• Nenhum resultado encontrado

A Teoria das Representações Sociais (TRS)

morais, crenças, mitos, etc [ ]”.É o conhecimento acessível à maioria dos indivíduos e de

4 FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

4.1 A Teoria das Representações Sociais (TRS)

Para Moscovici (2004, p. 21), “As representações são sempre um produto da interação e da comunicação”. Elas são formadas a partir de um contexto social específico, nele considerados tempo e espaço.

Para Sales, Souza e John (2007), a comunicação é um

recurso instrumental e metodológico pelo qual se torna possível identificar e difundir as Representações Sociais (RS) ou Representações Coletivas (RC) construídas nas relações em comunidade e que se torna perceptível quando os discursos que carrega, como expressando forma a um conteúdo, são tratados de modo a se conhecer qual é, de fato, o conteúdo que estão portando. (SALES; SOUZA; JOHN, 2007, p. 126).

Duveen39 (2004) ao se referir sobre as influências que a comunicação exerce nas representações afirma que elas

constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o primordial meio para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros. (Duveen, 2004, p. 8). Moscovici (2004) entende que em pesquisa social é impossível se aproximar do que de mais real existe sobre determinado tema, ou pensamento dos indivíduos, sem estudá-los no laboratório social vivo; no seu cotidiano. Esse autor entende que as Representações Sociais (RS) englobam tanto fenômenos psicológicos quanto sociológicos.

Com a psicologia social é possível explorar a variação e a diversidade do pensamento coletivo através das minorias, a partir do indivíduo; conforme Moscovici (2004, p. 353) “a minoria inicial”.

Para esse pesquisador

[...] toda teoria científica ou filosófica tende a se tornar primeiro o senso comum de um grupo restrito, de uma minoria, que é então distribuído, em conexão com a vida prática, através da maioria da sociedade, onde ele se torna senso comum, com o conteúdo renovado e uma nova maneira de pensar. (MOSCOVICI, 2004, p. 353).

Para ele, o modelo comunicativo onde os conhecimentos circulam e são transformados se edifica em duas direções. Numa o conhecimento reificado vai da ciência em direção ao senso comum; noutra o conhecimento do senso comum parte em direção à ciência e a outras formas de conhecimento. Nessa via de mão dupla o conhecimento reificado/científico é renovado quando chega ao conhecimento do senso comum, existente no mundo consensual. No entanto, o mesmo não acontece ao conhecimento do senso comum, que, ao chegar ao mundo

reificado, permanece conservado, inalterado. (MOSCOVICI, 2004).

Para Silva, citado por Lopes e Macedo (2005), representação é um processo de produção de significados sociais por meio de diferentes discursos que operam pelo estabelecimento de

39 Gerard Duveen em O poder das idéias, introdução de As representações sociais: investigações em psicologia social, de Serge Moscovici (2004).

diferenças: é por intermédio da produção de sistemas de diferenças e de oposições que os grupos sociais são tornados diferentes e constituem suas múltiplas identidades. (SILVA, citado por LOPES; MACEDO, 2005, p. 28).

Em 1976, Moscovici (2004), define representação como

Um sistema de valores, idéias e práticas [construído pelos indivíduos e utilizado por uma comunidade para] orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo, [fazendo com que] seja possível haver comunicação [entre seus membros], fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social. (MOSCOVICI, 2004, p. 21, grifo nosso), As representações sociais possuem duas funções: uma de

natureza convencional e outra de natureza prescritiva; que acontece

porque, no ambiente natural ou social onde vivemos, coexiste certa

quantidade de autonomia e, também, de condicionamento.

(MOSCOVICI, 2004).

De acordo com Moscovici (2004, p. 34), primeira função trata de convencionar

[...] objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram. [...] conhecer o que representa o quê [...] a resolver o problema geral de saber quando interpretar uma mensagem como significante em relação a outras e quando vê-la como um acontecimento fortuito ou casual.

Portanto ela é pré-requisito fundamental para que objetos,

pessoas ou acontecimentos sejam compreendidos, decodificados. Logo as

convenções nos ajudam a distingui-los, a identificá-los e a interpretá-los. Por sua vez, a função prescritiva exerce sobre os indivíduos um poder descomunal. Segundo Moscovici (2004, p. 36, grifo do autor), esse poder “é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o

que deve ser pensado.” Ainda para esse autor à medida que

[...] essas representações, que são partilhadas por tantos, penetram e influenciam a mente de cada um, [...] elas são re-

pensadas, re-criadas e re-apresentadas. (MOSCOVICI, 2004, p. 37).

Moscovici (2004, p. 360, grifo nosso) comenta que “a necessidade de reconhecimento social está no coração da inovação; [por outro lado] a necessidade de semelhança é o motor da conformidade.”

Conformidade ou submissão e inovação andam juntas no processo de representação social ao construir a realidade. E, ainda, determinam o avançar da humanidade nas suas escolhas que, mesmo inovadoras, não abandonam o que foi sedimentado pela tradição. A humanidade avança, sem negar ou abandonar por completo o anteriormente pensado, criado, testado, porque nesses somam as sustentações de seu próprio avançar.

Destaco questionamento apresentado por Gerard Duveen, citado em Moscovici (2004, p. 15): se a conformidade “fosse o único processo de influência social que tivesse existido, como seria possível qualquer mudança social?” É justamente sob esse aspecto que Moscovici (2004) sustenta que as mudanças sociais estão no poder das minorias.

Assim, se deduz que o meio social é transformado, modificado, renovado graças ao conhecimento do senso comum e pela necessidade dos indivíduos que o compartilham, que o socializam, de serem reconhecidos. Por essa razão Moscovici (2004) afirma que

[...] o conhecimento [...] é um processo de luta e persuasão no curso da história humana, não um processo de aprendizagem realizado pela pessoa singular, que se supõe adquirir conhecimento, através da informação privada. (MOSCOVICI, 2004, p. 356).

Muito antes de Moscovici as representações sociais foram estudadas por Émile Durkheim. Olhando para um contexto de final do século XIX, ele entendia que o pensamento dominante força os indivíduos a aceitá-lo. Percebia as representações sociais de maneira mais abrangente e menos profunda. Para ele, elas são coletivas por isso, diferentemente de Moscovici, não via a possibilidade de as minorias reconstruírem o conhecimento. Para Durkheim essa tentativa as enquadraria como desvios sociais.

Reforço a ideia de que, ao estudar o fenômeno, Moscovici o compreende de forma diferente. Para ele, não apenas é possível conhecer e percorrer a estrutura e a dinâmica das representações sociais

a partir dos indivíduos, como também compreendê-la a partir deles. Ou seja, é a partir das minorias que é possível conhecer a essência, a vitalidade de certo fenômeno e saber os mecanismos internos que o fazem acontecer. Para ele, ainda, as minorias conseguem alterar a realidade através do comportamento. É com o comportamento que o indivíduo convence a minoria da qual faz parte e através dela a maioria. (MOSCOVICI, 2004).

Para Moscovici citado por Duveen (2004, p. 16, grifo nosso), as Representações Sociais “são a forma de criação coletiva, em condições de modernidade, uma formulação implicando que, sob outras condições

de vida social, a forma de criação coletiva pode ser também diferente.”

A partir das argumentações desses autores compreendo que deixar de reconhecer as minorias seria como se a sociedade fosse coberta por um denso véu a ocultar os múltiplos fenômenos nela abrigados.