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A diversidade dos achados coletados nas realidades dos campos de pesquisa permitiu uma articulação complexa entre os dados empíricos e a literatura científica, no intuito de justificar o método para a formulação do conhecimento científico. Para isso, buscamos abranger criticamente o contexto, por meio das vivências, problematizações, informações provenientes da literatura, embasadas nos parâmetros da Reforma Psiquiátrica brasileira, que fundamentam as temáticas desse estudo.

Durante a realização desta investigação, devido à variedade dos dados, optamos em apresentá-los e discuti-los em subitens: os sujeitos pesquisados, nos quais são descritas características sóciodemográficas e de formação; o Quadro de quatro casas, decorrente das evocações provenientes dos TALPs, por meio do qual expomos o núcleo da representação social e seus elementos periféricos; as categorias temáticas e suas subcategorias, fruto dos discursos dos participantes, que exploram as representações acerca da prática profissional no contexto em que estão inseridos.

Participaram do estudo 36 profissionais, sendo 29 do sexo feminino e 07 do sexo masculino, o que aponta para o predomínio da mulher nos serviços de saúde. Quanto à idade, dez tinham entre 24 a 29 anos, dez entre 30 a 35 anos, quatro entre 36 e 41 anos, sete entre 42 e 47 anos, três entre 48 e 53 anos, e dois entre 54 e 59 anos, verificando-se um grande número de recém-formados nos quadros

profissionais dos serviços. Sendo 18 casados, 16 solteiros, um com união estável e um divorciado.

A respeito da formação em nível superior, dentre os participantes existe um graduado em Educação física, oito em Enfermagem, dois em Fisioterapia, três em Fonoaudiologia, um em Medicina, cinco em Pedagogia, doze em Psicologia e quatro em Serviço Social. É evidente a maioria das outras classes profissionais em detrimento da médica, o que está em consonância com as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004a), que determina que a equipe mínima deve ser composta por um médico psiquiatra no CAPS ad, dois no CAPS III, e um psiquiatra, ou neurologista ou pediatra no CAPS i. Assim, foram contatadas, principalmente, as demais categorias profissionais que compõem a equipe mínima obedecendo à exigência de diversidade profissional dos CAPS.

As equipes multiprofissionais dos CAPS devem ser compostas por técnicos em saúde mental de nível superior de diversas formações como “enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação física ou outros necessários para as atividades oferecidas nos CAPS” (BRASIL, 2004a, p.26), além de profissionais de nível médio, equipes para limpeza e cozinha.

A renda pessoal mensal dos participantes variou de dois e meio a dez salários-mínimos, entre aqueles que informaram a esse respeito. Contudo, é importante ressaltar que os profissionais que apresentavam rendas maiores em comparação aos demais detinham, também, outros vínculos empregatícios, além do serviço de saúde mental.

Ao abordar acerca do vínculo de trabalho, do total de participantes dos três serviços, apenas oito eram efetivos, enquanto entre os demais o vínculo decorre de contratos temporários ou são celetistas. Essa situação corrobora com os achados de estudo conduzido por Milhomem e Oliveira (2007) ao elaborar uma reflexão acerca do trabalho e práticas de atenção de dois CAPS em Mato Grosso, o que representa uma situação difícil na realização da atenção psicossocial, pois a falta de segurança quanto à permanência e crescimento profissional ocasiona reduzidas possibilidades de contratualidade na execução de práticas autônomas e emancipatórias.

Os achados coadunam com os resultados do estudo de Reis e Garcia (2008) ao apontar acerca da precariedade dos vínculos trabalhistas da equipe profissional do serviço de atenção a usuários de álcool e outras drogas, que ocasiona consequências à equipe, à rotatividade de pessoal, à continuidade da atenção devido às interrupções das atividades, à qualidade da assistência fornecida aos usuários e à comunidade.

