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morais, crenças, mitos, etc [ ]”.É o conhecimento acessível à maioria dos indivíduos e de

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Construcionismo social

A Teoria da Construção Social (TCS) estuda o conhecimento cotidiano construído pelos indivíduos. Como uma sociologia do conhecimento ela se dedica a todo e qualquer conhecimento existente na sociedade. O papel da sociologia do conhecimento é o de estudar o conhecimento empírico existente nas sociedades humanas, e também os processos que formam o conhecimento reconhecido como realidade. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

A formação do acervo social do conhecimento torna-se possível pelos vínculos que o homem estabelece com o seu passado, ou seja, pelas acumulações de significações transmitidas de geração a geração a partir da utilização do conhecimento da vida cotidiana. Pelo resgate da “memória registrada” é possível entender o presente e projetar o futuro. Assim, o contato com o que foi construído torna-se essencial para que a realidade possa ser continuamente construída. É desse modo que a

transmissão e o permanente processo de construção do conhecimento estão condicionados à existência de novas gerações. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

A reprodução do conhecimento se dá pelo processo de socialização, vindo a exigir interação e comunicação entre os sujeitos participantes desse processo, e tendo a linguagem seu maior veículo. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

No meio social coexistem dois tipos de conhecimento: o conhecimento do senso comum (rotina) e o conhecimento reificado (teórico). Para Berger e Luckmann (2003, p. 40), o primeiro é aquele partilhado com os outros nas rotinas do cotidiano sendo “comum a muitos homens”. Por outro lado, o segundo é originário da imensidão de conhecimento do senso comum e tem veiculação restrita por estar condicionado ao ambiente profissional.

Mesmo que num primeiro momento a descrição pareça precária haja vista a limitação espacial do objeto utilizado como exemplo, penso na figura de um icerberg para representar esses dois tipos de conhecimento. Nele o conhecimento reificado é representado pela parte emersa; e o conhecimento do senso comum, pela submersa. Tal associação se justifica porque, baseada em Berger e Luckmann (2003, p. 93), “o conhecimento teórico é apenas uma pequena parte, e de modo algum a parte mais importante, do que uma sociedade considera conhecimento.”

Resumindo, em termos do volume das transações comunicacionais no ambiente social, o conhecimento do senso comum é maior do que o conhecimento reificado. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

Então, pode-se deduzir que o conhecimento do senso comum é mais importante do que o conhecimento reificado. E isso se dá não apenas porque a partir do conhecimento da vida cotidiana emergem as reificações, as novas teorias, as novas formas de entender e decifrar a vida partindo de uma dialética pautada na racionalidade, mas por vivermos, na maior parte do nosso tempo, envolvidos com o conhecimento do senso comum. Por estar mais próximo à maioria dos indivíduos, ele se torna mais presente, mais acessível, mais real.

Como a ordem social é resultado da ação humana, para existir é necessário que esse processo seja continuamente alimentado pelos que integram a sociedade; pelas suas interações. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

Ainda, com relação ao construcionismo social, assim, afirmam Berger e Luckmann (2003, p. 75) que “[...] é impossível que o homem se desenvolva como [tal] no isolamento, igualmente é impossível que o homem isolado produza um ambiente humano.” Esse ambiente humano é a realidade humana.

[...] a realidade não é construída exatamente com o aparato conceitual que um dado padrão gostaria que acreditássemos, quaisquer que tenham sido os serviços valiosos que em seu tempo nos tenha prestado como bússola a nos orientar em meio a um mundo desconhecido. (ELIAS, 1993, p. 194).

Berger e Luckmann (2003, p. 11) definem realidade como “uma qualidade pertencente a fenômenos que reconhecemos terem um ser independente de nossa própria (volição).”

Ainda para Berger e Luckmann (2003, p. 196), há na sociedade duas realidades, uma objetiva, ou “institucionalmente definida”, e outra subjetiva, que é “a realidade tal qual como é apreendida na consciência individual.” Essas realidades co-habitam no meio social através do indivíduo, de maneira contínua e simultânea num processo dialético, estando nele incluídas a interiorização, a objetivação e a exteriorização. Pode-se dizer que o indivíduo chega vazio à sociedade, com uma predisposição à sociabilidade. É a partir de seu ingresso nela que se inicia um processo de assimilação do que nela existe. Esse processo se inicia com a interiorização, ou seja, pela apreensão e interpretação de fatos concretos que, tendo sentido para os outros, começam a ter sentido para o recém-chegado. O indivíduo aceita o mundo no qual seus semelhantes já vivem e é a partir do momento que ele assume a realidade ali existente que terá condições de modificá-la e até recriá-la, bem como a si mesmo. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

A partir do momento que o indivíduo é inserido na sociedade, ele começa a se tornar um ser mais complexo. É a partir da modelagem social que ele vai se diferenciando dos demais. Quanto mais complexa é a sociedade mais singular se torna o indivíduo. (ELIAS, 1994b).

