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A Teoria das Representações Sociais: revisitando as proposições básicas

A Teoria das Representações Sociais criada pelo psicólogo social francês Serge Moscovici, nos anos 1950, se caracteriza como um campo de estudos sobre o fenômeno de apropriação do conhecimento pelo senso comum. O fenômeno das representações sociais e a teoria que se ergue para explicá-lo diz respeito, pois, à construção de saberes mediante inumeráveis episódios cotidianos da interação social. Moscovici estabelece, em verdade, uma nova postura epistemológica ao afirmar que a absorção da ciência pelo senso comum não é, como geralmente se defendia, uma mera reprodução do campo científico, mas sim, reelaborado de acordo com a própria conveniência, os meios e materiais encontrados. Isto é, trata- se de um tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades, obedecendo a outros critérios e contextos específicos onde cada sujeito aprende à sua maneira a reelaborar os conhecimentos científicos fora de espaço em que foram gerados, imbuindo-se do conteúdo e do estilo de pensamento que lhes representam.

Um primeiro delineamento formal do conceito e da Teoria das Representações Sociais surgiu por ocasião dos estudos de Moscovici (1978) sobre a psicanálise que foi apresentada em sua obra clássica: “A psicanálise: sua imagem e

seu público”, no ano de 1961. De caráter plurimetodológico, o trabalho inaugural

deste autor coletou algumas das representações sociais vigentes na França sobre a psicanálise. Segundo Lagache (1978), a intenção de Moscovici ao estudar a disseminação e o impacto da psicanálise entre os diferentes estratos sociais decorreu do fato de que este fenômeno se constituía em um evento cultural característico das sociedades modernas que ultrapassava o domínio restrito das

ciências, literatura e filosofia, apresentando-se, portanto, como sendo “um excelente objeto de estudo para se averiguar em que se converte uma disciplina científica e técnica quando passa ao domínio comum, como o grande público a representa e modela e por que vias se constitui a imagem que dela se faz” (LAGACHE,1978, p.7).

Ao buscar compreender como a psicanálise se propagou na sociedade francesa, Sá (1995) evidencia que Moscovici não pretendia apenas criar e consolidar um novo campo de estudos, mas, buscava, também, redefinir os conceitos da psicologia social devido à perspectiva individualista que se instalara nesta disciplina no início do século passado. É, portanto, em função de uma extrema insatisfação com a tradição norte-americana dominante, fortemente influenciada por uma visão comportamental e cognitivista, que Moscovici, pontua Sá (1995), passa a integrar uma psicologia mais socialmente orientada, de origem européia, que considera a participação do sujeito, tanto na produção autônoma da história, quanto da consideração de sua capacidade criativa através da função simbólica complexa evidenciando, desta forma, que o saber tradicional da psicologia social não vinha se mostrando capaz de dar conta das relações do dia-a-dia, informais da vida humana em um nível mais propriamente social ou coletivo.

Sá (1995) pontua, entretanto, que para fazer frente ao excessivo individualismo que se instalara na psicologia norte-americana, Moscovici foi buscar uma primeira contrapartida conceitual no conceito de “representações coletivas” da sociologia de Durkheim para quem as tentativas de explicar psicologicamente os fatos sociais se constituíam um erro grotesco. Embora impulsionado pelas idéias durkheinianas, Moscovici afasta-se destas, pois contrariamente a esta vertente para quem o sentido das ações sociais não pode ser investigado a partir das

intenções ou motivações dos agentes que as realizam, Moscovici estabelece um modelo teórico de compreensão da realidade que abandona a distinção clássica entre sujeito e objeto. De acordo com Guareschi e Jovchelovith (1995) a Teoria das Representações Sociais “centra seu olhar sobre a relação entre os dois. Ao fazer isso ela recupera um sujeito que, através de sua atividade e relação com o objeto-mundo, constrói tanto o mundo como a si próprio” (p. 19).

