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A denominação “meio ambiente” (milieu ambiant) surgiu pela primeira vez na obra

Études progressives d’un naturalista, datada de 1835, pelo francês Geoffroy de Saint-Hilaire,

ganhando notoriedade quando utilizada por Augusto Comte em sua obra Curso de Filosofia

positiva.47 A despeito disto, alguns autores argumentam que, a expressão “meio ambiente” seria redundante ou pleonástica, na medida em que a palavra “ambiente” já contém o sentido da palavra “meio”48.

Em sentido contrário, José Afonso da Silva defende a utilização do conjunto “meio ambiente”, asseverando que se manifesta mais rico de sentido ao se expressar como conexão de valores do que a simplesmente a palavra “ambiente”. Desta forma, o Autor conceitua o meio ambiente como, “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente, compreensiva dos recursos naturais e culturais”.49

47 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 133.

48 “A palavra ‘ambiente’ indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos. […]. Por isso, até

se pode reconhecer que na expressão ‘meio ambiente’ se denota certa redundância, advertida por Ramón Martín Mateo, ao observar que ‘se utiliza decididamente a rubrica Derecho Ambiental em vez de Derecho del Meio Ambiente, abandonando uma prática linguística pouco ortodoxa que utiliza cumulativamente expressões sinônimas ou, ao menos, redundantes, no que incide o próprio legislador. Em Português também ocorre o mesmo fenômeno, mas essa necessidade de reforçar o sentido significante de determinados termos, em expressões compostas, é uma prática que deriva do fato de o termo reforçado ter sofrido enfraquecimento no sentido a destacar, ou, então, porque sua expressividade é mais ampla ou mais difusa, de sorte a não satisfazer mais, psicologicamente, a ideia que a linguagem quer expressar. Esse fenômeno influencia o legislador, que sente a imperiosa necessidade de dar aos textos legislativos a maior precisão significativa possível; daí por que a legislação brasileira, incluindo normas constitucionais, também vem empregando a expressão ‘meio ambiente’, em vez de ‘ambiente’, apenas”. (SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 19-20)

49 “O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a Natureza original e

De imediato, registra-se o fato de que, José Afonso da Silva traz no seu conceito de meio ambiente apenas três macro-aspectos, quais sejam: o meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural e o meio ambiente natural. Desta forma, não individualiza o meio ambiente do trabalho enquanto quarto aspecto em apartado, mas tão somente “espécie” do “gênero” meio ambiente artificial. Apesar disto, defende-lhe o Autor tratamento especial em face de ser o local onde se desenrola boa parte da vida do trabalhador.50

Igualmente, José Afonso da Silva também não faz qualquer menção ao novo ambiente (digital) habitado pelo homem, quer seja como categoria em apartado, ou mesmo como desdobramento de algum aspecto já existente (artificial, cultural ou natural). Aliás, a temática sobre o ciberespaço se trata de recente aspecto a ser analisado na evolução histórico- científica do direito ambiental. Por razões de avanço tecnológico e da formatação da sociedade em rede, tal desiderato se impõe como nova fronteira ao direito ambiental, qual seja, o reconhecimento, a proteção e a promoção do meio ambiente digital.

De fato, quando se fala em meio ambiente ou direito ambiental, há uma associação direta e imediata ao “logotipo verde”, aos bens naturais, às florestas tropicais etc, não se desconhecendo a necessidade de proteção jurídica qualificada ao ambiente natural. O cerne da questão é que a potencialização do risco – a ideia de sociedade de risco de Ulrich Beck já tratada nesta pesquisa – encontrou o seu primeiro debate no aspecto natural no meio ambiente. Aliás, a professora portuguesa Carla Amado Gomes anota que, mesmo a temática ambiental de cor predominantemente verde somente veio à tona no mundo jurídico na década de 70 e pelos piores motivos51.

belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico”. (SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 20)

50 A defesa do meio ambiente do trabalho em apartado (enquanto quarto aspecto do meio ambiente gênero), por

lhe conferir maior autonomia e, consequentemente, maior proteção teórico-valorativa, é defendida exaustivamente na obra: DIAS NETO, Pedro Miron de Vasconcelos Dias Neto. A seguridade social e o meio ambiente do trabalho na sociedade de risco. Acidente do trabalho, ações regressivas acidentárias e fator acidentário de prevenção. Florianópolis: Conceito Editorial, 2014.

