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4.4 Desenvolvimento, Sustentabilidade e Justiça Ambiental: e as

4.4.2 A Sustentabilidade

A concepção hegemônica de desenvolvimento sustentável, tratada no tópico anterior, concebe o meio ambiente como uma realidade objetiva, instância separada e externa às dinâmicas sociais e políticas da sociedade (ZHOURI et al., 2005). Os conflitos ambientais, as necessidades das populações locais, os impactos sobre a saúde são colocados como variáveis ambientais passíveis de resolução e tratados como “externalidades” do processo produtivo. Os problemas advindos dos

processos de desenvolvimento e relacionados com as “variáveis” seriam resolvidos através de medidas mitigadoras e o uso da técnica e da ciência

O termo desenvolvimento sustentável veio para “abrandar” a voracidade do mercado em busca do progresso material, uma vez que, estavam sendo consideradas as necessidades das gerações futuras conforme está descrito no Relatório Bruntland. O conceito de sustentabilidade foi cunhado neste Relatório em 1987. Nessa proposta, foram listadas metas e estratégias para os principais obstáculos ao desenvolvimento, desde o nível local, regional, nacional e até internacional (RATTNER, 2009). Conforme Rattner, os nefastos resultados dos processos de desenvolvimento econômico demonstram claramente a insustentabilidade desse modelo, sendo necessária a adoção de novas nomenclaturas e formas de tratar essa questão.

Conforme Acselrad (1997) o discurso sobre sustentabilidade nasceu no seio da tecnoburocracia do desenvolvimento capitalista. Ele foi emergindo através da caracterização de problemas globais que afetariam a biosfera e também da pressão do movimento ambientalista. Na lógica da própria tecnoburocracia haveria o reconhecimento de que o desenvolvimento capitalista estaria ameaçado porque as suas bases materiais de reprodução estariam sendo comprometidas.

Nos debates existentes sobre sustentabilidade, a idéia de uma conciliação entre os “interesses” econômicos, ecológicos e sociais são prementes. Prevalece a crença de que os conflitos que surgem possam ser resolvidos por meio da “gestão” do diálogo entre os atores, com a finalidade de se alcançar um “consenso” atendendo à premissa da “participação” conforme orientam as agências de fomento. Os efeitos não sustentáveis do desenvolvimento são percebidos como solucionáveis por meio da utilização de novas tecnologias e de um planejamento racional (ZHOURI et al., 2005).

Esse debate vem favorecendo diversos eixos de reflexão que apontam para diferentes modos de elaborar coletivamente mudanças técnicas e sociais significativas. Entre os vários valores de referência colocados para discussão, estão os novos conceitos de eficiência capazes de assegurar durabilidade para os meios materiais necessários para o desenvolvimento econômico e social; princípios de eqüidade; novos padrões de consumo e produção; a consideração do papel do saber local acumulado para a auto-suficiência das comunidades e,

fundamentalmente, princípios éticos ligados à preservação da vida no planeta (ACSELRAD, 1997). De acordo com Acselrad:

[...] O esforço teórico que temos ainda que fazer é, neste contexto, o de tentar trazer essa discussão de sustentabilidade para o campo das relações sociais. Evidentemente, não tem sentido falar de natureza sem sociedade. A sociedade só existe em relação com a natureza, nas diferentes acepções que a esta palavra possam ser atribuídas. A sustentabilidade remete a relações entre a sociedade e a base material de sua reprodução. Portanto, não se trata de uma sustentabilidade dos recursos e do meio ambiente, mas sim das formas sociais de apropriação e uso desses recursos e deste ambiente. Pensar dessa maneira implica certamente em se debruçar sobre a luta social, posto que torna-se visível a vigência de uma luta entre diferentes modos de apropriação e uso da base material das sociedades (ACSELRAD, 1997, p.2).

Leff (2003) nos convida a refletir sobre a crise ambiental como sintoma dos limites da racionalidade científica e instrumental e a emergência da complexidade ambiental como forma de reparar os efeitos provocados pelo fracionamento do corpo das ciências. Reconhece que a complexidade do mundo exige a necessidade de construir um pensamento holístico reintegrador das partes fragmentadas do conhecimento para a retotalização de um mundo globalizado.

Para Leff (2003) somente um princípio chegou a ser tão universal como a idéia de Deus: o mercado.

O conceito de mercado (da mão invisível que governa os intercâmbios mercantis) generalizou-se, construindo um mundo a sua imagem e semelhança. O mercado move e constrói um mundo globalizado e ao mesmo tempo se inserta em nossa epiderme, em cada poro de nossas sensibilidades , de nossa razão e de nossos sentidos. O homo economicus substitui o homo sapiens nessa fase de evolução do capitalismo em direção do fim da história. O ser economizado já não precisa pensar para existir. Basta reconhecer-se nos ditados da lei suprema do mercado (LEFF, 2003, p.42).

Segundo Leff (2003) a sustentabilidade é a marca da proibição na ordem econômica uma vez que o processo de economização do mundo implicou não somente no esquecimento do ser pelo privilégio do ente, desterrando a natureza e a cultura da produção, dando lugar a um desenvolvimento das forças produtivas fundadas no domínio da ciência e da tecnologia. O autor propõe que seja reconhecida a necessidade de internalizar as condições de sustentabilidade do processo econômico, já que este projeto chega aos seus limites com a crise ambiental. Diz que a sustentabilidade implica alcançar um equilíbrio entre a

tendência para a morte entrópica do planeta, gerada pela racionalidade do crescimento econômico, e, a construção de uma produtividade baseada no processo fotossintético, na organização da vida e na criatividade humana.

Atualmente, o avanço rumo a uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência na sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. Rattner (2009) afirma que o modelo presente de desenvolvimento do mundo não é sustentável, pois as mudanças do clima, perda de diversidade ecológica e cultural, pobreza e desigualdade tendem a aumentar a vulnerabilidade da vida humana e dos ecossistemas planetários. Considera que o conceito de sustentabilidade não pode ser reduzido ao “esverdeamento” ao ecologicamente correto e, tampouco ao economicamente viável (para quem?). Há uma dimensão social e ética que deve ser priorizada, assegurando os direitos humanos e a justiça social para todos.

Rattner (2009) considera que para a construção de uma sociedade sustentável torna-se necessário um trabalho de ressignificação da riqueza e do progresso no sentido de que sejam criadas possibilidades para um viver coletivo mais solidário numa sociedade integrada e integrante de um meio ambiente saudável. Uma sociedade que se estruture e se organize produzindo e reproduzindo suas riquezas materiais e valores espirituais e sua população, de acordo com um novo paradigma a ser construído coletivamente, qual seja, aquele da sustentabilidade.