A Teoria das Representações Sociais, conforme enfatiza Alves-Mazzotti (2000a), procura, pois, dialetizar as relações entre indivíduo e sociedade, afastando- se igualmente da visão sociologizante de Durkheim e da perspectiva psicologizante da Psicologia Social, então hegemônica. É, portanto, a análise da gênese das representações que constitui a contribuição mais original da teoria proposta por Moscovici, distinguindo-se das abordagens mencionadas. Coerente com essa preocupação, Sá (1995) afirma que Moscovici sugere, pois, um novo status para a realidade já que embora as representações sociais se constituam a partir das experiências individuais dos atores sociais, a realidade é reconstruída e revivida a partir de seus sistemas de valores e relação com o contexto social. Nessa perspectiva, podemos dizer que as representações sociais são produtos de determinação tanto histórica como do aqui-e-agora caracteristicamente construídos no que Moscovici chamou de universos consensuais de pensamento.

Segundo Moscovici (2003), na sociedade contemporânea coexistem duas classes distintas de universos de pensamentos, quais sejam, os consensuais e os reificados. Nos últimos, circulam os conhecimentos que são produzidos pelas ciências e o pensamento erudito e, nesse sentido, a sociedade é encarada como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros só são autorizados para

participar em função da competência adquirida. Os universos consensuais, por sua vez, derivam de uma elaboração dos universos reificados e tendem a capacitar os sujeitos a apresentarem seu estoque de “teorias” para a compreensão e/ou resolução dos problemas encontrados. Sob este aspecto, Moscovici (2003) pontua que cada um age como um “amador” responsável ou ainda como um “observador curioso” nas “frases feitas” e chavões do último século. Nessa linha, Leme (1995) afirma que atuamos na construção de um novo senso comum, isto é, um universo consensual, a partir do universo reificado de pensamento do qual não fazemos parte, cuja linguagem e lógica não pertencem a nossa cotidianidade. Afirma:

O ato de representar não deve ser encarado como processo passivo, reflexo na consciência de um objeto ou conjunto de idéias, mas um processo ativo, uma reconstrução do dado em um contexto de valores, reações e associações. Não se trata de meras opiniões, atitudes, mas de “teorias” internalizadas que serviriam para organizar a realidade. A função das representações sociais é tornar familiar o não familiar numa dinâmica em que os objetos e eventos são reconhecidos, compreendidos com base em encontros anteriores, em modelos (p. 48).

Nesse contexto, Sá (1995) alerta que provavelmente o primeiro passo para a elaboração da Teoria das Representações Sociais, a partir de seu conceito, terá sido o delineamento de sua configuração estrutural que, para Moscovici, aparece desdobrada em uma face figurativa e uma face simbólica tão pouco dissociável quanto à página da frente e verso de uma folha de papel. Moscovici (1978) afirma ter obtido úteis informações de partida da psicologia clássica que concebia a representação como a mediação entre conceito e percepção. O autor, entretanto, não reduz a representação social a esse mecanismo preferindo tratá-la como um processo que torna o conceito e a percepção de algum modo intercambiáveis evidenciando, desta forma, que “representar uma coisa (...) não consiste simplesmente em desdobrá-lo, repeti-lo ou reduzi-lo; é reconstituí-lo, retocá-lo,

modificar-lhe o texto. (...) As representações são obra nossa, que têm um começo e terão um fim; sua existência no exterior ostenta a marca de uma passagem pelo interior do psiquismo individual e social” (MOSCOVICI, 1978, p. 58).

Moscovici (1978) afirma, portanto, que as representações sociais constitui- se como uma modalidade particular de conhecimento - o saber do senso comum - que se constrói mediante o processo interacional a partir do qual o sujeito vai gradativamente elaborando o conhecimento, socializando-se e reconstruindo valores e idéias que circulam na sociedade contemporânea. Enquanto estruturas cognitivas específicas desta sociedade, as representações sociais têm como finalidade, portanto, conhecer, interpretar, fazer-se entender e também agir sobre o mundo de modo a criar informações e familiarizar o sujeito com o estranho de acordo com suas experiências construídas, bem como suas categorias de cultura. Nessa perspectiva, podemos dizer que Moscovici (1978) ocupa-se explicitamente de uma modalidade particular de conhecimento que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os seres humanos, cuja finalidade prática é orientar os comportamentos em situações sociais concretas.

