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A definição concreta do que seja a representação social ainda inexiste devido aos conflitos internos relacionados à origem e desenvolvimento da teoria. Contudo, a compreensão do que seja uma representação social, de acordo com Moscovici (2003), é algo simples de ser realizado. Pode-se buscar entendê-la como um conjunto de valores, idéias e práticas articulados, com os objetivos de: definir uma ordem para nortear as pessoas e ajudá-las a controlar seu mundo material e social; e proporcionar a comunicação entre os membros de um grupo, dando-lhes um código para dar nomes e classificações, sem duplo sentido, aos múltiplos aspectos do mundo e à sua história individual e social. Assim, a representação social pode ser compreendida como uma construção social de um saber do senso comum erigido por meio de articulações sociais, divididas por certo grupo com relação aos objetos, propiciando um modo igual de visão, uma vez que é produzida coletivamente.

De acordo com Wagner (2000, p.11) as representações sociais são construídas por meio de “discursos públicos dos grupos”, pois o pensamento das

pessoas sobre o seu universo é construído socialmente, e ainda, tal conhecimento é originado pelo grupo, pelo significado e realidade que dão a esse objeto representado, por isso a representação social é “uma unidade do que as pessoas pensam, e do modo como fazem”, sendo dinâmica, por abranger o comportamento e a ação entre os participantes do grupo.

Para que uma representação social seja criada, deve existir uma cultura coletiva do grupo quanto aos valores e modelos que a produzem. As condições para sua circulação são fundamentais e ocorrem por meio da comunicação entre as pessoas, instituições e da própria mídia, enquanto que a sociedade partilha um contexto ideológico e histórico que tem definido a inscrição social quanto à posição, função social e a organização social das instituições e vida dos grupos (JODELET, 2001).

Todavia, o mero compartilhamento de opiniões por um grupo não constitui uma representação social. Para que ela exista é necessário que alguns critérios sejam considerados: o grupo esteja dentro de uma unidade de pensamento e de modo organizado; o comportamento dos integrantes do grupo se altera na presença da representação; há algo que foi acostumado ou tornou-se um hábito de um grupo, não existindo separação entre o pensamento e a ação; cada integrante do grupo que detém certa representação sabe que comportamento esperar dos demais em uma situação na presença da representação (WAGNER, 2000).

A escolha por essa teoria, dentre outros aspectos, deve-se à representação social desempenhar a função de responder a certa necessidade, a um estado de desequilíbrio e, principalmente, tornar algo estranho familiar (MOSCOVICI, 2003). No âmbito desta pesquisa, a representação do fenômeno da atuação profissional dos CAPS deve-se à necessidade, identificada com a transição das práticas profissionais, pela busca por um novo modelo de atenção, que se caracteriza por ser um estado de incertezas e desafios, como apontam diversos estudos (ABUHAB et al, 2005; DIMENSTEIN, 2006; MILHOMEM, OLIVEIRA, 2007;)

Por meio dos discursos dos profissionais busca-se construir um movimento social que se faz presente, uma vez que os pensamentos expressam a intencionalidade e o caráter histórico do pensamento social. Os significados falados pelos sujeitos nos discursos dão forma a conteúdos e demandas sociais que, após organizados e enunciados, deixam de ser virtuais. No processo de organização e verbalização da fala, os participantes dispõem e modificam suas concepções sobre

a atenção em saúde mental, nos diversos aspectos e características da prática, tendo em vista que ao se tratar do processo de representação social não há disparidades importantes entre o discurso e o pensamento, como defende Pereira (2005) ao tratar acerca da análise dos dados qualitativos aplicados à teoria.

No âmbito da saúde mental, a Teoria das Representações Sociais aparece em diversos estudos (PEREIRA, 2003; COLVERO, IDE, ROLIM, 2004; LEÃO, BARROS, 2008), uma vez que as representações sociais são relevantes para o processo de transformação de modos de atenção, ao se considerar que o entendimento que se tem acerca de algo determina o modo como se lida com este objeto.

No intuito de identificar e analisar as representações sociais de usuários de um CAPS sobre o fenômeno tratamento psiquiátrico, um estudo com base da na TRS foi realizado por Mostazo e Kirschbaum (2003), no qual se concluiu que as representações estão intrinsecamente relacionadas à medicação, instituições fechadas e violência, ao profissional médico cabe a função de designar o tratamento, ao enfermeiro de cuidar e ao psicólogo de conversar.

A Teoria do Núcleo Central é complementar à Grande Teoria, a Teoria da Representação Social. Surgiu em 1976 com Jean-Claud Abric que através de sua tese de doutorado explica tópicos confusos da representação social, como o entendimento de que as representações são estáveis e móveis, rígidas e flexíveis, simultaneamente (LIMA; EULÁLIO; TARGINO, 2004).

A Representação Social pode ser enfocada como núcleo estruturante, dando uma abordagem semântica cujos significados serão fornecidos através de associações de palavras. “Trata-se de identificar as estruturas elementares que constituem o cerne da representação em torno das quais ele se organiza – um sistema constituído pelos seus elementos centrais e periféricos” (ARRUDA, 2002, p.140)

A Teoria do Núcleo Central propõe que a Representação Social se articula ao redor de um núcleo, formado por uma ou mais palavras, que fornece sentido à representação, sendo caracterizado como o elemento mais estável. O núcleo central desempenha duas funções: a geradora, de originar ou modificar os significados dos demais integrantes da representação; e a organizadora, reúne os elementos constituintes da representação, dando-lhe equilíbrio. Os elementos periféricos organizam-se em torno do núcleo central, neles estão a mobilidade e a evolução da

representação, são o que há de mais acessível e concreto existente (ABRIC, 2000; LIMA; EULÁLIO; TARGINO, 2004).

Abric (2000), criador dessa teoria, propõe que os elementos periféricos desempenham os papéis de concretização, tornando compreensível e comunicável a representação; de regulação, permitindo a adaptação de acordo com as transformações do ambiente; e de defesa, devido ao núcleo central ser o elemento mais estável, os periféricos atuam protegendo-o da mudança, transformando a si próprios.

De acordo com Lima, Eulálio e Targino (2004) o caráter homogêneo de uma representação não é fornecido pelo pensamento comum do grupo, mas, devido à representação organizar-se em volta de um só núcleo central.

Com base no exposto, consideramos que a Teoria das Representações Sociais se constitui em um arcabouço teórico importante para a apreensão da realidade da prática profissional desenvolvida nos serviços substitutivos, tipo CAPS, do município escolhido para compor este estudo.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS