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Os direitos e liberdades fundamentais, que sempre motivaram reflexões profundas, assumem especial relevo com a inauguração da “sociedade da informação”, “sociedade do conhecimento” ou “sociedade em rede”, sendo esta última a expressão preferida por Manuel

de ser rejeitado como uma pretensão jurídica legítima, sendo acusado de afrontar outras garantias constitucionais”. (SARLET, Ingo Wolfgang; FERREIRA NETO, Arthur M. O direito ao “esquecimento” na sociedade da informação. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019, p. 114)

27 No sistema jurídico continental ou civil law, por sua vez, o direito ao esquecimento já foi objeto de

significativo reconhecimento, seja no plano legislativo, administrativo ou jurisdicional. Aliás, o referido direito foi gestado por precedente judicial do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE). Em seções posteriores, tais temas serão investigados detalhadamente.

28 “Aceita-se hoje, com surpreendente passividade, que o nosso passado e o nosso presente, os aspectos

personalíssimos de nossa vida, até mesmo sejam objeto de investigação e todas as informações arquivadas e livremente comercializadas. O conceito de vida privada como algo precioso, parece estar sofrendo uma deformação progressiva em muitas camadas da população. Realmente, na moderna sociedade de massas, a existência da intimidade, privatividade, contemplação e interiorização vêm sendo posta em xeque, numa escala de assédio crescente, sem que reações proporcionais possam ser notadas”. (COSTA JUNIOR, Paulo José da. O direito de estar só: tutela penal e intimidade. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 16-17)

29 “Em relação ao poder de autodeterminação, o Supremo Tribunal Alemão entendeu que diante das condições

automáticas do processamento de dados, surge a necessidade de uma proteção efetiva ao livre direito da personalidade, uma vez que com ajuda do processamento eletrônico de dados, informações detalhadas sobre relações pessoais ou objetivas de determinada pessoa, podem ser ilimitadamente armazenados e consultadas a qualquer momento, a qualquer distância e em segundos. Além disso, com a estruturação de sistemas de informação interligados com outros bancos de dados, resulta na criação de um quadro da personalidade relativamente completo, sem que a pessoa atingida possa controlar sua exatidão e seu uso. Além disso, esses sistemas poderiam atuar sobre o comportamento do indivíduo em função da pressão psíquica causada pela participação pública em suas informações privadas”. (AMARAL, Sérgio Tibiriçá; LIMA, Aline Aparecida Novais Silva. O direito ao esquecimento na sociedade do superinformacionismo. ETIC – Encontro de Iniciação Científica: Anais do Encontro de Iniciação Científica das Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio de Toledo”, v. 9, n. 9, 2013)

Castells30. Segundo o Autor, estas designações passaram a ser utilizadas como substitutas para o conceito complexo de “sociedade pós-industrial” e como forma de transmitir o conteúdo específico do novo paradigma técnico-econômico. Neste contexto, sob o rótulo da globalização, ergue-se o informacionalismo como nova modalidade de desenvolvimento econômico e social, sendo-lhe a criação de redes atributo fundamental31.

De imediato, então perquire-se: o que é sociedade em rede? Nesta temática, toma-se como referência importante obra acadêmica coletiva, intitulada “a sociedade em rede, do conhecimento à ação política”. De relevo, esta obra foi fomentada por conferência do presidente da república portuguesa à época - Jorge Sampaio – e organizada por Manuel

30 As contestações de Manuel Castells às expressões “sociedade da informação” ou “sociedade do

conhecimento” se mostram a seguir: “Frequentemente, a sociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informação ou sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia. Não porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa sociedade. Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades historicamente conhecidas. O que é novo é o facto de serem de base microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades a uma velha forma de organização social: as redes. As redes ao longo da história têm constituído uma grande vantagem e um grande problema por oposição a outras formas de organização social. Por um lado, são as formas de organização mais flexíveis e adaptáveis, seguindo de um modo muito eficiente o caminho evolutivo dos esquemas sociais humanos. Por outro lado, muitas vezes não conseguiram maximizar e coordenar os recursos necessários para um trabalho ou projecto que fosse para além de um determinado tamanho e complexidade de organização necessária para a concretização de uma tarefa. Assim, em termos históricos, as redes eram algo do domínio da vida privada, enquanto o mundo da produção, do poder e da guerra estava ocupado por organizações grandes e verticais, como os estados, as igrejas, os exércitos e as empresas que conseguiam dominar vastos pólos de recursos com um objetivo definido por uma autoridade central. As redes de tecnologias digitais permitem a existência de redes que ultrapassem os seus limites históricos. E podem, ao mesmo tempo, ser flexíveis e adaptáveis graças à sua capacidade de descentralizar a sua performance ao longo de uma rede de componentes autónomos, enquanto se mantêm capazes de coordenar toda esta actividade descentralizada com a possibilidade de partilhar a tomada de decisões. As redes de comunicação digital são a coluna vertebral da sociedade em rede, tal como as redes de potência (ou redes energéticas) eram as infra-estruturas sobre as quais a sociedade industrial foi construída, […]” (grifos nossos). (CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 17-18)