Machado (2003) endossa a proposta de Moscovici ao evidenciar que representações sociais dizem respeito à “construção da realidade” dos sujeitos sociais mediante inumeráveis episódios cotidianos de interação social, sendo esta apenas criada quando algo não familiar é transformado em familiar passando, deste modo, a ser incorporado aos universos consensuais. Nesse sentido, Machado (2003) pontua que as representações sociais caracterizam-se como sendo verdadeiras “teorias” destinadas à interpretação e à intervenção na realidade, indo

além daquilo que é imediatamente dado na ciência ou na filosofia, da classificação de fatos e eventos. Nessa perspectiva, a autora revela que as representações sociais devem ser encaradas como uma das vias de apreensão da realidade concreta que se produzem “coletivamente nas interações sociais, sujeito-sujeito e sujeito-instituição, num determinado tempo, em uma cultura e espaço próximo na tentativa de tornar o estranho familiar e dar conta do real” (MACHADO, 2003, p. 2).

Ao buscar evidenciar uma consideração sobre a construção social da representação, Moscovici (1978) é enfático ao afirmar que ela é um saber que não se estabelece apenas como resultado de um processo cognitivo, mas implica, necessariamente, um intercâmbio entre subjetividades e o coletivo. Nesse sentido, o autor anuncia que qualificar uma representação de social equivale a reconhecer que ela é produzida e compartilhada por um grupo de indivíduos e reforçada pela tradição emergindo, portanto, como um produto da interação e comunicação que vai tomando forma e configuração específicas em função do equilíbrio característico desses processos de influência social. Moscovici (1978) evidencia, ainda, que uma representação, além de ser forjada nos grupos sociais, é caracterizada como social por revestir-se de uma função específica, qual seja, contribuir para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações sociais.

Em meio a esta consideração, Moscovici (1978) alerta para a necessidade de se ter clareza da dimensão dos grupos sociais. Isto é, as representações não são, conforme o autor, “coros coletivos” ou, ainda, uma cópia do estado de coisas, mas o produto de um processo de interação e comunicação estabelecido entre um grupo específico de atores sociais que se encontram engajados em projetos definidos.

Nessa perspectiva, podemos dizer que as representações sociais são forjadas em ambientes distintos à medida que uma reconstrução do dado se estabelece em meio ao contexto dos valores, noções e regras aos quais os indivíduos se encontram imersos. Observamos que apesar do modo assistemático que os sujeitos sociais utilizam para adquirir conhecimentos ser desprovido de cientificidade e carregado de preconceitos, os membros da sociedade são denominados por Moscovici (1978) como “sábios amadores” o que sugere que:

(...) os indivíduos, em sua vida cotidiana, não são apenas essas máquinas passivas para obedecer a aparelhos, registrar mensagens e reagir às estimulações exteriores, em que os quis transformar uma Psicologia Social sumária, reduzida a recolher opiniões e imagens. Pelo contrário, eles possuem o frescor da imaginação e o desejo de

dar um sentido à sociedade e ao universo a que pertencem (p. 56).

Orientada pela hipótese da existência de diferentes universos de significados atrelados aos distintos grupos, classes ou culturas, a psicologia social em que Moscovici se insere leva a outras exigências originais que vêm se atenuando no emprego da Teoria das Representações Sociais, quais sejam, às dimensões das representações e seus processos formadores. Em relação à primeira, Moscovici (1978) postula que uma representação social se configura ao longo de três dimensões articuladas, a saber: a informação, campo de representação ou imagem e atitude. Segundo o autor, a dimensão da informação encontra-se relacionada à organização dos conhecimentos que um conjunto social possui a respeito de um dado objeto. A dimensão de campo de representação ou imagem diz respeito ao conteúdo concreto e limitado das proposições concernentes a um aspecto preciso do objeto da representação. A atitude é aquela dimensão que destaca a orientação global em relação ao objeto da representação social.