51 “O ambiente é um assunto que, pelas piores razões, entrou no mundo jurídico nos anos 70 do século passado

e tem-se mantido “na moda” desde então. Debatem-se à saciedade problemas como a destruição da camada de ozono, a gestão da água potável, a desertificação dos solos, o desaparecimento de milhares de espécies, animais e vegetais. Realizam-se conferências, promovem-se manifestações, celebram-se convenções sobre proteção do ambiente. Criam-se Ministérios e serviços especializados com vista à prossecução de políticas de conservação da natureza, gestão de recursos naturais, de promoção dos valores ambientais. Não há jornal, diário ou semanário, nem revista de atualidades que dispense uma rubrica sobre proteção do ambiente. Até a indústria cinematográfica se vem rendendo ao tema, com filmes mais intimistas (como Gorillas in the mist, 1989) ou mais populares (The day after tomorrow, 2004). Os juristas, na dupla qualidade de profissionais do Direito e de cidadãos, não lhe poderiam ser indiferentes”. (GOMES, Carla Amado. Risco e modificação do acto autorizativo concretizador de deveres de protecção do ambiente. Coimbra: Editora Coimbra, 2007, p. 13)

Neste contexto, Paulo Afonso Leme propõe a autonomia científica do Direito Ambiental, além de sua interdisciplinaridade com os demais ramos do Direito, conceituando ambiente de forma mais ampla, isto é, como uma expressão de uma visão global das intenções e das relações dos seres vivos entre eles e com o seu meio52. Neste ponto, a priori, de acordo

com esta doutrina, ora se defende que, não se deve ilidir a possibilidade de objeto de estudo do direito ambiental a interação do homem com o espaço virtual e, por via de consequência, com a sociedade em rede atual.

Na perspectiva do direito ambiental econômico, Cristiani Derani ressalta que, o conceito de meio ambiente não se reduz ao ar, à água, à terra ou aos demais elementos do meio ambiente físico ou facilmente perceptível. Defende a Autora a visão antropocêntrica do meio ambiente, embora o homem não integre formalmente o seu conceito53. Igualmente,

analisando-se o pensamento da Autora, tem-se a ilação de que, a robusta perspectiva econômico-financeira subjacente aos espaços de convivência e interações digitais, assim como a imperiosa presença do homem neste ambiente em rede se mostram elementos receptivos ao estudo do ciberespaço pelo direito ambiental.

Ao encontro desta tese, na defesa de um novo aspecto do meio ambiente, Celso Antônio Pacheco Fiorillo aduz o respeito à dignidade da pessoa humana no denominado meio ambiente digital, que seria a mais nova faceta revelada pelo aspecto do meio ambiente cultural. Neste ponto, assevera o Autor que, há a necessidade de se interpretar a “cultura

52 “A expressão de uma visão global das intenções e das relações dos seres vivos entre eles e com seu meio, não

é surpreendente que o Direito do Ambiente seja um direito de caráter horizontal, que recubra os diferentes ramos clássicos do Direito (Direito Civil, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Internacional), e um Direito de interações, que se encontra disperso nas várias regulamentações. Mais do que um novo ramo do Direito com seu próprio corpo de regras, o Direito do Ambiente tende a penetrar todos os sistemas jurídicos existentes para orientá-los num sentido ambientalista”. (MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 12. ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 139)