31 “Em condições de alta produtividade, inovação tecnológica, criação de redes e globalização, parece que a

nova economia é capaz de induzir um período prolongado de grande crescimento económico, inflação baixa e baixo desemprego nas economias capazes de se transformar completamente para essa nova modalidade de desenvolvimento. Contudo, a nova economia não deixa de ter falhas e riscos. Sua expansão é muito desigual, em todo o planeta, e dentro dos países, […]. A nova economia afeta a tudo e a todos, mas é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo; os limites da inclusão variam em todas as sociedades, dependendo das instituições, das políticas e dos regulamentos. Por outro lado, a volatilidade financeira sistêmica traz consigo a possibilidade de repetidas crises financeiras com efeitos devastadores nas economias e nas sociedades. Embora a nova economia tenha tido origem principalmente nos Estados Unidos, está se espalhando rapidamente na Europa, no Japão, no Pacífico asiático, e em áreas seletas em desenvolvimento ao redor do mundo, induzindo reestruturação, prosperidade e crise, num processo percebido sob o rótulo de globalização – e quase sempre temido e combatido por muita gente. Esse processo, de fato, na diversidade de suas manifestações, expressa uma grande mudança estrutural, enquanto as economias e sociedades procuram seus caminhos específicos para realizar a transição para essa nova modalidade de desenvolvimento, o informacionalismo, do qual a criação de redes é atributo fundamental. […]”. (CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução Roneide Venâncio Majer. Volume I. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 202-203)

Castells e Gustavo Cardoso, quando se convidaram diversos acadêmicos e políticos de diferentes países do mundo para este promissor debate atual32.

Neste contexto, ao se analisar os padrões e as dinâmicas da sociedade em rede nas suas diversas dimensões política, econômica, tecnológica, organizacional, dentre outras, tem- se a ilação de que este é o modelo da sociedade atual, contemporânea, dinâmica, informacional, constituída por indivíduos, empresas e pelo Estado. Por sua vez, a modulação de operação por estes três protagonistas ocorre no campo local, nacional e internacional, observando-se entre as sociedades em rede consolidadas ou em fase de consolidação pontos

em comum e divergências, que são frutos de escolhas e identidades históricas33.

Por outro giro, na sociedade em rede há bônus, porém há ônus. Dito de outra forma, as promessas desta sociedade que se concretizam com as potencialidades desenvolvidas pela internet também recrudescem as desigualdades entre aqueles que não detêm o acesso aos benefícios da tecnologia. Paradoxalmente, o avanço tecnológico massificante faz surgir uma nova dimensão de pobreza em escala mundial, qual seja, a pobreza da informação e do

conhecimento digital, gerando a categoria humana dos excluídos digitais34.

32 “Este livro tem por base uma troca de conhecimentos e partilha cultural entre intervenientes de diferentes

percursos académicos. A perspectiva aqui oferecida ao leitor é, pois, produto, não apenas da diversidade das origens dos seus participantes, mas também das próprias temáticas e da extensão geográfica que tentámos abarcar. Tal como as redes nos permitem interligar diferentes realidades e espaços este é também um livro que procura identificar pontos comuns e diversidades entre sociedades em transição como Portugal, Espanha — e as suas diferentes autonomias, Itália, Grécia, Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. No entanto, este é também um livro onde se procura conhecer o que diferencia essas sociedades em transição de sociedades onde as relações em rede, que caracterizam as sociedades informacionais, estão já fortemente implantadas. Este é um espaço onde se questionam e analisam também sociedades informacionais como os EUA, Finlândia, Reino Unido e alguns outros membros da União Europeia e como as políticas tendentes ao desenvolvimento da sociedade em rede e economia do conhecimento têm aí vindo a ser desenvolvidas.” (CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 09-10)

33 “Vivemos num período histórico caracterizado como a «era da informação», onde nos deparamos com a

possibilidade de interação com novos aparatos tecnológicos, que estabelecem novas formas de comunicação entre as pessoas e das pessoas com coisas. Estamos vivenciando uma revolução, que tem como elemento central a tecnologia da informação e da comunicação. Por consequência, estamos presenciando uma profunda alteração nas relações sociais, políticas e econômicas, impulsionadas por uma expansão permanente de hardware, software, aplicações de comunicações que prometem melhorar os resultados na economia, provocar novos estímulos culturais e incentivar o aperfeiçoamento pessoal, através do uso da tecnologia para a prática educativa […]”. (BRANCO, Marcelo. Software livre e desenvolvimento social e económico. In: CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 227)