A segunda exigência original refere-se a dois processos cognitivos, dialeticamente relacionados, que atuam na formação das representações: a ancoragem e a objetivação. Segundo Moscovici (1978), a ancoragem consiste em um processo em que alguns elementos desconhecidos são introduzidos em nosso sistema particular de categorias na tentativa de tornar familiar o insólito e insólito o familiar e, com isso, “atenuar essas estranhezas e introduzi-las no espaço comum, provocando o encontro de visões, de expressões separadas e díspares que, num certo sentido, se procuram” (p. 61). A objetivação, por sua vez, consiste em transformar conceitos e concepções em coisas concretas e materiais que constituem a realidade. Isto é, “(...) reabsorver um excesso de significações materializando-as (...). E também transplantar para o nível da observação o que era apenas inferência ou símbolo” (MOSCOVICI, 1978, p.111). É válido mencionar que os dois mecanismos geradores das representações sociais são também alvo de discussão em outro estudo (MOSCOVICI, 2003) no qual o autor os detalha da seguinte forma:

O primeiro mecanismo tenta ancorar idéias estranhas, reduzi-las a categorias e a imagens comuns, colocá-las em um contexto familiar. (...) O objetivo do segundo mecanismo é objetivá-los, isto é, transformar algo abstrato em algo quase concreto, transferir o que está na mente em algo que exista no mundo físico. (...) Esses mecanismos transformam o não-familiar em familiar, primeiramente transferindo-o a nossa própria esfera particular, onde nós somos capazes de compará-lo e interpretá-lo; e depois, reproduzindo-o entre as coisas que nós podemos ver e tocar, e, conseqüentemente, controlar (p. 61).

Para melhor entendimento do processo de objetivação Jodelet (1984)19 citada

por Sá (1995), apresenta três fases de sua evolução. A primeira seria a seleção e a descontextualização de elementos da teoria em função de critérios culturais; a

19

JODELET, Denise. Représentations Sociales: phénomènes, concept et thérie. In: MOSCOVICI,

segunda fase diz respeito à formação de um núcleo figurativo, a partir dos elementos selecionados, como uma estrutura imaginante que reproduz a estrutura conceitual; a última fase corresponde à naturalização dos elementos do núcleo figurativo, pela qual as figuras, elementos do pensamento, se tornam elementos da realidade referentes para o conceito. Para Moscovici (1978), naturalizar e classificar constitui- se como sendo as duas operações essenciais da objetivação, visto que uma torna o símbolo real e a outra dá à realidade um ar simbólico. Ou seja, “uma enriquece a gama de seres atribuídos à pessoa (e, neste sentido, se pode dizer que as imagens participam em nosso desenvolvimento), a outra separa alguns desses seres de seus atributos para poder guardá-los num quadro geral de acordo com o sistema de referência que a sociedade institui” (MOSCOVICI, 1978, p. 113).

Ao elaborar o conceito de representações sociais ressaltando a visão de indivíduo ativo, participativo e criativo na sociedade contemporânea, em contraposição à passividade a que foi reduzido o homem na teoria cognitivista, a Teoria de Moscovici foi endossada por diversos autores, dentre os quais, destaca-se Jodelet, como principal colaboradora e continuadora de seu postulado teórico. Enquanto colaboradora e divulgadora das proposições teóricas originais de Moscovici, Jodelet vem se dedicando a precisar, sistematizar e analisar a evolução do conceito de representação social até os dias atuais. Nessa linha de pensamento, Lane (1995) pontua que para discussão e divulgação de estudos que permitam cada vez mais e melhor a sistematização conceitual do fenômeno de representação social, Jodelet tem criado e mantido em âmbito internacional um grande número de espaços abertos que possibilitam uma gama de encontros de natureza científica, intercâmbios, bem como a estimulação de novos procedimentos de pesquisa.