Assim, questiona-se, se o vínculo de trabalho é frágil e garantido por meio de acordos pessoais com o gestor local, ao invés da capacitação técnica, que liberdade esse profissional tem para participar e se colocar nas discussões acerca das práticas e na própria execução do cuidado?

A respeito do tempo de trabalho no serviço substitutivo de saúde mental, dos que estavam atuando à época da coleta dos dados, dez profissionais atuavam de seis meses a um ano, cinco de um a dois anos e meio, dez entre três e quatro anos, e dez tinham entre cinco a sete anos de atuação. É importante enfatizar que os CAPS são serviços recentes no município de Campina Grande-PB, o que justifica o breve tempo de vinculação exposto (CIRILO, 2006; DATASUS, 2011).

A respeito da prática profissional, todos os participantes referiram atuar na assistência, e apenas cinco em cargos de chefia simultaneamente. Evidenciamos esse dado, uma vez que entre os participantes oito são enfermeiros, e os CAPS têm, na composição dos recursos humanos, profissionais de nível médio, entre os quais se encontram os técnicos ou auxiliares de enfermagem (BRASIL, 2004a), e, privativamente, cabe ao enfermeiro a direção das atividades técnicas e/ou auxiliares existentes nos serviços de enfermagem (BRASIL, 1986).

Com relação à jornada semanal de trabalho nos CAPS, dispendida pelos participantes, 31 referiram ter uma carga horária de 20 a 40 horas, quatro com 20 horas, e um, mais de 40 horas semanais. A respeito da capacitação teórico-prática para a atuação na área, 27 profissionais relataram ter realizado Especialização em Saúde mental, após terem-se vinculado como profissionais dos serviços. Essa situação foi favorecida devido à promoção da oportunidade dessa formação, a primeira vez em 2007, pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na qual foram oferecidas vagas aos profissionais dos novos serviços de saúde mental; e, a segunda vez, em 2009 e 2010 quando foi ofertada

pela Secretaria Municipal de Campina Grande e Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) para os diversos profissionais da rede de saúde mental do município (UFCG, 2008).

Por tais motivos, destacamos a relevância dessas oportunidades oferecidas pelo poder público, acerca do incentivo à capacitação, fato que demonstra estar implicado com o processo de Reforma Psiquiátrica e construção de novas práticas de atenção em saúde mental.

Além desses cursos de pós-graduação, os profissionais relataram ter realizado outros também de caráter lato sensu, destacando-se: Clínica Hospitalar e Organizacional, Dermato-Funcional, Gestão de Recursos Humanos, Motricidade Orofacial, Neurologia e Neurocirurgia, Psicopedagogia, Psicologia da Infância e Adolescência, Saúde da ia, Família Saúde Pública, Trauma e Ortopedia. As formações mostram articulações com as práticas de saúde mental desempenhadas e, também, com os demais vínculos empregatícios que os profissionais detêm. Assim, todos os profissionais, com ausência de uma que havia-se formado há apenas seis meses, detinham alguma pós-graduação. Dois participantes revelaram ter cursos stricto sensu, um em nível de Mestrado em Saúde Coletiva, e outro está cursando o doutorado em Ciências Sociais. Além disso, os participantes reforçaram que, continuamente, participam de grupos de estudos, conferências, congressos, capacitações relativas ao âmbito de atuação.

Pereira (2007) evidencia que até 2006, frente aos mais de oitocentos CAPS criados no Brasil, não havia um número suficiente de profissionais capacitados para a atuação junto à demanda existente. Daí a relevância de uma política de formação de recursos humanos no campo da saúde mental para a efetivação da Reforma Psiquiátrica, uma vez que a abordagem e a carga horária destinada aos conhecimentos em Saúde Mental nas universidades é, em geral, insuficiente e, principalmente, teórica, com ênfase nas práticas hospitalares frente às abordagens psicossociais e aos serviços comunitários.

5.2 Representações Sociais sobre a Prática Profissional – da