34 “Exclusão Digital. […]. Nesta nova ordem econômica resultante do declínio da manufatura e da expansão do

setor de serviços, vimos nascer a era da informação e sua importância crescente como fonte de produtos, de crescimento e de criação de riquezas. «Movimentar bits em vez de átomos custa muito menos». O valor do conhecimento como um «bem universal», perdeu espaço para a mercantilização do conhecimento. O conhecimento e a informação passam a ser mais um produto no mercado globalizado. Esse novo patamar tecnológico da acumulação capitalista está trazendo implicações para os padrões de emprego, contribuindo decisivamente para o alto grau de obsolescência dos empregos na indústria, e de forma mais aguda para o setor de serviços. Surgem novos atores sociais, novas relações de trabalho, novas profissões. A possibilidade de colocarmos a produção mais próxima das fontes mais baratas de trabalho, propicia novas divisões

Com efeito, a compreensão e as reflexões necessárias sobre as potencialidades contraditórias deste novo período histórico-tecnológico tornam-se pauta de primeira ordem, reclamando-se a elaboração de teorias e práticas dos gestores públicos e privados para promoção da inclusão digital. Neste ponto, esta nova dinâmica econômica, política e social – simplesmente chamada de relação virtual – desconhece as identidades físicas ou espaços

geográficos, fazendo-se presente no cotidiano das pessoas que convivem no ciberespaço35.

Nada obstante, Manuel Castells adverte que, não é a tecnologia que determina a sociedade, mas, de forma contrária, a sociedade que conforma ou delimita a tecnologia de acordo com as suas necessidades, os seus valores e os interesses dos indivíduos-usuários do aparato tecnológico. Neste ponto, corrobora-se das ideias do Autor, na medida em que a tecnologia não se mostra, per si, como condição suficiente para o surgimento de uma organização social baseada em redes.

Assim, a interação do paradigma da nova tecnologia juntamente com a ideia de organização social num plano geral se faz necessária para caracterização da sociedade em rede. De fato, a sociedade em rede não se resume à sociedade da era tecnológica,

internacionais do trabalho, novas formas de controle e aumento da competição. O capital navega neste ciberespaço para onde possa, com maior produtividade, encontrar novos negócios e construir novos mercados. O Brasil e parte dos países periféricos são vistos pelos controladores do mercado internacional como um vasto mercado para o consumo de tecnologias proprietárias e conteúdos oriundos de países do Norte. Essa dinâmica nos coloca como simples consumidores de tecnologia e conteúdos e não como sujeitos, nesse novo cenário global. Entramos no cenário digital de forma subordinada aos interesses das políticas dos países centrais e das corporações globais. Nosso desenvolvimento científico, tecnológico e econômico também se coloca de forma subordinada, e no plano social aumenta a exclusão digital ao invés de a diminuir”. (BRANCO, Marcelo. Software livre e desenvolvimento social e económico. In: CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 228)

35 “Nossa Vida no Ciberespaço. […]. Os até então hegemônicos aparatos de fornecimento de informação,

comunicação, entretenimento e de formas de fazer negócios, estão sendo substituídos por uma segunda geração tecnológica, não mais de faixa estreita, mas de faixa larga. O objetivo é fornecer um maior volume de informações multimodais, (sons, imagens e textos) de forma simultânea, multiplexados e transmitidos a uma velocidade cada vez maior. A codificação digital é o processo que faz com que as informações armazenadas em um computador (dados), produtos culturais (músicas, filmes, livros), as telecomunicações e os processos de transmissão de rádio e televisão, convirjam para o mesmo formato. A tecnologia convergente combina as capacidades tecnológicas que andavam separadas e anuncia que o telefone, o computador, a TV e o aparelho de som irão operar como uma única unidade, muito mais poderosa e com muito mais incidência nas nossas vidas do que poderíamos imaginar. A Internet é a materialização deste novo cenário, impulsionada pelo esforço de fabricantes, investidores, pesquisadores académicos, «hackers» e de políticas Governamentais. Antes do surgimento da rede das redes (a Internet), as comunicações tradicionais se dividiam em duas categorias: uma a um ou um-a-alguns (fax e telefone) e um-a-muitos (TV, rádio, jornal impresso e cinema). No novo ambiente, além das categorias anteriores, surge a possibilidade de comunicação do tipo muitos-a-muitos. Isto não significa apenas acessar a maior quantidade de informações, mas transformar as relações econômicas e sociais — que interagem em todos os ramos da produção capitalista, procurando ajustar-se a esta maneira «mais económica» de fazer negócios e de se relacionar com as pessoas. Surgem novas formas de relacionamento e novas comunidades não enraizadas geograficamente, novos produtores, novos distribuidores e novos consumidores posicionados na esfera global e não mais de forma local ou regional”. (BRANCO, Marcelo. Software livre e desenvolvimento social e económico. In: CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 227-228)

manifestando-se de diversas formas, conforme a cultura em rede, as instituições em rede, a

economia em rede36, a trajetória histórica em rede, a transformação da sociabilidade

(sociedade de indivíduos em rede)37, dentre outros, em cada organização social38.

