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3.1 A constituição da subjetividade

3.1.1 A subjetividade

O processo de constituição de subjetividade apontado pelo autor se debruça sobre as práticas de si embasadas por jogos de verdade. Essas regularidades são vistas em práticas de sujeitos que dão forma ao que se conceitua como subjetividade. Esse conceito na teoria foucaultiana aponta para um espaço de constituição de comportamento, no sentido de que existe uma conduta ética, ou uma série de regras dinâmicas que orientam o sujeito em sua vida. Sua discussão sobre tais pontos aponta para questões como: por que certos comportamentos persistem e outros desaparecem? Que forças sociais dão forma a práticas novas ou outras que sobreviveram às mudanças culturais? A resposta então caminha para uma análise sócio histórica dos sujeitos e os processos que o constituem em termos de subjetividade (FOUCAULT, 2012b).

Fox (1998) comenta que as investigações de Foucault sobre subjetividade apontam para como certas noções de sujeito foram construídas historicamente por determinadas instituições, as quais por meio de relações de poder propiciam a base para construção de verdades. Ele analisou condições marginalizadas como a da insanidade e do encarceramento e as implementações que foram feitas por processos civilizatórios. São construções que passaram por transformações e inúmeras operações advindas de vários pontos da sociedade. Assim, é interessante notar para a discussão que a subjetividade é uma construção social que atende a demandas sociais e que, por isso, não deve ser entendida apenas na instância do indivíduo, mas da posição social, frente a ações coletivas.

Essa dinâmica de subjetivação não se refere a uma mera subordinação a regras, mas sim à edificação ativa de um modo de vida. Isso quer dizer que o sujeito não é mero espectador de todo o processo que o leva a um determinado formato de subjetividade, ele atua no processo de maneira ativa, em relações consigo e com os outros operando verdades. (FOUCAULT, 2012b). Tendo isso em vista, nossa compreensão é a de que esse

sujeito ativo operando verdades é produtivo, isto é, cria os elementos culturais que vão influenciar a si e as outros nas interações sociais.

O comentário de Barnett (1999) sobre a ideia foucaultiana de produção de cultura a partir das subjetividades é de que tal produção carrega em si certas características. Não se está falando de nada parecido com o controle de mentes, mas da oferta de elementos culturais que vão ser utilizados pelos sujeitos para constituírem-se. Vale a ressalva para se pensar que, mesmo com a produção cultural partindo de sujeito e sendo trabalhados para com quem está ao seu redor, é possível falar de influências nessas interações. Influências não deterministas, já que o próprio Foucault (2012b) coloca a possibilidade de resistência.

Os contextos sócio históricos são importantes no processo justamente pelo fato de ser feito por sucessivas operações localizadas em momentos socais específicos, que não só o identificam mas fornece os elementos que o compõem. Assim, em meio a práticas e contexto, envolvido por influências dele e dos outros, o sujeito se posicionará. Toda essa operação complexa é vista como um processo de subjetivação, ou a maneira com que os indivíduos se constituem e se reconhecem como sujeitos; as experiências pelas quais as pessoas passam e constroem a sua configuração de subjetividade (FOUCAULT, 2012b; 2012c).

Sobre isso, Read (2009) coloca que as subjetividades não emergem a partir de fluxos de verdade aleatórios ou inocentes. O autor faz referência a própria análise foucaultiana de como o neoliberalismo estimulou a produção de saberes que atuariam como verdades subjetivantes. Não se está afirmando que existe uma central controladora das ações humanas, mas que há uma lógica que influencia os sujeitos a se orientarem, reproduzirem e atuarem sobre os outros de maneira a sustentar tal lógica. Podemos dizer,

então, que as persistências nos comportamentos atuam não só em microfocos, mas também em redes articuladas.

Essas são as linhas gerais do processo de constituição de subjetividade: uma dinâmica que ocorre e maneira ativa, produtiva, relacional e sócio histórica (FOUCAULT,

2006; 2012b; 2012c). Antes de prosseguir, vale mencionar o que entendemos por sujeito. As operações que serão descritas por meio dos conceitos partem de um entendimento do que são as pessoas envolvidas, isto é, do que são os sujeitos dentro da teoria foucaultiana. Então, o que se compreende, especificamente, pela noção de sujeito em Foucault? Nesse sentido, Hujier (1999) comenta que tal questionamento se faz necessário já que possui um entendimento singular e difere de definições anteriores. A ideia de subjetividade na teoria foucaultiana é diferente da ética liberal, tradicional nas civilizações ocidentais. Essa definição de que fugimos se refere a um indivíduo como alguém autônomo, que usa a razão para tomar decisões e fazer julgamentos. Assim, para Foucault, a subjetividade ocupa uma posição móvel.

Como visto, a subjetividade não possui um formato fixo, ela acompanha a influência de um fluxo sócio histórico. Sobre isso, o entendimento construído por Foucault (2012a, 2012b) é o de que existem saberes decorrentes de práticas discursivas que são operados por práticas não discursivas dando forma ao poder. Em termos de subjetividade, quando Foucault (2012c) se debruça sobre ela no terceiro ciclo, entende que esses saberes, associados à subjetividade, se tornam verdades; assim como o poder, quando analisada sua influência sobre a subjetividade, é entendido como governo. Essas verdades são operadas por meio de jogos de verdade que vão orientar a conduta do sujeito e dar sentido ao processo de constituição de subjetividade. Assim, o fluxo sócio histórico mencionado se refere a esse feixe de verdades e jogos que dão forma a subjetividade.