53 “Como o conjunto das condições de existência humana, que integra e influencia o relacionamento entre os

homens, sua saúde e seu desenvolvimento. O conceito de meio ambiente deriva do movimento da natureza dentro da sociedade moderna: como recurso-elemento e como recurso-local. Sintetizando, este conceito, extremamente novo, tem sua base na contemporânea relação social com a natureza. […] Em resumo, um ponto em comum de onde parte toda sociedade contemporânea seria o seguinte: natureza é recurso (matéria a ser apropriada) natural, e o homem, sujeito apartado do objeto a ser apropriado, não é mais natureza. Sujeito e objeto vivem dois mundos: mundo social e mundo natural. Meio ambiente seria toda a entourage deste solitário sujeito. Não somente a natureza “bruta” em sua forma primitiva é meio ambiente, porém todo o momento de transformação do recurso natural, ou seja, todo movimento deste objeto que circunda o homem, quem sobre ele age com seu poder, querer e saber, construindo o meio ambiente. Meio ambiente é um conceito que deriva do homem e a ele está ligado, porém o homem não o integra. O fato de o homem não constituir o conceito de meio ambiente não significa que este conceito seja menos antropocêntrico, muito pelo contrário, ele mostra exatamente o poder de subordinação e dominação do “mundo exterior” objeto de ação do “eu ativo”. Isto significa que o tratamento legal destinado ao meio ambiente permanece necessariamente numa visão antropocêntrica, porque essa visão está no cerne do conceito de meio ambiente”. (DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 52-53)

digital” à luz da Constituição Federal de 1988, consoante os artigos 215 e 216, que tratam da educação e da responsabilidade estatal de assegurar a todos o acesso à cultura54.

Assim, o meio ambiente cultural, por intermédio do ambiente digital, manifesta-se no século XXI em face de uma cultura digital permeada por diversos veículos reveladores de um novo processo civilizatório, adaptado intrinsecamente à sociedade da informação (a sociedade em rede, de Manuel Castells). Trata-se, indiscutivelmente, o ambiente digital de um dos mais importantes aspectos do direito ambiental brasileiro destinado às presentes e futuras gerações (art. 225, CF), constituindo-se em verdadeiro objetivo fundamental da república (art. 3º, CF), notadamente em face do “abismo digital” que ainda se vivencia no Brasil55.

Em outras palavras, o direito ambiental não pode desconhecer ou ignorar o novo espaço de ocupação humana: o espaço digital. A convivência neste espaço é marcada preponderantemente pelas chamadas redes virtuais (ou redes sociais) e se constituem em palcos acalorados de debates públicos (e privados). Ali, apesar de se acentuar o caráter difuso das manifestações e a regra da temporalidade aberta (ideia de permanência indefinida no espaço digital), as consequências jurídicas são diversas (cíveis, penais etc), inclusive quanto aos conteúdos aos quais se pretendem publicá-los ou, posteriormente, esquecê-los de forma permanente da memória coletiva virtual56.

Apesar de o meio ambiente digital não se resumir propriamente à internet, não se pode olvidar que o percurso de criação57 da rede mundial de computadores multiplicou

54 “Daí ficar bem caracterizado que as formas de expressão, assim como manifestações das culturas populares

bem como dos grupos participantes de nosso processo civilizatório nacional, estão tutelados pelo meio ambiente cultural no plano constitucional, a saber, a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação sob qualquer forma, processo ou veículo (art. 220 da CF) nada mais refletem que as formas, os processos e veículos usados pela pessoa humana, em face de seu atual estágio cultural (processo civilizatório nacional em que se encontram) destinada a satisfazer suas necessidades dentro de um padrão cultural vinculado à sua dignidade (art. 1º, III, da CF) diante da ordem jurídico do capitalismo (art. 1º, IV, da CF) e adaptada à tutela jurídica do meio ambiente cultural (arts. 215 e 216 da CF).” (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 60)

55 Para Celso Antônio Pacheco Fiorillo, o meio ambiente digital, por via de consequência, fixa no âmbito de

nosso direito positivo, os deveres, direitos, obrigações e regime de responsabilidades inerentes à manifestação de pensamento, criação, expressão e informação realizados pela pessoa humana com a ajuda de computadores, do rádio, da TV, bem como, dos demais meios de comunicação existentes no século XXI, conforme assegura a Constituição Federal nos artigos 220 e 224. (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 518)