De outro giro, Manuel Castells enfatiza ainda uma outra transformação mais profunda da sociedade em rede, quer dizer, relacionada às instituições políticas e à própria

noção de democracia da comunicação39. Em outras palavras, trata-se do aparecimento de uma

36 “A economia em rede (conhecida até esta altura como a «nova economia») é uma nova e eficiente forma de

organização da produção, distribuição e gestão, que está na base do aumento substancial da taxa de crescimento da produtividade nos EUA, e em outras economias que adoptaram estas novas formas de organização. A taxa de crescimento da produtividade nos EUA entre 1996-2005 mais do que duplicou em relação ao período de 1975-95. Uma observação semelhante pode ser aplicada a algumas economias europeias, como a Finlândia e a Irlanda, que rapidamente adoptaram uma forma similar de organização tecno-económica, apesar de o terem feito em contextos institucionais muito diferentes (por exemplo, mantendo o welfare state — o estado-providência)”. (CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 20)

37 “A sociedade em rede também se manifesta na transformação da sociabilidade. O que nós observamos, não é

ao desaparecimento da interacção face a face ou ao acréscimo do isolamento das pessoas em frente dos seus computadores. Sabemos, pelos estudos em diferentes sociedades, que a maior parte das vezes os utilizadores de Internet são mais sociáveis, têm mais amigos e contactos e são social e politicamente mais activos do que os não utilizadores. Além disso, quanto mais usam a Internet, mais se envolvem, simultaneamente, em interações, face a face, em todos os domínios das suas vidas. Da mesma maneira, as novas formas de comunicação sem fios, desde o telefone móvel aos SMS, o WiFi e o WiMax, fazem aumentar substancialmente a sociabilidade, particularmente nos grupos mais jovens da população. A sociedade em rede é uma sociedade hipersocial, não uma sociedade de isolamento. As pessoas, na sua maioria, não disfarçam a sua identidade na Internet, excepto alguns adolescentes a fazer experiências de vida. As pessoas integraram as tecnologias nas suas vidas, ligando a realidade virtual com a virtualidade real, vivendo em várias formas tecnológicas de comunicação, articulando-as conforme as suas necessidades. Contudo, existe uma enorme mudança na sociabilidade, que não é uma consequência da Internet ou das novas tecnologias de comunicação, mas uma mudança que é totalmente suportada pela lógica própria das redes de comunicação. É a emergência do individualismo em rede (enquanto a estrutura social e a evolução histórica induzem a emergência do individualismo como cultura dominante das nossas sociedades) e as novas tecnologias de comunicação adaptam-se perfeitamente na forma de construir sociabilidades em redes de comunicação auto- seletivas, ligadas ou desligadas dependendo das necessidades ou disposições de cada indivíduo. Então, a sociedade em rede é a sociedade de indivíduos em rede”. (CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 23)

38 “Além disso, a comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes

globais. Então, a sua lógica chega a países de todo o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital, bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia. Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica do que o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes são selectivas de acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. De facto, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afectada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social”. (CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006, p. 18)

39 “Aderindo à democracia da comunicação concorda-se com a democracia directa, algo que nenhum estado

aceitou ao longo da história. Admitir o debate para redefinir os direitos de propriedade acerta em cheio no coração da legitimidade capitalista. Aceitar que os utilizadores são produtores de tecnologia desafia o poder do especialista. Então, uma política inovadora, mas pragmática, terá de encontrar o meio caminho entre o que é social e politicamente exequível, em cada contexto, e a promoção das condições culturais e organizacionais para a criatividade na qual a inovação, o poder, a riqueza e a cultura se alicerçam, na sociedade em rede”.

nova forma de Estado substitutivo à ideia de Estado-nação, típico da era industrial. Neste ponto, a globalização (sociedade em rede global) impõe o surgimento do Estado-da-

sociedade-em-rede40, típico da era pós-industrial, que não mais funciona, tão somente, no

contexto nacional.

Por sua vez, Gustavo Cardoso41 toma como ponto de partida a individualização de