobre as técnicas utilizadas para a manutenção desta atividade, que dentre os requisitos básicos, requer o bem primordial, a água.

Esta é utilizada de maneira inadequada e insustentável, visto que, encanações foram feitas para desviar o curso normal de uma nascente e da lagoa, que primordialmente alimentava o reservatório natural da reserva, esse desvio serve para levar água até pequenos lotes de plantações existentes na UC, cujo estes, estão sendo irrigados constantemente, como mostra a Figura 41.

As encanações foram feias de forma rústica e pela própria comunidade que possuem quintais produtivos e pequenas plantações em seus lotes para a irrigação dos mesmos, sem nenhum estudo prévio e sem nenhuma sensibilização com a UC de Proteção Integral. (Ver Figura 42). Porém, vale ressaltar que não há nenhuma placa de sinalização sobre/na UC, e como não existe até o prezado momento estudos na Unidade, a mesma é “esquecida” pelo poder público e os órgãos ambientais bem como pela prefeitura e moradores da Comunidade Lagoa do Frio. Outro agravante é a falta de fiscalização para uma maior preservação dos recursos naturais existentes nesta UC, além da efetivação das políticas públicas e cumprimento das exigências legais de uma criação de unidade de conservação, como por exemplo, a elaboração do plano de

162 manejo local, no qual dentre outras questões abordaria também um trabalho de educação ambiental voltada para a sensibilização da comunidade a cerca desse bioma e da importância da manutenção dos ecorecursos florestais contidas na UC Lagoa do Frio para que desta forma, ações antrópicas fortemente existente na Unidade de Conservação possam ser extintas, e com isso manter a sustentabilidade local.

Figura 42: Encanações para transporte insustentável da água no Parque Natural Municipal Lagoa do Frio.

163 Além de servir para irrigar as plantações locais, este reservatório serve ainda como “lavanderia” para muitas mulheres da região, que se deslocam por muitos quilômetros para lavar as roupas de suas famílias.

Deste modo o local servia ainda como ponto de socialização, o que foi evidenciado pelo grande número de resíduos sólidos encontrada nas proximidades da Lagoa, como Garrafas de refrigerante, roupas velhas, bolsas plásticas, garrafas de água sanitária, pacotes de sabão em pó, além de muitas embalagens de produtos alimentícios estavam jogados de maneira irresponsável na natureza. (Ver Figura 43).

Vale lembrar que além da agricultura e a utilização inadequada das águas dessa unidade, outras atividades ainda eram perceptíveis, como a criação de carneiro (ovinocultura) e a criação de galinhas (avicultura), porém, tais atividades não são frequentes e nem de forma intensa, o que não compromete a integridade biofísica da UC. (Ver Figura 43).

Figura 43: A- Presença de mulheres lavando roupa. B – Resíduos Sólidos na UC. C- Ovinocultura na UC. D – Avicultura presente na UC.

Fonte: Trabalho de Campo, 2012 e 2013.

A B

164 A Unidade de Conservação Parque Natural Municipal de Lagoa do Frio, mesmo sendo de cunho municipal, não existe uma gestão efetiva. Verificou-se que a UC encontra-se abandonada, sem a presença de um gestor, conselheiros, vigias e fiscalização, uma vez que, sendo de Proteção Integral, a partir da legislação essa ação antrópica ainda intensa no local não deveria ocorrer.

A partir da classificação dos estratos vegetacionais, e com os levantamentos de campos nos transectos a fim de verificar a riqueza floristica local, foram identificadas as seguintes espécies que compõe dois quadros, a primeira diz respeito a um fragmento próximo a um corpo hídrico (área úmida 01 – próximo a nascente), e a segunda de um fragmento mais árido em relação à primeira. (área árida 02 – distante do recurso hídrico).

As espécies vegetais encontradas no primeiro transecto delimitado, este, presente em uma área considerada úmida, pelo fato de ter em suas proximidades um corpo hídrico, a saber, a nascente que alimenta a lagoa encontrada na UC, pode-se constatar a presença de espécies fitoindicadoras como exemplo as bromélias. (Ver figura 44).

Figura 44: Presença de epífitos, lianas e bromélias.

165 QUADRO 13- LEVANTAMENTO FLORÍSTICO: ESPÉCIES VEGETAIS

Parque Natural Municipal da Lagoa do Frio TRANSECTO 01 – Próximo ao corpo hídrico

Nome Popular Nome Científico Extrato Vegetacional CAP H Densidade/Abundância

Angico de caroço Anadenanthera colubrina Arbóreo 15cm 4m Raro Arapiraca

Chloroleucon foliolosum(Benth.) G. P.

Lewis

Arbóreo 40cm 5m Raro

Braúna Schnopsis brasiliensis Arbóreo - 8m Dominante Caroá Neoglaziovia variegata Herbáceo - 1m Abundante Espinheiro Acacia glomerosa Arbustivo - 5m Abundante Gravatá Aechmealingulata L. Arbustivo - - Abundante Jurema Preta Mimosa ophthalmocentra Arbóreo 46cm 6m Abundante Mandacaru Cereus jamacaru Arbóreo - 6m Dominante Palmatória Opuntia palmadora Arbustivo - - Abundante Pata de Vaca Bauhinia forficata Linn Arbóreo 50cm 5m Abundante

Pau ferro Caesalpinia férrea Arbóreo 70cm 5m Raro Piçarra de Cachorro Sida sp. Arbustivo 10cm 2m Abundante

Pinhão Bravo Jatropha podragica Arbóreo 30cm 6m Abundante Quipá Tacinga inamoena Herbáceo - 1m Abundante Quixabeira Bumelia sertorium Arbóreo 1,69cm 10m Dominante Umbuzeiro Spondias tuberosa Arbóreo 55cm 6m Abundante Velanda Croton heliotropiifolius Arbustivo - 2m Abundante Xique-xique Pilosocereus gounelle Arbustivo - 2m Dominante