56 “Tal passo, a partir do primeiro estágio que envolvia o aprendizado para o uso das redes, formou um ciclo de

realimentação a partir de quando passou a estimular o desenvolvimento de novos processos, nos quais os próprios usuários poderiam assumir o controle da tecnologia. […]. Assim, a capacidade criativa da mente humana passa a assumir um papel diferente que marca o espaço contemporâneo.” (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 499-500)

57 “A internet tem sua origem a partir de um projeto militar do período da guerra fria envolvendo Estados

Unidos e antiga União Soviética. Em 1969, temendo um ataque soviético, os americanos desenvolveram um sistema que permitia o deslocamento rápido de informações de um computador para outro. Seu Departamento de Defesa, por meio da Arpanet (Advanced Research Projects Agency), criou pequenas redes sociais (LAN) posicionadas em locais estratégicos do país e coligadas por meio de redes de telecomunicação

exponencialmente as possibilidades de comunicações e, por via de consequência, os conflitos existentes no espaço virtual da sociedade em rede. Guardadas as proporções, vislumbra-se a internet como a etapa evolutiva do homem após a descoberta do avião, isto é, agora de forma mais rápida (e segura), finalmente se pode desbravar o mundo em frações de segundo. Nesta medida, a internet propõe alçar voos de forma instantânea58.

Com efeito, Celso Antônio Pacheco Fiorillo afirma que, trata-se a internet de criação da inteligência humana, oferecendo possibilidades diversas de expressão, sendo um espaço de manifestação multicultural. Neste ponto, a passividade dos indivíduos e o poder de dominação da mídia devem ser repensados no contexto das novas tecnologias de comunicação da contemporaneidade. O reconhecimento desses diversos processos de globalização atua como reforço à noção de cidadania (espaço virtual é democrático)59, fundamento essencial do direito ambiental para a busca de uma sadia qualidade de vida60.

Apesar de ser didaticamente válida a divisão do ambiente em aspectos (natural, artificial, cultural, do trabalho) e sub-aspectos (p.ex., o digital como desdobramento do meio ambiente cultural), reitera-se a ideia de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser encarado de forma una e indivisível. Ademais, também deve ser tratado como interdependente em relação aos demais direitos fundamentais (p.ex. direito à saúde,

geográfica (WAN) que possibilitavam a troca de informações de máquina para máquina. Com o fim da guerra fria, os militares repassaram a tecnologia para o uso das universidades americanas, que inicialmente a utilizavam apenas para troca de pesquisas e trabalhos acadêmicos. […] O aperfeiçoamento do sistema foi contínuo e a interligação dos diversos sistemas existentes tornou-se definitiva com a criação por Robert Kahn do TCP/IP – Transmission Control Protocol/Internet Protocol. No ano de 1989 surgiu em Genebra, Suíça, a World Wide Web (ou www, como é mundialmente conhecida), que permite ao usuário o acesso a uma infinidade de serviços e informações sem a necessidade de conhecimento dos protocolos de acesso correspondentes. A partir de 1993 o desenvolvimento da tecnologia passou a ampliar essa comunicação por meio de uma linha telefônica comum, tornando-a mais rápida e acessível e permitindo o uso particular e individual. A transmissão de dados por banda larga, via cabo e por ondas de frequência de rádio posteriormente ampliaram ainda mais o potencial e alcance dessa tecnologia”. (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 501-502)

58 “A internet, uma das mais poderosas ferramentas dessa sociedade, é caracterizada como um espaço aberto e

sem fronteiras e atualmente demonstra seu potencial positivo entre processos sociais e intervenções tecnológicas que, de modo interligado, estimulam a mudança de determinados padrões de desenvolvimento”. (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 503)

59 “Disso decorre a dimensão funcional da comunicação – e de suas tecnologias – para promover uma

ressignificação intersubjetiva que ressalte a participação como fundamento da democracia. Isso porque a verdadeira democracia exige o antagonismo, […]. Assim, ao admitir a exigência de uma pluralidade de interesses e posições divergentes na sociedade, o Estado deve oportunizar o espaço para tais manifestações”. (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 508)

60 “O uso de ferramentas tecnológicas como a internet pode conferir suporte para manifestações de diferentes

ordens, tais como as realizadas por comunidades indígenas, quilombolas e outros atores individuais e coletivos. Ao mesmo tempo iniciativas estatais ou ainda promovidas a partir das corporações podem ser divulgadas de modo a facilitar o diálogo interno e externo de cada nação”. (FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 501)

direito à vida, direito à liberdade, direito à igualdade, dentre outros), interagindo com o ser humano simbioticamente, ou seja, implicando em uma inter-relação íntima e obrigatória61.