Enquanto organizadora do campo de estudo delineado por Moscovici, Jodelet (2001) parte da premissa de que as representações sociais são criadas porque sempre há necessidade de estarmos informados sobre o mundo que nos cerca de modo que possamos nos ajustar a ele, identificando e resolvendo os problemas que se apresentam. Nesse sentido, a autora assinala que a representação social é uma forma de conhecimento socialmente elaborado, com um objetivo prático e que, portanto, contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Qualificar esse saber de prático, sublinha a autora, refere-se “à experiência a partir da qual ele é produzido, aos contextos e condições em que ele o é e, sobretudo, ao fato de que a representação serve para agir sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e eficácias sociais” (p. 48). Apoiadas em Jodelet (2001), podemos afirmar que as representações enquanto sistemas de interpretação que regem as relações das pessoas com o mundo e com os outros, orientam e organizam as condutas e comunicações sociais evidenciando, desta forma, que:

Frente a esse mundo de objetos, pessoas, acontecimentos ou idéias, não somos (apenas) automatismos, nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse mundo com os outros, que nos servem de apoio, às vezes de forma convergente, outras pelo conflito, para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo. Elas [as representações Socais] nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a ele de forma defensiva (JODELET, 2001, p. 17).

Nesse contexto, a autora alerta para o fato de que o campo de pesquisa cristalizado em torno da noção de representação social possui, hoje, três particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade. A vitalidade explica-se pela quantidade de produções no campo, pela diversidade de países onde é empregada, pelos domínios onde é aplicada, bem como pelas abordagens metodológicas e teóricas que inspira. A transversalidade confere um

estatuto transverso ao campo de pesquisa à medida que é reconhecida e trabalhada em inúmeras áreas do conhecimento. Esta multiplicidade de relações que promove o interesse de todas as ciências humanas é decorrente, conforme a autora, desta noção estar situada na interface do psicológico e do social. A complexidade fica por conta da dificuldade de sua definição e tratamento. Isto implica dizer que, o conteúdo do objeto representado deve ser cuidadosamente explicitado de modo a depreender os processos que concorrem para a sua elaboração e

consolidação como sistemas de pensamento que sustentam as práticas sociais.

Em função da complexidade que engloba a Teoria das Representações Sociais, Spink (1995) mostra que as peculiaridades do fenômeno de representação social decorrem, de fato, da desconstrução no nível teórico, da falsa dicotomia entre o individual e o coletivo e do pressuposto de que não basta apenas enfocar o fenômeno no nível intra-individual (como o sujeito processa a informação) ou social (as ideologias, mitos e crenças que circulam em uma dada sociedade), mas é necessário entender como o pensamento individual se enraíza no social - remetendo, portanto, às condições de sua produção - e como um e outro se modificam mutuamente. Jodelet (2001), por sua vez, pontua que “as representações sociais devem ser estudadas articulando-se elementos afetivos, mentais e sociais e integrando - ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação - a consideração das relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideativa sobre a qual elas têm de intervir” (p. 26).

A riqueza da noção de representação social, segundo Jodelet (2001), explica os focos das pesquisas nesse campo que podem ser condensadas nas questões:

“Quem sabe e de onde sabe?”, “O que sabe e como sabe?” e “Sobre o que sabe e com que efeitos?” Essas questões desembocam, segundo a autora, em três ordens de problemáticas, quais sejam: as condições de produção e circulação das representações; seus processos e estados e, por fim, o estatuto epistemológico. Sá (1998) reconhece que tais problemáticas são interdependentes tratando-se, de fato, de três dimensões que deveria abranger os temas dos trabalhos teóricos e empíricos. Entretanto, para o autor, o que parece mais comum nas pesquisas que vêm sendo realizadas é um investimento maior sobre apenas uma daquelas dimensões, embora seus autores se mostrem conscientes da importância das demais. Mesmo se apresentando enquanto um campo de estudos multidimensional, Jodelet (2001) sublinha que o esquema de base que o caracteriza é o fato de ser um saber prático que liga um sujeito social a um objeto. Por isso, Sá (1998), pontua:

Não podemos falar em representação de alguma coisa sem especificar o sujeito – a população ou conjunto social – que mantém tal representação. Da mesma maneira, não faz sentido falar nas