Somente através de uma longa e difícil moldagem de suas maleáveis funções psíquicas na interação com outras pessoas é que o controle comportamental da pessoa atinge configuração singular que caracteriza determinada individualidade humana. Somente através de um processo social de moldagem, no contexto de características sociais específicas, é que a pessoa

desenvolve as características e estilos comportamentais que a distinguem de todos os demais membros de sua sociedade. (ELIAS, 1994b, p. 55).

Assim, ao chegar nesse mundo e numa determinada sociedade, o indivíduo passa pelo processo de interiorização de uma realidade. A interiorização consiste no fato de que o recém-inserido vai interiorizando valores pela observação e pela interação que mantém com seus semelhantes. Dessa maneira, ele vai incutindo um mundo que lhe é exteriorizado, ou seja, a realidade objetiva.

A interiorização da realidade se dá pela socialização primária e

secundária. A primeira é experimentada no ambiente familiar, durante a

infância; e a segunda se inicia no ambiente escolar e demais espaços sociais. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

No processo de socialização primária, os significados são impostos uma vez que o indivíduo já nasce num mundo objetivado. Nesse processo é necessário possuir certa identificação. É como um processo dialético no qual há uma identificação pelos outros como uma autoidentificação. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

De acordo com Berger e Luckmann (2003, p. 184-185, grifo dos autores), a socialização secundária se dá onde acontece “[...]

alguma divisão de trabalho, e concomitantemente alguma distribuição

social do conhecimento.” Nela ocorre “A aquisição do conhecimento de funções específicas, funções direta ou indiretamente com raízes na divisão do trabalho.”

Para Souza (2008, p. 206) as instituições têm a função de “dar forma, reproduzir e sustentar o funcionamento da sociedade.” É nesse momento que os indivíduos passam a absorver uma gama de conhecimento sustentada por um conjunto de instituições, estando aí a escola.

A objetivação se relaciona a dar concretude a algo abstrato. O amor, a amizade, a educação não existem como realidade concreta. No entanto os indivíduos se utilizam desses termos nos seus discursos como se fossem concretos e tangíveis. (ARAYA UMAÑA, 2002). Essa concretização se dá pela objetivação.

Já, Berger e Luckmann (2003, p. 87) a definem objetivação como “O processo pelo qual os produtos exteriorizados da atividade humana adquirem o caráter de objetividade [...].” A compreensão da realidade torna-se possível pela objetivação de algo anteriormente

subjetivado que os indivíduos conseguiram explicitar; concretizar. (BERGER; LUCKMANN, 2003).

Para Almeida (2005, p. 66), ela é o “processo pelo qual a realidade tida como estranha torna-se, além de conhecida, verificável, a ponto de ser incontestável sua existência.”

Ao tratarem sobre os três momentos do processo dialético da realidade social, ou seja, a interiorização, a exteriorização e a objetivação, Berger e Luckmann (2003, p. 88) tratam também do conceito de legitimação, como sendo os “modos pelos quais pode [o mundo institucional] ser ‘explicado’ e justificado”, portanto construída pelo uso da linguagem.

Complementam Berger e Luckmann (2003, p.129, grifo dos autores) que “A legitimação não apenas diz ao indivíduo por que deve realizar uma ação e não outra; diz-lhe também por que as coisas são o que são.”

Outro conceito relevante paresentado pelos autores é o de

papéis sociais. Para se viver em sociedade é preciso que haja uma

divisão desses papéis, que determinam uma ordem social. Como produto da atividade humana, a ordem social precisa ser produzida continuamente para que não se instale um caos social.

Berger e Luckmann (2003, p. 36) acreditam que o método mais conveniente para estudar e “esclarecer os fundamentos do conhecimento na vida cotidiana é o da análise fenomenológica”. Para esse autores é um “[...] método puramente descritivo, e como tal ‘empírico’ mas não ‘científico’ [...].” Aranha e Martins (2004, p. 426) reforçam o entendimento da fenomenologia como método de estudo descritivo. Para esse autores, ele descreve “um conjunto de fenômenos tais como se manifestam no tempo e no espaço, em oposição às leis abstratas e fixas desses fenômenos.”

É por esse caminho que Elias (1993, p. 37) afirma que não é possível procurar explicações dos fatos da vida cotidiana nas “idéias dos indivíduos expostas em livros [...].” Para ele as explicações devem ser buscadas nos fenômenos sociais, estudando e ouvindo os próprios indivíduos implicados num fato ou tema sustentados por eles na sociedade. E isso gera mudanças nas próprias pessoas durante o processo civilizador. (ELIAS, 1993).