De fato, sob a égide da sociedade em rede, reitera-se que, o palco perfeito para ocorrência de discussões e conflitos entre direitos e garantias fundamentais tornou-se o meio ambiente digital, notadamente, após o advento da Internet ou ciberespaço62. Neste ponto, a

ideia clássica de território se transfigurou, possibilitando o tráfego rápido e eficiente de informações, bem como a interação em um espaço que desconhece os limites impostos por fronteiras meramente lineares ou geográficas63.

Quanto à memória na sociedade em rede, o advento da internet impõe a necessidade de se reinventar a forma com a qual o indivíduo lida com aquelas. Dito de outra maneira, os álbuns de fotografia, os relatos de viagens, os diários, enfim, tudo que outrora girava em torno das memórias privadas, agora deram lugar à exposição pública por redes sociais. A memória privada é publicizada (com ou sem autorização) para ser deglutida (consumida) de forma instantânea e, ao mesmo tempo, perpetuada na memória coletiva da grande rede.

61 “No ha sido suficiente, por tanto, la proclamación de la universalidad e interdependencia a través de la

Declaración y Programa de Acción de Viena de la Conferencia Mundial de Derechos Humanos de 1993 (ONU, 1993b). Ello a pesar del reconocimiento que se hace de la necesidad de un papel activo de los seres humanos y de la comunidad internacional en la construcción y protección de los derechos. Esto es, que suma al normativo2, una necesidad de transformación filosófica y política en la consideración de los derechos humanos, para recuperarlos en tanto potencial y presente. Finalmente, la Declaración y Programa de Acción de Viena tiene dos lecturas: una en términos de universalismo concreto y otra en lógica individualista. La primera reconoce que los derechos son universales, interdependientes e indivisibles, e incluso desde su Preámbulo precisa del “progreso económico y social de todos los pueblos”, de la vigencia de los Pactos Internacionales, y de la realización de los derechos de los pueblos indígenas. Esto no solo podría entenderse como expresión de un particularismo no individualista: el sujeto colectivo, sino que además exigiría un modelo de Estado Social de Derecho, único espacio […] para que los derechos sociales tengan realización. El Programa de Acción también subraya el derecho al desarrollo, rechaza la dominación de los pueblos y resalta el derecho a la libre determinación considerando su vulneración como “una violación de los derechos humanos. Pero, por otro lado, también desde el preámbulo insiste en que el sujeto central de los derechos humanos es la persona y en defensa de un universalismo abstracto afirma que son de menor importancia las particularidades históricas, culturales y religiosas de los pueblos. La contradicción inicia en el terreno normativo y debe ser remontada a partir de una práctica de efectividad de los derechos humanos. Solo ella permite colegir la realización de los derechos como lo han enseñado las luchas feministas (Flórez, 2007) y las demandas sociales bajo la idea de ciudadanía social (Jelin, 1996) que se consideraron en su momento, utópicas” (grifos nossos). (PRONER, Carol; OLASOLO, Héctor; DURÁN, Carlos Villán; RICOBOM, Gisele; BACK, Charlotth (coords.). 70º Aniversário de la declaración universal de derechos humanos. La protección internacional de los derechos humanos en cuestión. Valencia-España: Tirant to blanch, 2018, p. 596-597)

62 “No início da década de 90, a Internet recebeu seu impulso máximo rumo à popularização. O programador

inglês Tim Berners-Lee, do laboratório europeu para a Física de partículas de Genebra, desenvolveu um sistema que chamou de Hipertexto de World Wide Web (WWW). Com o desenvolvimento de alguns softwares fáceis de usar e de adquirir, a rede “www” cresceu até tornar-se uma rede mundial de